O PERFIL E A FORMAÇÃO DO ESTAGIÁRIO MEDIADOR PARA SUPORTE DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA



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Transcrição:

O PERFIL E A FORMAÇÃO DO ESTAGIÁRIO MEDIADOR PARA SUPORTE DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Autoras: Nathália Moreira da Cunha. Rosana Glat. Suzanli Estef da Silva Carla Fernanda Oliveira de Siqueira Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) RJ. Eixo Temático: Formação de Professores em Educação Especial. Categoria: Pôster. Resumo: Este trabalho tem por objetivo analisar e refletir sobre o papel dos estagiários mediadores no desenvolvimento de alunos com necessidades educacionais especiais incluídos em classes regulares bem como a forma como vem se dando a entrada deste novo personagem na escola. O presente texto é uma reflexão oriunda de uma pesquisa ainda em andamento que acompanhou, por meio de observação participante, a rotina escolar de uma criança com autismo matriculada em uma classe comum de uma escola municipal do Rio de Janeiro. Observou-se que os estudantes universitários se apresentam despreparados e pouco informados sobre a função que devem exercer e que costumam atuar seguindo, muitas vezes, o bom senso. Entretanto, concluímos que este pode ser uma alternativa viável para facilitar a inclusão e aprendizagem desses alunos, desde que medidas sejam tomadas para aprimorar o processo que envolve a contratação destes estudantes e sua permanência na instituição escolar. Escolar. Palavras-chave: Educação inclusiva; Estagiário mediador; Mediação O panorama escolar do Brasil vem se alterando e a democratização do ensino se estende aos alunos com deficiências e outras condições atípicas de desenvolvimento, sobretudo a partir dos anos 1990. Isso se deve a diversos 1 8600

fatores, destacando-se o reconhecimento e o aumento significativo de políticas voltadas para a educação inclusiva, com a finalidade de garantir o direito ao ensino de qualidade para todos os alunos. Nesta proposta, a escola tem obrigação de acolher no ensino regular todas as crianças, sem exceção, e adequar suas práticas para viabilizar a aprendizagem e desenvolvimento dos alunos com necessidades educacionais especiais. Nessa direção, a Educação Especial é atendida como elemento integrante e indistinto do sistema educacional que se realiza transversalmente, em todos os níveis de ensino, nas instituições escolares, cujo projeto, organização e prática pedagógica devem respeitar a diversidade dos alunos e exigir diferenciações nos atos pedagógicos que contemplam as necessidades educacionais de todos. Suas ações devem refletir a capacidade que todos têm de aprender, dando ênfase a convivência e á aprendizagem na heterogeneidade como a melhor forma para a construção do conhecimento, promoção da cidadania e afirmação da democracia social (VALLE, MENEZES & VANSCONCELOS, p. 136, 2010). Assim, se por um lado assistimos ao avanço da sociedade em relação à garantia legal dos direitos do cidadão, por outro, nos deparamos com novos desafios que precisam ser enfrentados. Um deles é o de fazer cumprir a legislação em vigor, garantindo aos alunos com necessidades educacionais especiais, ingresso, permanecia e aprendizagem na escola (GLAT & BLANCO, 2007). Apesar de amparada por ampla legislação (BRASIL, 2008; 2008a; 2011, entre outros) a inclusão escolar é ainda uma questão a ser aprimorada na educação no Brasil. Desde a década de 1990 com a Declaração de Educação para Todos (WCEFA, 1990) e a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994), o movimento em prol da Educação Inclusiva tomou força, gerando uma crescente discussão sobre o papel e a qualidade da educação, como esclarecem Macedo, Carvalho e Pletsch (2011, p.37). (...) A proposta de educação inclusiva como parte de uma política mais ampla de inclusão social, ganhou destaque nos debates educacionais brasileiros, sobretudo a partir da implementação, em 1996, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Especial. Desde então, inúmeras outras diretrizes e leis foram elaboradas para garantir os direitos sociais e educacionais dessas pessoas que, em sua 2 8601

maioria, continuam ainda matriculadas em contextos educacionais segregados (...) Apesar de sua ampla divulgação e dos programas de incentivo à Educação Inclusiva, a implementação desta política continua sendo um desafio que a escola enfrenta. Para proporcionar uma educação de qualidade, é preciso que sejam adotados recursos e meios que permitam um melhor desenvolvimento social e cognitivo para os alunos com deficiência e outras necessidades especiais incluídos em turmas comuns. A implementação da Política de Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) e, atendendo aos Decretos nº 6571/2008 e nº 7611/2011 (BRASIL, 2008a; 2011), a Rede Municipal de Educação do Rio de Janeiro intensificou as políticas de inclusão escolar na tentativa de proporcionar atendimento educacional especializado para alunos com necessidades especiais incluídos no ensino regular, elaborando medidas de apoio à escolarização deste alunado. Dentre elas, foi criada a figura do estagiário mediador 1 para dar suporte às escolas que possuem alunos considerados especiais, matriculados em turmas comuns. Este texto se propõe a traçar uma reflexão sobre o papel deste, baseado em uma pesquisa, ainda em andamento, que busca compreender o papel, a formação e a importância desse agente educacional no desenvolvimento de crianças com necessidades especiais incluídas em turmas regulares em escolas de ensino comum. Para fundamentar nossas reflexões e proporcionar uma melhor compreensão sobre a função do mediador na pratica cotidiana escolar, bem como os benefícios, dificuldades e utilidades de sua atuação, nos apoiamos na literatura da área. Como mencionado o mediador, que atua na Rede Municipal de Educação do Rio de Janeiro, é um estagiário. Logo, trata-se de um agente cuja formação ainda não está concluída, nem mesmo para o exercício da docência. Entendemos que o estágio seja um ato educativo que visa a preparação do estudante para o trabalho produtivo. Sem este a separação 1 Vale ressaltar que esta denominação foi criada para uso no presente trabalho, uma vez que a mesma não está regulamentada em qualquer documento oficial. Outras redes adotam diferentes denominações para se referirem a profissionais que exercem função semelhante (GLAT & PLETSCH, 2011; GLAT, 2012). 3 8602

entre teoria e prática estaria ainda mais demarcada do que já se apresenta. A Proposta de Diretrizes para a Formação de Professores da Educação Básica em Cursos de Nível Superior (BRASIL, 2000) fala sobre a necessidade de uma revisão no processo de formação de professores e destaca como um dos principais problemas o distanciamento entre os cursos de formação e o exercício da profissão docente no ensino fundamental e médio. O fato das escolas de formação não conseguirem se articular com um grupo de escolas do sistema de ensino - e compartilhar com elas o desenvolvimento de um projeto de formação, com ações que atendam aos interesses das duas instituições - impede que o estágio cumpra o relevante papel que desempenha em uma formação profissional (BRASIL, 2000, p.23-24). Nessa perspectiva, é de vital importância refletir sobre a forma adequada de desenvolver o aprendizado das crianças com necessidades especiais incluídas em turmas comuns, e cuidar para que a inclusão realmente aconteça. Para isso, é necessário que os responsáveis por esse processo tenham conhecimento e capacitação para implementação da proposta e consciência de suas obrigações e limites de atuação. Para o desenvolvimento de um trabalho de qualidade, o professor do ensino regular conta, ou deveria contar, com o suporte de atendimento educacional especializado (AEE) para complemento pedagógico dos alunos em sala de recursos no contra turno e, em alguns casos, o auxílio de um professor itinerante. Esses serviços são assegurados pela Resolução Nº4, (BRASIL, 2009) e pela Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008). O AEE tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem (BRASIL, Seção 1, p. 17, 2009). A Resolução Nº 4, citada acima, também deixa clara a obrigação da escola de criar alternativas para superar a exclusão, apresentando como objetivos a transversalidade da educação durante todos os níveis de ensino, a acessibilidade para a locomoção e o aprendizado, bem como a formação de professores para o atendimento educacional especializado e os demais 4 8603

profissionais da educação para a inclusão escolar. Este último ponto pode ser melhor compreendido através do artigo 12, que determina para a atuação no atendimento educacional especializado a formação inicial como professor além de formação específica para a Educação Especial. Entretanto, o que vem acontecendo no município do Rio de Janeiro é a contratação de estudantes sem uma preparação adequada para ocupar uma função de tamanha importância como a mediação de alunos com deficiências incluídos em turmas comuns. As escolas se vêm na obrigação de receber todos os alunos, mas não parecem preparadas para garantir um processo inclusivo que vá além da simples presença em sala de aula. Por isso buscam, através dos estagiários, um trabalho que promova uma maior participação e um melhor aprendizado para os alunos. Esses graduandos são contratados sem qualquer requisito, com a única condição de estarem matriculados em uma das universidades conveniadas com a prefeitura, públicas e particulares, e podendo estar inscrito em qualquer curso superior, independente do período. No total são 2.300 vagas, divididas entre as funções de estagiário mediador para a educação especial e de reforço escolar, distribuídas entre as dez Coordenadorias Regionais de Educação (CREs). A remuneração atual é de R$ 400,00 para escolas regulares e R$ 600,00 se a instituição estiver localizada em uma área de difícil acesso. Além disso, em ambas as situações, os estagiários recebem cerca de R$ 105,00 como auxílio transporte para a passagem 2. A capacitação restringe-se a algumas aulas teóricas onde são transmitidas definições gerais, durante o período de atuação na escola, com uma média de duas aulas por semestre. Na prática, as atividades desenvolvidas pelos mediadores são, em grande parte, semelhantes às do professor itinerante que, de acordo com as orientações da SME, tem como atribuição a elaboração de materiais pedagógicos voltados para a especificidade de cada aluno e a assessoria às 2 Informações disponíveis no site da prefeitura do município do Rio de Janeiro (http://www.rio.rj.gov.br/web/sme/exibeconteudo?article-id=997925), acessadas em 10 de agosto de 2012. 5 8604

escolas que possuem matrículas de inclusão. Como lembra Redig (2010, p. 370): (...) É importante que o trabalho desenvolvido por esse profissional (professor itinerante) esteja articulado com o projeto político pedagógico da escola em que o aluno está matriculado. Nesse sentido, de acordo com Pletsch (2005) algumas funções desse profissional são o acompanhamento do aluno, assistência aos professores das turmas regulares e a família. Para efetivar o atendimento ao educando, as professoras itinerantes utilizam diversas estratégias. Para atuar na rede municipal de ensino como professor itinerante (assim como em outras modalidade de suporte especializado), segundo Pletsch & Glat (2007), é necessário aprovação em concurso público, em que se mostra apto para lecionar, bem como formação específica exigida pelas diretrizes nacionais já mencionadas. O papel dado aos estagiários mediadores na rede pública municipal do Rio de Janeiro nos remete ao papel dos facilitadores das escolas particulares, muitas vezes também estudantes, que são contratados pelas famílias de alunos com deficiência, para acompanhar e facilitar o seu aprendizado (CARVALHO, 2008). Ou seja, o serviço é oferecido exclusivamente ao aluno em foco, e geralmente, o mediador ou facilitador não faz parte da equipe pedagógica da escola. Carvalho (2008) menciona algumas dificuldades encontradas pelos facilitadores no desenvolvimento de seus trabalhos, as quais são, possivelmente, as mesmas que encontradas pelos estagiários mediadores. Tratam-se de insegurança sobre suas competências, necessidade de maior orientação, falta de informação e espaço nas reuniões da equipe, além da percepção de que sua presença pode, em alguns casos, prejudicar a inclusão do aluno por ressaltar a sua diferença a partir da necessidade de um acompanhamento individual constante. Os graduandos, que, em grande parte, estão nos períodos iniciais do curso de Pedagogia, chegam às escolas, por vezes, sem saber ao certo nem mesmo qual é a necessidade educacional especial do aluno que irão acompanhar. Dessa forma, se apresentam com pouca experiência e 6 8605

embasamento profissional, o que, de certa forma, não poderia ser diferente uma vez que estão ainda no início da formação. São colocados na sala de aula de maneira precipitada, sem um mínimo de informação e postos diante de uma criança com deficiência, muitas vezes totalmente isolada e com dificuldades de acompanhar a classe. Esta é uma situação já constatada, tanto empírica quanto cientificamente (PLETSCH, 2010; GLAT & PLETSCH, 2011, entre outros). De fato, tanto em escolas públicas quanto privadas encontra-se um grande número de crianças, ditas incluídas, que, quando observadas, percebemos que apenas estão presentes fisicamente nas salas de aula, sem estarem inseridas de forma significativa naquele contexto, por não apresentarem nenhuma forma de interação com a turma e, até mesmo, com o professor regente. Diante dessa realidade o estagiário acaba por fazer um papel de cuidador ou até mesmo babá, vigiando e contornando situações para que a criança não atrapalhe ou prejudique o decorrer da aula. Deixando, assim, de lado sua real função que deveria ser a de mediador: facilitar o processo de aprendizagem e possibilitar melhores condições para o desenvolvimento da criança e da sua socialização com a turma. Essa situação acaba por excluir ainda mais a criança, que passa a conviver apenas com o estagiário e a desenvolver com ele atividades e conteúdos que, na maioria das vezes, não correspondem aos conteúdos com os quais a turma trabalha. Fazendo assim com que a educação inclusiva seja apenas um disfarce de educação especial, transvertida de integradora por acontecer dentro de uma sala regular, mas com o mesmo caráter excludente e segregativo da Educação Especial tradicional. Em suma, uma proposta que poderia ser potencialmente um recurso para facilitar o processo de inclusão de alunos com necessidades especiais, acaba se transformando em mais um fator de exclusão na escola. Diante do exposto, consideramos que algumas estratégias poderiam ser adotadas com o objetivo da melhoria da qualidade do atendimento ofertado pelos mediadores, tais como: estudantes universitários poderiam ser capacitados de forma mais eficiente, talvez através de parceria com as universidades ou ainda com a 7 8606

própria equipe especializada da rede municipal, desde que de esta formação fosse organizada e ofertada antes de assumirem a função para que se sentissem menos confusos e mais capazes de realizar um trabalho significativo. A seleção deveria ser mais criteriosa e exigir, no mínimo, que o estudante tivesse matriculado em um curso de formação de professores e cursado as matérias obrigatórias referentes à Educação Inclusiva / Especial. Consideramos que o estagiário moderador é, de certa forma, uma solução paliativa para a redução da dificuldade das escolas de incluir de forma efetiva os alunos com deficiência. Trata-se de um cargo que não consta nem mesmo nos documentos oficiais e sua implementação baseia-se apenas na necessidade de suporte, o que dificultou até mesmo a busca por bibliografia para o presente trabalho. Como já mencionado, o atendimento educacional especializado deveria ocorrer como um ensino complementar, no contra turno da turma comum. A mediação, como vem sendo implementada, de modo geral pode acarretar um olhar ainda mais diferenciado sobre o aluno especial por este estar diariamente recebendo acompanhamento individual. Isso acaba gerando um maior distanciamento dos colegas e até mesmo do professor, que trata a criança de maneira diferenciada, já que essa esta sendo atendida por outra pessoa. É como se ele não fizesse parte da turma, apenas ocupasse o mesmo espaço. Logo, o ideal seria o aumento do quantitativo de salas de recursos e a melhoria das que já existem, a disponibilização de mais vagas e concursos para professores especializados e capacitados para lidarem com as individualidades dos alunos, maiores ofertas de materiais e cursos de capacitação e conscientização. Assim, as adaptações e planejamentos poderiam ser elaborados pelos profissionais do atendimento educacional especializado juntamente com os professores do ensino regular e, possivelmente, os próprios estagiários em reuniões com pauta voltada para o planejamento e a facilitação. Dessa forma o mediador teria um suporte maior, além de orientação e supervisão adequada para exercer sua função na condição de estagiário, o que contribuiria para a qualidade de sua formação 8 8607

profissional e garantiria um quadro mais efetivo e condizente com o esperado e delimitado pelas políticas educacionais para a inclusão de alunos com necessidades especiais em turmas de ensino regular. Outro ponto importante para que a mediação escolar seja um suporte efetivo, e não apenas um método para conter ou amenizar as dificuldades diárias provocadas pelas limitações dos alunos especiais incluídos em turmas comuns é que esta deveria ser ofertada apenas para crianças seriamente comprometidas, que necessitassem de acompanhamento individualizado para se manter em sala ou para executar atividades diárias. A prática que vem sendo naturalizada de que todo aluno com deficiência deve ter um mediador pode retirar da professora regente em sua classe a responsabilidade sobre ele, que é seu aluno como o restante da turma, e reduzir o desenvolvimento da autonomia da criança. Desse modo, crianças com comprometimentos leves poderiam se encontrar mais limitadas do que estariam sem a presença do estagiário. Mesmo nos casos em que o acompanhamento individualizado se apresente como necessário, providências poderiam ser tomadas para que este suporte fosse gradativamente reduzido. Permitindo assim que, aos poucos, o aluno conquistasse mais independência e tornando assim o processo de inclusão mais eficiente e verdadeiramente inclusivo. Referências Bibliográficas: BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Proposta de Diretrizes para a formação inicial de professores da educação básica, em cursos de nível superior. Brasília, maio/2000.. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, 2008.. Decreto nº. 6.571. Brasília, 2008a. 9 8608

. Ministério da Educação Resolução n. 4. Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial. Brasília, 2009.. Decreto 7.611. Brasília, 2011. CARVALHO, R. E. Cartografia do trabalho docente na Educação Inclusiva. Revista @mbienteeducação, v.1, n.2, p.2-30, 2008. GLAT, R.; BLANCO, L.de M. V. Educação especial no contexto de uma educação inclusiva. In: GLAT, R. (Org.). Educação inclusiva: cultura e cotidiano escolar. Rio de Janeiro: Ed. Sette Letras, 2007., R.; PLETSCH, M. D. Inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011 MACEDO, P.; CARVALHO, L. & PLETSCH, M. Atendimento Educacional Especializado: Uma Breve Análise das Atuais Políticas de Inclusão. P. 35-45. In: PLETSCH, M. D. & DAMASCENO, A. (Orgs.). Educação Especial e Inclusão Escolar: Reflexões Sobre o fazer pedagógico. Seropédica, RJ: Ed. Da UFRRJ, 2011. PLETSCH, M.D. & GLAT, R. O ensino itinerante como suporte para inclusão de pessoas com necessidades educativas especiais na rede pública de ensino: uma abordagem etnográfica. In: Revista Iberoamericana de Educacion, nº 41, vol. 12, 2007., M. D. Repensando a inclusão escolar: diretrizes políticas, práticas curriculares e deficiência intelectual. Rio de Janeiro: Editora NAU/EDUR, 2010. REDIG, Annie Gomes. Reflexões sobre o ensino itinerante na EJA: o relato de uma professora especialista. Revista Educação Especial. V.23, nº 38, p.369-378. Santa Maria/ RS. Outubro/2010. UNESCO. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: CORDE, 1994. VALLE, Bertha de Borja Reis do, MENEZES, Janaína Specht da Silva e VASCONCELOS, Maria Celli Chaves. Plano Estadual de Educação do Rio de Janeiro (PEE/RJ): A Trajetória de uma Legislação. Rio de Janeiro: Quartet: Outras Letras, 2010. WCEFA- Declaração mundial sobre educação para todos. 1990. Disponível em: <http://www.interlegis.gov.br>. 10 8609