CENTRO HISTÓRICO EMBRAER Entrevista: Sergio Pegurier São José dos Campos SP Junho, de 2011 Apresentação e Formação Acadêmica Meu nome... nome de guerra na Embraer é Pegurier, é o nome que eu sou conhecido e acredito que tem muita gente que não me conhece como Sérgio, eu sou somente Pegurier. Eu tenho sessenta e três anos de idade e tenho quarenta e oito anos de trabalho. Quando eu vim trabalhar na Embraer em 1974 eu tinha dez para onze anos já de carteira assinada de trabalho, então eu vejo muitos amigos meus aqui que trabalham... Ah, eu já estou com quarenta anos de trabalho..., eu olho assim e eu falo Tadinho, tão novo..., eu tenho quarenta e oito anos de trabalho... E eu nasci... é interessante falar eu nasci no Distrito Federal, mas eu nunca fui no Distrito Federal, são duas épocas... Uma época o Distrito Federal era no Rio de Janeiro até 1960, lógico que se eu nasci em 1948 eu nasci no Distrito Federal, mas eu nunca fui aí é uma jogadinha de palavras porque o Distrito Federal é em Brasília. Carioca porque tem muitos que falam nasci em Resende (RJ) e é carioca da gema e eu sou carioca eu não sei se sou da gema... eu sou carioca. Eu nasci de uma família humilde, meu pai veio para o Brasil com dois anos de idade, isso é registrado numa novela, uma novela que veio uma família da Itália para cá e perde todos os documentos, tudo o que tinha. Meu pai veio da França com dois anos de idade, 1908/1910, conta ele que foi o meu avô que trouxe o pão francês para o Brasil, conta ele em 1908/1910, mas meu pai teve que tirar toda a documentação dele e da família todinha, não tinha como tirar da França aqui porque nem consulado tinha naquela época, então o mais fácil para eles poderem entrar no Brasil é registrando todo mundo naquele órgão do governo não sei como funcionava e virou todo mundo brasileiro. Até uma certa idade, na minha casa, meu pai falava em francês com a gente, ele queria ele queria... ele tinha vontade de ensinar francês para a gente, mas ele também não sabia muito, mas 1
ficaram algumas palavras na nossa casa como... em francês, a gente lá em casa não falava zíper, era fecho éclair, lá não se falava ervilha, se falava petit pois, bom e aí assim foi... Meu lazer era fazer alguma coisa, meu hobby eu diria assim de tudo o que eu mais gosto assim é de marcenaria e isso foi evoluindo e lá para 1992/93 eu inventei uma empresa, uma empresa que chamava-se Micropeg, micro de computador ou Micro de pequena e Peg do Pegurier porque muitos amigos me conhecem como Pegs agora é mais Pegu, mudaram um pouquinho. Então, o que aconteceu? Eu falei Meu Deus, estão começando esses computadores a cada dia aparecer mais e ninguém tem lugar para botar computador na sua casa, nenhuma casa foi feita assim que coubesse um computador..., o cara botava na mesa de sala ou na mesa de cozinha e aí eu bolei uma mesa de computador e o slogan lá da minha propaganda que eu fazia para vender era assim Micropeg, a mesa inteligente: a única no mercado que é capaz de não transferir a vibração da impressora... as impressoras antigamente matricial fazia rrrrr, fazia uma trepidação, ela não vibrava, ela não passava vibração da impressora para CPU, fiz um estudo com calçozinho de borracha e comecei a brincar com isso aí assim... eu vendi mais de cem mesas sem nunca oferecer isso para ninguém, entendeu? Aí, por exemplo, o Emílio Matsuo comprou, o Paulo Sérgio que foi uma pessoa que trabalhou muito anos na Embraer comprou, o Carlos Alberto... muita gente, daqui da Embraer muita gente comprou, o Evanildo... muita gente comprou minha mesa por que... eu não oferecia para ninguém. Eu ia no apartamento levar uma mesa aí o de cima vinha ver a mesa que o colega, o vizinho ganhou, o do outro lado daqui, aí cada um Quero uma, quero uma, quero uma... porque ela era bem compacta e ali cabia tudo que tem, que precisa para um computador. Então, meu hobby lá, minhas habilidades eu já usei profissionalmente falando. Agora eu, falando de características pessoais, eu sou uma pessoa que eu tenho..., eu fui professor muitos anos, eu trabalhei numa escola em que eu via a necessidade das pessoas, sabe? Eu começava a minha primeira aula, eu começava pedindo para que eles dissessem para mim o que ele faz e eu tinha... piscineiro, eu perguntava O que você faz e para que você quer estudar isso? Qual é o seu objetivo?, Olha, professor eu sou piscineiro, eu 2
sou pintor de parede..., profissões mais humildes e o cara queria crescer, então Eu quero fazer ferramentaria, ser operador de máquinas.... Eu dei aula durante seis anos no SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), dei aula no SENAI do Rio de projeto e vim para cá e dava aula de tecnologia mecânica e desenho Não, professor eu quero aprender porque eu quero melhorar.... Então cara, é isso... O foco é esse não desista nunca, entendeu? Eu lembro de uma figura: a garça está engolindo o sapo e o sapo segura o pescoço dela, não desista cara fique ali até você conseguir, eu procurava incentivar. Então dada a minha... foram seis, oito anos como professor eu acho que temos que ser assim é uma coisa que eu levo muito a sério e eu sento aqui e tem um colega novo do lado eu procuro tudo o que aprendi passar para eles. Trajetória na Embraer Em 1974 a primeira pessoa que eu tive contato na Embraer foi o engenheiro Massao, Massao Hashizume - treze de agosto... dez de agosto é o aniversário dele - não sei porque eu sei, mas veio. Aí então, o que acontece? Eu, explicando para ele, sobre o meu trabalho, o que eu fiz no Rio eu trabalhei numa empresa de motores chamada Herman Stoltz, uma empresa alemã que em 1964 ela pagava PLR (Participação nos Lucros e Resultados) para os funcionários, 1964, alguma coisa assim, de 15 a 30% por mês do seu salário, uma empresa alemã, uma empresa fantástica, foi meu primeiro emprego eu falei Nossa, se as empresas são assim eu estou no céu.... Trabalhei nessa empresa até 1969 e a empresa uma empresa suíça não sei se vocês conhecem - a Elevadores Schindler precisava fabricar os motores numa nova regulamentação chamada IEC International Electrotechnical Commission os motores padronizados e tudo e então eu fui, me convidaram para trabalhar. Eu fui trabalhar nessa empresa aí dada a minha experiência de motores e tudo, trabalhei nessa empresa bastante tempo. Quando na entrevista com Massao que eu falei, citei de motores ele achou assim que a melhor área para que eu trabalhasse era na área de propulsão, certo? Porque motor do avião e tudo e eu fui trabalhar nessa área. Eu trabalhei nessa área aí durante muito tempo, ela foi mudando de nome, entendeu? Depois de 1990 o projeto como um todo se fundiu e continuou 3
sendo uma seção de propulsão, onde entravam outras coisas juntas e eu tive assim a sorte de tanto trabalhar com sistemas como com estruturas porque quando eu fui para a Itália depois da minha filha e aquilo tudo de não vê-la nascer, eu fui para a Itália e o engenheiro (José Carlos de Souza Reis) Reis e lá aparece o engenheiro Bartels... parece que lá tinha uma combinação que precisava ter não sei quantas pessoas de sistema, não sei quantas pessoas de estruturas para dividir lá o trabalho e aí o Reis, o Bartels - não me lembro - perguntou para mim Pegurier, você também trabalha com estruturas..., Trabalho, trabalho com estruturas..., Então, eu vou apresentar você como um cara de estruturas aqui, está bom?, Está bom... e eu fui trabalhar com estrutura no AMX onde a gente fez a concepção da asa do AMX. Hoje, meu trabalho, é isso que é legal, tem gente que, quando dão um trabalho novo para ele, diz já vem me dar essas coisas, o meu trabalho hoje é fantástico, em todos os sentidos. Sabe qual é o meu trabalho hoje?, é uma palavra que todo mundo fala na Embraer, todo mundo fala, de nível acima a nível abaixo, todo mundo fala, mas ninguém pratica, chama-se: redução de custo. Se a gente não reduzir custo, uma empresa daquele seu produto é como um cara jogar no caça-níquel, joga dez moedas e ganha três, para onde ele vai?, ele vai para um buraco. Agora, quando uma empresa, o que ela produz, ela tem a margem de lucro dela boa, ela vai conseguindo investir, gerar mais emprego que para mim o emprego é tudo na vida por isso que o Rio de Janeiro, eu falei, é coitado do Rio de Janeiro, não tem emprego para o pessoal, uma cidade que tem emprego não tem bandido, todo mundo devia olhar isso, os governos e tudo, onde tem emprego, tem tudo, o rapazinho começa a trabalhar, ele vai trabalhar ali, ele vai comprar o carro dele, vai comprar o computador, ele vai ter isso, tudo é progresso, agora quando você quer tirar dos outros desonestamente, é para trás que anda. E eu tenho hoje esse trabalho que começou com uma conversa aqui com o Amauri (Amauri Emboava), que é meu gerente atual, e ele era gerente aqui do TAE (Time de Apoio à Entrega), que a gente conversava muito e ele via esse meu jeito, eu não sei, ele fala, a palavra é, eu tenho um jeito de fazer fácil as coisas que são complicadas, ou pensar fora da caixa, eu penso fora da caixa e aí o que acontece? Ele ainda no programa, ele agora assumiu a gerência, chama cadeia de entrega, desde 4
que começa a matéria-prima para fazer o avião até entregar aqui ele é o gerente e ele via que cabia nisso aí um grupo de redução de custos, entendeu?, e esse grupo de redução de custos, precisava ser uma pessoa, primeiro, ele achou que era a minha cara, não vou colocar adjetivos, ele achou que é meu jeito, sabe?, de não gostar de desperdícios, está certo?, de não gostar de gastar o dinheiro dos outros, de olhar a sua Empresa, porque eu acho que alguém já falou isso, eu tenho que trabalhar na Empresa como se fosse o dono, entendeu, eu sou o dono, porque se eu não pensar assim vai tudo sair pelos dedos, eu tenho que pensar que o meu salário, que a minha Empresa me paga, eu dou um lucro para ela dobrado, porque se eu não pensar isso a empresa está indo para o buraco. O Amauri quando falou comigo, Amauri, estou nessa!, é difícil, porque o ideal é quando começa a produção seriada você ter um programa de redução de custos, setecentos aviões entregues, eu pensei, falei com ele, mas eu acho o seguinte: antes tarde do que nunca. E hoje eu posso dizer para você que ontem eu paguei meu salário até 2015 com trabalho, não meu só, de um assunto que nós fizemos, fizemos, fizemos, fizemos e conseguimos, entendeu? E poxa, é uma quantia que vai reduzir o custo do avião para a Embraer, por avião, é esse o meu negócio, é reduzir, tomara que a gente consiga reduzir o máximo, mas é uma pena que muitos falam na Embraer, poucos agem para esse fim, isso devia estar na cabeça de todo mundo, se eu pudesse eu faria isso, colocar bem claro assim que o custo do produto que você fabrica, à medida que os anos passam, você tem que o fazer cair porque senão não adianta, sua margem de lucro vai diminuindo. Cultura Embraer De todos os que passaram aqui, eu conheci tanta gente aqui, né?, tanta gente importante como Niki Lauda, a gente conversou porque eu trabalhei no carro do Emerson Fittipaldi de Fórmula I, aí conversamos bastante, que ele viu que eu conhecia um pouco..., eu gosto de Fórmula I, o David Neeleman o dono da Azul..., mexeu comigo..., a minha carteirinha... eu estou de bigode e a carteirinha está sumindo e ele brincando comigo Olha só a carteirinha... esse não é você e você está sumindo igual aquele filme De volta para o futuro, troca essa carteirinha. Eu fiz umas amizades bastante boas... o Rubinho (Barrichello) também, que a gente acabou, nos 5
conhecemos aqui, eu conheci ele aqui na Embraer, na casa de praia nós somos vizinhos, foi bom isso aí, abriu caminho. E muita gente importante quando eu trabalhei em cada área, no programa AMX eu conheci o Tenente Brigadeiro Veiga, uma pessoa fantástica..., eu estive na base aérea dos Afonsos, o comandante lá..., eu tive uma aula de aviação militar, eu tive em Anápolis, eu fiz um curso de defesa aérea, não como piloto, mas como ouvinte... São coisas que você aprende bastante, aprendi muito na época que eu estive na produção, de como fazer as coisas, a produção, como é fabricar um avião, entender o lado deles, então... isso dá uma bagagem para você de todas essas partes de um avião, de conhecimentos técnicos de um avião, e como hoje, passando aqui pela entrega, hoje eu trabalho num grupo de redução de custos, é um grupo de..., é um time sabe?, mas é um time de futsal, são cinco pessoas, mas é um time fantástico, damos conta, são pessoas que trabalham duro, tem o meu gerente lá, um amigão nosso, o cara que dá um caminho legal para a gente, o Amauri Emboava, o nosso Amandio (Amandio Dias Povoa Filho) que hoje é o líder, tem o Robson Aparecido, o Nazário, a Rosana Lobo... são pessoas, somos um time..., trabalhamos realmente com muita vontade, que eu acho que nós temos que ser assim para a nossa empresa. Relacionamento, graças a Deus, na Embraer eu falo isso aí antes, que nós somos uma Empresa de amigos, e eu tenho muitos amigos aqui dentro, muito, muito, dado o meu conhecimento, as áreas que eu andei, por onde eu conheci pessoas, sempre tivemos juntos... 6