INTERPRETAÇÃO DE EXAMES LABORATORIAIS



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Transcrição:

INTERPRETAÇÃO DE EXAMES LABORATORIAIS CINÉTICA DO FERRO Danni Wanderson

Introdução A importância do ferro em nosso organismo está ligado desde as funções imune, até as inúmeras funções fisiológicas, como os mecanismos de oxidação celular e o transporte de oxigênio para os tecidos. O ferro é um componente essencial presente principalmente no complexo porfirínico e nas proteínas de armazenamento de ferro, a ferritina e a hemossiderina. Faz parte da hemoglobina, da mioglobina e de algumas enzimas.

Constituinte da: Hemoglobina (pigmento dos glóbulos vermelhos do sangue transportador do oxigênio). Ele ocupa o centro de um núcleo pirrolidínico, chamado heme. Mioglobina que estoca o oxigênio nos músculos. Dos citrocomos que asseguram a respiração celular. Enzimas: xantinas, peroxidase e catalase que assegura a degradação dos radicais livres (peróxidos) prejudiciais. Ferritina forma de armazenamento. Transferrina forma de transporte.

Origem No organismo, tem dupla origem: ferro exógeno, ingerido com os alimentos, e ferro endógeno, proveniente da destruição das hemácias, que libera cerca de 27 mg do metal, em seguida reutilizado.

Distribuição A distribuição do ferro corporal é feita entre compartimentos: Funcional - hemoglobina, mioglobina, enzimas heme e não-heme. Transporte - transferrina Reserva - Ferritina e hemossiderina.

EXAMES

Ferro Sérico Uso: 1. Diagnóstico diferencial de anemias 2. Diagnóstico de hemocromatose e hemossiderose 3. Deve ser medido com CTLF para avaliação da deficiência de ferro 4. Diagnóstico da toxicidade férrica aguda

Aumentado em Hemocromatose idiopática Hemossiderose por ingesta excessiva de ferro(p. ex., transfusões repetidas de sangue, terapia com ferro, vitaminas que contêm ferro) Produção diminuída de hemácias (p. ex., talassemia, anemia por deficiência de piridoxina, anemia perniciosa em recuperação) Aumento na destruição de hemácias (p. ex., anemias hemolíticas) Dano hepático agudo (grau de elevação é paralelo ao tamanho da necrose hepática); alguns casos de hepatopatia crônica

Pílula anticoncepcional à base de progesterona Elevação pré-menstrual de 10-30% Toxidade férrica aguda; o índice de ferro sérico/ctlf não é indicado para esse diagnóstico.

Diminuído em Anemia ferropriva Anemias normocrômicas (normo ou microcítica) de infecção e doenças crônicas (p. ex., neoplasias, doenças do colágeno em atividade) Nefrose (devido à perda de proteína ligada ao ferro na urina) Anemia perniciosa no início da remissão Menstruação (diminuição de 10-30%) Variação diurna valores normais no meio da manhã, valores baixos no meio da tarde, valores muito baixos próximo à meia-noite. Variações diurnas desaparecem no nível <45µg/dL.

Saturação de Transferrina Sérica (Ferro sérico dividido por CTLF; normal > ou igual 16%) Uso Diagnóstico diferencial de anemias Triagem para hemocromatose hereditária

Aumentada em Hemocromatose Hemossiderose Talassemia Pílulas anticoncepcionais à base de progesterona Ingestão de ferro Administração de ferro-dextran provoca elevação durante várias semanas

Diminuída em Anemia ferropriva (geralmente <10% na deficiência estabelecida) Anemias de infecção e doenças crônicas (p. ex., uremia, artrite reumatóide, algumas neoplasias)

Transferrina Sérica Uso Diagnóstico diferencial de anemias

Aumentada em Anemia por deficiência de ferro Gestação, terapia com estrogênios, hiperestrogenismo

Diminuída em Anemia microcítica hipocrômica da doença crônica Inflamação aguda Deficiência ou perda de proteínas Queimaduras témicas Infecções crônicas Doenças crônicas (p. ex., diferentes doenças do fígado e dos rins, neoplasias) Nefrose Má nutrição Deficiência genética

Ferro Corável (Hemossiderina) na Medula óssea Uso É um índice padrão-ouro da deficiência de ferro; sua presença quase invariavelmente elimina anemia ferropriva. O ferro medular desaparece antes das alterações no sangue periférico. Somente os indivíduos com ferro medular diminuído são passíveis de se beneficiarem da terapia Diagnóstico de sobrecarga de ferro

Aumentado em Hemocromatose idiopática Hemocromatose secundária a Captação aumentada (p. ex., siderose de bantu, excessiva ingestão de medicamentos) Anemias com eritropoiese aumentada (especialmente talassemia maior, algumas outras hemoglobinopatias, hemoglobinúria noturna paroxística) Lesão hepática (p. ex., após cirurgia de shunt portal) Atranferrinemia Anemias megaloblásticas em recuperação Uremia (alguns pacientes) Infecção crônica (alguns pacientes) Insuficiência pancreática crônica

Diminuído em Anemia ferropriva Policitemia vera Doenças do colágeno (AR e LES) Uremia Doenças mieloproliferativas Um indivíduo pode apresentar ferro sérico normal e capacidade total de ligação de ferro sérico também normal em casos de anemia ferropriva, especialmente se a hemoglobina <9g/dL

Capacidade total de ligação do ferro sérico Uso Diagnóstico diferencial de anemia Pode ser utilizado sempre que o ferro Pode ser utilizado sempre que o ferro sérico for medido para calcular o percentual de saturação para o diagnóstico de deficiência de ferro.

Aumentada em Deficiência de ferro Perda sangüínea aguda e crônica Lesão hepática aguda Gestação tardia Pílulas anticoncepcionais à base de progesterona

Diminuída em Hemocromatose Cirrose do fígado Talassemia Anemias de infecção e doenças crônicas Nefrose Hipertireoidismo

Ferritina Sérica Uso Diagnóstico de deficiência ou excesso de ferro; se correlaciona com os depósitos corpóreos totais de ferro. Principal proteína para a estocagem de ferro no corpo Prediz e monitora a deficiência de ferro Determina a resposta à ferroterapia e à adesão ao tratamento Diferencia deficiência de ferro nos pacientes com doença renal crônicas submetidos ou não à diálise Detecta estados de sobrecarga de ferro e monitora a remoção terapêutica do excesso de estocagem de ferro Estudos de níveis de ferro da população e de resposta à suplementação com ferro

Diminuída em Deficiência de ferro. É o teste mais sensível e mais específico para deficiência de ferro, se o volume corpuscular médio não estiver elevado (p. ex., gestação, latência, policitemia) ou não existir deficiência de vitamina C. Diminui antes que a anemia e outras alterações ocorram. Nenhuma outra condição provoca nível baixo. Retorna para o intervalo de variação normal em poucos dias após o início do tratamento com ferro oral. A incapacidade de produzir nível de ferritina sérica >50µg/dL sugere não aderência ao tratamento ou perda contìnua de ferro. <18 ng/ml está associada a ausência de ferro medular corável Ferritina sérica <12 ng/ml sempre indica deficiência de ferro e não mais corresponde à gravidade de deficiência de ferro porque os estoques de ferro estão essencialmente exauridos. >80 ng/ml exclui, basicamente deficiência de ferro.

Aumentada em A ferritina é reagente de fase aguda e, por isso, está aumentada em muitos pacientes com várias patologias hepáticas agudas e crônicas, alcoolismo, malignidade(leucemia, doença de Hodgkin), infecção e inflamação, hipertireoidismo, IAM e etc.(isto limita sua utilização!) Sobrecarga de ferro (hemossiderose, hemocromatose idiopática) Anemias outras que não por deficiência de ferro Carcinoma de células renais devido à hemorragia dentro do tumor Doença renal terminal Aumenta com a idade.

FIM