Práticas de sanidade como ferramenta de desenvolvimento na Pecuária Familiar da Região do Bolsão

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Transcrição:

Práticas de sanidade como ferramenta de desenvolvimento na Pecuária Familiar da Região do Bolsão Health practices as a development tool in the region of Family Farming of the Bulge RODRIGUES, Thaís 1 ; BATISTA, Arnaldo da Silva 2 ; MARQUES, Heitor Romero Jr³. 1 Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, MS, thaisroxo@gmail.com 2 Médico Veterinário. ³ Doutor, docente do Curso de Medicina Veterinária da UCDB-Universidade Católica Dom Bosco, heitorvet@terra.com.br. Resumo: A Pecuária Familiar é importante fonte de subsistência de diversas regiões do país, tem como base um rebanho com número reduzido de animais normalmente com objetivo de produção leiteira. Este estudo teve como objetivo obter informações sobre as práticas sanitárias e a percepção de risco de produtores rurais da bovinocultura de leite familiar no município de Ribas do Rio Pardo em Mato Grosso do Sul. Foi aplicado um questionário com perguntas referentes ao manejo profilático realizado na fazenda, as respostas foram relacionadas a aspectos socioeconômicos e submetidos à análise estatística pelo teste do qui-quadrado. Dentre as variantes observadas as mais expressivas foram o teor de escolaridade dos responsáveis pelas propriedades e a veiculação de patógenos pela água. Assim, foi perceptível o impacto negativo gerado pela ausência da assistência veterinária no gerenciamento dos manejos profiláticos e sanitários, e do desconhecimento de programas sanitários desenvolvidos pelo Governo Estadual e Federal. O conhecimento científico desenvolve a economia rural ao maximizar ganhos e reduzir lucros, porém a maior dificuldade é a disseminação desse conhecimento que mesmo sendo tão necessário aos homens do campo é para alguns um objetivo inalcançável. A sanidade é possível de ser alcançada com práticas simples conhecidas pela maioria dos trabalhadores rurais, sendo possíveis de serem empregadas na rotina diária. Palavras-chave: educação sanitária, bovinocultura leiteira e assentamento. Abstract: The Family Farming is an important source of livelihood in various regions of the country, is based on a herd with a reduced number of animals usually for to purpose of milk production. This study aimed to obtain information on sanitary practices and risk perception of farmers in the family dairy production in the Rio Pardo Ribas municipality in Mato Grosso do Sul. A questionnaire with questions regarding the prophylactic management performed at the farm was applied the answers were related to socioeconomic aspects and subjected to statistical analysis using the chi-square test. Among the most significant variations observed were the educational content of householders and serving of pathogens by water. Thus, the negative impact was noticeable generated by the lack of veterinary care in the management of prophylactic and health management systems, and lack of health programs developed by the State and Federal Government. Scientific knowledge develops the rural economy to maximize profits and reduce profits, but the biggest difficulty is the dissemination of this knowledge that even being so necessary to men's field is for some an unattainable goal.

Sanity can be achieved with simple practices known by most rural workers, being able to be used in the daily routine. Keywords: health education, dairy cattle and settlement. Introdução A agropecuária tem papel fundamental no desenvolvimento da economia do Brasil e suas funções nesse processo englobam o fornecimento de alimentos para a população humana e animal, além de geração de emprego e renda. Grande número de estabelecimentos pecuários desenvolve a atividade leiteira em condições precárias e a produtividade do rebanho é aproximadamente 1,5 litros/vaca/ano (IBGE, 2013). As principais razões para essa baixa produtividade incluem a utilização de animais sem aptidão para a produção de leite ou com potencial genético inapropriado; manejo alimentar, reprodutivo e sanitário inadequado; baixo nível de instrução dos produtores, dificultando a utilização adequada do estoque de tecnologias disponíveis e falta de assistência técnica (IBGE, 2006). Assim sendo, o presente estudo teve como objetivo obter informações sobre as práticas sanitárias e a percepção de risco de produtores rurais da bovinocultura de leite da agricultura familiar no município de Ribas do Rio Pardo em Mato Grosso do Sul. Metodologia Com o intuito de obter informações sobre as praticas sanitárias mais comuns declaradas, utilizou-se de roteiro estruturado na condução das entrevistas aos proprietários e/ou gestores de estabelecimentos rurais que se dedicam a atividade leiteira em assentamentos na região do Bolsão de Mato Grosso do Sul. Em todas as etapas do trabalho foram consideradas e respeitadas recomendações da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que indica as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos (BRASIL, 1996). Foram entrevistados os gestores das propriedades, proprietários ou não, com poder decisório sobre a atividade, totalizando 32 propriedades localizadas nos municípios de Ribas do Rio Pardo, Santa Rita do Pardo e Brasilândia.

As entrevistas foram realizadas nos meses de agosto e setembro de 2014, e para realiza-las foram percorridos os assentamentos assistidos pela Agencia de Desenvolvimento Agrário (Agraer), sendo os respondentes aqueles que eram cadastrados junto ao Programa Leite Forte do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul. O roteiro para a entrevista foi estruturado em áreas de interesse, com perguntas sobre: composição do rebanho, água e alimentação do rebanho, escolha e uso de produtos veterinários, programas de vacinação, práticas sanitárias adotadas com os bezerros recém-nascidos e doenças contempladas pelos programas oficiais. Na análise dos dados relacionados à percepção de risco e práticas sanitárias foram considerados os fatores socioeducacionais como escolaridade e tempo na atividade. Como fatores de percepção de risco foram escolhidas as variáveis: conhecimento da capacidade da água veicular patógenos para o rebanho, conhecimento de produtos proibidos na alimentação de ruminantes, recomendações de produtos de uso veterinários e conhecimento sobre o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose. A análise dos dados inclui a descrição qualitativa dos fatores socioeducacionais e dos fatores de percepção de risco, tendo como referencia o resultado da entrevista de 32 produtores e/ou gestores de estabelecimentos rurais dos assentamentos Mutum, Avaré, Melodia e Nossa Senhora das Graças, localizados na região do bolsão de Mato Grosso do Sul. Para explorar as correspondências entre os fatores socioeducacionais e os de percepção de risco por meio da análise de correspondência múltipla (ACM) utilizouse o software Statistica, versão 7. A importância de cada categoria de variável na construção dos eixos é medida através da contribuição absoluta do qui-quadrado. Resultados e discussões Foram entrevistados 32 proprietários e/ou gestores de estabelecimentos rurais localizadas em assentamentos nos municípios de Ribas do Rio Pardo, Santa Rita do Pardo e Brasilândia na região do bolsão de Mato Grosso do Sul, totalizando 4 assentamentos. Entre os proprietários rurais assentados (25) e/ou gestores (7) respondentes, identificaram-se três que não frequentaram a escola (9,38%), vinte com ensino fundamental (62,5%), oito com ensino médio (25%) e um (3,12%) com ensino superior (Figura 3).

Desses produtores, dezoito (56,25%) declararam ter iniciado a atividade entre 1 e 5 anos, nove (28,12%) entre 6 e 10 anos e cinco (15,62%) iniciaram a atividade de produção leiteira na região do Bolsão de Mato Grosso do Sul havia mais de 10 anos. Dentre os entrevistados vinte e oito (87,5%) disseram que a água pode veicular patógenos para o rebanho e quatro (12,5%) declararam que a água não transmite doença para os animais. Com relação à alimentação do rebanho vinte e seis (81,25%) dos respondentes declararam não conhecer alimento proibido para ruminantes e seis (18,75%) disseram que conhece. Dos que conhecem alimento de uso proibido na alimentação de ruminantes, cinco (83,33%) respondentes mencionaram corretamente um alimento e um (16,66%) não soube mencionar corretamente um alimento proibido pra ruminantes. Quanto à recomendação de produtos veterinários vinte e nove respondentes (90,62%) afirmaram receber recomendação de lojas agropecuárias, dois (6,25%) declararam que a recomendação é realizada pela Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (IAGRO) e um respondente (3,12%) afirmou que familiar realiza a recomendação de produtos veterinários em sua propriedade. Sobre o destino do leite de vacas que receberam antibiótico, dezoito respondentes (56,25%) declararam fornecer para o bezerro, treze (40,62%) afirmaram descartar o leite desses animais e um (3,12%) disse não mudar o destino do leite das vacas que estão em tratamento com antimicrobiano. Quando indagados sobre a vacinação do rebanho contra a Brucelose, vinte e oito respondentes (87,5%) afirmaram que vacinam os animais e quatro participantes (12,5%) disseram não imunizar o rebanho contra essa enfermidade. No que diz respeito à execução da vacinação contra brucelose, dezesseis (50%) dos respondentes declararam o proprietário como executor, oito (25%) afirmaram que a vacinação é feita pela IAGRO, sete (21,87%) disseram ser um familiar o responsável pela aplicação da vacina e um (3,12%) declarou que a vacinação contra a brucelose é feita por médico veterinário. Ainda sobre a vacinação contra a Brucelose, dos respondentes que declararam o proprietário como executor da vacinação, nove (56,25%) declararam não utilizar nenhuma proteção no momento da aplicação da vacina e sete (43,75%) participantes afirmaram utilizar algum tipo de equipamento de proteção individual durante a vacinação do rebanho contra brucelose. No que diz respeito à conduta caso ocorra acidentes durante a execução da vacinação contra a brucelose, dezoito (56,25%) afirmaram lavar as mãos, dez (31,25%) disseram procurar socorro médico, três (9,37%) declararam utilizar álcool e

um (3,12%) mencionou passar remédio caso haja algum acidente durante a aplicação da vacina contra brucelose. A respeito de realização de práticas sanitárias com os bezerros recém-nascidos, trinta e um (96,87%) responderam que fazem a desinfecção do coto umbilical e um (3,12%) respondeu que não faz a cura do umbigo do bezerro ao nascer. Quanto à ocorrência de bezerros com poliartrite nas propriedades investigadas, vinte e seis (81,25%) dos respondentes declararam não ter visto animais com poliartrite e seis (18,75%) disseram ter visto animais com a enfermidade. Essa condição foi atribuída por quatro respondentes (66,66%) à trauma durante o manejo dos bezerros e dois (33,33%) atribuíram à falha na desinfecção do coto umbilical. Com relação às informações sobre doenças contempladas nos programas oficiais, dezesseis (50%) dos respondentes afirmaram reconhecer os sintomas da febre aftosa e os outros 50% declararam não reconhecer os sintomas da enfermidade no rebanho. Quanto à atitude em caso de suspeita da ocorrência da febre aftosa, dezoito (56,25%) dos respondentes declararam acionar o médico veterinário, cinco (15,62%) disseram procurar a IAGRO, dois (6,25%) declararam não souberam responder, dois (6,25%) disseram instituir um tratamento, outros dois (6,25%) afirmaram encaminhar o animal suspeito para o abate, um (3,12%) declarou consultar um familiar, um (3,12%) disse descartar o animal em caso suspeita da doença e um (3,12%) afirmou separar o animal suspeito. Quando indagados sobre a realização de exames para diagnóstico de animais positivos para brucelose e tuberculose, vinte e sete (84,37%) declararam não fazer os exames e cinco (15,62%) afirmaram fazer o levantamento de animais positivos para essas enfermidades. Dos respondentes que afirmaram fazer o levantamento de brucelose e tuberculose todos declararam descartar animais positivos. Sobre o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (PNCEBT), quatro (12,5%) afirmaram conhecer a existência do programa e 28 (87,5%) alegaram desconhecer o programa. Quanto à ocorrência de doenças de quadro nervoso nas propriedades, os respondentes foram indagados se sabem reconhecer os sintomas da raiva no gado e vinte e quatro (75%) declararam não reconhecer os sintomas e oito (25%) afirmaram que sabem reconhecer um animal com sintomas de raiva. No que diz respeito à busca por informações sobre sanidade animal trinta respondentes (93,75%) declararam buscar informações e dois (6,25%) afirmaram não ter esse habito. Quanto a fonte utilizada para a busca dessas informações relacionadas à sanidade animal, nove (30%) dos respondentes que disseram que buscam informações, afirmaram utilizar palestras comerciais para esse fim, nove

(30%) disseram busca-las com veterinários, cinco (16,66%) às buscam em televisão, três (10%) declararam conversar com vizinhos para obtê-las, dois (6,66%) afirmaram buscar informações com práticos de confiança, um (3,33%) utiliza os minicursos como fonte de informação e um (3,33%) afirmou consultar revistas da área para ficar informado sobre sanidade do rebanho. Quanto ao conhecimento da possibilidade de transmissão de doenças aos animais veiculadas pela água, os resultados encontrados apontam amplo conhecimento. Contudo, a análise de correspondência múltipla revelou que produtores que não frequentaram a escola tendem a desconhecer que a água pode transmitir doenças aos animais. Para Marques Junior (2014), avaliando a percepção de risco entre produtores rurais em relação às praticas sanitárias na bovinocultura de corte no Pantanal de Mato Grosso do Sul, os produtores com menor escolaridade, menor numero de animais e com menor tempo na atividade desconhecem que a água pode veicular doenças aos animais. Com relação ao conhecimento de alimentos proibidos na alimentação de ruminantes, os resultados obtidos revelaram pouco conhecimento. Já os resultados encontrados por Marques Junior (2014) mostraram amplo conhecimento com relação a alimentos proibidos para ruminantes. Para Pereira (2010), em um estudo com a finalidade de realizar um diagnóstico de situação das práticas declaradas de manejo sanitário adotadas em sistemas de produção de bovinos de corte nos estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia, produtores relataram o uso de cama de frango na alimentação dos animais. No que diz respeito à recomendação de produtos veterinários aos produtores, os resultados mostraram que as lojas agropecuárias são as responsáveis pela maior parte das recomendações. Já para Pereira (2010), a maior parte das prescrições de fármacos para tratamento das enfermidades nas propriedades rurais investigadas, era feita por médico veterinário. Quanto à imunização do rebanho contra a brucelose, os resultados apontaram amplo empenho dos produtores em cumprir as recomendações governamentais para controle dessa enfermidade. No entanto, o conhecimento do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (PNCEBT), revelou pouco conhecimento. Resultado semelhante quanto à prática declarada de imunização do rebanho contra a brucelose, foi encontrado por Pereira (2010). Marques Junior (2014) encontrou resultados que apontam conhecimento do PNCEBT entre produtores de gado de corte.

Conclusões Este estudo revelou o quão necessário se faz a presença de um médico veterinário para atendimento aos produtores assentados e a pouca informação em sanidade animal dos produtores de leite pertencentes aos assentamentos rurais na região do bolsão de Mato Grosso do Sul. Os produtores leiteiros desses assentamentos são carentes de assistência veterinária e a ausência de um programa continuado tanto nesse sentido quanto na educação de jovens e adultos dificulta a inserção de novos processos produtivos capazes de gerar autossuficiência para propriedades de origem familiar. As prescrições e recomendações médico veterinárias são tendenciosas, ficando a cargo de lojas veterinárias elevando os riscos de contaminação do leite por produtos veterinários. As esferas governamentais devem convergir esforços e recursos através de politicas publicas para que a produção leiteira nessas propriedades familiares deixe de ser de subsistência e que o leite e derivados possam ser comercializados nos padrões higiênicos e sanitários exigidos pelos órgãos competentes. Referências bibliográficas BRASIL, Instrução Normativa Nº 62, de 29 de dezembro de 2011. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 2011. BRASIL. Resolução N 196, de 10 de outubro de 1996. Conselho Nacional de Saúde. Ministério da Saúde. 1996. BRASIL, MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Manual Técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose, 2004. Brasília. HAIR, J. F.; BLACK, B.; BABIN, B.; ANDERSON, R. E.; TATHAM, R. L. Multivariate data analysis. Publisher: Prentice Hall. 6 edition, 2005. IBGE/SIDRA - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Fonte: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=841&z=t&o=24&i=p>. Acessado em 09 de outubro de 2014.

MAPA. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Programas da Área Animal. Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/. Acesso em 10 de outubro de 2014. MARQUES JÚNIOR, H. R., Práticas Sanitárias e Percepção de Risco de Produtores de Bovinos de Corte no Pantanal de Mato Grosso do Sul. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus de Jaboticabal SP. 2014. PEREIRA, F. B., Diagnóstico de Situação das Práticas de Manejo Sanitário em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita campus de Araçatuba SP. 2010. PEREIRA, V. R. A criação do assentamento mutum - MS: duas décadas marcadas por uma história de lutas, percalços e superação - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade Campo Grande, MS: UEMS, 2013. SIMÕES, A.R.P.; SILVA, R.M.; OLIVEIRA, M.V.M. Avaliação econômica de três diferentes sistemas de produção de leite na região do Alto Pantanal Sul-matogrossense. Agrarian, v.2, n.5, p.153-167, 2009. SINDAN. Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal. Mercado Veterinário Faturamento do Setor. Disponível em: <http://www.sindan.org.br/sd/sindan/index.html>. Acesso em 14 de outubro de 2014.