Nematóides do Algodoeiro

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Transcrição:

Boletim informativo nº 01 Nematóides do Algodoeiro oletim FACUAL FACUAL Em pa nformativo Fundo de Apoio à Em pa Fundo de Apoio à Cultura do Algodão Cultura do Algodão

BOLETIM INFORMATIVO Nº 1 OCORRÊNCIA DE NEMATÓIDES FITOPARASITOS EM ALGODOAIS DO ESTADO DO MATO GROSSO (2001/02) LOCAIS: Região Centro-sul Primavera do Leste e Campo Verde Região Sul Rondonópolis e Itiquira Região Médio-norte Campo Novo do Parecis e Sapezal EXECUÇÃO: Parceria UNIVAG, EMBRAPA, ESALQ/USP EQUIPE: Proª M.Sc. Rosangela A. da Silva UNIVAG/Agronomia Profª M.Sc. Mirian A. S. Serrano UNIVAG/Agronomia Dr. Guilherme L. Asmus EMBRAPA-Agropecuária Oeste Dr. Mário M. Inomoto ESALQ/USP ESTAGIÁRIOS: Dárcio C. Borges UNIVAG/Agronomia Antonio C. Gomes UNIVAG/Biologia Anderson A. de Souza UFMT/Agronomia Daniel B. Beluti ESALQ/Agronomia Daniela Espanguer Graciano EMBRAPA-Agropecuária Oeste FONTE FINANCIADORA: Fundo de Apoio à Cultura do Algodão FACUAL

APRESENTAÇÃO O algodão é uma cultura importante para a indústria têxtil e alimentar (óleo e ração). No Mato Grosso a cotonicultura conquistou posição de destaque no cenário agrícola nacional neste novo século que se inicia. Após seis anos de cultivo em áreas de alta tecnologia no Estado, muitos paradigmas foram superados, resultando na consolidação da cultura e na obtenção de produtividade e qualidade de fibra competitiva em nível mundial. Mato Grosso ocupa o primeiro lugar na produção brasileira, atingindo aproximadamente 50% do total produzido no país. Em 2001, o UNIVAG CENTRO UNIVERSITÁRIO, através do Grupo de Produção Acadêmica de Ciências Agrárias, iniciou um programa de pesquisa de algodão com o intuito de somar esforços no desenvolvimento da cultura no estado de Mato Grosso. Este trabalho é fruto da parceria UNIVAG/ESALQ/EMBRAPA Oeste, com colaboração do Fundo de Apoio à Cultura do Algodão, o FACUAL. Seu escopo principal é dar apoio técnico para que a cultura do algodão, em Mato Grosso, seja estável e duradoura. Este boletim apresenta os resultados e informações dos trabalhos efetuados no campo e no laboratório, durante o primeiro ano de execução do projeto Nematóide na cultura do algodão. Prof. Es. Luiz Duarte Silva Júnior Gerente do Grupo de Produção Acadêmica de Ciências Agrárias 2

SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ÍNDICE DE TABELAS ÍNDICE DE FIGURAS INTRODUÇÃO METODOLOGIA RESULTADOS 1. Pratylenchus brachyurus 2. Meloidogyne incognita 3. Rotylenchulus reniformis 4. Outros nematóides LITERATURA CITADA 02 04 04 05 06 07 07 10 14 14 16

ÍNDICE DE TABELAS TABELA 1. Nematóides fitoparasitos de importância para a cultura do algodão no Brasil. TABELA 2. Freqüência de ocorrência e população de nematóides fitoparasitos associados ao algodoeiro em três regiões do estado do Mato Grosso (ano de 2002; 623 amostras). TABELA 3. Ocorrência e população média de Pratylenchus em três regiões do estado do Mato Grosso (ano de 2002). 05 15 15 ÍNDICE DE FIGURAS FIGURA 1. Locais onde foram realizadas as coletas das amostras. FIGURA 2. Efeito de Meloidogyne incognita e Pratylenchus brachyurus na cultivar Delta Opal. FIGURA 3. Área infestada com Pratylenchus brachyurus (a) e lesão na raiz (b). FIGURA 4. Galhas em raízes de algodão provocadas por Meloidogyne incognita. FIGURA 5. Reboleira provocada por Meloidogyne incognita. FIGURA 6. Sintoma conhecido como carijó do algodoeiro. FIGURA 7. Freqüência de ocorrência das espécies de nematóides no solo e nas raízes das 623 amostras coletadas. 06 08 09 10 11 12 13

INTRODUÇÃO O estado do Mato Grosso é, atualmente, o maior produtor nacional de algodão, com uma área plantada de 312,8 mil ha e produtividade de 3.225 kg/ha (safra 2001/02). Apesar de ser importante fonte de riquezas, a cotonicultura não é uma atividade tradicional no Estado. Só nos últimos anos grandes áreas passaram a ser utilizadas para o cultivo do algodão, sendo que, em função disso, existem algumas lacunas nas informações sobre essa cultura, como, por exemplo, a respeito dos nematóides fitoparasitos. Foi com o objetivo de trazer maiores conhecimentos sobre tais áreas de cultivo que se iniciou, no ano de 2001, uma série de trabalhos experimentais e de campo, cujos primeiros resultados estão aqui resumidos. O algodoeiro é atacado por várias espécies de nematóides: Rotylenchulus reniformis, Meloidogyne incognita, Pratylenchus brachyurus, Belonolaimus longicaudatus, B. gracilis, Hoplolaimus columbus, Paratrichodorus spp. e Tylenchorhynchus spp. (Starr, 1998). No Brasil, as espécies de nematóides mais daninhas ao algodoeiro podem ser vistas na Tabela 1. Essas espécies são parasitas de um grande número de culturas, inclusive a soja, o que aumenta seu potencial de risco. TABELA 1. Nematóides fitoparasitos de importância para a cultura do algodoeiro no Brasil. Nome científico Nome comum Forma de parasitismo Meloidogyne incognita nematóide das galhas endoparasito, sedentário Rotylenchulus reniformis nematóide reniforme endoparasito*, sedentário Pratylenchus brachyurus nematóide das lesões endoparasito, migrador *ou semi-endoparasito, para alguns autores. 5

Neste relato são apresentados os resultados do levantamento realizado em três regiões cotonicultoras do Estado. METODOLOGIA As coletas foram realizadas nas regiões Centro-sul (Primavera do Leste e Campo Verde), Sul (Rondonópolis e Itiquira) e Médio-norte (Campo Novo do Parecis e Sapezal), do Estado do Mato Grosso (Figura 1). Sapezal Campo Novo do Parecis Campo Primavera do leste Verde Cuiabá Rondonópolis Itiquira FIGURA 1. Municípios onde foram realizadas as coletas das amostras. 6

As amostragens foram feitas entre os meses de fevereiro a maio de 2002, com coleta de solo e raízes de algodão. Cada amostra, representativa de uma área de 30 ha, foi composta por 15 subamostras (ponto de coleta). No total, foram 623 amostras compostas, representativas de 21.793 hectares com algodão, em 18 propriedades. As amostras foram levadas ao laboratório de Nematologia do UNIVAG, em Várzea Grande, onde foram processadas por peneiramento e centrifugação. RESULTADOS A maioria dos nematóides fitoparasitos identificados no levantamento pertence aos gêneros Criconemella, Helicotylenchus, Meloidogyne, Paratrichodorus, Pratylenchus e Rotylenchulus (Tabela 2; Figura 9), não causando esses resultados surpresa, pois são os fitonematóides mais comuns no Brasil, conforme citado anteriormente. 1. Pratylenchus brachyurus A elevada disseminação do nematóide das lesões, Pratylenchus brachyurus (Tabela 3; Figura 9), chamou muito a atenção. Essa espécie, que sabidamente prefere solos arenosos, ocorreu em praticamente todas as amostras de raízes (94 %), com populações variando na faixa de 2 a 3.611 (média de 192) indivíduos/ g de raízes, e 0 a 730 (média de 65)/ 200ml de solo (Tabela 3). Tal resultado indica que futuros estudos no Mato Grosso devem ser feitos priorizando Pratylenchus brachyurus, pois sua importância como patógeno do algodoeiro ainda é discutível e precisa, portanto, ser elucidada. 7

Segundo Ferraz & Lordello (1961), as plantas infestadas por esse nematóide não se desenvolvem bem, permanecendo com hastes finas e sistema radicular deficiente, ocorrendo redução na produção. Sabe-se, com certeza, que causa menos danos que o nematóide das galhas, M. incognita, e o nematóide reniforme, R. reniformis. Em trabalho realizado por Inomoto e Machado (comunicação pessoal) foi possível verificar que, apesar de P. brachyurus ter provocado menor dano que M. incognita em plantas da cv. Delta Opal, o nematóide causou redução no sistema radicular, quando comparado com plantas sadias (Figura 2). Mi Test. Pb FIGURA 2. Efeito de Meloidogyne incognita e Pratylenchus brachyurus na cultivar Delta Opal. 8

Portanto, não se deve subestimar a importância do nematóide das lesões. Provavelmente a partir de certa densidade populacional o nematóide deve prejudicar o crescimento do algodoeiro, e essa informação, ou seja, a população inicial a partir da qual P. brachyurus torna-se daninho ao algodoeiro, seria das mais valiosas e desejáveis de ser obtida em trabalhos futuros. As áreas infestadas por esse nematóide são mais difíceis de serem identificadas pelo produtor, porque não há formação de galhas e nem de reboleiras típicas. Há casos, no entanto, como o relatado por Inomoto (comunicação pessoal), em Bom Jesus da Lapa, na Bahia, em que os danos do nematóide são bastante conspícuos (Figura 3(a)). O mais comum é a presença de lesões nas raízes (Figura 3(b)). (a) (b) FIGURA 3. Área infestada com Pratylenchus brachyurus (a) e lesão na raiz (b). 9

Outras informações que precisam ser obtidas, caso o controle do nematóide se mostre necessário, são: a susceptibilidade e tolerância dos cultivares de algodoeiro e o efeito de coberturas vegetais sobre a população desse parasita no solo. Ainda em relação a P. brachyurus, um comentário deve ser feito em relação à soja. Embora menos conhecido pelos sojicultores que o nematóide de cisto e os nematóides das galhas, P. brachyurus é importante patógeno da soja, e provavelmente causará danos a ela caso seja utilizada para substituir o algodão em áreas com elevadas populações de nematóides das lesões. 2 - Meloidogyne incognita Os nematóides das galhas, Meloidogyne incognita raças 3 e 4, são normalmente aqueles que causam maiores preocupações aos cotonicultores. Pelo fato de o nematóide induzir a formação de galhas, o produtor identifica as plantas infestadas com mais facilidade, como podemos verificar na Figura 4. FIGURA 4.Galhas em raízes de algodão provocadas por Meloidogyne incognita (cortesia Jean Louis Bélot) 10

As plantas infestadas por M. incognita são pouco vigorosas e podem apresentar alteração nas folhas, na forma de mosqueamento amarelo em contraste com o verde normal, sintoma conhecido pelos cotonicultores como carijó do algodoeiro. A Figura 5 mostra uma reboleira provocada por M. incognita, e na Figura 6 podemos ver uma planta apresentando sintoma típico, chamado carijó. FIGURA 5.Reboleira provocada por Meloidogyne incognita. No caso específico do Mato Grosso, esse nematóide ainda é pouco importante por sua pequena disseminação, (Tabela 2; Figura 7). Tal fato deve ser considerado extremamente importante e favorável ao cotonicultor matogrossense, pois caso contrário haveria enormes problemas, pelas dificuldades no controle desse nematóide, que também prefere solos arenosos. Zanella & Gavassoni (2002), testaram seis cultivares de algodão (IAC 23, CNPA ITA 90, BRS Facual, Coodetec 401, Fiber Max 986 e Delta Opal) e apenas a IAC 23 apresentou boa resistência e tolerância a M. Incognita. 11

FIGURA 6.Sintoma conhecido como carijó do algodoeiro.(cortesia Jean Louis Bélot) Algumas coberturas, muito usadas no Mato Grosso, como milheto (Pennisetum glaucum) e pé-de-galinha (Eleusine coracana), este último principalmente, são susceptíveis a M. incognita, isto é, permitem a multiplicação do parasito, e a soja, principal cultura do Estado, é muito prejudicada pelo nematóide, exceto se for uma cultivar resistente. Seu controle poderia ser feito através de rotação (amendoim, cultivares de soja resistentes a M. incognita e crotalárias, exceto a juncea) ou com aplicação de nematicidas. 12

100 90 Freqüência no solo Freqüência na raiz 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Criconemella Helicotylenchus Rotylenchulus Pratylenchus Meloidogyne Paratrichodorus FIGURA 7.Freqüência de ocorrência das espécies de nematóides no solo e nas raízes das 623 amostras coletadas. Tendo em vista a situação atual no Mato Grosso, em que o nematóide está restrito a alguns talhões (geralmente nas divisas das propriedades e margens das estradas), problemas futuros podem ser evitados controlando sua disseminação, que se dá principalmente através de implementos. Cuidados devem ser tomados com todo tipo de muda que entra em uma propriedade, seja ela de frutífera, ornamental ou mesmo essência florestal utilizada para recompor a reserva legal. 13

3. Rotylenchulus reniformis Outro nematóide reconhecidamente relevante ao algodão é o reniforme, Rotylenchulus reniformis, que, ao contrário dos anteriormente citados, prefere solos argilosos. Sua importância atual para Mato Grosso aparentemente é muito pequena, pois é ainda menos disseminado que o nematóide das galhas (Tabela 2; Figura 9). Os mesmos cuidados com a disseminação acima ressaltados para M. incognita valem para o nematóide reniforme, cujo controle, é bom que se saiba, não é fácil. Não há cultivares resistentes ao nematóide reniforme, portanto seu controle somente pode ser feito por rotação (amendoim, milho, sorgo, arroz e outras gramíneas, cultivares de soja resistente a R. reniformis e crotalárias) ou nematicidas. Outra ressalva é que R. reniformis é daninho à soja também. 4. Outros nematóides Conforme mostra a Tabela 2, além das três espécies citadas, ocorreram também os seguintes gêneros: Criconemella, Helicotylenchus e Paratrichodorus, algumas vezes com freqüência e populações altas. O nematóide espiralado, Helicotylenchus, por exemplo, ocorreu na maioria das amostras (Figura 7). Infelizmente, porém, não há estudos sobre a importância desses nematóides como patógenos do algodoeiro. 14

TABELA 2. Freqüência de ocorrência e população de nematóides fitoparasitos associados ao algodoeiro em três regiões do estado do Mato Grosso (ano de 2002; 623 amostras). Nematóide Criconemella Helicotylenchus Rotylenchulus Pratylenchus Meloidogyne Paratrichodorus nº de amostras positivas Freqüência (%) Nematóides/200 ml de solo Nematóides/g de raiz 1 Solo Raiz Solo Raiz Média Variação Média 1 Variação 21 1 604 504 12 0 374 584 32 23 143 12 3,4 0,2 97 81 2 0 60 94 5,3 3,7 23 2 18 10 70 671 10 3.990 120 10 490 65 10-730 148 10 780 24 10-130 - - 64 2 3.250 - - 192 2 3.611 27 6 156 51 10 333 1Médias calculadas a partir das amostras em que o nematóide ocorreu. TABELA 3. Ocorrência e população média de Pratylenchus em três regiões do estado do Mato Grosso (ano de 2002). Região Nº de municípios Nº de propriedades Área amostrada Nº de amostra Freqüência (%) Nematóides/200 ml de solo Nematóides/g de raiz Solo Raiz Média 1 Variação Média 1 Variação Médio-norte 2 5 5.458 174 71 92 37 10-220 119 2 3.611 Centro-sul 2 9 11.120 327 63 91 97 10 650 243 2 1.100 Sul 2 4 5.215 122 53 96 16 10 730 153 3 1.975 1Médias calculadas a partir das amostras em que o nematóide ocorreu. 15

LITERATURA CITADA FERRAZ, C.A.M.; LORDELLO, L.G.E. Interferência de nematóides em culturas de algodão. Revista de Agricultura, v. 36, n. 3, p.131-138, 1961. STAR, J.L. Cotton. In: BARKER, K.R.; PEDERSON, G.A.; WINDHAM, G.L. (Ed.) Plant and nematode interactions. Madison: American Society of Agronomy, 1998. cap. 17. p. 359-379. ZANELLA, C.S.; GAVASSONI, W.L. Resistência de cultivares de algodoeiro a Meloidogyne incognita. Fitopatologia Brasileira, v. 27, p. 196, 2002. 16