A TEOLOGIA DA ORAÇÃO EUCARÍSTICA NUMA PERSPECTIVA MISTAGÓGICA Pe.Joaquim Cavalcante



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Transcrição:

A TEOLOGIA DA ORAÇÃO EUCARÍSTICA NUMA PERSPECTIVA MISTAGÓGICA Pe.Joaquim Cavalcante Introdução Aumenta, cada vez mais, a consciência de que o melhor método para compreender a teologia e viver a espiritualidade litúrgica é partindo do rito. Entre as várias teologias, há uma particular: a mistagogia. Quando falo rito penso logo na mistagogia que é, a meu ver, o modo mais sublime de fazer teologia. Não se deve separar a teologia do rito e o rito da mistagogia. Entendo a mistagogia como a maneira arquetípica de fazer teologia sem trair o sentido do termo. Toda teologia deve evocar a mistagogia, o que é teológico deve, por si, ser mistagógico. Por isso todo teólogo deve ser mistagogo. Quem pensa a fé deve fazê-lo a partir da mistagogia litúrgica, porque se a liturgia é (lócus teologicus) o lugar teológico de alimentar a fé, a teologia deve ser (lócus liturgicus) o lugar litúrgico e mistagógico de pensar a fé. A mistagogia nada mais é que uma explicação teológica de cada rito constitutivo da celebração litúrgica ou do evento sacramental. Ex. Cirilo, Agostinho, Ambrósio, João Crisóstomo e outros, nas catequeses mistagógicas explicam os ritos batismais, para introduzir nos mistérios de Cristo e da Igreja. A celebração sacramental é a primeira cátedra de teologia. A imortal teologia de Ambrósio de Milão, Cirilo de Jerusalém, João Crisostomo, Teodoro e outros não emerge dos manuais e sim da suavidade da singela beleza e singularidade de cada rito e gesto realizado na celebração da divina liturgia.

A mistagogia é o método teológico principal dos Padres da Igreja, os grandes pedagogos da fé. Partiam sempre do que haviam vivenciado na celebração litúrgica. Faziam exegese, teologia eclesiologia e despertavam no fiel a mística do seguimento incondicional a Cristo Para os mestres da mistagogia cristã o mistério da fé que é o mistério pascal de Cristo é também o mistério da Igreja corpo de Cristo. Gostaria de começar esta reflexão falando sobre a anáfora, porém partindo do seu início que é o prefácio. (sugiro que se faça uma pesquisa em um dicionário de liturgia sobre a palavra oração eucarística ou prece eucarística). A Anáfora ou Oração Eucarística: anáfora é uma palavra grega que significa o ato de elevar-se e colocar-se na esfera do Altíssimo. Anofero significa elevar-se, inclinar-se para o alto e, ao mesmo tempo, oferecer-se. Este prefixo indica que a oração é enviada para o alto, é um ato por meio do qual o homem se eleva a Deus. A anáfora é o coração da celebração eucarística. Anáfora tem significado parecido com prósfora que é o ato de ir ou levar algo ao encontro de alguém. Na liturgia, o termo anáfora indica o caráter sacrifical da Oração Eucarística 1. Segundo a Instrução Geral do Missal Romano, a anáfora é o coração e o ápice da celebração eucarística 2. Com a Oração Eucarística, oração de ação de graças e de consagração, chegamos ao coração e ao ápice da celebração 3. Durante a proclamação desta oração, o sacerdote associa a si toda a assembléia dos batizados no oferecimento do sacrifício a Deus por Cristo, no Espírito Santo 4. Tudo se dá na 1 E. Mazza, Che cós èlánafora eucarística?,in Divinitas 47, 2004, 46. 2 IGMR, 78. 3 CIC, 1352. 4 IGMR, 93.

dinâmica econômica da trindade litúrgica. Trindade imanente é a Trindade econômica e a Trindade econômica é a Trindade Litúrgica. Esta oração é proclamada do inicio ao fim pelo sacerdote que se dirige a Deus em tom orante em nome de toda a Igreja. Ele fala por Cristo e na ação do Espírito Santo. Ele o faz em nome de toda a comunidade reunida e de toda a Igreja 5. É o grande e solene cumprimento da ordem de Jesus : fazei isto em memória de mim (1Cor 11,24).. A Grande ação de graças composta por várias ações. Os elementos principais da anáfora eucarística são: A ação de graças = memória pascal do Filho. Exprime-se especialmente no prefácio. O Sanctus, a anamnesis, a epliclesis. A narrativa da instituição, as intercessões e a doxologia. O que é o prefácio? É a parte inicial de uma anáfora. Em geral, o Prefácio expressa o sentido especial da solenidade ou da festa que a Igreja celebra na totalidade do mistério de Cristo na dinâmica cíclica do Ano Litúrgico. O prefácio como toda a anáfora é dirigido a Deus Pai e, por isso, deve ser proclamado do altar. Conforme ensina o Concílio de Hipona em 393. Esse Concílio diz que a oração feita do altar se dirige ao Pai. Cum altari adsistitur, semper ad Patrem dirigatur oratio 6. O prefácio pode ser compreendido em quatro partes: 1 Diálogo introdutório. O prefácio começa com um diálogo entre o sacerdote presidente e assembléia dos fiéis. Esse preâmbulo dialogado do Prefácio é antiguíssimo e, não obstantes algumas variações na liturgia antiga, no Ocidente, ele é atestado desde o aparecimento da Traditio Apostólica. 5 IGMR,93. 6 Breviarium Hiponense, can. 21, ed. C Munier, CCL 259, 39.

Como mistagogo da fé, o sacerdote se dirige à assembléia com uma saudação que é, ao mesmo tempo, uma afirmação da presença do ressuscitado no meio dela. O Senhor esteja convoco O sacerdote presidente dirigindo-se aos fiéis com esta saudação o Senhor esteja convosco, faz uma afirmação confessional da presença do ressuscitado no meio dos seus. O Missal Inglês diz the Lord be with you. E a assembléia responde: and with you. É o mesmo que dizer o Cristo que está conosco, nesta assembléia dos batizados formando o seu corpo que é a Igreja. Ele está contigo e em ti, como cabeça desta assembléia que é ícone vivente de toda a Igreja-esposa dizendo ao coração do seu amado esposo maranatha, vem Senhor Jesus! Esta afirmação é uma estupenda confissão de fé. É o mesmo que dizer: não temais, ele está aqui, pois ressurgiu, conforme havia dito (Mt 28 5-6). O diálogo do preâmbulo prefacial é um diálogo do ressuscitado com a Igreja, sua amada. A assembléia responde: Ele está no meio de nós.. Ela deve responder em tom de júbilo pascal expressando, assim, a comunhão na mesma fé e seu assentimento à solene afirmação do que preside in persona Christi. Se cremos e professamos que ele está no meio de nós, é preciso que dele nos aproximemos com alegria, alegrai-vos. Trata-se de uma alegria que toca o mais profundo da existência humana. É a alegra da fé que faz todo crente se prostrar diante da presença do amado que fascina. Mt 28 9-10.. Corações ao alto, sursum corda O sacerdote convida o povo a elevar o coração até o Senhor e a associar-se a ele na solene oração que ele, em nome de toda a comunidade, dirigirá ao Pai, por meio de Jesus Cristo, no Espírito. Diz Cirilo de Jerusalém: nesta hora mui tremenda é preciso ter o coração no alto, junto de Deus e não embaixo na terra, nas coisas terrenas. = coisas que Deus abomina.

A expressão corações ao alto é mais que um convite é uma ordem. O presidente com autoridade de mistagogo da fé e na pessoa de Cristo ordena que todos abandonem as preocupações que possam impedir-nos a lembrar de Deus e colocar Deus como destinatário primeiro da nossa atenção e do nosso amor. Nosso coração está em Deus. Ter o coração no alto é ter o coração em Deus. Ter o coração em Deus é amar a Deus sobre todas as coisas. Se nossa fraqueza humana dificulta-nos viver nessa perene sintonia, naquela hora, devemos fazer tudo o que depender da nossa condição humana para colocar Deus no primeiro lugar do nosso coração. Demos graças ao Senhor nosso Deus Devemos dar graças a Deus. Ele nos reconciliou e nos fez dignos da adoção do Espírito. Quando damos graças fazemos algo justo, isto é reconhecemos o que Deus fez por nós 7. É nosso dever e salvação. É digno e justo reconhecer os feitos de Deus em nosso favor. Toda assembléia se une a Cristo e, atualizando a oferta de Cristo, ela enaltece as obras de Deus e, no Espírito, se oferece ao Pai, no sacrifício redentor de Cristo. 2. Protocolo inicial. (Prefácio dos Apóstolos I). Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças, sempre e em todo o lugar, Senhor, Pai santo, Deus todopoderoso e cheio de bondade. 3. Embolismo Pastor eteno, vós não abandonais o rebanho, mas o guardais constantemente pela proteção dos apóstolos. E assim a Igreja é 7 Cirilo de Jerusalém, Catequeses mistagógicas, Petrópolis, 2004, n. 47.

conduzida pelos mesmos pastores que pusestes á sua frente como representantes de vosso Filho, Jesus Cristo, Senhor nosso. 4. protocolo final. Por ele, os anjos celebram a vossa grandeza e os santos proclamam vossa glória. Concedei também a nós associar-nos a seus louvores, cantando (dizendo) a uma só voz. a- O santo que é a solene aclamação no fim do prefácio que exalta a santidade e a inefabilidade de Deus, cuja glória enche o céu e a terra. b- A epíclse é a súplica que a Igreja dirige ao Pai (e não ao Espírito, pois é o Pai através do Espírito quem realiza a santificação. O essencial da epíclese é a invocação do nome de Deus pela Igreja para que desça sobre os dons e sobre ela a força santificadora do Espírito. É o Espírito Santo que santifica e plenifica os dons e os transforma no corpo e sangue de Cristo. Contudo, diz Santo Ambrósio: o corpo de Cristo é o corpo do Espírito divino porque Cristo é espírito ) 8. Santo Efrém um Padre da Igreja do Oriente dizia que quando recebemos a Eucaristia recebemos o Espírito Santo. Podemos dizer que a epíclese é o dilúvio do Espírito na liturgia. Transforma pão e vinho no corpo sacramental de Cristo, para transformar quem os recebe no corpo eclesial= a Igreja Corpo de Cristo. É o mesmo corpo em diferente forma sacramental. Pode ter anáfora sem as palavras da narrativa da instituição (Adai Mari), mas não conheço nenhuma que não peça a transformação dos comungantes no corpo de Cristo. c- A narrativa da instituição e a consagração mediante as palavras e gestos de Cristo se cumpre o sacrifício que Cristo mesmo instituiu na última ceia. Ele oferece seu corpo e sangue sob as espécies do pão e do vinho e se dá como comida e bebida aos apóstolos a quem confiou o mandato de perpetuar este mistério. Razão pela qual, depois de Pentecostes, a Igreja nunca deixou de celebra a Eucaristia. 8 Santo Ambrósio, De sacramentis, 58, Roma, Città Nuova, 1982,167.

d- A anámnesis e oferta esse termo indica uma ação que, realizada em si, é memorial. Isto é, a ação anamnética é a presentificação da realidade e não só recordação do fato (somos católicos). É nesse sentido que entendemos que o mistério pascal de Cristo constitui o conteúdo teológico da realidade salvífica da celebração em ato. A Igreja cumprindo o mandamento recebido do seu Senhor, por meio dos apóstolos, celebra sua memória (de Cristo) recordando sobretudo sua paixão e ressurreição. A Igreja, de modo particular, aquela comunidade reunida em nome da Trindade, naquele momento, naquele lugar, oferece ao Pai no Espírito Santo o sacrifício de Cristo. Ela não quer que os fiéis somente ofereçam o sacrifício de Jesus, mas que aprendam a se oferecer a si mesmos e que se levem a cumprimento cada dia por meio de Cristo Mediador, aquela união plena com Deus e com os irmãos. Desse modo, forma-se um só corpo com Cristo no Espírito. e- As intercessões a Eucaristia é celebrada em comunhão com toda a Igreja seja celeste ou terrestre. A sua oferta é feita por todos os seus membros: os vivos e os defuntos os quais foram chamados a participar da redenção e da salvação por meio do corpo e sangue de Cristo. f- A doxologia final exprime a glorificação de Deus a quem toda honra, toda glória e adoração devem ser dadas. A doxologia vem ratificada e concluída com o amém da assembléia que constitui uma verdadeira aclamação e assentimento. Posemos concluir que a doxologia litúrgica é a última palavra da teologia sobre o mistério trinitário que é o mistério de Deus em si mesmo. Diante do mistério o teólogo não resta que silenciar e prostrar-se. E se algo ele achar que deve dizer é isso: a ti, Deus Pai, por Cristo, no Espírito, toda honra e toda glória, agora e para sempre. Amém.