CONTROLE POPULACIONAL DE PEQUENOS ANIMAIS: ESTERILIZAÇÃO CIRÚRGICA A PREÇO MÍNIMO



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Transcrição:

ARS VETERINARIA, Jaboticabal, SP, Vol. 18, nº 3, 258-266, 2002. ISSN 0102-6380 CONTROLE POPULACIONAL DE PEQUENOS ANIMAIS: ESTERILIZAÇÃO CIRÚRGICA A PREÇO MÍNIMO (PET POPULATION CONTROL: SURGICAL NEUTERING WITH REDUCED COST) E. C. T. de M. PEIXOTO 1, W. R. R. VICENTE 2, M. I. A. SANTOS 3, T. R. NETTO 4, F. E. HAYASHI 5 RESUMO O controle de zoonoses em grandes centros urbanos só é possível por meio de um programa efetivo que regule superpopulação de cães e gatos errantes. As medidas cabíveis referentes a esse problema restringem-se à eutanásia. Objetivando utilizar metodologia mais digna no controle da superpopulação de cães e gatos, o presente trabalho propõe a utilização de técnica cirúrgica para esterilização a preço mínimo. Foram utilizadas 30 fêmeas caninas e 20 felinas, de diferentes raças, oriundas do município de Marília, Estado de São Paulo. Divididos em grupos, C (fêmeas caninas) e G (fêmeas felinas), esses animais foram submetidos à ovariectomia bilateral, mediante laparotomia pelo flanco. Esses grupos foram subdivididos em C1 e G1, pré-púberes, e C2 e G2, animais adultos. O subgrupo C2 foi ainda dividido em C2A, animais de grande porte e obesos, e C2B, animais não obesos. Os resultados foram avaliados aos 10, 30, 90 e 180 dias, por meio de observações clínicas quanto a apresentação de estro, ocorrência de piometra e de neoplasias mamárias. Foram avaliados ganho de peso corporal e alterações nos caracteres sexuais secundários. Realizou-se exame colpocitológico e ultra-sonográfico. As vantagens dessa técnica incluem: menor incisão cutânea, melhor acesso cirúrgico aos ovários, mínimo tempo cirúrgico e anestésico, resultando em menor custo. Os resultados obtidos permitem concluir que o controle populacional de cães e gatos a preço mínimo é possível de ser realizado, especialmente por meio da gonadectomia pelo flanco. PALAVRAS-CHAVE: Ovariectomia. Flanco. Gatas. Cadelas. SUMMARY The control of zoonoses in large urban cities is just possible with a efective progran to control pet overpopulation. The conventional efforts to promove animal control is just to make euthanazia. To use more human and rational methods, this work sugest a surgical thecnician to neutering with reduced cost. Thirty mongrel or not females of dogs and twenty females of cats were used. These animals were divided in groups of equal number and they were ovariectomised. We used a surgical flank approach. The main technical advantages of the technique are the better ovarian exposure, smaller surgical and anestesic time and smaller incisions. These animals were divided in two groups, C1, G1 and C2, G2. In one group we used infant females and the other group was composed with adults. The results were followed during six months after surgery. We used colpocitology and abdominal ultrasonografy before surgery at 10, 30, 90 and 180 days after surgery in group A. Analising the results we concluded that the control of overpopulation of street animals with minimal cost is possible, especially when we use gonadectomy through the flank. KEY-WORDS: Ovariectomy. Flank. Queens. Bitches. 1 Professora Dra. do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Marília - UNIMAR. 2 Professor titular do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal - FCAV - Unesp- Campus de Jaboticabal - wilter@fcav.unesp.br 3 Médica Veterinária Autônoma. 4 Aluno de graduação do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Marília - UNIMAR. 5 Professor do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Marília - UNIMAR. 258

INTRODUÇÃO A superpopulação canina vem causando transtornos, não somente por favorecer a incidência de zoonoses, mas, sobretudo, por propiciar ocorrências de pessoas agredidas por cães (CONTROLE DA NATALIDADE DE CÃES E GATOS, 1997). Essa realidade, aliada ao descaso da sociedade, contribui para que haja o recrudescimento de importantes zoonoses consideradas controladas. O Centro de Apoio Epidemiológico (CENEPI), em Brasília, vem registrando o crescente aumento nos casos de leptospirose, raiva animal, humana e leishmaniose. De acordo com PAIVA (1998), muitos animais abandonados são recolhidos pelo CCZ e submetidos à eutanásia, porém, a medida vem sendo duramente criticada por entidades ligadas à defesa do bem-estar animal. Outros países também sofrem com o mesmo problema; nos Estados Unidos da América (EUA), AVANZINO (1991) referiu sobre extermínio de aproximadamente 13 milhões de animais/ano. PAIVA publicou que, somente na grande São Paulo, foram eliminados cerca de 100 animais, diariamente, pelo CCZ em 1998. Comentou ainda que anualmente 40 mil animais são eutanasiados por meio de asfixia, em câmaras de descompressão; similarmente o Instituto Municipal Jorge Vaitsman, no Município do Rio de Janeiro, vem eliminando cães errantes há quase duas décadas, sem obter um efetivo controle da população canina daquela cidade. Vários métodos não-cirúrgicos tem sido utilizados na tentativa de controlar a superpopulação desses animais; no entanto, foram observados inúmeros fatores desfavoráveis. A esterilização cirúrgica, procedimento exclusivo dos médicos veterinários, é eficiente, definitiva, segura e permite o controle populacional logo após sua realização, favorecendo programas de adoção. ALEXANDER & SHANE (1994) relataram que os animais esterilizados são mais procurados para adoção em relação aos não castrados. Além disso, as vantagens da esterilização cirúrgica incluem não somente a incapacidade reprodutiva, mas também a diminuição da incidência de problemas estrógeno-dependentes, bem como afecções reprodutivas ou condições patológicas que acometem os órgãos relacionados à reprodução. Diversos projetos vêm sendo realizados na tentativa de promover campanhas de esterilização em grande número de animais, porém as entidades protetoras dos animais continuaram insatisfeitas com o custo dessas campanhas, pois o problema de cães e gatos abandonados é maior entre a população de baixa renda, que não possui recursos financeiros para custear a cirurgia (GONÇAL- VES NETO, 2000). Algumas organizações não governamentais (ONGs) vêm praticando iniciativas que demonstram o interesse crescente da sociedade em resolver esse problema, porém a exigência de ambiente cirúrgico apropriado, materiais esterilizados e pessoal capacitado, associada à própria dificuldade da técnica operatória, vêm limitando a realização desse trabalho. Neste trabalho objetivou-se: o uso de técnica cirúrgica simples para a reduzir custos nos procedimentos de castrações de fêmeas caninas e felinas; avaliar a viabilidade da realização das ovariectomias bilaterais através de única incisão no flanco direito; verificar a aplicabilidade dessa técnica, especialmente em animais pré-púberes; e contribuir indiretamente no controle de zoonoses, pelo favorecimento da adoção e diminuição das populações dessas espécies. MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizadas 30 fêmeas caninas e 20 felinas, sem raça definida, oriundas da região de Marília, Estado de São Paulo. Esses animais foram atendidos no Hospital Veterinário da Universidade de Marília e submetidos a ovariectomia pelo flanco. Constituíram-se dois grupos experimentais: grupos C (30 fêmeas caninas) e G ( 20 fêmeas felinas), cada um deles foi subdividido em C1 (10 fêmeas caninas prépúberes) e G1 (10 fêmeas felinas pré-púberes) e C2 (20 fêmeas caninas adultas) e G2 (10 fêmeas felinas prépúberes). Especificamente o subgrupo C2 foi dividido em C2A (fêmeas obesas) e C2B (fêmeas normais) com 10 animais cada. Seleção dos animais Anamnese foi registrada e procedeu-se ao exame clínico geral, em que foram avaliados: grau de hidratação, freqüências cardíaca e respiratória, caracterização do pulso, apresentação das mucosas aparentes e temperatura corporal. Realizou-se palpação do abdome e linfonodos regionais. No exame clínico especial foram avaliados, por meio de inspeção direta, órgãos genitais, glândulas mamárias e investigada a presença de secreções vaginais e lácteas. Realizaram-se exames ultra-sonográficos nas fêmeas caninas pertencentes ao grupo C2 e descartaram-se todas aquelas que apresentaram imagem ultra-sonográfica compatível com presença de conteúdo líquido uterino, sugerindo hiperplasia endometrial cística, endometriose e ou piometra. Utilizou-se aparelho de ultra-som com 1 60 Hertz (Hz), com transdutor linear de 5 megahertz. Procedeu-se ao exame colpocitológico no dia da cirurgia e nos dias 10, 30, 90 e 180 do pós-operatório. As células da região cranial da vagina, provenientes da descamação da mucosa desse órgão, foram obtidas por 259

meio de escova ginecológica acoplada a instrumento próprio: seringa descartável de 1 ml, seccionada na extremidade oposta às hastes digitais. Introduzida manualmente, após prévio afastamento dos lábios vulvares, essa peça protegia a escova ginecológica 2 da contaminação de células da região do vestíbulo e do segmento caudal da vagina. O material foi depositado sobre lâmina de vidro e mantido em temperatura ambiente por um minuto, seguindo-se fixação desse material pelo uso de álcool etílico 3. Após três minutos, retirou-se o excesso do fixador e utilizou-se o corante Giemsa 4 por 10 minutos. Procedeu-se a lavagem em água corrente seguindo-se secagem à temperatura ambiente. Por meio de microscopia ótica de luz, utilizando-se objetiva com aumento de 100 vezes, realizou-se contagem de 100 células. De acordo com MIALOT (1984), estabeleceram-se quatro tipos celulares: células parabasais, intermediárias, superficiais nucleadas e superficiais anucleadas. Preparação cirúrgica Utilizou-se acepromazina 5 por via intramuscular, na dosagem de 0,1mg/kg de peso corpóreo. Transcorridos 15 minutos, administrou-se, pela mesma via, associação de tiletamina e zolazepan 6 na dosagem de 11mg/kg de peso corpóreo. Aplicou-se sulfato de atropina 7 1/2mg, na dosagem de 0,044mg/kg de peso corpóreo, por via intramuscular, somente nos animais que apresentaram excessiva sialorréia no transoperatório. Após tricotomia prévia da região do flanco e antisepsia com álcool-iodo-álcool a 70%, foi administrada penicilina benzatínica 8 na dosagem de 40.000UI/kg de peso corpóreo, por via intramuscular. Após colocação dos panos de campo e realização dos procedimentos usuais à laparotomia, posicionou-se o paciente em decúbito lateral esquerdo. Realizou-se incisão cutânea, de aproximadamente 4 cm de extensão, a cerca de 2 cm da borda caudal da última costela torácica. A linha de corte foi feita a meia distância entre a ponta do ílio e a parte convexa do hipocôndrio direito, sobre os músculos lombares e seguindo uma direção oblíqua ântero-posterior. Ato contínuo, realizou-se divulsão dos tecidos conectivo e adiposo. As três camadas musculares (músculos oblíquo abdominal externo, oblíquo abdominal interno e transverso do abdome) foram, divulsionadas separadamente, respeitando-se a direção de suas fibras, seguindo-se incisão peritonial. Com o auxílio de um gancho obstétrico 9, o ovário foi identificado e tracionado à ferida cirúrgica. Aplicaram-se quatro pinças Halsted curvas, de 11cm, duas craniais e duas caudais ao ovário e procedeuse à exérese. As ligaduras foram efetuadas com fios de náilon monofilamento 10, medindo 0,33mm de diâmetro. O ovário contralateral foi alcançado pela palpação do corno uterino, auxiliada pelo uso do gancho obstétrico. Os procedimentos de exérese e ligadura foram similares aos já descritos. A síntese foi realizada respeitando-se todos os planos anatômicos incisados e divulsionados, em separado, utilizando-se sutura contínua simples e o mesmo tipo de fio; a síntese da cútis foi realizada no padrão Wolff. Pós-operatório Foi prescrita dipirona sódica 11 na dosagem de 25mg /kg de peso corpóreo por via oral, a intervalos de quatro horas durante os três primeiros dias e de seis horas nos dois dias subseqüentes. A antibioticoterapia foi mantida por mais quatro aplicações intervalados de 48 horas, por via intramuscular, na mesma dosagem. Prescreveu-se uso tópico de rifamicina 12, cada 12 horas, até a retirada dos pontos externos, e não foram realizados curativos cutâneos. Avaliação clínica e laboratorial Os animais foram avaliados aos 10, 30, 90 e 180 dias após o ato cirúrgico. Os proprietários foram indagados sobre: apresentação de estro, gestação, secreções vaginais, comportamentos sexuais e outras alterações comportamentais. Inspecionaram-se vulva, vestíbulo, vagina e glândulas mamárias. Aferiu-se o ganho de peso de todas as fêmeas dos grupos C2 e G2. Realizaram-se exames colpocitológico e ultra-sonográfico, nas fêmeas do grupo C2, nos dias 10, 30, 90 e 180 do pós-operatório. As fêmeas caninas do grupo C1 foram submetidas ao exame ultra-sonográfico apenas aos 180 dias do período pós-operatório. RESULTADOS Técnica cirúrgica Verificou-se fácil acesso aos ovários em todos os grupos estudados. A técnica operatória demonstrou-se segura inclusive nos animais de grande porte ou obesos que foram submetidos ao acesso bilateral. Não foram observadas diferenças relevantes na execução cirúrgica entre as fêmeas felinas, independentemente da idade. Nas fêmeas caninas pré-puberes, as cirurgias foram realizadas com 47,35 % do tempo gasto para procedimento similar. Os animais do grupo C2A foram considerados como 100% em relação ao período dispendido na execução do ato operatório, ou seja, foi o grupo mais demorado; e nas fêmeas felinas não houve diferença quando se comparou o grupo G1 com o G2. Excetuando-se o momento de tração dos pedículos ovarianos esquerdos em alguns animais do subgrupo C2B, não se observou manifestação de sinais dolorosos durante o transoperatório. Observou-se cicatrização por primeira intenção, 260

em todos os animais, aos 10 dias do pós-operatório. Alterações clínicas e reprodutivas Verificou-se que houve, na maioria dos animais pertencentes aos grupos C2A, C2B e G2, ganho médio do peso corpóreo de 2,23 kg. Somente duas fêmeas do grupo C2A apresentaram comportamento de monta com movimentos copulatórios e permitiram ser montadas no 8 o, 9 o e 15 o dia do pós-operatório, não apresentando recorrências. Foi observada, a partir do 90 o dia do pós-operatório, em todos os animais, atrofia de vulva, vestíbulo, vagina e glândulas mamárias. Exames colpocitológicos Essas avaliações revelaram, aos 10 dias de pós-operatório, em 5% e 25% dos animais, predominância de células intermediárias e superficiais, respectivamente. Aos 30 dias, observamos redução importante, 5% a 10% desses tipos celulares, e no restante, células parabasais, condição que se apresentou absoluta aos 90 e 180 dias em todos os animais. Não foram observadas células em descamação, característica da influência estrogênica na mucosa vaginal, a partir do 30 o dia do pós-operatório. Ultra-sonografia abdominal As avaliações ultra-sonográficas dos animais dos subgrupos C2A e C2B, realizadas no 10 o, 30 o, 90 o e 180 o dias do pós-operatório, não registraram imagens sugestivas de presença de conteúdo uterino ou qualquer outra alteração visível nesse tipo de exame. Custos individuais O gasto em drogas representou 69,24 % do total no procedimento cirúrgico, e o custo operacional foi menor nos indivíduos pré-púberes quando comparado ao dos adultos (Tabela). Tabela 1 - Relação de material, quantidade, respectivos valores unitários e representação percentual no custo total, para os grupos e subgrupos experimentais. Marília (SP), 2002. Grupos Material constante Quantidade Valor R$ Valor US$ C1 C2 C2A C2B G 1 G 2 % C usto total Lâmina de bisturi n o 23 01 0,36 0,16 0,34 0,34 0,34 0,34 0,34 5,46 % Luva cirúrgica* Seringa agulhada de 3mL* Seringa agulhada 1mL* Material variável Lâmina tricotom ia Fio pesca náilon nylon Penicilina 6.000.000 UI Acepromazin a 0,2% T iletam ina / Zolazepan Sulfato de Atropina a 1/2mg Agulha hipodérmica 25X 27 02 pares 0,25 0,11 0,24 0,24 0,24 0,24 0,24 3,75 % 01 0,39 0,17 0,17 0,17 0,17 0,17 0,17 5,80 % 01 0,18 0,08 0,16 0,16 0,16 0,16 0,16 2,73 % 01 0,14 0,14 0,28 0,14 0,14 0,14 4,78 % 100 cm 0,02 0,01 0,05 0,10 0,05 0,05 0,05 0,34 % 1 ml 0,59 0,26 0,03 0,51 0,22 0,03 0,06 8,87 % 1 ml 0,36 0,16 0,016 0,16 0,07 0,01 0,02 5,46% 1 ml 4,04 1,76 0,35 6,88 2,99 0,35 0,87 60,0 % 2mL 0,11 0,05 --- 0,10 0,10 --- --- 3,1 % 01 0,06 0,03 0,15 0,30 0,15 0,15 0,15 1,02 % C usto total 6,36 2,93 1,65 9,24 4,63 1,65 2,20 Os medicamentos foram calculados baseados nos pesos médios dos referidos grupos e subgrupos experimentais: C1= peso médio de 1 kg, C2A= peso médio de 19,55 kg, C2B= peso médio de 8,5 kg e G1= peso médio de 1 kg e G2= peso médio de 2,47 kg. materiais descartáveis e estéreis. 261

DISCUSSÃO Atualmente, excetuando-se a utilização de agentes citotóxicos específicos para células germinativas e vacinas contra zona pelúcida, para cães e gatos, ainda indisponíveis em nosso País, os demais métodos de tratamento que visam a suprimir o estro nessas espécies requerem, por parte dos proprietários, certo controle no que diz respeito às épocas em que esses medicamentos deverão ser administrados, além de representar novo gasto a cada período de aplicação, aspectos referidos negativamente por BLOOMBERG (1996). O uso de contraceptivos na clínica veterinária está associado a inúmeros problemas ligados à esfera reprodutiva, especialmente hiperplasia endometrial cística, piometra, aplasia medular, entre outros, fato referido negativamente na literatura por OLSON et al., (1986), EVANS, SUTTON (1989), GILBERT (1992) e OLSON, JOHNSTON (1995). CONCANNON, WALLEN (1991), JOHNSTON (1991), JÖCHLE (1991) e SOARES, SILVA (1998) defenderam a opção pelo procedimento cirúrgico como o melhor método de supressão definitiva do estro e de controle populacional, opinião da qual se compartilha. Entretanto, OKKENS et al. (1997) e nós defendemos a ovariectomia como excelente opção para propiciar a esterilização por meio de procedimento simples, rápido e de menor risco cirúrgico quando comparado ao método convencional de ovariosalpingo-histerectomia (OSH), além de representar custo menor e ser mais adequado a projetos de esterilização em grande número de animais, opinião também defendida por OKKENS et al. (1997). A OSH é preferencialmente indicada em detrimento da ovariectomia para esterilização de cães e gatos, e isso se deve ao fato, destacado normalmente pelos profissionais da área, de que somente a retirada dos ovários predispõe afecções uterinas, particularmente piometra. Contrapondo-se a essas opiniões, PEIXOTO et al. registram freqüentemente em nossa atividade clínica ocorrências importantes de retornos, em tempos variados, de animais que foram submetidos à OSH e que apresentam atividade cíclica ovariana com manifestação clínica de estro, além de afecções do corpo do útero, destacando-se, neste caso, especialmente o que na prática se denomina piometra de coto, também descrita por WILSON, HAYVES (1983). Uma vez extirpados os ovários, não há, no organismo, hormônios sexuais suficientes, capazes de desencadear afecções uterinas como hiperplasia endometrial cística e piometra. Segundo EVANS, SUTTON (1989) e GILBERT (1992), a progesterona promove diminuição da resposta leucocitária, hiperplasia e hipertrofia das glândulas do endométrio uterino, favorecendo sua função secretória, predispondo, assim, ao aparecimento de piometras em fêmeas caninas. Seus efeitos são potencializados pelo estrógeno, e uma vez diminuídos os níveis estrogênicos, a ação da progesterona não mais será potencializada. Corroboram em ponto de vista, ao indicar somente a ovariectomia, autores como JANSSENS, JANSSENS (1991) realizaram importante trabalho nessa área, no qual acompanharam, por dez anos, 72 fêmeas de 27 raças, que foram submetidas à ovariectomia pelo flanco, e nenhum caso de piometra foi relatado. OKKENS et al. (1997) compararam os resultados da OSH convencional aos da ovariectomia e concluíram ser esta última menos invasiva, mais conservativa e, portanto, melhor método de esterilização de fêmeas caninas. A avaliação colpocitológica realizada com 10, 30, 90 e 180 dias após ovariectomia nos animais do grupo C2 revelaram presença de quadro celular sugestivo de ação estrogênica somente em duas oportunidades, aos 10 dias em 30 % dos animais e aos 30 dias em 15 %. Todas as demais citologias forneceram resultados compatíveis com a condição de anestro. Nos períodos descritos nas avaliações colpocitológicas, realizou-se, no mesmo grupo experimental, exames ultra-sonográficos do abdome, e similarmente esse exame foi também realizado nos animais do grupo C1 uma única vez, aos 180 dias, por serem animais prépúberes. As imagens obtidas não foram sugestivas de afecções uterinas. Dessa forma, entende-se ter sido o resultado da ovariectomia extremamente favorável, o que reforça, a vantagem desse procedimento sobre o convencional. Outro aspecto que nos parece de grande importância abordar, foi o acesso aos ovários por única incisão no flanco direito, de todas as fêmeas, excetuando-se as fêmeas pertencentes ao grupo C2A. Essa opção cirúrgica permitiu fácil acesso aos ovários, além de pouquíssimo manuseio visceral. Fato que se mostrou muito mais vantajoso em relação ao método convencional. Essas observações foram igualmente feitas por JANSSENS, JANSSENS (1991) e OKKENS et al. (1997), em relação à OSH convencional. Destacaram, ainda, dificuldades em acessar os ovários predispondo ao risco de ligaduras arteriolares imperfeitas, que podem resultar em hemorragias fatais, além de exéreses ovarianas parciais, mantendo todos os inconvenientes de uma fêmea não-castrada. O acesso cirúrgico pelo flanco foi também descrito por PAYNE (2001), porém realizando a OSH. Contudo, com a experiência que nós adquirida neste trabalho, entende-se ser de praticidade discutível e até mesmo ter alto grau de dificuldade a realização desse procedimento, 262

especialmente em animais obesos e de grande porte. No que diz respeito ao tempo operatório, é significativo informar que se observou redução do tempo cirúrgico nos animais pré-puberes e nos do grupo G2, em relação ao mesmo procedimento realizado nas fêmeas caninas adultas dos grupos C2A e C2B; mesmo porque, nessas fêmeas, houve necessidade de realizar acesso bilateral pelos flancos. Permite-se aduzir ainda que o tempo cirúrgico gasto pelo método executado neste experimento revelou-se sempre menor do que o gasto na OSH pelo método convencional, o que coincide aos achados de OKKENS et al. (1997). Não se propôs a executar esse tipo de comparação, porém menciona-se esse aspecto como experiência própria na execução desses dois métodos cirúrgicos. Uma preocupação que aflige o médico veterinário ao realizar gonadectomia é saber se uma condição de estresse cirúrgico e anestésico pode aumentar a susceptibilidade a doenças infecciosas. SALMERI et al. (1991) relataram 8% de mortalidade em animais gonadectomizados com idade inferior aos seis meses, durante três meses de campanha de esterilização no Teenesse, Estados Unidos da América. Porém, além de não ter havido grupo controle, não havia inclusive estudo prévio epidemiológico com relação à morbidade e mortalidade por doenças infecciosas naquela região. Não há evidência que o estresse cirúrgico e anestésico resulte em predisposição a afecções nos animais castrados precocemente. As gonadectomias são particularmente importantes na espécie felina, em que a ovulação é induzida pelo coito. O aumento da população desses animais é agravado se foi considerado a desestacionalidade de nosso clima. Em concordância com as observações de HART (1991) e NAGAKURA, CLARK (1992), não foram verificados efeitos deletérios em animais castrados em torno das 12 semanas de idade. Hipoglicemia, hipotermia, pequeno volume sangüíneo relativo e fragilidade tecidual, exigindo delicadeza na manipulação visceral, são fatores que precisam ser considerados nos procedimentos cirúrgicos em pacientes pediátricos (ARONSOHN, FAGGELLA, 1993; THERAN, 1993). Esses potenciais problemas foram contornados, uma vez que o acesso cirúrgico pelo flanco facilitou expor os ovários, possibilitou mínima manipulação visceral e pequena área de exposição peritonial ao ambiente externo. LIEBERMAN (1988), ARONSOHN, FAGGELLA (1993) e CRENSHAW, CARTER (1995) comentaram que animais gonadectomizados em torno de doze semanas apresentaram rápida recuperação anestésica e cirúrgica, fato que também se observou neste experimento, apesar de termos utilizado as mesmas dosagens anestésicas recomendadas para adultos e não se ter utilizado fluido parenteral no transoperatório, como recomendado por GRANDY (1991). Opinião também compartilhada pelos autores GRUNET, STOPIGLIA (1973), ROBERTS (1975), JANSSENS, JANSSENS (1991) e PAYNE (2000), o acesso cirúrgico através do flanco reduziu sensivelmente problemas de herniações e descências, pois, quando o animal está em posição quadrupedal, as vísceras abdominais não exercem pressão sobre a linha de sutura. Ainda com relação a esse tipo de acesso, bilateral, nas fêmeas no subgrupo C2A, verificou-se ser procedimento operatório superior e extremamente vantajoso em relação ao método de OSH convencional, em que animais com características semelhantes àquelas que compuseram esse subgrupo se observa, com freqüência, dificuldade de visualizar ovário e pedículo ovariano, além da ocorrência de hemorragias fatais e exéreses ovarianas imperfeitas, como relatado por JANSSENS, JANSSENS (1991). Talvez a dificuldade encontrada nesses animais possa ser explicada por diferenças individuais na flexibilidade ligamentosa. Apesar de não ter sido objeto deste estudo, pôdese verificar que os animais que compuseram os grupos C1 e G1, fêmeas caninas e felinas, respectivamente, apresentaram maior estatura em relação a outros indivíduos da mesma ninhada que não foram gonadectomizados e esse fenômeno talvez esteja diretamente relacionado ao retardo no fechamento das placas epifisárias, o que está de acordo com o referido por MAY et al. (1991) e HOULTON, MCGLENNON (1992). Em concordância com os achados de SALMERI, BLOOMBERG (1989), vulvas infantis foram observadas em todas as fêmeas gonadectomizadas, embora não houvesse associação a problemas clínicos. Apesar de a incontinência urinária ter sido associada à OSH (HERRON, 1972; OLSON et al. 1986, LIEBERMAN, 1987; SALMERI et al. 1991), não foi constatada durante os 180 dias de observação. JANSSENS, JANSSENS (1991) observaram, por dez anos, 72 fêmeas caninas e também não referiram tais ocorrências. A patogenia dessa incontinência urinária ainda não foi esclarecida, embora SMITH (1981), MULLER et al. (1983) e NAGAKURA, CLARK (1992) referiram o hipoestrogenismo como provável causador. Outro aspecto interessante que se deve comentar é a questão do ganho de peso corpóreo. Neste delineamento experimental, preocupou-nos especificamente esse detalhe nos animais adultos, uma vez que nos demais, por serem pré-púberes, e existir a condição de crescimento, torna-se relativa essa observação. Durante o período de 263

avaliação, pode-se verificar que houve incremento no peso dos animais adultos, fato que não parece, sob a ótica de avaliação clínica, algo de relevância. Esta ocorrência, ganho de peso, também foi assinalada por JOHNSTON (1991), NAGAKURA, CLARK (1992) e SOARES, SILVA (1998), porém esses autores defendem a opinião de que há necessidade de um controle alimentar associado, sempre que possível, a exercícios físicos, opinião da qual também se compartilha. JONHSTON (1991) já havia demonstrado que fêmeas caninas castradas, com acesso livre à alimentação, apresentam ganho de peso, mas não necessariamente se a alimentação for controlada; fato este que não foi possível avaliar-se, pois nossos animais, após a cirurgia, retornaram aos cuidados de seus respectivos proprietários. Finalizando e considerando as condições nas quais este experimento foi conduzido, pode-se afirmar, com convicção, que os valores obtidos, relativos ao material utilizado para execução deste tipo de cirurgia, foram significativamente inferiores aos citados na literatura consultada, ZAUNBRECHER, SMITH (1993), ALEXANDER, SHANE (1994), Clínica Veterinária (1997) e GONÇAL- VES NETO, (2000), e, por esse aspecto, pode-se afirmar que a esterilização de fêmeas caninas e felinas pelo método que se utilizou é sem dúvida o que melhor se adequa a projetos visando ao controle reprodutivo desses animais, permitindo, particularmente, acesso à população de baixa renda. CONCLUSÃO Os resultados do presente experimento permite concluir que: durante o período observado, nenhum animal ovariectomizado apresentou sinais clínicos de piometra e (ou) neoplasias mamárias. A técnica cirúrgica apresentada é eficiente como método contraceptivo, e as gonadectomias requerem menor habilidade cirúrgica e possuem menor custo quando comparadas aos métodos tradicionais de castração em fêmeas. A ovariectomia bilateral, acesso unilateral pelo flanco, permite acesso fácil aos ovários, quando realizada em animais pré-púberes, e a ovariectomia bilateral, acesso bilateral pelo flanco, pode ser considerada como técnica alternativa para castrações de cadelas obesas e (ou) de grande porte, uma vez que permite igualmente acesso facilitado aos ovários. REFERÊNCIAS ALEXANDER, S. A., SHANE, S. M. Characteristics of animals adopted from an animal control center whose owners complied with a spaying / neutering program. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 205, n. 3, p.472-6, 1994. ARONSOHN, M. G., FAGGELLA, A. M. Surgical Techniques for neutering 6- to 14- week-old kittens. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 202, n. 1, p. 53-5, 1993. AVANZINO, R. Pet overpopulation and humane education in school and communities. Journal of the American Veterinary Medical Association, v.198, n. 7, p. 1237-40, 1991. BLOOMBERG, M. S. Surgical neutering and nonsurgical alternatives. Journal of the American Veterinary Medical Association, v.208, n. 4, p.517-9, 1996. CONTROLE de natalidade de cães e gatos. Clínica Veterinária. v.2, n. 6, p. 34, 1997. CONCANNON, P. W., MEYERS-WALLEN, V. N. Current and proposed methods for contraception and termination of pregnancy in dogs and cats. Journal of the American Veterinary Medical Association, v.198, n. 7, p.1214-24, 1991. CRENSHAW, W. E., CARTER, C. N. Should dogs in animal shelters be neutered early? Veterinary Medicine, v.90, n. 8, p.756-60, 1995. EVANS, J. M., SUTTON, D. J. The use of hormones, especially progestagens, to control oestrus in bitches. Journal of Reproduction and Fertility. Suppl., n. 39, p.163-73,1989. GILBERT, R. O. Diagnosis and treatment of pyometra in bitches and queens. Continuing Education. v. 14, p. 777-84, 1992. GOEREE, G. A different approach to controlling the cat population. Canine of Veterinary Journal. v. 39, p. 242-3, 1998. ARTIGO RECEBIDO: NOVEMBRO/2001 264

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