A RESPONSABILIDADE CIVIL NA APRESENTATAÇÃO ANTECIPADA DO CHEQUE PÓS-DATADO GONÇALVES, L. R. S. Resumo: O cheque é um título de crédito de ordem de pagamento à vista regido pela Lei nº 7.357/1985, porém toma outros delineamentos quando firmado entre partes o seu pós-date, para alguns autores suas características principais são modificadas, mas entre as partes nasce uma obrigação de negócio jurídico, inclusive com responsabilização do beneficiário que apresentar o cheque antes da data acordada, nascendo o direito a reparação pelos danos materiais e morais causados ao emitente. Palavras chave : Cheque pós-datado - Apresentação antecipada - Reparação Abstract: A check is a negotiable instrument of payment order to view governed by Law No. 7.357/1985, but takes other designs executed between parties when your post-date, for some authors Its main characteristics are modified, but between the parties arises a requirement of legal business, including accountability of the recipient to present the check before the agreed date, rising entitlement to compensation for material and moral damages caused to the issuer. Keywords: Post-dated Cheque - Early Presentation - Repair INTRODUÇÃO Este trabalho foi desenvolvido da forma de pesquisa e tem em seu escopo, tratar sobre a apresentação antecipada do cheque pós-datado, e suas consequências jurídicas.
No direito brasileiro tomou forma, a partir da Convenção de Genebra, atualmente encontra-se instituído pela Lei 7.357/85, conhecida como Lei do Cheque, em vigor até a presente data. O cheque é uma espécie de título de crédito, mas principalmente é uma ordem de pagamento à vista, sempre sacada contra um banco ou assemelhado com base em suficiente provisão de fundos depositados pelo sacador em mãos do sacado ou decorrente de contrato de abertura e crédito pactuado entre ambos.. Embora seja título de crédito de ordem de pagamento á vista, conforme costume arraigado na sociedade brasileira, é muito utilizado na modalidade pós-datado, ou ainda, pré-datado, desvirtuando-o da sua vocação originária, ou seja, como ordem de pagamento à vista. Por conseqüência, a apresentação antecipada do cheque pós datado pode gerar danos ao emitente do título, daí decorre o dever de indenizar que faz nascer a responsabilidade civil, instituto de direito que visa garantir àquele que foi lesado por ato ilícito, a reparação pelos danos causados pela consequência do ato ou negócio danoso. REFERENCIAIS TEÓRICO-METODOLÓGICOS O Direito tem como principal função disciplinar as relações jurídicas da sociedade, para tanto se utiliza de normas e princípios com a finalidade de regrar os diversos negócios jurídicos que ocorrem cotidianamente, entre eles o uso do cheque, que é o principal meio de pagamento utilizado. O cheque é uma ordem de pagamento à vista, embora seja muito utilizado em nossa sociedade na modalidade pós-datado. Quando ocorre o fato de se aprazar o cheque, este passa a ser um negócio jurídico e pode gerar os efeitos da responsabilidade civil caso o acordo vier a ser descumprido. Em razão de o cheque pré-datado, ou melhor, pós-datado não estar amparado por nenhuma legislação, a partir do momento em que as partes
acordam entre si, e aceitam que sua apresentação seja tardia, para tal data especificada na própria cártula, gera um negocio jurídico entre estas. Para Castro Mendes, em face do princípio da liberdade de forma, a regra dos negócios jurídicos é a forma livre, sendo exceção a forma determinada a forma determinada pode revestir esse caráter por força da lei ou da vontade prévia da parte ou partes 1. Assim, o contrato verbal é válido desde que seja lícito e não contrarie disposição legal, devendo atender a vontade das partes de igual modo, dessa forma, o cheque pós-datado tem sua validade jurídica. Portanto, quando pós-datado o cheque este se torna contrato verbal entre as partes, preponderando o princípio da boa-fé, mas ao mesmo tempo tem sua forma escrita, já que constará na cártula, geralmente, a expressão bom para seguida da data avençada para sua apresentação. Consequentemente ignorar o contrato verbal implicará na responsabilização civil do sacado pela apresentação antecipada, que tem sua fundamentação no acordo que há entre o emitente e sacador, quando avençada a data aprazada, sendo que para o banco sacado o que prevalecerá é a data da apresentação do cheque. Assim sendo negócio jurídico entre as partes, regem-se as regras do Código Civil, gerando o dever de indenizar, bem como o respeito e bom grado ao principio norteador das relações negociais, a boa-fé. Álvaro Costa ensina, a boa-fé é um princípio de direito, isto é, tem aplicação generalizada, e não constitui mera exceção no domínio jurídico, para produzir efeitos quando a lei lhe atribuir expressamente 2. A responsabilidade civil instituto do Direito Civil visa garantir àquele que foi lesado por ato ilícito, a reparação pelos danos morais, materiais, estético, entre outros que surgem conforme a necessidade social, estes pela consequência do ato ou negócio danos 3. 1 MENDES, Castro. Código Civil. v. III, p. 97 a 99 apud NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado. 8 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 340 2 AGUIAR, Álvaro. Do Princípios da Boa-fé. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará Centro de Estudos Aplicados, 1947, p. 122 apudstoco, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil Doutrina e Jurisprudência. 7ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 122 3 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1988. p. 7-11 apud FIUZA, Ricardo. Código Civil Comentado. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 882.
Ademais, a responsabilidade civil poderá ser classificada como objetiva ou subjetiva. A primeira é a responsabilidade da qual decorre do risco, sendo responsabilizado o agente independentemente de culpa, necessário somente à comprovação do ato ilícito, nexo causal e o dano, já a subjetiva, necessária a comprovação da culpa, sendo a regra dentro da responsabilidade civil, conforme a regra do artigo 186, do Código Civil. A Súmula 370 do STJ diz que apresentar o cheque pré-datado antes do dia ajustado pelas partes, gera dano moral. Assim, o sujeito passivo na responsabilização civil, no presente caso o beneficiário, ou seja, aquele que recebe o cheque em negócio jurídico do emitente, os quais firmaram um acordo a respeito da data da apresentação daquela cártula, pois presentes os requisitos do negócio jurídico, a boa-fé e o acordo verbal. O sujeito ativo será sempre o emitente do cheque, já que este é o titular da conta, bem como do talonário do cheque e quem sofrerá a lesão, quando antecipada apresentação do cheque. Em regra geral, o direito de ação compete a quem tem o interesse legítimo a pretensão, sendo este quem sofreu o dano, é o sujeito ativo da relação processual. CONCLUSÃO Com as considerações realizadas neste trabalho demonstra-se que o cheque, independentemente de estar pós-datado, perante a instituição bancária tem caráter de ordem de pagamento à vista, não sendo responsabilizada caso seja apresentada antes da data aprazada. No caso de ser apresentado antes da data aprazada, o dever de indenizar decorre da ocorrência de descumprimento do princípio da boa-fé, pelo descumprimento do acordo firmado, já que não há regulamentação específica sobre o tema, e o abalo de crédito sofrido. A responsabilidade civil acerca da apresentação antecipada do cheque pós-datado baseia-se no abalo de crédito ocorrido com o emitente, eis
que depositado e sem fundos a conta, gerará custos adicionais, bem como a inscrição do nome em órgãos de proteção ao crédito. Dessa forma a responsabilidade civil é o instituto utilizado a coibir o não cumprimento do acordo entre as partes, mesmo que seja verbalmente, sendo justa a indenização para àquele que foi prejudicado, pois naquela data da apresentação não era viável, eis que não teria o fundo necessário para pagamento do título, ocasionando ao emitente do titulo prejuízos de ordem material e moral. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MENDES, Castro. Código Civil. v. III, p. 97 a 99 apud NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado. 8 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 340 AGUIAR, Álvaro. Do Princípios da Boa-fé. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará Centro de Estudos Aplicados, 1947, p. 122 apud STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil Doutrina e Jurisprudência. 7ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 122. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1988. p. 7-11 apud FIUZA, Ricardo. Código Civil Comentado. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 882