ADEQUAÇÃO DA LEGISLAÇÃO VIGENTE À ROTULAGEM DE ALIMENTOS EMBALADOS EMPREGADA A HORTALIÇAS MINIMAMENTE PROCESSADAS ADEQUACY OF CURRENT LEGISLATION TO FOOD LABELING PACKAGED APPLIED TO VEGETABLES MINIMALLY PROCESSED BLAUDT, Luana Senna¹; SILVA, Yone² 1 Graduanda em Nutrição da Universidade Veiga de Almeida. Rua Ibituruna, 108 Maracanã, CEP: 20271 020, Rio de Janeiro RJ. E mail: luanablaudt@gmail.com 2 Docente do Curso de Graduação em Nutrição da Universidade Veiga de Almeida Rua Ibituruna, 108 Maracanã, CEP: 20271 020, Rio de Janeiro RJ. Doutoranda do Curso de Pós Graduação em Higiene e Tecnologia de Alimentos da UFF. E mail: yone.silva@uva.br Resumo : Hortaliças minimamente processadas vêm ganhando destaque nas gôndolas de supermercados por atenderem requisitos contemporâneos de saudabilidade, praticidade e segurança. Objetivou se com este estudo verificar a adequação da legislação vigente para rotulagem destes alimentos. Para isso verificou se a adequação de 15 amostras quanto aos itens exigidos em legislação de acordo com a Resolução RDC nº 259/02 e nº 360/03, respectivamente. Destas, 8 (53,3%) apresentaram 1 dos itens em desacordo com a legislação que prevê a rotulagem para alimentos embalados, 2 (13,3%) apresentavam 1 dos itens em desacordo com a legislação vigente para rotulagem nutricional de alimentos embalados e apenas 1 (6,7%) estava em desacordo com a legislação federal que prevê a declaração de glúten na embalagem. A não adequação as legislações específicas mostrou se presente, o que sugere a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa para este tipo de produto, a fim de não comprometer a rastreabilidade e a segurança sanitária do produto, ou ainda, afetar a relação de confiabilidade para com o consumidor. Palavras chave: Rótulo, rotulagem nutricional, vegetais. Abstract: Minimally processed vegetables have been gaining prominence on the shelves of supermarkets for meet contemporary requirements of healthiness, convenience and security. Considering the demand for these products, the objective of this study is to verify the adequacy of existing legislation for labeling of these foods. For it was verified the suitability of 15 samples as the items required in legislation for labeling and nutrition labeling, according to Resolution RDC nº 259/02 and nº 360/03, respectively. Of these, 8 (53.3 %) had one of the items in violation of the legislation providing for labeling for packaged food, 2 (13.3%) had 1 of the items in violation of current legislation for nutrition labeling of packaged food and only 1 ( 6.7%) was at odds with federal law providing for the gluten statement on the packaging. The not adequacy to specific legislation was present in this study, suggesting the need for closer monitoring for this type of product in order not to compromise the traceability and health product safety, or affect the reliability of relationship with the customer. 17
Key words: Labeling, nutrition labeling, vegetables. 1. INTRODUÇÃO Nos últimos anos, mudanças nos hábitos de consumo, especialmente na busca por uma alimentação mais natural e saudável, vem fazendo com que empresas busquem novas soluções para o processamento de alguns alimentos que atendam esta necessidade (CENCI, 2011). É neste contexto que hortaliças minimamente processadas (HMP) vêm ocupando espaço nas gôndolas de mercados em diversos países (MORETTI, 2007). Alguns supermercados além de oferecerem HMP de diversas marcas, também realizam este processamento em suas próprias instalações, atribuindo sua marca ao produto (SATO et al., 2008). Estes alimentos podem ser definidos como aqueles que passaram por alterações físicas, através de processos de seleção, pré lavagem, corte ou fatiamento, sanitização, enxágue, centrifugação, embalagem e refrigeração, dentre outros, buscando a manutenção de um produto fresco, saudável, seguro e, na maioria das vezes, pronto para o consumo (PRADO et al., 2008). Assim, estes produtos vêm ganhando destaque em razão da praticidade e conveniência para consumi los, com necessidade de pouco ou nenhum preparo (MORETTI, 2007), em especial, nos grandes centros urbanos, por atenderem requisitos contemporâneos de saudabilidade, praticidade e segurança (CENCI et al., 2006). Um dos aspectos importantes para a comercialização segura de um alimento são as informações contidas nos seus rótulos. Entretanto, no Brasil ainda não existem leis ou normas que sejam específicas para rotulagem de HMP, embora existam alguns regulamentos gerais que podem ser aplicáveis a este tipo de produto alimentício. Rotulagem é toda inscrição, legenda, imagem ou matéria descritiva ou gráfica, escrita, impressa, estampada, gravada, gravada em relevo ou litografada ou colada sobre a embalagem do alimento (BRASIL, 2002). A rotulagem em alimentos permite uma melhor comunicação entre empresas produtoras e consumidores que buscam informações sobre o produto que esteja adquirindo. Dentre outros objetivos, a regulamentação da rotulagem destina se a proteger os consumidores de declarações consideradas abusivas ou improcedentes que possam induzi los a erros (PAIVA; HENRIQUES, 2005). Sua presença é obrigatória para todos aqueles alimentos produzidos e comercializados independentemente de sua origem, embalados na ausência do cliente e prontos para serem oferecidos aos consumidores, com destaque também para a rotulagem nutricional (BRASIL, 2002). A rotulagem nutricional busca fornecer informações referentes à composição e propriedades dos alimentos, possibilitando ao consumidor uma melhor identificação daqueles nutrientes mais adequados para a promoção de uma dieta saudável (BRASIL, 2003). Considerando a crescente demanda por produtos saudáveis e de fácil preparo, objetivou se com este estudo verificar a adequação da legislação vigente para rotulagem de HMP. 2. MATERIAL E MÉTODOS 18
Foram coletados aleatoriamente 15 rótulos de hortaliças minimamente processadas, comercializadas congeladas ou sob refrigeração, de 13 diferentes marcas, adquiridas em 5 estabelecimentos varejistas do município do Rio de Janeiro, nos meses de maio e junho de 2015. Verificou se a adequação da rotulagem das amostras por meio de uma ficha de avaliação de rotulagem padronizada contendo todos os itens exigidos na RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002. Em seguida, foi verificada a conformidade das informações nutricionais, por meio de uma ficha de avaliação de rotulagem nutricional padronizada de acordo com os itens exigidos na RDC nº 360, de 23 de dezembro de 2003. Foi verificada ainda a presença obrigatória das expressões contém glúten ou não contém glúten, de acordo com a Lei Federal nº 10.674, de 16 de maio de 2003. Para avaliação da adequação dos rótulos dos produtos, foi estabelecido que quando pelo menos um dos parâmetros exigidos em legislação fosse classificado como inadequado ou ausente, a amostra era por sua vez classificada como fora dos parâmetros exigidos pela legislação. Em seguida, foi verificado o percentual específico para cada norma inadequada. Para análise dos dados e confecção de gráficos foi utilizado o software Microsoft Excel. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Considerando a avaliação das informações obrigatórias de rotulagem para alimentos embalados, conforme preconiza a Resolução RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002 da ANVISA, que aprova o Regulamento Técnico sobre Rotulagem de Alimentos Embalados, o presente estudo encontrou 8 (53,3%) dos rótulos com 1 dos itens em desacordo com a legislação e 7 (46,7%) dentro dos parâmetros exigidos. Em um dos estabelecimentos escolhidos aleatoriamente para obtenção das amostras, verificou se a ausência de quaisquer rotulagens para as HMP comercializadas no local, evidenciando uma possível falta de conhecimento por parte dos gestores locais ou ainda a carência de uma fiscalização mais rigorosa para este tipo de produto, em função do mesmo poder ser considerado de menor risco sanitário. Todos os rótulos analisados apresentavam denominação de venda do alimento, que conforme legislação corresponde ao o nome específico e não genérico que indica a verdadeira natureza e características do alimento. A presença da lista de ingredientes foi verificada em 11 (73,3%) das amostras. Entretanto, aqueles 4 (26,7%) que não apresentavam lista de ingredientes, continham algum tipo de identificação no rótulo e estavam em conformidade com a legislação vigente, uma vez que esta não é exigida quando o produto em questão contém um único ingrediente. Na lista de ingredientes, 2 (13,3%) das amostras apresentavam a declaração de aditivos, sua função principal ou fundamental e seu nome completo ou número de INS, e 2 (13,3%) apresentavam a seguinte informação não contém aditivos ou conservantes, o que não é previsto em legislação, uma vez que pode induzir o consumidor a engano quanto à verdadeira natureza do produto. Vale ressaltar que uma das amostras que apresentava em sua lista de ingredientes o aditivo metabissulfito de sódio, também fazia a declaração sem conservantes em sua embalagem, induzindo novamente o consumidor ao erro. 19
Todas as embalagens analisadas apresentaram conteúdo líquido e identificação de origem com o nome (razão social) do fabricante, endereço completo de origem e número de registro ou código de identificação do estabelecimento fabricante junto ao órgão competente. Quanto às instruções de uso e preparo, 6 (40%) das amostras não apresentavam quaisquer instruções apesar de se fazer necessário para sua reconstituição (Gráfico 1). Foram consideradas necessárias as instruções de uso e preparo nos rótulos dos alimentos que, para consumo, houvesse obrigatoriedade de etapa de descongelamento, cocção ou outro tratamento. Gráfico 1 Percentual de inadequação dos itens obrigatórios dos rótulos de Hortaliças Minimamente Processadas de acordo com a Resolução RDC nº 259/02 da ANVISA. Fonte: Dados da pesquisa A indicação do modo de conservação esteve presente em 100% dos rótulos, com caracteres legíveis e recomendações necessárias para manter as características normais do alimento, indicando as temperaturas para conservação adequada. O lote não foi encontrado em 2 (13,3%) dos rótulos analisados (Gráfico 1) e o prazo de validade esteve presente em 100% das amostras. Destes, 3 (19,98%) não possuíam a data de fabricação, apesar de facultativa, é de grande importância para o consumidor ao adquirir um produto, especialmente as HMP expostas em temperatura ambiente ou refrigeradas, por terem uma vida útil mais curta se comparada a outros produtos. Entretanto, nem mesmo o prazo de validade é exigido para frutas e hortaliças frescas, incluídas as batatas não descascadas, cortadas ou tratadas de forma análoga. Todas as embalagens analisadas possuíam informações nutricionais, entretanto 2 (13,3%) das amostras apresentavam 1 dos itens em desacordo com a RDC nº 360, de 23 de dezembro de 2003 da ANVISA, que Aprova Regulamento Técnico sobre Rotulagem Nutricional de Alimentos Embalados. Das amostras analisadas, 100% apresentavam a descrição de todos os nutrientes obrigatórios e seus respectivos valores energéticos, tais como carboidratos, proteínas, gorduras totais, gorduras saturadas, gorduras trans, fibra alimentar e sódio. 20
Quanto à presença dos valores diários de referência, todas as amostras tinham como base uma dieta de 2.000 kcal ou 8400 kj e apresentavam a seguinte informação seus valores diários podem ser maiores ou menores dependendo de suas necessidades energéticas. A porção, definida como a quantidade média do alimento a ser consumida por pessoas sadias, também esteve presente em 100% das amostras. E a medida caseira não esteve presente em 2 (13,3%) das amostras (Gráfico 2). Gráfico 2 Percentual de inadequação dos itens obrigatórios dos rótulos de Hortaliças Minimamente Processadas de acordo com a Resolução RDC nº 360/03 da ANVISA e Legislação Federal nº 10.674/03. Fonte: Dados da pesquisa Dos rótulos analisados, 1 (6,7%) não apresentava a declaração contém glúten ou não contém glúten (Gráfico 2), estando em desacordo com a Lei Federal nº 10.674, de 16 de maio de 2003. Dentre aqueles que apresentavam a informação, todos continham a indicação não contém glúten. Em um estudo semelhante, Prado et al. (2008) avaliaram 70 amostras de HMP comercializadas no município de Ribeirão Preto/ SP e constataram que 100% das amostras estavam em desacordo com pelo menos uma das legislações utilizadas para rotulagem e 97,1% dos rótulos avaliados estavam em desacordo quanto à apresentação das informações nutricionais obrigatórias. Segundo os mesmos autores a rotulagem fornece aos consumidores uma maior segurança em relação ao produto que consomem e faz com que agricultores sejam responsáveis por aquilo que produzem, uma vez que possibilita a rastreabilidade e serve como identidade para o produto. Para Silva e Nascimento (2007) a inadequação ou ausência da rotulagem pode além de lesar o direito do consumidor em ter acesso a informações fidedignas, pode ainda influenciar aspectos inerentes à segurança alimentar. 21
Em um estudo com 144 consumidores de couve minimamente processada residentes na cidade de Viçosa/ MG, verificou se que 77% tinham sempre ou frequentemente o hábito de ler os rótulos das embalagens e, dentre os aspectos observados, 95% tinham o costume de observar a data de validade, 89% o preço, 69% a marca e 67% as informações nutricionais (DANTAS et al. 2005). 4. CONCLUSÃO A não conformidade com as legislações específicas mostrou se presente neste estudo, o que sugere a necessidade de uma maior fiscalização sob este mercado a fim de não comprometer a segurança sanitária do produto, além da confiabilidade das informações passadas ao consumidor. Dentre aqueles itens previstos em legislação, que demonstraram se inadequados, o lote tem especial importância por permitir a rastreabilidade da remessa caso exista algum tipo de contaminação com o produto. E as instruções de preparo e uso, assim como a medida caseira podem vir a intervir na escolha do produto ou mesmo dificultar a adesão a uma dieta equilibrada, uma vez que podem interferir na preparação da refeição final. 5. REFERÊNCIAS BRASIL. Resolução RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002. Aprova o Regulamento Técnico sobre Rotulagem de Alimentos Embalados. ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Diário Oficial da União; Poder Executivo. Brasília, 23 de dez. 2002. BRASIL. Resolução RDC nº 360, de 23 de dezembro de 2003. Aprova Regulamento Técnico sobre Rotulagem Nutricional de Alimentos Embalados, tornando obrigatória a rotulagem nutricional. ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Diário Oficial da União; Poder Executivo. Brasília, 26 de dez. 2003. CENCI, S. A. (Org.). Processamento mínimo de frutas e hortaliças. Tecnologia, qualidade e sistemas de embalagem. 1º Ed. Rio de Janeiro: Embrapa Agroindústria de Alimentos, 2011, 144 p. CENCI, S. A. ; GOMES, C. A. O.; ALVARENGA, A. L. B. et al. Boas Práticas de Processamento Mínimo de Vegetais na Agricultura Familiar. In: NETO, F. N. (Org.). Recomendações Básicas para a Aplicação das Boas Práticas Agropecuárias e de Fabricação na Agricultura Familiar. 1º Ed. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2006, p. 59 63. DANTAS M. I. S.; DELIZA R.; MINIM V. P. R et al. Avaliação da intenção de compra de couve minimamente processada. Ciênc. Tecnol. Aliment, Campinas, v. 25, n.4, p.762 767, out./dez., 2005. MORETTI, C. (Org). Manual de Processamento Mínimode Frutas e Hortaliças. 1 º Ed. Brasília: Embrapa Hortaliças, 2007, 531 p. 22
PAIVA, A. J. ; HENRIQUES, P. Adequação da rotulagem de alimentos diet e light ante a legislação específica. Revista Baiana de Saúde Pública, v. 29, n.1, p.39 48, jan./jun., 2005. PRADO, S. P. T.; RIBEIRO, E. G. A.; CAPUANO, D. M. et al. Avaliação microbiológica, parasitológica e da rotulagem de hortaliças minimamente processadas comercializadas no município de Ribeirão Preto, SP/Brasil. Rev. Inst. Adolfo Lutz, v. 67, n. 3, p. 221 227, 2008. SATO G. S.; MARTINS, V. A.; BUENO C. R. F. Uma análise comparativa dos preços entre hortaliças e frutas processadas e convencionais comercializadas no município de São Paulo em 2006. Informações Econômicas, v. 38, n. 6, p. 49 58, jun., 2008. SILVA E. B.; NASCIMENTO K. O. Avaliação da Adequação da Rotulagem de Iogurtes. CERES: Nutrição & Saúde, v. 2, n. 1, p.9 14 2007. 23