Oxalá. Imagem sincretizada de Oxalá com Jesus



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Transcrição:

Oxalá Imagem sincretizada de Oxalá com Jesus

Imagem idealizada de Oxalá nos cultos africanos Sincretizado com Nosso Senhor Jesus Cristo na Umbanda. Oxalá é o Filho. O Pai Obatalá, ou Oduduwa, ou Zambi (na linguagem de preto-velho), é o ser supremo. A Santíssima Trindade do Catolicismo Romano, não é adotada na Umbanda. O sincretismo religioso, foi somente uma forma para que o africano, mascarasse sua devoção a suas divindades, procurando um santo católico romano para fazer uma correspondência e dessa forma não ser perseguido por sua prática religiosa. Temos que entender que mesmo na Umbanda, quando de venera Oxalá, está se adorando uma divindade que viveu 8.000 anos antes do Cristo. A fé umbandista, não é uma fé cristã, embora se utilize da figura de Cristo. A cor branca na Umbanda Esotérica praticada em nossa Organização Religiosa é associada a Oxalá. Normalmente independentemente do grau consciencional da Umbanda praticada a cor branca pertence mais especificamente a Oxalá. Há uma razão muito clara para que isso ocorra: o branco é identificado com todos os praticantes, porque todos rendem homenagens a Oxalá. Nas Umbandas de outros graus consciencionais a sexta-feira é consagrado a Oxalá. Na Umbanda Esotérica, o domingo é considerado o dia de Oxalá, pois, esotericamente o domingo é o dia do Sol, que é o astro que simboliza Oxalá. Existe portanto, o costume, de se usar roupa branca nas sextasfeiras ou nos domingos, dependendo da Umbanda praticada, em homenagem a ele, o deus africano mais respeitado e amado pelos filhos de qualquer Orixá.

Hierarquicamente falando, o papel de Oxalá é único. Segundo a maior parte das lendas, ele é pai de todos os Orixás. Um pouco da Mitologia Africana Oxalá seria o filho direto de Olorum ou Olodumarê, o deus supremo da mitologia afro, Oxalá representaria o céu, principio de tudo que, ao tocar o mar, na representação simbólica de um ato sexual, teria criado todos os outros orixás para que cuidassem dos seres da Terra, os homens, cercados pelos céus e pelo mar de todos os lados. Há, porém, lendas mais elaboradas, que envolvem a participação de Odudua, um Orixá bastante controvertido. Em alguns trabalhos, é feminilizado para assumir o papel de companheira de Oxalá. Para Pierre Verger, não passa de uma mistificação, um produto da pesquisa malfeita a idéia de que Oxalá teria tido Odudua como companheira. Verger, ao contrário, afirma ser Odudua era uma figura masculina, de caráter mais histórico do que mítico. Em seu livro Orixás, traça um interessante paralelo entre fatos coligidos a partir da historiografia africana e lendas recolhidas junto aos candomblés africanos. De acordo com seu estudo, há uma lenda que atribui a Oxalá o trabalho de criar o mundo, delegado por Olodumaré-Olorum, o deus supremo. Para isso, ele foi brindado com uma sacola, fechada, onde existiriam forças misteriosas que, quando libertadas, dariam a tudo o que existia um sentido absolutamente diferente. Mas havia uma pendência antiga entre Oxalá e Exu. Como Oxalá se recusara por diversas vezes a fazer oferendas requisitadas por Exu, este se mostrava disposto à vingança. E o conseguiu, provocando em Oxalá uma sede muito forte e logo depois surgindo à sua frente com uma bebida. Neste ponto, existem versões discordantes: Verger, por exemplo, sustenta que Oxalá, para matar sua sede, não teve outro recurso senão o de furar, com o seu paxorô (cajado para fazer as cerimônias) a casca do tronco de um dendezeiro. De qualquer maneira, Oxalá bebeu o líquido vinho de palma, terminando por adormecer bêbado. Neste ponto, entra na estória Odudua-Olofim, seu irmão e maior rival (nunca sua esposa!) e rouba-lhe a sacola mágica entregue por Olorum. Aproveitando-se disso, Odudua, então, criou o mundo antes que Oxalá despertasse: de dentro da sacola saiu terra, a qual se foi amontoando em tamanha quantidade que, em alguns pontos, ultrapassou a linha da água do mar, formando ilhas. Estava criada a Terra. Ao acordar, Oxalá foi castigado por Olodumarê, que o proibiu para sempre de tomar vinho de palma e de usar azeite-de-dendê (que são proibições alimentares até hoje para os filhos deste orixá). Recebeu, porém, uma espécie de prêmio de consolação: uma argila com a qual poderia modelar formas, passando, então, a criar os seres humanos. Sobre isso há, uma passagem interessante destacada na narrativa de Verger: Oxalá pôsse a modelar o corpo dos homens, mas não levava muito a sério a proibição de beber vinho de palma e, nos dias em que se excedia, os homens saíam de suas mãos contrafeitos, deformados, capengas, corcundas. Alguns, retirados do forno antes da hora, saiam mal cozidos e suas cores tornavam-se tristemente pálidas; eram os albinos. Todas as pessoas que entram nessas tristes categorias são-lhe consagradas e tornam-se de Oxalá. Assim, têm-se documentados não somente uma das explicações iorubanas para a criação do mundo como também mais um arquétipo consagrado não só na cultura africana o da competição entre irmãos, dos irmãos inimigos, sendo a rivalidade Oxalá- Odudua mais uma das diversas que existem no panteão da cultura negra. Essa lenda é confirmada por diversos pais-de-santo ligados ao candomblé, se bem que com pequenas variações aqui e ali, como é absolutamente normal nas culturas de tradição oral, em que cada contador modifica e torce um pouquinho a estória, para adequá-la a suas próprias idiossincrasias e conjunto de valores em relação ao mundo.

Confrontando fatos mitológicos com a história A novidade do trabalho de Verger, nesse caso, não reside aí, mas sim na interpretação histórica que dá à lenda. Para ele, a rivalidade entre os deuses dessas lendas seria a fabulação de fatos mais ou menos reais, concernentes à fundação da cidade de Ifé, tida como o berço da civilização iorubá e do resto do mundo. Oxalá teria sido o rei dos igbôs, uma população instalada dentro do lugar que se tornou mais tarde a cidade de Ifé. A referência a esse fato não se perdeu nas tradições orais no Brasil, onde Orixalá (outro nome para Oxalá, que quer dizer Orixá dos Orixás ) é freqüentemente mencionado nos cantos como Orixá Igbô ou Baba Igbô, ou orixá ou rei dos igbôs. Durante seu reinado, ele foi vencido por Odudua, que encabeçava um exército, fazendo-se acompanhar de dezesseis personagens cujos nomes variam segundo os autores. (...) Esses acontecimentos históricos corresponderiam à parte do mito onde Orixalá foi enviado para criar o mundo (enquanto, na realidade, ele tornou-se o rei dos igbôs), e foi no mito que Odudua tornou-se o rei do mundo, por ter roubado a Orixalá o saco da criação (enquanto, na realidade, ele destronou Oxalá-Igbô, usurpandolhe o reino). Ainda segundo diversas lendas, Yemanjá, que foi esposa de Oxalá, intercedeu entre os dois tentando forçar uma reaproximação, mas isso sempre foi impossível. Não se sabe ao certo até que ponto existiria algum fato histórico relacionado à atitude de Yemanjá no mito ou se ela é apenas produto da fabulação atribuída ao caráter passivoamistoso freqüentemente empregado pelos iorubás para definir Yemanjá. Outro ponto bastante diferente de Oxalá em relação aos outros orixás é sua vida sexual. Ao contrário das múltiplas ligações que tanto orixás masculinos e femininos estabelecem, em torno de Oxalá existe uma aura maior de respeito quando se toca neste assunto. Este é mais um indicador do caráter que se associa a este Orixá, de retidão, de maior distância em relação aos defeitos humanos do que os outros Orixás. A ele se atribui a paternidade de todos os orixás do país iorubá. Oxalá é também pai de três outros filhos-orixás Iroko (ou Tempo), Oxumarê e Obaluaiê (ou Omulú). A mãe deles, porém, não é Yemanjá, como no caso dos orixás iorubanos, mas sim Nanã Buruku. Apesar de algumas estórias limitarem a vida amorosa de Oxalá a Yemanjá, outras sustentam que ela seria sua segunda mulher, depois de um casamento com Nanã. Esse desacordo, porém, não é intransponível. Na verdade, há uma explicação histórica bastante plausível para essas dúvidas. Os três filhos de Oxalá com Nanã são, filhos da cultura do Daomé, não da iorubana. Segundo algumas interpretações, seriam seres míticos anteriores aos outros, que foram incorporados à mitologia iorubá para amalgamar à cultura dominante que se estabelecia alguns dados referentes às antiga cultura local, especificamente os orixás mais cultuados. No entanto, para não se quebrar a hierarquia que define Oxalá como o criador de todos os homens e, conseqüentemente, criador-pai de todos os orixás, ele seria também responsável pela paternidade dos orixás recém-incorporados. Ao mesmo tempo, Nanã, criador-pai para os daomeanos em geral, foi com o tempo feminilizada, fechando, então, uma nova explicação onde entravam todas as figuras importantes dessa espécie de acordo cultural. Corroborando essa suspeita, Olga Cacciatore deixa claro em seu dicionário que, apesar de orixá feminino no Brasil e em algumas regiões da África, Nanã surgiria como Orixá masculino em outros pontos. E, numa terceira posição, para algumas nações Nanã seria uma figura tanto masculina como feminina ou ainda assexuada, comparável não a Oxalá mas sim a Olorum. De qualquer maneira, essa dúvida foi sendo resolvida pelos mitos, e atualmente Nanã é cultuada como orixá feminino, aparecendo, ao lado de Yemanjá, como uma das figuras mais ligadas à maternidade. Vários nomes são ligados a Oxalá. Na Nigéria, prevalece o nome Obatalá. Em Oko, Orixaakô; em Ejigbô, recebe o nome de Oguinhã. Em todos esses locais, porém, é inquestionável seu posto de supremacia, o que fica evidenciado nas cerimônias de

candomblé no Brasil. Já que em nosso país, ao contrário da África, o culto de cada terreiro não se restringe a apenas um orixá, mas sim celebra diversos deuses numa mesma festa (o que seria segundo Bastide, uma tentativa de recriação em solo estrangeiro da totalidade mítica da pátria distante), Oxalá sempre é o último dos orixás a surgir "em desfile. Existem diversos tipos de Oxalá. como acontece com todos os deuses africanos, mas neste caso há um certo destaque para duas de suas formas, justamente o Oxalá mais novo e o Oxalá mais velho: Oxaguiã e Oxalufã. Verger chega a estabelecer distinções (se bem que não muito fortes) entre os arquétipos para cada um deles. Mas, na verdade, o que existe é um só tipo com manifestações fortes como conseqüência da própria força do Orixá. As diferenças seriam as comuns numa mesma pessoa quando jovem e quando bem mais velha. Assim, Oxaguiã seria mais ousado, brincalhão e sensual do que o reservado e paternal tipo respeitoso e sereno de Oxalufã. É mais atirado e chega a ter alguns rompantes de idealismo, enquanto que Oxalufã, com toda a sua experiência, seria menos empolgado, conhecedor do fato de que nem tudo é tão bom ou tão mau. O Arquétipo do filho de Oxalá Essas características seriam basicamente as encontradas nos arquétipos ocidentais em relação à figura paterna. Oxalá é o pai dos orixás e, por extensão, de toda a humanidade. Estabelece, pois, entre si e os outros, uma aura de respeito, mas nunca de temeridade, de vez que não é inseguro, não precisa de artifícios para estabelecer qualquer coisa. Consegue tudo naturalmente. Os filhos de Oxalá, portanto, são pessoas tranqüilas, com tendência à calma mesmo nos momentos mais difíceis; conseguem o respeito mesmo sem que se esforcem para obtê-lo. São amáveis e prestativos, mas nunca de uma maneira subserviente. Em alguns casos, podem ser autoritários, mas a cristalização dessa possibilidade depende muito do ajuntó que atua sobre a pessoa. Sabem argumentar com certa facilidade, com uma grande queda para a organização e a centralização em torno de si próprios da atividade de um grupo. Apesar de todo esse caráter aparentemente acessível, no fundo são indivíduos reservados, pois sempre ficará, no inconsciente de seus filhos, a marca da separação, de que Oxalá não está no mesmo nível dos outros orixás; isso não se manifesta em orgulho, mas apenas numa dignidade distante. O defeito mais claro que pode haver nos filhos de Oxalá é a teimosia, quando a certeza de suas convicções se torna muito clara. Nesses casos, será difícil convencê-los de que estão errados ou de que existem outros caminhos para a resolução de qualquer problema. No Oxalá mais velho, isso se traduziria em ranzinzice, enquanto que Oxaguiã demonstraria certo furor pelo debate. Não há, porém, uma tendência para a agressividade, como em Ogum (um obstinado quando quer alguma coisa). Para Oxalá, a idéia é mais importante que a ação. Fisicamente, os filhos de Oxalá apresentam um porte majestoso, que está mais na maneira de andar do que na constituição física, onde costuma ser bem menos compacto do que o tipo ligado a Xangô. Uma amostra da popularidade de Oxalá no Brasil está na sua presença numa das festas mais famosas da Bahia, a lavagem das escadarias da igreja do Senhor do Bonfim, com ele sincretizado na região. Essa festa (utilizada inclusive com muita eficiência pelos políticos em busca de votos na comunidade ligada aos cultos afro-brasileiros) é, na verdade, uma variação da cerimônia Águas de Oxalá, realizada em alguns terreiros baianos. Consiste num ritual onde os filhos-de-santo recolhem água de um rio para "lavar os axés de Oxalá, reproduzindo a peregrinação mítica dos súditos de Xangô. A esse respeito, contam as lendas que o reino do senhor da pedra passava por muitas

privações. Consultados, os feiticeiros disseram que tudo consistia num castigo enviado pelos deuses para uma injustiça. Anos atrás, Oxalá, em viagem para o reino, havia se aproximado de um cavalo e 1he dado água. Fora preso no mesmo instante, confundido com um reles ladrão. Quando Xangô foi avisado da injustiça, libertou Oxalá e promoveu para ele a primeira festa das águas, ordenando que seus súditos buscassem água do rio e lavassem-no, para assim desfazer o engano e reafirmar o respeito que sempre teve por ele. Uma amostra da popularidade de Oxalá no Brasil está na sua presença numa das festas mais famosas da Bahia, a lavagem das escadarias da igreja do Senhor do Bonfim, com ele sincretizado na região. Essa festa (utilizada inclusive com muita eficiência pelos políticos em busca de votos na comunidade ligada aos cultos afro-brasileiros) é, na verdade, uma variação da cerimônia Águas de Oxalá, realizada em alguns terreiros baianos. Consiste num ritual onde os filhos-de-santo recolhem água de um rio para "lavar os axés de Oxalá, reproduzindo a peregrinação mítica dos súditos de Xangô. A esse respeito, contam as lendas que o reino do senhor da pedra passava por muitas privações. Consultados, os feiticeiros disseram que tudo consistia num castigo enviado pelos deuses para uma injustiça. Anos atrás, Oxalá, em viagem para o reino, havia se aproximado de um cavalo e 1he dado água. Fora preso no mesmo instante, confundido com um reles ladrão. Quando Xangô foi avisado da injustiça, libertou Oxalá e promoveu para ele a primeira festa das águas, ordenando que seus súditos buscassem água do rio e lavassem-no, para assim desfazer o engano e reafirmar o respeito que sempre teve por ele. Referências Bibliográficas Oxalá o deus da criação, pags. 59 a 62, Revista Planeta,n. 126-B, 1ª Edição, São Paulo: Editora Três,1984.