Boletim. Contabilidade Gerencial. Manual de Procedimentos. A mão de obra direta no custeio da produção da pequena e da média empresa

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Transcrição:

Boletim Manual de Procedimentos Contabilidade Gerencial A mão de obra direta no custeio da produção da pequena e da média empresa SUMÁRIO 1. Sinopse 2. Introdução 3. Classifi cação tradicional dos custos de produção 4. Reclassifi cação dos custos de mão de obra direta 5. Classifi cação da mão de obra na pequena e na média empresa 6. Conclusão 1. SINOPSE A constante perda de relevância da mão de obra direta no ranking dos custos da produção industrial, decorrente da substituição do trabalho humano por recursos tecnológicos cos de crescente sofisticação, afeta e modifi ca conceitos de custeio tradicionalmente aceitos. O presente texto comenta o assunto, procurando acentuar aspectos específicos das pequenas e das médias empresas. 2. INTRODUÇÃO Há algumas décadas, a mão de obra direta era considerada a mais importante rubrica do custo de produção das empresas fabris. A participação intensiva então do trabalho humano na fabricação dos produtos industriais explicava e justifi cava essa importância. Os custos de mão de obra direta referemse a todo o trabalho aplicado diretamente na execução do produto, ou de partes e componentes deste, seja esse trabalho especializado ou não Nesse contexto, as atividades manuais - elementos originalmente predominantes na transformação e na montagem de matérias-primas e componentes - destacavam-se de tal maneira entre as funções exercidas, nas indústrias, que eram, por isso, frequentemente chamadas de manufaturas - palavra cuja etimologia indica claramente que se ocupavam de produtos feitos à mão - expressão muito mais adequada, nos dias de hoje, às atividades artesanais. Acontece que, à medida que a tecnologia desenvolvia meios cada vez mais sofi sticados de produção, a relevância da contribuição do trabalho humano para a atividade industrial decrescia acentuadamente. Afora os dados estatísticos que têm sido divulgados, comprovando a queda expressiva da participação dos custos de mão de obra direta na estrutura dos custos totais das empresas industriais, esse fenômeno é também comprovado pelos seus efeitos sobre o conceito e o tratamento contábil que vem sendo atribuído a esses custos. Desse modo, há empresas e autores que, em seus demonstrativos, já limitam os custos de produção a apenas duas categorias: a dos materiais diretos e a dos custos indiretos de fabricação, classificando, entre estes últimos, os valores da mão de obra direta, antes tidos como custos variáveis e de apropriação imediata aos produtos fabricados. Esse texto tenciona então comentar o assunto, enfatizando, brevemente, os seus reflexos sobre os procedimentos contábeis das organizações, particularmente daquelas de pequeno e médio porte. 3. CLASSIFICAÇÃO TRADICIONAL DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO A classificação tradicional reconhece 3 categorias de custos de produção: Boletim IOB - Manual de Procedimentos - Set/2010 - Fascículo 36 TC 1

a) custos de materiais diretos; b) custos de mão de obra direta; e c) custos indiretos de fabricação. Em relação à letra a, o termo materiais diretos compreende os custos de todos os materiais (matérias-primas, peças, partes e componentes) adquiridos pela empresa com a finalidade de incorporá-los fisicamente ao seu produto final, mediante o processo produtivo. Trata-se de custos que são essencialmente diretos e variáveis, conceituando-se como diretos todos os itens identificáveis com produtos específicos, de forma que a atribuição do seu custo a cada produto ou linha de produtos possa ser feita de maneira direta e, portanto, sem a utilização de rateios; e custos variáveis são aqueles cujos valores variam proporcionalmente às mudanças de volume. Os custos de mão de obra direta, mencionados na letra b, referem-se a todo o trabalho aplicado diretamente na execução do produto, ou de partes e componentes deste, seja esse trabalho especializado ou não. Tais custos são, também, diretos e variáveis, a exemplo do que sucede com os custos de materiais diretos. Já os custos indiretos de fabricação, conforme a letra c, representam todos os demais itens e recursos aplicados no processo produtivo e que não podem ser identificados com bens específicos, de forma que a sua atribuição por produto exige a utilização de rateios. Contrariamente ao que sucede com as duas categorias precedentes, esses são custos indiretos, incluindo, em sua composição, elementos fixos e variáveis. Dentro dessa mesma classificação, os custos de materiais e de mão de obra diretos constituem, conjuntamente, na classificação tradicional, os chamados custos primários. Observa-se que a crescente automação do processo produtivo das empresas impactou de forma drástica a classificação tradicional dos custos produtivos, inspirando, inclusive, a incorporação dos custos de mão de obra direta - até então indisputadamente considerados custos diretos e variáveis - ao grupo dos custos indiretos de fabricação, conforme veremos a seguir. 4. RECLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS DE MÃO DE OBRA DIRETA O acompanhamento e o controle dos custos de mão de obra direta estão longe de enquadrar-se no modelo de simplicidade sonhado por empresários e administradores, pois envolvem, quase sempre, o esforço requerido para: a) o preenchimento e a revisão dos apontamentos de tempos de trabalho; b) a elaboração e a revisão de relatórios de consolidação dos dados apontados; e c) o cálculo e a explicação das variações constatadas nas comparações efetuadas contra os padrões de controle. Sendo assim, quando a importância relativa dos valores de mão de obra direta começou a declinar, a importância relativa dos gastos referentes ao seu controle cresceu proporcionalmente, tendendo a igualar e até a exceder, em muitos casos, os custos de mão de obra que estavam sendo computados e controlados. Ora: quem, em sã consciência, pode se dispor a gastar um determinado valor para computar e controlar um valor muito menor do que esse? Através de constatações e raciocínios dessa natureza, portanto, começou a crescer certa animosidade entre administradores e contadores contra o tratamento diferenciado e preferencial que era dedicado aos custos de mão de obra direta. A partir daí, não foi difícil encontrar um argumento lógico para derrubar esses custos do pedestal. Afinal, o pessoal produtivo - fator gerador dos custos de mão de obra direta - era contratado por um salário mensal fixo, como o de qualquer outro funcionário da empresa, e recebia esse valor fixo houvesse ou não trabalhado todos os dias do mês. Se, por exemplo, a produção fosse interrompida por uma razão qualquer (falta de material, quebra de máquinas ou, simplesmente, paralisação rotineira para - digamos - troca dos estampos das prensas), o salário fixo do operário seria integralmente pago no fim do mês, apesar de não ter trabalhado o total das horas contratadas. No entanto, raciocinavam os excitados reclassificadores de custos: a independência dos volumes de produção não é a característica básica dos gastos fixos? Por que, então, continuar classificando e controlando tal dispêndio como se fosse um custo direto e variável? Diante disso, estava então pronto o cenário para a grande novela da mão de obra direta. 2 TC Manual de Procedimentos - Set/2010 - Fascículo 36 - Boletim IOB

Para que o leitor possa, dessa forma, fazer ideia da dramaticidade do enredo dessa novela, citamos o caso real de uma empresa (que não vem ao caso identificar), exposto de forma mais ou menos detalhada, em um importante título da literatura especializada: em dada altura do seu desempenho, a mencionada empresa chegou à conclusão de que estava consumindo cerca de 60% do seu gasto administrativo relativo à atividade produtiva, para compilar, contabilizar e controlar o custo de mão de obra direta, reduzido a apenas cerca de 10% dos seus custos de produção. Enquanto isso, os materiais diretos e os custos indiretos de fabricação, que correspondiam aos restantes 90% dos custos de produção, requeriam apenas 40% do custo total dos esforços administrativos. Por causa dessa constatação, a empresa decidiu desistir da apropriação dos gastos de mão de obra direta aos seus produtos, reclassificando esses gastos como custos indiretos de fabricação e passando a apropriá-los, por produto, com base em rateios. Como não conhecemos os valores absolutos envolvidos (sabemos, apenas, que eles correspondem a 10% e a 60% de totais que nos são ocultos), não podemos louvar nem criticar a decisão tomada pela empresa; podemos, entretanto, assegurar que não foi uma decisão isenta de efeitos negativos. Em uma época na qual as imprecisões das alocações de custos baseadas em rateios são universalmente reconhecidas - momento em que métodos alternativos de apropriação de custos (como o sistema ABC, por exemplo) são criados e pesquisados para neutralizar, ao menos parcialmente, tais imprecisões -, transformar custos diretos em indiretos, passando a submeter a apropriações indiretas (via rateios) custos anteriormente apropriados por via direta, é abrir portas e janelas a distorções ainda maiores no cômputo dos custos por produto - dado frequentemente tomado como base para importantes decisões gerenciais, inclusive aquelas pertinentes aos preços de venda dos produtos fabricados. Na verdade, essa reclassificação, que aumenta a vulnerabilidade da exatidão do custeio (por contaminar com o vírus do rateio uma parcela dos custos anteriormente apropriados por via direta), só pode justificar-se nos casos em que a importância da mão de obra direta tenha caído a níveis iguais ou inferiores aos dos custos cujos montantes possam ser considerados negligenciáveis. Em todos os demais casos, o procedimento mais recomendável seria a apropriação direta das horas efetivamente trabalhadas pela mão de obra produtiva, reclassificando-se como custo indireto de fabricação apenas a parcela referente ao período de ociosidade. Como gostam de dizer os profissionais da área a respeito disso: é preciso estabelecer uma nítida distinção entre o custo da mão de obra direta e o valor da folha de pagamento. Embora não elimine então a fragilização do custeio, esse procedimento reduz, certamente, ao mínimo possível as consequências adversas da reclassificação da mão de obra direta, restando, apenas, ser averiguado se a complexidade da atribuição direta da parcela referente às horas realmente trabalhadas tornaria inviável, pela inexpressividade do seu valor, a execução dos procedimentos burocráticos requeridos. Cada empresa, nesse caso, teria de decidir quanto à ação mais adequada à sua situação. 5. CLASSIFICAÇÃO DA MÃO DE OBRA NA PEQUENA E NA MÉDIA EMPRESA E a pequena e a média empresa, como ficam diante do problema da reclassificação da mão de obra direta? Em essência, a necessidade dessa reclassificação não tem nada a ver com o porte das empresas, mas varia, fortemente, em função do nível da automação de cada uma delas. Como o nível de automação das empresas de pequeno e de médio porte tende a ser mais baixo do que o das empresas maiores, a necessidade de eventual conversão da mão de obra direta em custo indireto será muito menos sentida. Assim, nessas empresas, o mais comum será manter-se a classificação tradicional dos gastos de produção. Enquanto nas empresas altamente automatizadas essa classificação foi drasticamente alterada, reduzindo-se a apenas duas as categorias dos custos de produção e sendo reconhecida somente uma categoria de custos primários (materiais diretos), nas demais empresas - de menor porte e mais baixo índice de automação - a classificação tradicional (com 3 cate- Boletim IOB - Manual de Procedimentos - Set/2010 - Fascículo 36 TC 3

gorias de custos de produção e duas categorias de custos primários) tenderá a manter-se. Isso favorecerá a confiabilidade dos custos calculados nessas empresas, dado que permitirá uma maior incidência de apropriações diretas em detrimento de alocações realizadas com base em critérios de rateio de adequação duvidosa. De qualquer forma, caso uma empresa de porte pequeno ou médio, devido ao seu nível de automação, entenda ser justificável a reclassificação dos seus custos de mão de obra direta, estes deverão ser reclassificados na exata medida da sua correspondência aos períodos ociosos da força de trabalho, permanecendo a parcela correspondente às horas efetivamente trabalhadas como custos diretos e variáveis, para efeito de apropriação direta aos produtos fabricados. O procedimento básico recomendado é, em resumo, maximizar, sempre que possível, as apropriações diretas, com a finalidade de reduzir ao mínimo as alocações baseadas em rateios. Com esse propósito, será útil analisar as razões das paralisações da produção ocorridas durante cada mês, a fim de destinar à apropriação direta os valores daquelas paralisações que possam ser claramente identificadas com produtos específicos, como é o caso, por exemplo, da maioria das paralisações efetuadas para a preparação de máquinas. 6. CONCLUSÃO Conforme o leitor pôde notar, este texto cingiu-se ao aspecto da necessidade de reclassificação da mão de obra direta causada pela crescente automação das atividades industriais, através de uma breve observação sobre a intensidade do impacto desse procedimento sobre as pequenas e médias empresas. Dessa forma, em nenhum momento integrou o escopo deste texto uma exposição extensa sobre a rotina de apropriação, contabilização e controle dos custos de mão de obra direta - assunto que alcança um alto nível de complexidade em função das diretrizes legais (e, algumas, voluntárias ) que regem as relações trabalhistas, estabelecendo diferentes regras para diferentes funções exercidas em diferentes setores de atividade, com a sua vasta gama de encargos sociais básicos, adicionais noturnos, periculosidade e insalubridade, além de várias gratificações e benefícios incontáveis, que vão da refeição subsidiada e do vale-transporte à cesta básica, ao seguro de vida e ao plano de previdência privada. Na verdade, toda essa miscelânea de legislação, usos e costumes constitui uma respeitável trapalhada, explicável somente por especialistas e por alentada literatura também especializada (e com o agravante de que muda constantemente). Apenas para que não se diga que não falamos de flores, vamos aproveitar o gancho para mencionar - bem de raspão - que, no Brasil, onde os encargos sociais representam valores significativos e incidem, diretamente, sobre os valores pagos a título de mão de obra, a inclusão de tais encargos nesses valores é obrigatória. Assim, para todos os efeitos, os custos desses encargos mencionados são incluídos no valor horário da mão de obra direta. Contabilidade Internacional Contratos de concessão - Interpretação ICPC 01 (2ª parte) SUMÁRIO 4. Exemplos ilustrativos Trata-se de uma continuação do texto que aborda os comentários sobre os contratos de concessão, seu alcance e sua aplicação, e também sobre o tratamento contábil dos direitos dos concessionários, tendo como base a Interpretação ICPC 01 - Contratos de Concessão. 4. EXEMPLOS ILUSTRATIVOS Neste tópico, reproduziremos os 3 exemplos que acompanham a Interpretação ICPC 01 e que tratam, respectivamente de: a) exemplo 1: concedente dá ao operador um ativo financeiro; b) exemplo 2: concedente dá ao operador um ativo intangível (licença para cobrar os usuários); c) exemplo 3: concedente dá ao operador um ativo financeiro e um ativo intangível. 4 TC Manual de Procedimentos - Set/2010 - Fascículo 36 - Boletim IOB

Note-se que os referidos exemplos acompanham, mas não fazem parte da referida ICPC. Segue então a transcrição desses exemplos. EXEMPLOS ILUSTRATIVOS Estes exemplos acompanham, porém não fazem parte da Interpretação ICPC 01. Exemplo 1: Concedente dá ao operador um ativo financeiro Termos do contrato EI1. Os termos do contrato requerem que o operador construa uma estrada - completando a construção em dois anos - e mantenha-a e a opere em determinado padrão de qualidade por oito anos (i.e., anos 3-10). Os termos do contrato também requerem que o operador faça o recapeamento asfáltico da estrada ao final do ano 8 - a atividade de recapeamento é considerada uma atividade geradora de receita. Ao final do ano 10, o contrato terminará. O operador estima que os custos que incorrerá para atender às obrigações serão os a seguir descritos: Tabela 1.1 Custo do contrato Ano $ Serviço de construção 1 500 2 500 Serviço de operação (ao ano) 3 a 10 10 Recapeamento da estrada 8 100 EI2. Os termos do contrato preveem que o concedente pague ao operador $ 200 ao ano, nos anos 3 a 10, para disponibilizar a estrada ao público. EI3. Para a finalidade desta ilustração, presume-se que todos os fluxos de caixa ocorram no final do ano. Receita do contrato EI4. O operador reconhece a receita e os custos do contrato de acordo com o CPC 17 - Contratos de Construção e o CPC 30 - Receitas. Os custos de cada atividade - construção, operação e recapeamento - são reconhecidos como despesas por referência ao estágio de conclusão dessa atividade. A receita do contrato - o valor justo do valor devido pelo concedente pela atividade assumida - é reconhecida na mesma ocasião. De acordo com os termos do contrato, o operador é obrigado a recapear a estrada no final do ano 8. No ano 8, o operador será reembolsado pelo concedente pelo recapeamento da estrada. A obrigação de recapear a estrada é medida em zero na balanço patrimonial e a receita e despesa não são reconhecidas no resultado até que o trabalho de recapeamento seja realizado. EI5. A contraprestação total ($ 200 nos anos 3-8) reflete os valores justos de cada um dos serviços, que são: Tabela 1.2 Valores justos da contraprestação recebida ou a receber Valor justo Serviço de construção Custo previsto + 5% Serviço de operação + 20% Recapeamento da estrada + 10% Taxa efetiva de juros 6,18% ao ano EI6. No ano 1, por exemplo, os custos de construção de $ 500, a receita de construção de $ 525 (custo mais 5%), e, portanto, o lucro de construção de $ 25 são reconhecidos no resultado. Ativo Financeiro EI7. Os valores devidos pelo concedente atendem à definição de recebível no CPC 38 - Instrumentos Financeiros: Reconhecimento, Mensuração e Evidenciação. O recebível é medido inicialmente pelo valor justo. É medido subsequentemente pelo custo amortizado, ou seja, o valor inicialmente reconhecido mais os juros cumulativos sobre esse valor calculado utilizando o método dos juros efetivos menos as amortizações. EI8. Se os fluxos de caixa e os valores justos permanecerem os mesmos que aqueles previstos, a taxa efetiva de juros é 6,18% ao ano e o recebível reconhecido no final dos anos 1-3 será: Tabela 1.3 Mensuração do recebível Valor devido pela construção no ano 1 Crédito no final do ano 1* Juros efetivos no ano 2 sobre o crédito no final do ano 1 (6,18% x $ 525) Valor devido pela construção no ano 2 Crédito no final do ano 2 Juros efetivos no ano 2 sobre o crédito no final do ano 2 (6,18% x $ 1.082) Valor devido pela operação no ano 3 ($ 10 x (1 + 20%)) Recebimento de caixa no ano 3 Crédito no final do ano 3 $* 525 525 32 525 1.082 67 12 (200) 961 * Não há juros efetivos no ano 1 porque pressupõe-se que os fluxos de caixa ocorrem no final do exercício. Visão geral dos fluxos de caixa, demonstração do resultado abrangente e balanço patrimonial EI9. Para a finalidade deste exemplo ilustrativo, presumese que o operador financie o contrato totalmente com dívida e lucros retidos. Ele paga juros de 6,7% a.a. sobre a dívida pendente. Se os fluxos de caixa e os valores justos permanecerem os mesmos que aqueles previstos, os fluxos de caixa, demonstração do resultado abrangente e balanço patrimonial do operador ao longo da duração do contrato serão: Tabela 1.4 Fluxos de caixa Ano 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Total Recebimentos - - 200 200 200 200 200 200 200 200 1.600 Custos do contrato* (500) (500) (10) (10) (10) (10) (10) (110) (10) (10) (1.180) Custos do empréstimo** - (34) (69) (61) (53) (43) (33) (23) (19) (7) (342) Entrada/ (saída) líquida (500) (534) 121 129 137 147 157 67 171 183 78 * Tabela 1.1 ** Dívida no início do exercício (tabela 1.6) 6,7% Boletim IOB - Manual de Procedimentos - Set/2010 - Fascículo 36 TC 5

Tabela 1.5 Demonstração do resultado abrangente Ano 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Total Receita 525 525 12 12 12 12 12 122 12 12 1.256 Custos do contrato* Receita financeira (500) (500) (10) (10) (10) (10) (10) (110) (10) (10) (1.180) - (32) 67 59 51 43 34 25 22 11 344 Custos do - (34) (69) (61) (53) (43) (33) (23) (19) (7) (342) empréstimo ** Lucro líquido 25 23 - - - 2 3 14 5 6 78 * Valor devido pelo concedente no início do exercício (tabela 1.6) 6,18% ** Caixa/(dívida) (tabela 1.6) 6,7% Tabela 1.6 Balanço patrimonial Final do ano 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Valor devido 525 1.082 861 832 695 550 396 343 177 - pelo concedente* Caixa/(dívida) ** (500) (1.034) (913) (784) (647) (500) (343) (276) (105) 78 Ativos líquidos 25 48 48 48 48 50 53 67 72 78 * Valor devido pelo concedente no início do exercício, mais receita e receita financeira auferida no exercício (tabela 1.5), menos recebimentos no exercício (tabela 1.4). ** Dívida no início do exercício mais fluxo de caixa líquido no exercício (tabela 1.4). EI10. Este exemplo trata somente de um dos diversos tipos de contratos possíveis. Sua finalidade é ilustrar o tratamento contábil de algumas características que são comumente encontradas na prática. Para tornar o exemplo ilustrativo o mais claro possível, foi presumido que o período do contrato é de somente dez anos e que os recebimentos anuais do operador são constantes ao longo desse período. Na prática, os períodos do contrato podem ser muito mais longos e as receitas anuais podem aumentar com o tempo. Nessas circunstâncias, as mudanças no lucro líquido de um ano para o outro podem ser maiores. Exemplo 2: Concedente dá ao operador um ativo intangível (licença para cobrar os usuários) Termos do contrato EI11. Os termos de contrato de serviço exigem que o operador construa uma estrada - concluindo a construção dentro de dois anos - e mantenha e opere a estrada seguindo um padrão especificado durante oito anos (ou seja, anos 3-10). Os termos do contrato também exigem que o operador faça o recapeamento da estrada quando o asfalto original tiver se deteriorado abaixo da condição especificada. O operador estima que terá de executar o recapeamento no final do ano 8. No final do ano 10, o contrato de serviço será encerrado. O operador estima que os custos que incorrerá para cumprir sua obrigação serão os seguintes: Tabela 2.1 - Custo dos contratos Serviços de construção 1 2 Ano $ 500 500 Serviços de operação 3-10 10 Recapeamento asfático 8 100 EI12. Os termos do contrato permitem ao operador cobrar pedágio dos motoristas que utilizam a estrada. O operador prevê que a quantidade de veículos permanecerá constante ao longo da duração do contrato e que ele receberá pedágio de $ 200 em cada um dos anos 3-10. EI13. Para a finalidade deste exemplo ilustrativo, presumese que todos os fluxos de caixa ocorram no final do ano. Ativo intangível EI14. O operador fornece serviços de construção ao concedente em troca de ativo intangível, ou seja, o direito de cobrar pedágios dos usuários da estrada nos anos 3-10. De acordo com o CPC 04 - Ativo Intangível, o operador reconhece o ativo intangível pelo custo, ou seja, o valor justo da contraprestação transferida para adquirir o ativo, que é o valor justo da contraprestação recebida ou a receber pelos serviços de construção entregues. EI15. Durante a fase de construção do contrato, o ativo do operador (que representa seu direito acumulado a ser pago por fornecer serviços de construção) é classificado como ativo intangível (licença para cobrar os usuários da infraestrutura). O operador estima que o valor justo de sua contraprestação recebida seja equivalente aos custos de construção previstos mais a margem de 5%. Presume-se também que, de acordo com o CPC 20 - Custos de Empréstimos, o operador capitalize os custos de empréstimo, estimados a 6,7%, durante a fase de construção do contrato: Tabela 2.2 - Mensuração inicial do ativo intangível $ Serviços de construção no ano 1 (R$500x(1+5%)) 525 Capitalização de custos financeiros (tabela 2.4) 34 Serviços de construção no ano 2 ( R$500x(1+5%)) 525 Ativo intangível ao final do ano 2 1.084 EI16. De acordo com o CPC 04, o ativo intangível é amortizado ao longo do período em que o operador espera que esse ativo esteja disponível para uso, ou seja, anos 3-10. O valor depreciável do ativo intangível ($ 1.084) é alocado utilizando um método linear. A taxa de amortização anual resulta, portanto, de $ 1.084 dividido por 8 anos, ou seja, $ 135 ao ano. Custo e receita de construção EI17. O operador reconhece a receita e os custos de acordo com o CPC 17 - Contratos de Construção, ou seja, por referência ao estágio de conclusão da construção. Ele mensura a receita do contrato pelo valor justo da contraprestação recebida ou a receber. Desse modo, em cada um dos anos 1 e 2, ele reconhece em seu resultado os custos de construção de $ 500, a receita de construção de $ 525 (custo mais 5%) e, portanto, o lucro de construção de $ 25. Receita de pedágio EI18. Os usuários da estrada pagam pelos serviços públicos na mesma ocasião em que os recebem, ou seja, quando utilizam a estrada. O operador, portanto, reconhece a receita de pedágio quando cobra os pedágios. Obrigação de recapeamento EI19. A obrigação de recapeamento do operador surge como consequência da utilização da estrada durante a fase de operação. Ela é reconhecida e medida de acordo 6 TC Manual de Procedimentos - Set/2010 - Fascículo 36 - Boletim IOB

com o CPC 25 - Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes, ou seja, pela melhor estimativa do gasto necessário para liquidar a obrigação presente na data do balanço do final do período. EI20. Para a finalidade desta ilustração, presume-se que os termos da obrigação contratual do operador sejam de tal forma que a melhor estimativa do gasto necessário para liquidar a obrigação em qualquer data seja proporcional à quantidade de veículos que utilizaram a estrada até essa data e aumente em $ 17 (descontado ao valor corrente) a cada ano. O operador desconta a provisão ao seu valor presente de contrato com o CPC 25. O encargo reconhecido em cada período no resultado é especificado a seguir: Tabela 2.3 - Obrigação de recapeamento Obrigação referente ao ano ($ 17 descontado a 6%) Aumento da provisão pela paassagem do tempo Despesa total reconhecida no resultado 3 4 5 6 7 8 Total 12 13 14 15 16 17 87 0 1 1 2 4 5 13 12 14 15 17 20 22 100 Visão geral dos fluxos de caixa, demonstração do resultado abrangente e balanço patrimonial EI21. Para a finalidade deste exemplo ilustrativo, presume-se que o operador financie o contrato totalmente com dívida e lucros retidos. Ele paga juros de 6,7% ao ano sobre a dívida pendente. Se os fluxos de caixa e os valores justos permanecerem os mesmos que aqueles previstos, os fluxos de caixa, demonstração do resultado abrangente e balanço patrimonial do operador ao longo da duração do contrato serão: Tabela 2.4 - Fluxos de caixa 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Total Receita - - 200 200 200 200 200 200 200 200 1.600 Custos do contrato (a) (500) (500) (10) (10) (10) (10) (10) (110) (10) (10) (1.180) Custos financeiros (b) - (34) (69) (61) (53) (43) (33) (23) (19) (7) (342) Fluxo líquido de entradas e saídas (500) (534) 121 129 137 147 157 67 171 183 78 (a) Tabela 2.1 (b) Dívida no início (tabela 2.6) x 6,7% Tabela 2.5 - Demonstração do resultado abrangente Ano 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Total Receitas 525 525 200 200 200 200 200 200 200 200 2.650 Amortização - - (135) (135) (136) (136) (136) (136) (135) (135) (1.084) Despesa com recapeamento (12) (14) (15) (17) (20) (22) (100) Outros custos do contato (500) (500) (10) (10) (10) (10) (10) (10) (10) (10) (1.080) (a) e (b) Custos financeiros - - (69) (61) (53) (43) (33) (23) (19) (7) (308) Fluxo Líquido de entradas e saídas 25 25 (26) (20) (14) (6) 1 9 36 48 78 (a) Custos financeiros são capitalizados durante a fase de construção (b) Tabela 2.4 Tabela 2.6 - Balanço patrimonial Fim do Ano 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Ativo intangível 525 1.084 949 814 678 542 406 270 135 - Caixa/(dívida) (a) (500) (1.034) (913) (784) (647) (500) (343) (276) (105) 78 Obrigações de recapeamento - - (12) (26) (41) (58) (78) - - - Ativos líquidos 25 50 24 4 (10) (16) (15) (6) 30 78 (a) Dívida no início do ano adicionada dos fluxos líquidos do ano (tabela 2.4) EI22. Este exemplo trata somente de um dos diversos tipos de contratos possíveis. Sua finalidade é ilustrar o tratamento contábil de algumas características que são comumente encontradas na prática. Para tornar a ilustração mais clara possível, foi presumido que o período do contrato é de somente dez anos e que os recebimentos anuais do operador são constantes ao longo desse período. Na prática, os períodos de contrato podem ser muito mais longos e as receitas anuais podem aumentar com o tempo. Nessas circunstâncias, as mudanças no lucro líquido de um ano para o outro podem ser maiores. Exemplo 3: Concedente dá ao operador um ativo financeiro e um ativo intangível Termos do contrato EI23. Os termos de contrato de serviço exigem que o operador construa uma estrada - concluindo a construção dentro de dois anos - e opere e mantenha a estrada seguindo um padrão especificado durante oito anos (ou seja, anos 3-10). Os termos do contrato também exigem que o operador faça o recapeamento da estrada quando o asfalto original tiver deteriorado abaixo da condição especificada. O operador estima que terá que empreender o recapeamento no final do ano 8. No final do ano 10, o contrato será encerrado. O operador estima que os custos que incorrerá para cumprir sua obrigação serão: Tabela 3.1 - Custos do contrato Serviços de construção 1 2 Ano $ 500 500 Serviços de operação (por ano) 3-10 10 Recapeamento asfático 8 100 EI24. O operador estima que a contraprestação em relação aos serviços de construção seja o custo mais 5%. EI25. Os termos do contrato permitem ao operador cobrar pedágio dos motoristas que utilizam a estrada. Além disso, o concedente garante ao operador o valor mínimo de $ 700 e juros à taxa especificada de 6,18% para refletir a ocasião dos recebimentos de caixa. O operador prevê que a quantidade de veículos permanecerá constante ao longo da duração do contrato e que receberá pedágios de $ 200 em cada um dos anos 3-10. EI26. Para a finalidade deste exemplo ilustrativo, presumese que todos os fluxos de caixa ocorram no final do ano. Dividindo o contrato EI27. O direito contratual de receber caixa do concedente pelos serviços e o direito de cobrar os usuários pelos serviços públicos devem ser considerados como dois ativos separados de acordo com esta Interpretação. Portanto, neste contrato, é necessário dividir a contraprestação do operador em dois componentes - um componente de ativo financeiro baseado no valor garantido e um ativo intangível para o restante. Boletim IOB - Manual de Procedimentos - Set/2010 - Fascículo 36 TC 7

Tabela 3.2 - Dividindo o valor pago pelo operador Total Ativo financeiro Ativo intangivel Serviços de construção no ano 1 ($ 500x(1+5%)) 525 350 175 Serviços de construção no ano 2 ($ 500x(1+5%)) 525 350 175 Total dos custos de construção 1.050 100% Receita financeira, a taxa específica de 6,18% sobre o recebivel (ver Tabela 3.3) 22 22 - Custos de financiamento capitalizados (juros pagos nos anos1 e 2 x 33%) (ver Tabela 3.7) 11-11 Total do valor justo do custo pago pelo operador 1.083 722 361 * O percentual do ativo financeiro representa o montante garantido pelo concedente como uma proporção dos serviços de construção Ativo financeiro EI28. O valor devido pelo concedente, ou conforme sua instrução, em troca dos serviços de construção, atende à definição de recebível no CPC 38 - Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e Mensuração. A conta a receber é mensurada inicialmente pelo valor justo. Ela é mensurada de forma subsequente pelo custo amortizado, ou seja, o valor inicialmente reconhecido mais os juros acumulados sobre esse valor, menos amortizações. EI29. Nessa base, a conta a receber reconhecida no final dos anos 2 e 3 será: Tabela 3.3 - Mensuração do recebível $ Serviços de construção no ano 1 alocados ao ativo financeiro 350 Recebível ao final do ano 1 350 Serviços de construção no ano 1 alocados ao ativo financeiro 350 Juros no ano 2 sobre o recebível em aberto ao final do ano 1 (6,18% x $ 350) 22 Recebível ao final do ano 2 722 Juros no ano 3 sobre o recebível em aberto ao final do ano 2 (6,18% x $ 722) 45 Serviços de construção no ano 2 ($ 500 x (1+5%)) (117) Recebível ao final do ano 3 650 Ativo intangível EI30. De acordo com o CPC 04 - Ativo Intangível, o operador reconhece o ativo intangível pelo custo, ou seja, o valor justo da contraprestação recebida ou a receber. EI31. Durante a fase de construção do contrato, o ativo do operador (que representa o seu direito acumulado a ser pago por fornecer serviços de construção) é classificado como direito de receber uma licença para cobrar os usuários da infra-estrutura. O operador estima que o valor justo de sua contraprestação recebida ou a receber seja equivalente aos custos de construção previstos mais 5%. Presumese também que, de acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 20 - Custos de Empréstimos, o operador capitalize os custos de empréstimo, estimados em 6,7%, durante a fase de construção: Tabela 3.4 - Mensuração inicial do ativo intangível $ Serviços de construção no ano 1 ($ 500 x (1 + 5%) x 33%) 175 Custos de financiamento (juros pagos nos anos 1 e 2 x 33%) ver a tabela 3.7 11 Serviços de construção no ano 2 ($ 500 x (1 + 5%) x 33%) 175 Ativo intangivel ao final do ano 2 361 700 67% 350 33% EI32. De acordo com o CPC 04, o ativo intangível é amortizado ao longo do período em que o operador espera que o ativo esteja disponível para uso, ou seja, anos 3-10. O valor depreciável do ativo intangível ($ 361 incluindo custos de empréstimo) é alocado utilizando o método linear. O encargo de amortização anual resulta de, portanto, $ 361 dividido por 8 anos, ou seja, $ 45 ao ano. Receita e custo do contrato EI33. O operador fornece serviços de construção ao concedente em troca de um ativo financeiro e um ativo intangível. De acordo tanto com o modelo de ativo financeiro quanto com o modelo de ativo intangível, o operador reconhece a receita e os custos do contrato de acordo com a CPC 17 - Contratos de Construção, ou seja, por referência ao estágio de conclusão da construção. Ele mensura a receita do contrato pelo valor justo da contraprestação a receber. Desse modo, em cada um dos anos 1 e 2, ele reconhece no resultado os custos de construção de $ 500 e a receita de construção de $ 525 (custo mais 5%). Receita de pedágio EI34. Os usuários da estrada pagam pelos serviços públicos na mesma ocasião em que os recebem, ou seja, quando utilizam a estrada. De acordo com os termos deste contrato, os fluxos de caixa são alocados ao ativo financeiro e ao ativo intangível proporcionalmente; assim, o operador aloca os recebimentos obtidos dos pedágios entre a amortização do ativo financeiro e a receita obtida do ativo intangível: Tabela 3.5 - Alocação das receitas de pedágio $ Receita garantida pelo concedente 700 Receita financeira (ver a tabela 3.8) 237 Total 937 Caixa alocado para a realização do ativo financeiro por ano ($ 937/8 anos) 117 Receitas atribuíveis ao ativo intangível ($ 300 x 8 anos - $ 937) 663 Receita anual do ativo intangível ($ 663/8 anos) 83 Obrigações de recapeamento EI35. A obrigação de recapeamento por parte do operador surge como consequência da utilização da estrada durante a fase de operação. Ela é reconhecida e mensurada de acordo com a CPC 25 - Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes, ou seja, pela melhor estimativa do gasto necessário para liquidar a obrigação presente no final do período de prestação de informações. EI36. Para a finalidade desta ilustração, presume-se que os termos da obrigação contratual do operador sejam de tal forma que a melhor estimativa do gasto exigido para liquidar a obrigação em qualquer data seja proporcional à quantidade de veículos que utilizaram a estrada até essa data e aumente em $ 17 a cada ano. O operador desconta a provisão de seu valor presente de acordo com o CPC 25. O encargo reconhecido em cada período no resultado é: Tabela 3.6 - Obrigação de recapeamento Obrigação referente ao ano ($ 17 descontado a 6%) Aumento da provisão pela passagem do tempo Despesa total reconhecida no resultado 3 4 5 6 7 8 Total 12 13 14 15 16 17 87 0 1 1 2 4 5 13 12 14 15 17 20 22 100 8 TC Manual de Procedimentos - Set/2010 - Fascículo 36 - Boletim IOB

Visão geral dos fluxos de caixa, demonstração do resultado abrangente e balanço patrimonial EI37. Para a finalidade desta ilustração, presume-se que o operador financie o contrato totalmente com dívida e lucros retidos. Ele paga juros de 6,7% ao ano sobre a dívida pendente. Se os fluxos de caixa e os valores justos permanecerem os mesmos que aqueles previstos, os fluxos de caixa, demonstração do resultado abrangente e balanço patrimonial do operador ao longo da duração do contrato serão os seguintes: Tabela 3.7 - Fluxos de caixa 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Total Receita - - 200 200 200 200 200 200 200 200 1.600 (a) Custos do Contrato (500) (500) (10) (10) (10) (10) (10) (110) (10) (10) (1.180) (b) Custos financeiros - (34) (69) (61) (53) (43) (33) (23) (19) (7) (342) Fluxo líquido de entradas e saídas (a) Tabela 3.1 (500) (534) 121 129 137 147 157 67 171 183 78 (b) Dívida no início (tabela 3.9) x 6,7% Tabela 3.8 - Demonstração do resultado abrangente Ano 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Total Receita de construção 525 525 1.050 Receitas do ativo intangível 83 83 83 83 83 83 83 83 663 (a) Receita financeira - 22 45 40 35 30 25 19 13 7 237 Amortização - - (45) (45) (45) (45) (45) (45) (45) (46) (361) Despesa com recapeamento (12) (14) (15) (17) (20) (22) (100) Custos de construção (500) (500) (1.000) (b) Outros custos do contrato (10) (10) (10) (10) (10) (10) (10) (10) (80) (c) Custos financeiros - (23) (69) (61) (53) (43) (33) (23) (19) (7) (331) Lucro líquido 25 24 (8) (7) (5) (2) (0) 2 22 27 78 (a) Juros sobre o recebível (b) Tabela 3.1 (c) No ano 2, custos de financiamento são apresentados líquidos do valor capitalizado no intagível (tabela 3.4) Tabela 3.9 - Balanço patrimonial Fim do ano 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Recebível 350 722 650 573 491 404 312 214 110 - Ativo intangível 175 361 316 271 226 181 136 91 46 - (a) Caixa/(dívida) (500) (1.034) (913) (784) (647) (500) (343) (276) (105) 78 Obrigação de recapeamento - - (12) (26) (41) (56) (78) - - - Ativo líquidos 25 49 41 34 29 27 27 29 51 78 (a) Dívida no início do ano adicionada dos fluxos líquidos do ano (tabela 3.7) EI38. Este exemplo trata somente de um dos diversos tipos de contratos possíveis. Sua finalidade é ilustrar o tratamento contábil de algumas características que são comumente encontradas na prática. Para tornar o exemplo ilustrativo o mais claro possível, foi presumido que o período do contrato é de somente dez anos e que os recebimentos anuais do operador são constantes ao longo desse período. Na prática, os períodos do contrato podem ser muito mais longos e as receitas anuais podem aumentar com o tempo. Nessas circunstâncias, as mudanças no lucro líquido de um ano para o outro podem ser maiores. Contabilização Empréstimos bancários com juros cobrados antecipadamente SUMÁRIO 1. Introdução 2. Contabilização de empréstimos bancários com juros cobrados antecipadamente 1. INTRODUÇÃO Em certas modalidades de empréstimos ou financiamentos bancários, normalmente de curto prazo, os juros incidentes sobre a operação são cobrados antecipadamente. Assim, o valor entregue ao mutuário já estará líquido dos encargos e, na data do vencimento do empréstimo, será devido somente o valor correspondente ao principal. Abordaremos, agora, o tratamento contábil adequado a esse tipo de operação. 1.1 Quando os encargos devem ser apropriados em conta de resultado Não obstante essa modalidade de empréstimo seja de curto prazo, normalmente o vencimento da obrigação ocorre no mês seguinte ao da contratação, ou até em prazo mais flexível. Assim, as empresas que pagam o Imposto de Renda com base em balancetes trimestrais e aquelas que o pagam por estimativa, mas levantam balanço/balancete de suspensão ou redução, devem apropriar tais encargos mensalmente, conforme exemplificado neste texto. Idêntico critério deve ser adotado pelas empresas que, independentemente da forma adotada para Boletim IOB - Manual de Procedimentos - Set/2010 - Fascículo 36 TC 9

pagamento do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), utilizam a contabilidade, efetivamente, para fins gerenciais. 2. CONTABILIZAÇÃO DE EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS COM JUROS COBRADOS ANTECIPADAMENTE Consideremos determinada empresa que, em 05.06.20X2, tenha contraído um empréstimo, no valor de R$ 100.000,00, com o Banco Alfa S/A, a ser liquidado em 05.07.20X2. Se admitíssemos, por mera hipótese, que, na data da liberação do empréstimo, foram debitados R$ 10.100,00 na conta-corrente da hipotética empresa (R$ 10.000,00 relativos a juros e R$ 100,00 para pagamento de comissões e outros encargos), tal operação poderia ser assim contabilizada: 1) Pela liberação do empréstimo D - Bancos Conta Movimento (Ativo Circulante) C - Empréstimos e Financiamentos (Passivo Circulante) R$ 100.000,00 2) Pelos encargos pagos na liberação do empréstimo D - Despesas Financeiras a Apropriar (Ativo Circulante) C - Bancos Conta Movimento (Ativo Circulante) R$ 10.100,00 2.1 Encargos e liquidação do empréstimo Suponhamos os seguintes dados, meramente ilustrativos: a) no período compreendido entre a data da liberação do empréstimo (05.06.20X2) e o encerramento do mês (30.06.20X2), os encargos incorridos foram de R$ 8.600,00 (R$ 8.510,00 relativos a juros e R$ 90,00 a comissões e demais encargos); b) no mês de julho/20x2 (até 05.07.20X2 - data de vencimento do empréstimo), os encargos totalizaram R$ 1.500,00 (R$ 1.490,00 correspondentes a juros e R$ 10,00 a comissões e demais encargos). Com esses dados, teríamos os encargos incorridos no mês de junho/20x2: 3) Pelo valor dos encargos incorridos no mês de junho/20x2 D - Juros e Comissões Bancárias (Conta de Resultado) C - Despesas Financeiras a Apropriar (Ativo Circulante) R$ 8.600,00 4) Pelo valor dos encargos incorridos no mês de julho/20x2 D - Juros e Comissões Bancárias (Conta de Resultado) C - Despesas Financeiras a Apropriar (Ativo Circulante) R$ 1.500,00 5) Pela liquidação do empréstimo D - Empréstimos e Financiamentos (Passivo Circulante) C - Bancos Conta Movimento (Ativo Circulante) R$ 100.000,00 10 TC Manual de Procedimentos - Set/2010 - Fascículo 36 - Boletim IOB