CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DE FOLHAS ADULTAS DE HIMATANTHUS OBOVATUS (M. ARG.) WOOD (APOCYNACEAE) Elaine Jacob da Silva Carmo 1,4, Bruna Mendes Diniz 1,4, Michelle Souza do Nascimento 2,4, Roberta Sousa Freitas Melo 2,4, Laísa Nogueira Allem 2,4, Sandra Ribeiro de Morais 3,4, Adda Daniela Lima Figueiredo 3,4. 1 Acadêmicas de Ciências Biológicas PBIC/UEG 2 Acadêmicas de Ciências Biológicas PVIC/UEG 3 Pesquisadoras Orientadoras 4 Curso de Ciências Biológicas, Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas, UEG. RESUMO: Himatanthus obovatus (M. Arg.) Wood (Apocynaceae) popularmente conhecida como tiborna, é encontrada no Planalto Central, principalmente nos Estados de Minas Gerais e Goiás, nos cerrados e campos cerrados sendo, portanto, uma espécie endêmica a esse bioma. O látex do tronco e folhas é reputado como valor medicinal, utilizado na forma de garrafada para tratar verminoses, infecção intestinal e como depurativo do sangue. Este trabalho teve por objetivo a descrição anatômica de folhas adultas de H. obovatus para auxiliar na caracterização farmacognóstica da droga vegetal. Neste estudo, foram utilizadas folhas adultas de tiborna, sendo a coleta realizada em área de Cerrado sensu stricto, no Campus da Universidade Estadual de Goiás, em Anápolis-GO. Amostras de folhas foram fixadas em FAA e conservadas em álcool 70%. Ao nível do terço médio, cortes transversais e paradérmicos foram preparados de acordo com as técnicas usuais de microtécnica vegetal. Os resultados revelaram que Himatanthus obovatus apresenta folhas com estômatos apenas na epiderme abaxial, sendo estes anisocíticos. O mesofilo é heterogêneo dorsiventral com parênquima paliçádico formado por duas camadas de células e o parênquima lacunoso espesso com grandes espaços intercelulares. Estes estudos fornecem subsídios para controle de qualidade da droga vegetal. Palavras-chave: Cerrado, Himatanthus obovatus, anatomia foliar. Introdução Durante milênios, o homem vem usando plantas com objetivos medicinais. A botânica, de fato, era tradicionalmente considerada um ramo da medicina; só nos últimos 150 anos, aproximadamente, é que têm existido profissionais botânicos distintos dos médicos. Não 1
tem havido, no entanto, qualquer esforço abrangente para identificar e colocar em uso os metabólitos secundários previamente inexplorados (Raven et al., 2001). O cultivo de plantas medicinais vem sofrendo impulso relativamente grande tanto no Brasil como no resto do mundo. A grande maioria das drogas brasileiras é proveniente de vegetais silvestres, ou seja, de processos extrativos. Estas drogas acabam, quase sempre possuindo qualidade não suficientemente boa e padronizada (Oliveira et al., 1991); sendo largamente conhecidas na medicina popular, muitas delas já são comercializadas e o que falta é dar ao produto o aval da ciência (Almeida, 1999). Entretanto, ainda, são insipientes os esforços desempenhados no sentido de se desenvolver estudos que venham conciliar a exploração e a conservação desses recursos (Silva, 1999). As plantas são ministradas sob diversas formas tais como: chás, extratos, xaropes e garrafadas, sendo utilizadas suas cascas, raízes, folhas, frutos, sementes, flores, inflorescências, caules, etc (Silva, 1999). Usar racionalmente as folhas ou os ramos não danifica as plantas, mas a exploração extrativista pode contribuir para o extermínio das espécies. A estratégia de assegurar o uso sustentado dessas espécies é o seu cultivo sendo de grande importância a instalação de viveiros comunitários para a formação de mudas e distribuição (Almeida, 1999). Sabe-se que é mais rápido produzir medicamentos a partir das plantas do que por síntese orgânica, por envolver custos bem mais baixos (Almeida, 1999) podendo constituir em uma das alternativas econômicas de regiões (Silva, 1999) como o cerrado brasileiro, que abriga uma ampla diversidade de espécies medicinais e sua utilização faz parte da tradição e costume das comunidades locais (Alho & Martins, 1995). Dentre as inúmeras espécies vegetais do cerrado utilizadas pela medicina popular, a tiborna (Himatanthus obovatus) é amplamente utilizada pela população de Planaltina, DF, sob a forma de garrafada, como depurativo do sangue, contra verminoses e infecção intestinal (Almeida, 1999). Esta pertence à família Apocynaceae que compreende cerca de 200 gêneros com mais de 2000 espécies de distribuição tropical e subtropical em todo o mundo (Joly, 2002). H. obovatus ocorre no planalto Central, principalmente nos Estados de Minas Gerais e Goiás, nos cerrados e campos cerrados, apresenta freqüência baixa, porém mais ou menos contínua na sua dispersão ao longo da área de distribuição. É uma planta lactescente de 4-5 m de altura; com folhas simples, alternas espiraladas, glabras em ambas as faces, subcoriácias, de margens inteiras; inflorescências em cimeiras terminais, com poucas flores de cor branca e muito perfumadas; fruto folículo germinado angulado com a forma de chifres (Lorenzi, 1998). 2
O presente trabalho teve como finalidade a aquisição de conhecimentos sobre a anatomia das folhas de Himatanthus obovatus (M. Arg.) Wood (Apocynaceae), com o objetivo de auxiliar na caracterização farmacognóstica da droga vegetal. Material e Métodos Para a realização do trabalho foram utilizadas folhas de plantas adultas de H. obovatus, coletadas em área de Cerrado sensu stricto, no Campus da Universidade Estadual de Goiás, em Anápolis-GO. Após a lavagem e secagem das folhas, fez-se cortes de aproximadamente 1cm 2, ao nível do terço médio, bordo e pecíolo, que foram fixados em FAA (formaldeído, ácido propiônico e álcool, 70%(v/v)). Após três dias o FAA foi substituído por etanol 70% (v/v). Posteriormente foram desidratados em série alcoólica e incluídos em parafina (Johansen, 1940). Os cortes histológicos, obtidos em micrótomo, submetidos à coloração de azul de alcião/safranina, baseada na metodologia adaptada de Kraus & Arduin (1997). Como meio de montagem foi usado verniz. As ilustrações foram obtidas em fotomicrografia Carl Zeiss. Resultados e Discussão Os resultados revelaram que Himatanthus obovatus apresenta folhas com estômatos apenas na epiderme abaxial, sendo estes anisocíticos. Em Solanum lycocarpum (Solanaceae), uma espécie do cerrado, as folhas são anfiestomáticas, apresentando estômatos anomocíticos, anisocíticos e paracíticos (Elias et al., 2003). Parkhust (1978) afirma que folhas hipoestomáticas podem ser bem adaptadas a ambientes secos, considerando que a presença de estômatos apenas na face abaxial pode evitar uma transpiração excessiva. A epiderme superior, com células de paredes retas, é unisseriada e recoberta por cutícula espessa (Figura 1). A cutícula espessa recobrindo a epiderme superior funciona como mecanismo para evitar a perda excessiva de água em H. obovatus, assim como observado em Richterago hatschbachii (Asteraceae) (Melo-de-Pinna, 2004). Não foi observada a presença de tricomas em H. obovatus, tendo presença marcante em S. lycocarpum (Elias et al., 2003) e R. hatschbachii (Melo-de-Pinna, 2004). O mesofilo é heterogêneo dorsiventral com parênquima paliçádico formado por duas camadas de células e o parênquima lacunoso espesso com grandes espaços intercelulares. A nervura central apresenta feixe vascular bicolateral com presença de câmbio (Figura 2), da mesma forma apresentada por S. lycocarpum. 3
Figura 1: Secção transversal do limbo foliar de Himatanthus obovatus, 10x. Conclusão Figura 2: Detalhe da nervura central de folhas de Himatanthus obovatus, 5x. Os estudos preliminares indicam que Himatanthus obovatus, possui características anatômicas em suas folhas, que a beneficia em seu ambiente natural, como a cutícula espessa e folhas hipoestomáticas, que dificulta a perda de água. Os estudos continuarão a fim de verificar a nível de metabólitos secundários, se essa planta possui alguma característica típica de plantas do cerrado, e que tenham alguma atividade farmacológica. Pretende-se que estes estudos forneçam subsídios para controle de qualidade da droga vegetal. Referências Bibliográficas Alho, C. J. H.; Martins, E. de S. 1995. De grão em grão, o cerrado perde espaço (cerrado impactos do processo de ocupação). Fundo Mundial para a Natureza. 66p. Almeida, S. P. de. 1999. As plantas, a saúde e as alternativas econômicas nas comunidades do cerrado. In Ioris, E. (coord.). Plantas medicinais do cerrado: perspectivas comunitárias para a saúde, o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Fundação Integrada 4
Municipal de Ensino Superior Projeto Centro Comunitário de Plantas Medicinais (Mineiros/Go), p. 208-236. Elias, S. R. M.; Assis, R. M.; Stacciarini-Seraphin, E.; Rezende, M. H. 2003. Anatomia foliar em plantas jovens de Solanum lycocarpum A.St.-Hil. (Solanaceae). Revista Brasileira de Botânica 26 (2): 169-174. Johansen, D. A. 1940. Plant microtechnique. New York: McGraw-Hill. Joly, A. B. 2002. Botânica: introdução à taxonomia vegetal. São Paulo: Companhia Editora Nacional (13ª edição). 777p. Kraus, J. E.; Arduin, M. 1997. Manual básico de métodos em morfologia vegetal. Rio de Janeiro: EDUR. 25p. Lorenzi, H. 1998. Árvores Brasileiras: Manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. São Paulo: Ed. Plantarum, 2ª edição, vol. 2, p28. Melo-de-Pinna, G. F. de A. 2004. Anatomia foliar de Richterago Kuntze (Mutisieae, Asteraceae). Acta Botânica Brasilica 18 (3): 591-600. Oliveira, F. de; Akisue, G.; Akisue, M. K. 1991. Farmacognosia. São Paulo: Atheneu, 412p. Parkhust, D. F. 1978. The adaptative significance of stomatal occurrrence on one or both surfaces of leaves. Journal of Ecology 66: 367-383. Raven, P. H.; Evert, R. F.; Eichhorn, S. E. 2001. Biologia Vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 6ª edição, 906p. Silva, S. R. 1999. Uma nota sobre a exploração de plantas medicinais do cerrado. In Ioris, E. (coord.). Plantas medicinais do cerrado: perspectivas comunitárias para a saúde, o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Fundação Integrada Municipal de Ensino Superior Projeto Centro Comunitário de Plantas Medicinais (Mineiros/Go), p. 237-245. 5