Desenvolvimento de competências no Ensino Superior: a importância da avaliação formativa

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Transcrição:

II Encontro do LEIP Ensinar Português hoje: problemas e desafios Universidade de Aveiro Aveiro 6 de julho de 2012 Desenvolvimento de competências no Ensino Superior: a importância da avaliação formativa Cristina Manuela Sá cristina@ua.pt

Plano da apresentação 1. Enquadramento teórico 2. Estudo 3. Análise e conclusões 4. Bibliografia

Enquadramento teórico 1 A vida na sociedade moderna requer um novo modelo de educação: - centrado no desenvolvimento de competências; - dependente da identificação e definição de competências essenciais à vida num mundo em constante mutação.

Enquadramento teórico 1 O novo modelo de educação é defendido por organizações internacionais: Foram propostas competências adaptadas à sociedade moderna, em constante mutação (Comissão Europeia, 2007), incluindo: i) Algumas relacionadas com áreas científicas tradicionais (Comunicação na língua materna, Comunicação em línguas estrangeiras, Competência matemática e competências básicas em ciências e tecnologia, Competência digital); ii) Outras mais diretamente relacionadas com a vida numa sociedade moderna (Aprender a aprender, Competências sociais e cívicas, Espírito de iniciativa e espírito empresarial e Sensibilidade e expressão culturais).

Enquadramento teórico Mudanças no Ensino Superior 1 Foram estimuladas pela implementação do Processo de Bolonha, que conduziu: - À criação de novos cursos, centrados no desenvolvimento de competências, independentemente da respetiva área científica; - À promoção da aprendizagem ao longo da vida e da capacidade de se adaptar a contextos em constante mutação; - À tentativa de adoção de novos métodos de ensino e avaliação.

Estudo Um estudo em formação de professores 2 - Conduzido no Departamento de Educação da Universidade de Aveiro; - Tendo como público alunos de um primeiro ciclo de estudos de Bolonha a frequentar uma unidade curricular centrada no ensino/aprendizagem da língua (portuguesa);

Estudo O estudo implica: 2 i) A conceção e implementação de um programa de formação - centrado na elaboração de um portefólio pelos alunos, incluindo documentos decorrentes de trabalho individual e em grupo, de índole oral e escrita, - realizado a partir de uma planificação de atividades de ensino/aprendizagem, relacionadas com a língua portuguesa, que os grupos de trabalho analisam a partir de uma grelha fornecida pelo docente, - exigindo acompanhamento por parte deste;

Estudo 2 ii) Um sistema de avaliação contínua, baseado na análise do portefólio apresentado pelos alunos, que inclui - a apresentação oral coletiva da planificação selecionada para análise (10%), - um relatório escrito coletivo relativo à análise da planificação escolhida pelo grupo (50%), - a apresentação oral individual de um aspeto da análise da planificação (20%), - uma reflexão escrita individual sobre o percurso feito na unidade curricular (20%).

Estudo 2 Até ao momento, o estudo foi desenvolvido com as turmas que frequentaram a unidade curricular nos 3 anos letivos em que esta já funcionou: 1) 75 alunos, em 2009/10; 2) 75 alunos, em 2010/11; 3) 66 alunos em 2011/12. A investigadora é a regente da unidade curricular e a única docente da mesma.

Estudo 2 Os alunos que tivessem de se candidatar à avaliação de recurso, poderiam optar por uma de duas hipóteses: i) Reformulação do relatório escrito coletivo (implicando a participação de todo o grupo); ii) Reformulação da reflexão escrita individual (envolvendo apenas o respetivo autor), depois da discussão da primeira versão apresentada com a docente e seguindo indicações fornecidas por esta. É aqui que intervem a dimensão formativa da avaliação.

Análise e conclusões 3 Desempenho dos alunos i) Em 2 dos casos, a distribuição de notas era normal (com poucos alunos reprovados e poucos com classificação superior a 14 valores); ii) Num deles (2010/11), o número de alunos com classificações superiores (15-17 valores) superou o de alunos com classificações médias (10-14 valores); iii) Nos 3 casos, houve melhoria nas classificações entre a época normal e a época de recurso. Por conseguinte, podemos dizer que a retroação dada pelo docente desempenha um papel importante neste contexto.

Análise e conclusões 3 No entanto, temos de reconhecer que o número de alunos que ultrapassam as classificações de nível médio (10-14 valores) é muito reduzido. Causas possíveis: - devido ao calendário escolar estipulado para cada ano letivo, os alunos dispõem de pouco tempo para melhorar o seu portefólio entre a época normal e a época de recurso; - alguns deles têm muita dificuldade em compreender a utilidade de uma avaliação formativa e valorizam pouco a discussão da primeira versão do portefólio com a docente e as sugestões que esta apresenta para a respetiva reformulação.

Análise e conclusões Suas conceções relativas à avaliação 3 De um modo geral, os alunos revelaram conceções muito tradicionais sobre a avaliação, nos poucos enunciados relativos a este tópico que surgiam nas suas reflexões escritas individuais: - A grande tendência é para a fazer equivaler à classificação (mais ou menos metade dos enunciados, nos dois primeiros casos); - No terceiro caso, nota-se um aumento dos enunciados em que a vertente formativa da avaliação é valorizada, de forma direta ou indireta (52,4% dos enunciados recolhidos que se referiam à avaliação). É uma constatação importante, já que estes alunos poderão vir a ser professores e/ou educadores de infância.

Análise e conclusões 3 As referências ao valor formativo da avaliação prendem-se com: - A relação entre as tarefas que lhes são propostas no âmbito da avaliação e a natureza da formação que lhes é dispensada; Simultaneamente a avaliação desta disciplina assentou sobretudo na análise de planificações, assumindo, deste modo, grande valor formativo, visto que, através da análise e reformulação das planificações, desenvolvi competências que devo contemplar, quando, no futuro, elaborar os meus próprios documentos. (E4)

Análise e conclusões 3 - A importância do desenvolvimento de competências em autonomia e em trabalho em equipa. Tornou-se importante trabalhar também a capacidade de trabalhar autonomamente e em equipa, reconhecendo a importância do seu contributo para o nosso futuro, tanto a nível profissional como pessoal. (E19)

Análise e conclusões 3 Há poucas referências diretas à importância da retroação no contexto da avaliação. As encontradas sublinham a importância dessa retroação para: - o aumento da capacidade de análise crítica do respetivo trabalho e do dos colegas; Além disso, é importante reconhecermos os pontos positivos e negativos do nosso trabalho, no que diz respeito a esta unidade curricular, para que possamos tirar proveito do que foi bom e melhorar ou mudar o que correu menos bem. (E68)

Análise e conclusões 3 - A melhoria das aprendizagens e o desenvolvimento de competências. Em relação à avaliação proposta, posso afirmar que a considero pertinente, dado que a realização de trabalhos autónomos e em grupo permitiu-nos comunicar, confrontar ideias, decisões e problemas, sobre tarefas que iremos realizar futuramente. (E8) Além disto todas as apresentações orais foram um grande contributo para futuramente nos sentirmos capazes de nos apresentarmos * enfrente a uma turma de alunos e conseguirmos comunicar com os mesmos de forma natural. O que nos leva a adquirir competências no âmbito da comunicação e de expressão oral, bem como competências ao nível da escrita para proveito pessoal e para uma melhor integração na sociedade atual que está cada vez mais exigente. (E55)

Análise e conclusões Considerações finais 3 Há que introduzir algumas mudanças neste contexto: - no que se refere ao programa de formação proposto, é essencial dar mais ênfase às competências a desenvolver, para que os alunos não se foquem tanto nos conteúdos/conhecimentos, em detrimento destas, e compreendam melhor a relação entre estas duas componentes do processo de ensino/aprendizagem; - no que diz respeito à avaliação, há que insistir na explicação da natureza dos fundamentos do tipo de avaliação que lhes é proposto.

Bibliografia essencial Comissão Europeia (2007). Competências essenciais para a aprendizagem ao longo da vida. Um quadro de referência europeu. Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias. Macário, M. J., Sá, C. M., Moreira, A. (2011). Teacher training in the 21st century: enhancing collaborative work through online discussion forums. In L. G. C. I. Candel Torres, A. López Martínez, International Association of Technology, IATED (eds.). ICERI2011 Proceedings CD. (pp. 4396-4402). Reis, C. (coord.) (2009). Programas de Português do Ensino Básico. Lisboa: Ministério da Educação/Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular. Sá, C. M. (2010). Developing competences in Higher Education: a case in teacher training. In M. H. Pedrosa de Jesus, C. Evans, Z. Charlesworth, E. Cools (eds.), Proceedings of the 15 th Annual Conference on the European Learning Styles Information Network: Exploring styles to enhance learning and teaching in diverse contexts. (pp. 460-466). Aveiro: University of Aveiro/Department of Education. Sá, C. M., Cardoso, T., Alarcão, I: (2008). Relations between teaching and learning. Evidence from meta-analysis of Language Didactics research. Education OnLine. [available at: http://www.leeds.ac.uk/educol/documents/175405.doc]

OBRIGADA PELA VOSSA ATENÇÃO.