Fecundidade da população portuguesa: uma análise estatística dos determinantes da transição para a parentalidade.

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Transcrição:

+ Fecundidade da população portuguesa: uma análise estatística dos determinantes da transição para a parentalidade. Lídia P. Tomé, CIDEHUS - UE Maria Filomena Mendes, CIDEHUS - UE Paulo Infante, CIMA - UE

+ Contextualização

+ Contextualização Demográfica Portugal e a Europa ISF Índice Sintético de Fecundidade, diz respeito ao número médio de filhos que em média uma mulher deixa na população se as condições do momento se se mantiverem constantes.

+ Contextualização Demográfica Portugal e a Europa IMF Idade Média da Fecundidade, diz respeito à idade em que em média as mulheres têm filhos (independentemente da ordem de nascimento) num determinado ano civil.

+ Contextualização Demográfica Portugal e a Europa Idade Idade Média das mulheres ao nascimento do primeiro filho.

+ Contextualização Demográfica Evolução do ISF em Portugal Continental 2001 2011 2013

+ Contextualização Demográfica Evolução da IMF em Portugal Continental 2001 2011 2013

+ Em síntese... n A diminuição dos níveis de fecundidade e o seu contínuo adiamento são em parte resultado das transformações da negociação entre o casal substituindo as normas e regras sociais tradicionais. n A parentalidade passou a ser uma questão de escolha, uma estratégia concertada entre o casal no momento em que se sentem preparados para a transição. n Importa, contudo, reforçar a ideia de que as modelos familiares ou as normas sociais não se perderam nesta transformação da construção da família, mas que se transformaram.

+ Objetivo, Variáveis e Metodologia

+ Objectivo e Foco de Análise n Identificar os determinantes da transição para a n Parentalidade, n Segundo e n Terceiro filhos. n O foco desta análise são indivíduos com idades entre os 18 e os 40 anos, residentes em Portugal no ano de 2013. n Indivíduos inquiridos no âmbito do Inquérito à Fecundidade 2013.

+ Amostra n O IFEC 2013 inquiriu 7624 indivíduos entre os 18 e os 54 anos de idade; n A amostra foi selecionada utilizando um esquema de amostragem complexa (Osborne, 2011), e assim utilizaram-se os pesos normalizados ajustados para o efeito do desenho;

+ Variáveis em estudo n Variável resposta idade ao nascimento do primeiro filho. n Censurada para os indivíduos que não têm ainda filhos. n Truncada aos 40 anos pela existência de acontecimentos raros depois desta idade. n Utilizando um conjunto de 23 variáveis n Contexto familiar. n Valores individuais e normas sociais.

+ Metodologia n Análise de sobrevivência n Curvas Kaplan-Meir permitindo estimar o efeito univariado de diversas variáveis no evento de interesse. n Modelo de Cox algumas variáveis não verificaram o pressuposto dos riscos proporcionais n Modelo Aditivo de Allen resultados foram consistentes com os obtidos no modelo de Cox, quer na significância das variáveis, quer no sinal dos coeficientes. n Paramétricos maus ajustamentos, sendo o modelo Weibull o que pareceu ajustar-se melhor, mas subestimando antes dos 30 anos e sobrestimando depois dos 35 anos.

+ Resultados Análise Univariada

+ Resultados Estimativa do efeito de uma determinada variável (Curvas K-M) Sexo Geração 1.00 1.00 Pós 25 Abril Pré 25 Abril 0.75 0.75 S(t) estimada 0.50 S(t) estimada 0.50 0.25 0.25 0.00 Homens Mulheres 0.00 15 20 25 30 35 40 Idade (anos) 15 20 25 30 35 40 Idade (anos)

+ Resultados Estimativa do efeito de uma determinada variável (Curvas K-M) Nível de Instrução do Próprio Nível de Instrução da Mãe 1.00 1.00 0.75 0.75 S(t) estimada 0.50 S(t) estimada 0.50 0.25 0.25 Ens. Básico Ens. Básico Ens. Secundário Ens. Secundário 0.00 Ens. Superior 0.00 Ens. Superior 15 20 25 30 35 40 Idade (anos) 15 20 25 30 35 40 Idade (anos)

+ Resultados Estimativa do efeito de uma determinada variável (Curvas K-M) Compensação Conciliação Materna 1.00 1.00 Não trabalhar Trabalhar 0.75 0.75 S(t) estimada 0.50 S(t) estimada 0.50 0.25 0.25 0.00 Concorda Discorda 0.00 15 20 25 30 35 40 Idade (anos) 15 20 25 30 35 40 Idade (anos)

+ Síntese das estimativas K-M n Diversas são as características, perceções e opiniões que, na análise univariada, se mostram significativas para explicar o adiamento da fecundidade em Portugal, tal como a entrada na parentalidade. n Através de uma análise descritiva e detalhada, verificou-se que a idade mediana de transição para a parentalidade se situa em torno dos 29/30 anos. n Verificou-se ainda que, das diferentes variáveis analisadas, que de entre 23 variáveis apenas 2 (presença paterna e as opiniões expressadas respeitantes ao adiamento) não apresentaram diferenças estatisticamente significativas.

+ Resultados Modelo Aditivo de Allen

+ Resultados Função de Regressão Acumulada de uma determinada variável (Allen) Para quem coabitou com 25 ou mais anos vs. quem coabitou antes dos 25 anos com educação ao nível do ensino superior Para quem tem nível de instrução até ao ensino secundário vs. o nível do ensino superior para quem coabitou com 25 ou + anos Interacao21.2 1.0 0.5 0.0 Interacao22.1 0.2 0.2 0.6 20 25 30 35 40 Time 20 25 30 35 40 Time

+ Resultados Função de Regressão Acumulada de uma determinada variável (Allen) Para quem tem um nível de instrução até ao ensino secundário vs. nível de ensino superior para quem coabitou antes dos 25 anos Para as mulheres vs. os homens que começaram a trabalhar depois dos 18 anos Interacao22.1 0.0 0.5 1.0 1.5 Interacao12.1 0.4 0.0 0.2 20 25 30 35 40 20 25 30 35 40 Time Time

+ Resultados Função de Regressão Acumulada de uma determinada variável (Allen) Para os homens que começaram a trabalhar até aos 18 anos vs. homens que começaram a trabalhar depois dos 18 anos Para as mulheres que começaram a trabalhar até aos 18 anos vs. mulheres que começaram a trabalhar depois dos 18 anos Interacao11.2 0.6 0.2 0.2 Interacao11.2 0.2 0.2 0.4 20 25 30 35 40 Time 20 25 30 35 40 Time

+ Resultados Função de Regressão Acumulada de uma determinada variável (Allen) Para os que desejam ter mais de dois filhos vs. desejam no máximo dois Para educação da mãe ao nível do secundário ou superior vs. até ao básico Fec_Desejada+ de 2 filhos 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 20 25 30 35 40 Time Educ_MaeEns. Secundário & Sup 0.6 0.2 20 25 30 35 40 Time

+ Resultados Função de Regressão Acumulada de uma determinada variável (Allen) Para quem tem dois ou mais irmãos vs. quem até no máximo um Para os que discordam que é preferível ter apenas um filho com mais oportunidades e menos restrições do que mais filhos vs. os que concordam Numero_Irmaos2 ou mais irmãos 0.3 0.1 0.1 0.3 CompDiscorda 0.0 0.2 0.4 0.6 20 25 30 35 40 20 25 30 35 40 Time Time

+ Resultados Função de Regressão Acumulada de uma determinada variável (Allen) Para os que discordam com o empenho de uma mulher em conciliar a vida profissional e familiar de forma equilibrada, bem como em criar um filho sozinha Para os que discordam de alguma forma que uma mulher ou um homem precisam de um filho para se sentir realizado AutFemAlguma discordância 0.1 0.2 0.4 0.6 20 25 30 35 40 RealPesAlguma discordância 0.5 0.3 0.1 0.1 20 25 30 35 40 Time Time

+ Notas Finais

+ Os determinantes n Entre as varáveis que se mostram significativas nos vários modelos para explicar a transição para a parentalidade, podem destacar-se como fatores potenciadores: n A mãe ter uma educação até ao 3º ciclo do ensino básico; n O indivíduo ter educação até ao ensino secundário e ter coabitado antes dos 25 anos; n Ser mulher e ter começado a trabalhar antes dos 18 anos; n Desejar ter mais de dois filhos; n Ter dois ou mais irmãos; n Discordar da compensação.

+ n Muito obrigado pela vossa atenção!