ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CURRÍCULO DA LICENCIATURA EM GEOGRAFIA: Importância para a formação dos licenciandos

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Transcrição:

ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CURRÍCULO DA LICENCIATURA EM GEOGRAFIA: Importância para a formação dos licenciandos Fernanda Guarany Mendonça Leite Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco fernandaleite@recife.ifpe.edu.br Resumo: Este artigo tem por objetivo proceder à análise da importância do Estágio Supervisionado no Currículo da Licenciatura em Geografia do Instituto Federal de Pernambuco, Campus Recife, para a formação docente dos estudantes, apontando a importância advinda da relação entre o currículo e a prática pedagógica em campo. Tomamos de Sacristán (2000), o conceito de currículo por nós defendido, considerado como confluência de práticas. Como ponto de partida para a contextualização do tema elencamos aspectos constantes de documentos norteadores do currículo do curso, a saber: Fundamentos Legais, Projeto Político-Pedagógico e Matriz Curricular da Licenciatura em Geografia. A partir desses elementos, discutimos de maneira sucinta o contexto e o currículo atualmente praticado. Em etapa posterior, caracterizamos o Estágio Supervisionado para a formação dos estudantes enquanto docentes e apresentamos resultados que demonstram sua eficácia. Para proceder a tal análise, pautamo-nos pelo referencial teórico metodológico de Minayo (1993), combinando análise quantitativa e qualitativa dos dados de pesquisa. Assim sendo, submetemos aos estudantes que cursam os componentes curriculares de Estágio I, II, III e IV, por adesão, um questionário referente à importância do estágio para sua formação docente. A partir dos resultados obtidos, entrevistamos três estudantes que demonstraram interesse em explicitar suas respostas, com a finalidade de compreender o efeito do estágio sobre o currículo total do seu curso e sobre sua formação enquanto docentes. Concluímos, a partir da pesquisa e do depoimento dos estudantes, que o Estágio Supervisionado foi de grande importância para sua formação como licenciandos em geografia e que o currículo do referido curso atendeu às suas expectativas formativas iniciais. Palavras-chave: Currículo, Estágio Supervisionado, Licenciatura. 1.INTRODUÇÃO Ao trazermos a debate a importância do Estágio Supervisionado no currículo da Licenciatura em Geografia no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco IFPE, pretendemos desenvolver uma breve reflexão que abarca um leque de aspectos interrelacionados. Para a realização desta relevante tarefa, optamos por discorrer sobre os mesmos abordando o currículo da licenciatura em geografia e o estágio supervisionado. Este artigo tem por objetivo proceder à análise da importância do Estágio Supervisionado no Currículo da Licenciatura em Geografia do Instituto Federal de Pernambuco, Campus Recife, para a formação docente dos estudantes, apontando alguns desafios e possibilidades advindos da relação entre o currículo e a prática pedagógica em campo. Assim sendo, organizamos o estudo partindo da concepção de currículo por nós defendida, sua concretização no currículo da licenciatura em geografia, o papel do estágio supervisionado e sua importância na formação docente.

Em seguida, apresentaremos dados de pesquisa referentes ao estágio supervisionado nesta licenciatura e os resultados por eles apontados para sua formação. 2. CONCEPÇÃO DE CURRÍCULO NA LICENCIATURA EM GEOGRAFIA DO INSTITUTO FEDERAL DE PERNAMBUCO Para fundamentação da categoria currículo que perpassa este artigo, tomamos de Sacristán (2000) a concepção de currículo, considerado como confluência de práticas. Segundo o autor, currículo é um objeto que se constrói, um campo de atividade que congrega vários agentes, caracterizando-se por decisões construídas na relação entre forças e interesses diversificados. Podemos considerar que o currículo que se realiza por meio de uma prática pedagógica é o resultado de uma série de influências convergentes e sucessivas, coerentes ou contraditórias, adquirindo, dessa forma, a característica de ser um objeto preparado num processo complexo, que se transforma e constrói no mesmo. Por isso, exige ser analisado não como um objeto estático, mas como a expressão de um equilíbrio entre múltiplos compromissos. (SACRISTÁN, 2000, p.102). Assim, julgamos necessário compreender, ainda que de forma pontual, a forma como se constituiu o currículo da Licenciatura em Geografia do IFPE. Como ponto de partida para essa contextualização elencamos aspectos constantes de documentos norteadores do currículo do curso, especialmente o Projeto Político-Pedagógico e a Matriz Curricular da Licenciatura em Geografia. A partir desses elementos, discutimos de maneira sucinta o contexto da criação do curso e o currículo atualmente praticado. No Projeto Político Pedagógico do Curso de Licenciatura em Geografia do IFPE (PPC), a fundamentação legal foi baseada em toda a legislação vigente referente à estrutura curricular, incluindo Leis, Pareceres e Resoluções CNE/CES, totalizando vinte documentos que expressam e definem o currículo e a formação docente ofertados pelo curso, entre os quais a Lei nº 11788/2008, que aborda especificamente o estágio de estudantes de licenciatura. O PPP destaca a organização curricular, tratando tanto seus princípios norteadores quanto sua estrutura curricular. Como princípios norteadores, o documento aponta: 1. Articulação das esferas do ensino, da pesquisa e da extensão; 2. Exercício da docência em Geografia como elemento identificador da atuação profissional; 3. Articulação dos conteúdos ministrados de modo a possibilitar o aprofundamento das especificidades de seu respectivo campo de conhecimento e, ao mesmo tempo, propiciar o encontro de saberes, procedimentos e atitudes de outros campos do conhecimento, sem perder de vista os objetivos e delineamentos teóricometodológicos contemplados em cada componente;

4. Incorporação de práticas didático-pedagógicas que apontam para a autonomia profissional e intelectual, postura crítica e emancipação do formando, repercutindo assim de forma global e integradora na formação do Licenciado em Geografia com base nos preceitos da cidadania, como o respeito à diversidade, com vistas à permanente consolidação de uma sociedade democrática. 5. Sólida formação científico-pedagógica-humanística e na articulação do binômio teoria prática na sua atuação profissional; 6. Construção da consciência crítico-propositiva; 7. Formação do sujeito histórico, ético, social e ambientalmente comprometido; 8. Contextualização, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade do conhecimento como princípios pedagógicos que conduzem à aprendizagem significativa; 9. Perspectiva sociointeracionista da aprendizagem como subsídio para a práxis pedagógica; 10. Investigação voltada para a solução de problemas pedagógicos, particularmente no que se refere ao ensino de Geografia. (IFPE/PPC, p. 28). A partir do referencial legal e dos princípios norteadores, pode-se observar como preocupação precípua a articulação entre ensino, pesquisa e extensão e o exercício da docência em Geografia como elemento identificador da atuação profissional. Já quanto à estrutura curricular, essa preocupação é legitimada na matriz curricular do curso. Nela, os conteúdos do eixo prática profissional (incluindo o estágio), são privilegiados, bem como a formação pedagógica, ambos compondo carga horária relevante no currículo, como se pode ver no quadro abaixo: Quadro 01 Distribuição da carga horária entre os núcleos. Fonte: IFPE/PPC Licenciatura Geografia

A seguir, vamos nos concentrar no estágio supervisionado propriamente dito, bem como apresentar os resultados de pesquisa obtidos, buscando evidenciar a importância do estágio supervisionado para a licenciatura em tela, ressaltando que, por motivo de recorte de pesquisa e delimitação do tema, optamos por não desenvolver aqui qualquer análise no que se refere especificamente à geografia, atendo-nos às questões da licenciatura de forma geral. 3. ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA LICENCIATURA E FORMAÇÃO DOCENTE No curso de Licenciatura em Geografia do IFPE, o estágio supervisionado recebe destaque e atenção por parte dos integrantes do colegiado, tanto gestores quanto docentes e discentes. O estágio é desenvolvido em convênios e parcerias com instituições públicas de ensino da educação básica, podendo ocorrer inclusive no próprio IFPE. Esse estágio percorre toda a metade final do curso, atendendo à legislação e às orientações e normativas institucionais: Os Estágios Supervisionados I, II, III e IV são componentes obrigatórios e cursados a partir do quinto (5º) até o oitavo (8º) período, configurando-se na culminância do processo de integralização do curso, sob o ponto de vista da prática profissional. O estágio curricular supervisionado é entendido como o tempo de aprendizagem no qual o discente do curso de Licenciatura em Geografia exerce in loco atividades específicas da sua área profissional sob a responsabilidade e orientação de um professor do curso. O Parecer CNE/CP nº 28/2001 de 02/10/2008 destaca que o estágio supervisionado é um modo de capacitação em serviço e que só deve ocorrer em unidades escolares onde o estagiário assuma efetivamente o papel de professor. O componente curricular Estágio Supervisionado busca fazer um levantamento e uma análise do campo de estágio, com a elaboração de um plano de ação a ser executado no espaço formal da Educação Básica. (IFPE/PPP, Licenciatura em Geografia, p.67) Assim sendo, os estudantes elaboram e cumprem o plano de estágio com a orientação de um professor orientador na instituição de ensino e de um supervisor, o docente da sala de aula na escola campo de estágio. A partir das orientações, os estudantes refletem sobre as questões da escola e experimentam a docência em diferentes contextos. Sobre essa vivência teóricoprática, Pimenta e Lima afirmam: O estágio, nessa perspectiva, ao contrário do que se propugnava, não é atividade prática, mas atividade teórica, instrumentalizadora da práxis docente, entendida esta como a atividade de transformação da realidade. Nesse sentido, o estágio atividade curricular é atividade teórica de conhecimento, fundamentação, diálogo e intervenção na realidade, este sim objeto da práxis. Ou seja, é no trabalho docente do contexto da sala de aula, da escola, do sistema de ensino e da sociedade que a práxis se dá. (PIMENTA e LIMA, 2010, p. 14)

A experiência vivenciada pelos estudantes no estágio supervisionado permite compreender o estágio como instrumentalizador da práxis, o que é essencial na sua formação como professores pesquisadores e como profissionais reflexivos. O conjunto dessas atividades tem sido de grande relevância para a formação docente desses licenciandos. Com base nessa relevância, passamos então a apresentar os dados de pesquisa revelados por questionários aplicados e entrevistas realizadas com esses estudantes, que demonstram a importância do estágio para sua formação integral. 4. IMPORTÂNCIA DO ESTÁGIO PARA A FORMAÇÃO DOCENTE: METODOLOGIA E RESULTADOS DE PESQUISA Para adentrarmos a realidade do objeto de estudo em tela, valemo-nos de instrumentos tanto quantitativos quanto qualitativos de pesquisa, de forma a verificarmos a frequência e regularidade de respostas a algumas perguntas iniciais para então ressaltarmos mais profundamente aquelas informações que mais instigassem diante das questões elencadas. Tal orientação metodológica pode ser melhor explicitada a seguir: A relação entre quantitativo e qualitativo, entre objetividade e subjetividade não se reduz a um continuum, ela não pode ser pensada como oposição contraditória. Pelo contrário, é de se desejar que as relações sociais possam ser analisadas em seus aspectos mais ecológicos e concretos e aprofundadas em seus significados mais essenciais. Assim, o estudo quantitativo pode gerar questões para serem aprofundadas qualitativamente, e vice versa. (MINAYO e SANCHES, 1993, p. 262). Para localizar, portanto, as questões mais relevantes e aprofundá-las qualitativamente, procedemos à aplicação de um questionário com a participação de estudantes de três turmas da licenciatura em geografia do IFPE, do quinto, sétimo e oitavo períodos, bem como de estudantes egressos recém-formados. Demonstraram interesse em participar desta etapa quinze estudantes, que responderam às questões apresentadas por adesão voluntária. Seguem-se então os resultados desta etapa inicial. Referem-se à contribuição que o estágio traz para a formação, à carga horária destinada ao estágio por semestre e por componente, ao papel do orientador e do supervisor, entre outros. Quadro 01 Questões apresentadas aos estudantes de licenciatura. Fonte: Própria. Questões apresentadas aos estudantes de licenciatura sim em parte não O estágio contribui para sua formação como licenciando em Geografia 13 2 O estágio é parte importante do currículo da licenciatura 14 1

O tempo de estágio no currículo (em semestres) é suficiente 12 2 1 O tempo de estágio no currículo (em carga horária) é suficiente 14 1 O estágio ajuda a reconhecer e praticar conhecimentos adquiridos no curso 12 3 A orientação de estágio é importante para sua formação 14 1 A supervisão do professor na escola é importante para sua formação 11 4 A vivência no campo de estágio fortalece sua intenção de ser docente 11 4 A prática indica que a formação foi suficiente 3 11 1 Você se sente mais preparado para exercer atividade docente após o estágio 8 7 Como se pode observar, os estudantes consideram que o estágio contribui para sua formação como licenciandos em geografia em 87% dos casos. Em proporções bem aproximadas, consideram que o estágio é parte importante do currículo (93%), que o tempo de estágio, em semestres (80%) e em carga horária (93%), é suficiente. Concordam que o estágio ajuda a reconhecer e praticar conhecimentos adquiridos no curso em 80% dos respondentes. Sobre a orientação de estágio, os sujeitos afirmam sua importância em 93% das respostas. Já no que se refere à supervisão pelo professor da escola campo de estágio, o índice é de 73%. Nas entrevistas, os estudantes justificam esses percentuais da seguinte maneira: Os cursos de licenciatura deveriam ter relação mais próxima com as escolas. Os professores supervisores poderiam ser melhor instruídos para receber os futuros docentes. Às vezes, é só o orientador que ajuda, porque o supervisor tem muita coisa para fazer e nem sempre está preparado ou tem tempo para nos ajudar. (Entrevistado 1). A partir dessa fala, aliada ao percentual que decresce na análise da contribuição dos supervisores, os estudantes parecem indicar que o professor da sala de aula no campo de estágio tem pouco tempo disponível e eles terminam por recorrer ao orientador da instituição formadora para esclarecimento de dúvidas e orientações.

Sobre a intenção de ser docente, foi arguido se o estágio fortaleceu esse interesse. Obtivemos 73% sim contra 23% em parte. Os dados mais relevantes e que mais nos chamaram a atenção, entretanto, não se localizam na importância do estágio, do tempo dedicado à atividade, sequer nas atividades de orientação e supervisão. O contraste aparece quando perguntados se a prática indica que a formação foi suficiente. O gráfico aponta: Para 20% dos estudantes na atividade de estágio, a formação pareceu suficiente, contra 20% para quem a prática foi parcialmente suficiente e 7% para quem foi insuficiente. Sobre motivos para isso, colhemos em entrevista o seguinte relato: O estágio é parte fundamental da formação, mas deveria haver mais critério para a seleção das escolas, pois muitas vezes acabamos em escolas ruins que não acrescentam muito a nossa formação. O campo de estágio deveria ser numa escola com professores de

práticas pedagógicas destacadas que pudessem contribuir positivamente para a nossa formação, porque estagiar com professores em situação precária não acrescenta muito. Dos problemas nós já sabemos... (Entrevistado 2). Segundo este depoimento, os estudantes conhecem os problemas das escolas e dos professores. O que eles pretendem aprender no campo de estágio são práticas pedagógicas destacadas. Ao ser questionado sobre o que isso significa, o estudante afirmou que queria ver de verdade como ensinar com sucesso. Sabemos que para isso não há caminho específico a ser apontado, mas que é uma construção que perpassa desde a identidade profissional até as práticas cotidianas... Finalmente, a questão que mais revelou a dificuldade dos estudantes foi a seguinte: Você se sente mais preparado para exercer atividade docente após o estágio? 53% alegaram que sim, se consideram mais preparados. No entanto, 47% deles informaram que se sentem apenas parcialmente preparados para sua atividade docente, como o gráfico demonstra. Ao ouvir representação dos estudantes que se sentem parcialmente preparados, foram alegados alguns motivos: necessidade de revisão dos componentes curriculares do curso, importância de a escola e a instituição formadora se aproximarem mais efetivamente e necessidade de mais tempo de estudo e de experiência após a formação inicial. Ou seja, os estudantes sentem a necessidade de matrizes curriculares cada vez mais atualizadas e de proximidade entre os atores envolvidos na formação para a práxis. Nas entrevistas reconhecem que deverão estudar, ensinar e refletir sobre a prática pedagógica e a ação docente ao longo da vida para que sua formação se consolide.

CONSIDERAÇÕES FINAIS O estágio supervisionado no currículo da licenciatura ora analisada demonstrou significativa relevância para a formação docente dos estudantes. Segundo estes, o estágio contribui para sua formação como licenciados, é parte importante do currículo do curso e ajuda a reconhecer e praticar conhecimentos construídos durante a formação. Para os estudantes, a vivência do campo de estágio tem fortalecido sua intenção de exercer atividade docente, mesmo diante das dificuldades observadas e relatadas pelos supervisores. O estágio é o lugar onde o licenciando coloca em prática o conhecimento adquirido no decorrer de sua formação, e é nesse momento que terá a oportunidade de definir o ingresso na carreira de professor. A prática docente é essencial para nossa formação e o estágio nos permite viver e aprender com o cotidiano da escola. (Entrevistado 3). Portanto, defendemos que seja assegurado espaço de prestígio para as atividades do estágio supervisionado em sala de aula nos currículos das licenciaturas, de forma que a prática pedagógica seja melhor consolidada e que os professores em formação possam interagir, estejam eles cursando sua formação inicial, orientando as atividades de estágio ou supervisionando-as na sala de aula. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 11/12/2015. BRASIL. Lei nº 11.788, de 25 de setembro de 2008. Dispõe sobre o estágio de estudantes. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11788.htm>. Acesso em: 12/12/2015. CHARLOT, Bernard. Formação de professores: a pesquisa e a política educacional. In: PIMENTA, S. G. e GHEDIN, E. (orgs.). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. São Paulo: Cortez, 2002. CONTRERAS, Jose. Autonomia de professores. São Paulo: Cortez, 2002. IFPE. Instituto Federal de Pernambuco. Diretrizes para a Realização de Estágio Supervisionado no curso de Licenciatura em Geografia. Recife: IFPE, 2013. IFPE. Instituto Federal de Pernambuco. Projeto Político Pedagógico do Curso de Licenciatura em Geografia Campus Recife. Recife: IFPE, 2014. LIMA, Maria Socorro Lucena; PIMENTA, Selma Garrido. ESTÁGIO E DOCÊNCIA: DIFERENTES CONCEPÇÕES. Poíesis Pedagógica, [S.l.], v. 3,

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