A Função Paterna. Falo. Criança. Mãe. Tríade Imaginária

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Transcrição:

A Função Paterna Antonia Claudete Amaral Livramento Prado Psicóloga-Psicanalista, Diretora Clínica do Instituto Trianon de Psicanálise Introdução Na relação original que a criança mantém com a mãe, a chamada fase pré-edipiana, é marcada pela tríade imaginária, onde a criança se coloca na posição de objeto imaginário que supriria o desejo da mãe, posição de engodo mantida por um desejo de desejo desejo de ser o falo, objeto metonímico do desejo da mãe. Falo Criança Mãe Tríade Imaginária Aqui, Lacan coloca a questão: o que está em jogo na fase pré-edipiana, e na borda do Édipo? 1 E responde: que a criança assuma o falo como significante, e de uma maneira que faça dele instrumento da ordem simbólica das trocas. 2 Esta operação é fundamental para que o sujeito se constitua como um ser de linguagem, operação que é promovida pela intrusão do pai, como função mediadora na relação mãecriança o pai como representante da Lei no Outro, significante do Outro, o lugar da Lei. Esse mecanismo foi definido por Lacan, em seu primeiro ensino, por Metáfora Paterna: operador lógico que substitui o desejo da mãe pelo Nome-do-Pai. O resultado dessa operação é a significação fálica, quer dizer: a criança, ao perceber que o desejo materno está relacionado à Lei do Pai, afasta-se do lugar de identificação ao falo objeto de desejo da mãe, tida agora como castrada, e insere-se na ordem simbólica, dimensão que reorganiza o seu mundo, onde o falo adquire o estatuto de significante da falta. Uma outra questão: como é que tal função veio ao centro da organização simbólica? 3 Para dar conta dessa questão, Lacan desenvolve a notável formulação sobre o pai, em suas três dimensões: simbólica, imaginária e real. 1 Lacan, J. A relação de objeto. Seminário IV, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 1995, p. 204. 2 Ibidem. 1

As três dimensões do pai no drama edípico Pai simbólico introduzido pela mãe como nome: significante do seu desejo, significante da lei no Outro. A mãe adquire assim a condição de castrada, portadora de um lugar vazio que um homem irá ocupar. O pai simbólico é um significante, não representado em lugar algum é morto: não tem ser. E assim é conservado nessa condição de morto, puro significante. Isso significa que ninguém poderá jamais responder desse lugar do pai simbólico. O único que poderia responder absolutamente à posição do pai, na medida em que é o pai simbólico, é aquele que poderia dizer, como o Deus do monoteísmo: Eu sou aquele que sou. Mas esta frase, que encontramos no texto sagrado, não pode ser literalmente pronunciada por ninguém 4. É exatamente aí que se engendra a consistência do pai simbólico, aquele que, enquanto ser, não se encontra em parte alguma, pois só existe no plano simbólico. Pai Imaginário vem da criança, o pai ideal, o herói e ao mesmo tempo o rival, o pai da identificação. A criança reconhece esse pai como o criador, a ele ela deve o que é, e o que não é. Com ele estabelece uma relação de amor e ódio, amódio (neologismo utilizado por Lacan para condensar amor e ódio): a criança ama esse pai pelo que ela é, e o odeia pelo que ela não é. Como conseqüência, desilusão e luto tomam o lugar desse pai-herói. Pai Real o agente da castração. Esse pai é o suporte do luto, aparece em um momento qualquer para preencher uma função: vivificar a relação imaginária e lhe dar uma nova dimensão. 5 O pai real insere a castração sobre o objeto imaginário, introduz um não-saber sobre o desejo da mãe. É simplesmente o homem de uma mulher, o não-herói. O que está em questão, afinal, no Édipo? 6 Esta questão leva Lacan ao entendimento de que a estratégia do Édipo é conduzir a captura do sujeito no engodo, condição necessária para o passo seguinte: que se constitui como sendo o centro de toda a problemática do Édipo: que o sujeito atinja a heterossexualidade de forma tal que se situe corretamente com referência à função do pai. 7 É necessário, então, que o sujeito seja capturado no engodo para ascender à nova ordem de dimensão simbólica, na qual ele fará a sua escolha de objeto, escolha que deve ser heterossexual, masculina ou feminina. Posição feminina - na saída do Édipo, a escolha da posição feminina leva o sujeito feminino a suprimir a falta de falo na mãe no pênis real do pai, considerado como um equivalente do falo imaginário. Daí decorre a fixação da menina pelo pai, inicialmente como objeto de amor e depois como objeto de satisfação, aquele que tem o pênis, responsável pela 3 Ibidem, p. 205. 4 Ibidem, p. 215. 5 Ibidem. 6 Ibidem, p. 205. 7 Ibidem, p. 206. 2

procriação. Futuramente, o pai será substituído por um outro que fará esse papel dando-lhe um filho. Posição Masculina - quanto ao menino, o Édipo opera no sentido de levá-lo a identificar-se com o próprio sexo, a partir de sua relação com o pai, visto como ideal. Mas, diz Lacan: não é este o verdadeiro objetivo do Édipo, que é a justa situação do sujeito com referência à função do pai, isto é, que ele próprio aceda um dia a essa posição tão problemática e paradoxal de ser um pai. 8 Ser um pai Freud se baseia no mito do assassinato do Pai (Totem e Tabu, 1913), para falar sobre o que é ser um pai. Segundo o mito, houve o Pai Primordial que detinha o gozo sobre todas as mulheres da respectiva comunidade totêmica, e a partir dele foi instituída a Lei do Incesto proibindo aos filhos a posse de qualquer dessas mulheres propriedades do Pai. Lacan deriva da mitologia para a lógica o pai é um operador lógico, um significante, uma função que pode ser exercida pelo pai biológico ou qualquer outra pessoa introduzida pela mãe na relação imaginária entre ela e a criança. Tanto em Freud como em Lacan, a paternidade não tem referência natural, mas sim social. Diferentemente da maternidade, que é de natureza sensível, a paternidade é um fato cultural, o pai aparece na vida do sujeito pela fala da mãe que assim o nomeia, nomeação esta que marca a entrada em cena da Função Paterna (função no sentido matemático, de relação entre elementos), cuja finalidade central é introduzir a Lei que permite à criança sair da posição de objeto e assumir a posição de sujeito desejante, condição necessária para chegar a ser um pai. Sobre a castração Signo do drama do Édipo o pivô do drama a castração é operada pela intervenção do Pai Real na relação mãe-criança, processo que conduz à constituição do sujeito. Lacan, tomando essa operação como ponto de partida, formula a castração como sendo a apreensão, no real, da ausência de pênis na mulher 9, apreensão crucial para o menino, pois é elemento condensador da angústia de privação. A privação não se dá no plano real, mas no objeto simbólico, que, por sua vez, vem do real, por uma razão lógica: dizer que algo não está implica na sua possível presença. O objeto da privação objeto simbolizado nada mais é do que o pênis em estado simbólico, transformação feita pelo menino. Lacan, reafirmando Freud, diz que o sujeito só atinge a maturidade genital se passar pela castração, e problematiza essa necessidade: 8 Ibidem, p. 209. 9 Ibidem, p. 223. 3

Por que essa forma bizarra de intervenção na economia do sujeito? [...] isso tem algo de chocante em si mesmo é-nos oferecido um recurso que devemos recusar 10. Significação e necessidade do complexo de castração Para falar sobre a significação e a necessidade do complexo de castração, Lacan se utiliza do caso do Pequeno Hans, um menino que, aos quatro anos e meio desenvolve uma fobia de cavalos uma neurose. Como diz Lacan, é uma criança que nada em felicidade: filho único, tem o amor e a atenção do pai; goza dos cuidados ternos da mãe, que lhe faz todas as vontades e não lhe impõe qualquer limite. Todas as manhãs a mãe o recebe na cama do casal, apesar das reprovações do marido que não são levadas em conta, mas tolera pelo fato de não poder ter esse controle. Hans não é frustrado nem privado de nada. Um dia seu pênis se agita a mãe lhe proíbe a masturbação proferindo as palavras fatais : se você se masturbar, vamos chamar o Dr. A. para te cortar isso. A criança demonstra não ligar para essa advertência e continua com a prática da masturbação. Lacan afirma, assim como Freud, que a fobia do Pequeno Hans não pode ser ligada diretamente à interdição da masturbação. Nesse momento nenhuma angústia aparece, o menino prossegue se masturbando e a relação imaginária tapeadora com a mãe é mantida. Ele traz prazer à mãe, colocando-se como objeto do seu desejo, preenchendo aquilo que lhe falta (e ele sabe disso pela demanda da mãe): o falo, objeto pivô, que organiza o mundo da criança, objeto que ocupa as suas fantasias o tempo todo, e que Hans manifesta por meio das insistentes perguntas que faz sobre a presença do falo na mãe, depois no pai, depois nos animais. Só se fala de falo. 11 O falo está em todos os lugares, e em nenhum lugar. Aparecimento da Angústia A interdição do ato masturbatório não tem, então, um efeito imediato e direto no aparecimento da angústia de Hans, mas faz parte do seguinte processo que irá culminar mais tarde na fobia de Hans: a) inicialmente, seu pênis começa a se agitar, torna-se real; b) ele passa a se masturbar; c) e se angustia porque não pode mais parar. Isso leva à concepção de que há uma relação entre a irrupção do pênis real e o aparecimento da angústia. Sobre a angústia, pergunta-se Lacan: como devemos concebê-la? Ao que responde: O mais próximo possível do fenômeno [agitação do pênis real]; É correlativa do momento em que o sujeito está suspenso... deslocado de sua existência, e onde se percebe como estando prestes a ser capturado por alguma coisa [...] imagem do outro, tentação. 12 O caso desse menino mostra que a angústia vem antes da fobia, e dela se diferencia. Essa constatação desperta a seguinte questão: qual é, então, a relação entre angústia e fobia? 10 Ibidem, p. 226 11 Ibidem, p. 231. 12 Ibidem. 4

Em relação à angústia, ensina Lacan: A angústia não é o medo de um objeto. A angústia é o confronto do sujeito com a ausência de objeto, onde ele é apanhado, onde se perde, e a que tudo é preferível, inclusive forjar o mais estranho e o menos objetal dos objetos, o de uma fobia. 13 Quanto à fobia: é aquilo que suporta a angústia, o indicador da presença do desejo do Outro, apelo à função paterna. Lacan, retomando Freud, fala em duas ordens da angústia: Angústia em torno do pai (um den Vater): em torno do lugar vazio interno representado pelo pai, pela Função do Pai. Angústia diante do pai (von den Vater): diante de um objeto externo que sustenta aquela angústia, em torno da Função do Pai. Nota-se aqui que o objeto fóbico é um objeto organizador, na medida em que propicia um lugar de encontro entre o gozo e o desejo. Angústia de castração Entre o jogo imaginário com a mãe (jogo do engodo fálico) e a pulsão real, instala-se um conflito promovido pela ordem simbólica, pela lei, pela intervenção do Pai. A saída possível desse conflito é pela via da castração. Hans percorreu esse caminho, angustiou-se, desenvolveu a fobia de cavalo-que-morde. Uma questão se impõe: como, de uma relação feliz, a criança passa para a fobia? Em resposta a essa questão, indica Lacan, que a criança, como um todo, metonímia do desejo de falo da mãe, quando começa a existir como real, é desalojada desse lugar pela mãe, fica, então, no desamparo de não mais bastar à mãe, e se refugia, pela regressão, em uma etapa anterior, a de ser devorada pela mãe, metaforizada no cavalo-que-morde um significante que cumpre duas funções: a) afastar e aproximar, ao mesmo tempo, o sujeito do objeto causa-de-desejo; b) ser um instrumento a serviço do fracasso do Pai da Lei, e oferecer um lugar junto ao pai do desejo. A saída da tensão fóbica é pela castração. Lacan fala da fobia como uma placa giratória, que leva a uma solução estrutural neurótica, em duas direções: histeria ou obsessão. Referências Bibliográficas Freud, S., Totem e Tabu. Obras Completas, Ed. Standard, Vol. XIII, Rio de Janeiro, Imago Ed., 1969. Julien, P., O Manto de Noé - Ensaio Sobre a Paternidade. Rio de Janeiro, Revinter Ed., 1997. Lacadée, P., O pai, do mito ao sintoma: montar a cavalo sobre o nome-do-pai. Revista Curinga, Nº. 22, Junho de 2006. Lacan, J., A Relação de Objeto. Seminário IV, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 1995. Leite, M.P.S., Psicanálise Lacaniana - Cinco Seminários para Analistas Lacanianos. São Paulo, Iluminuras Ed., 2000. 13 Ibidem, p. 353. 5