INFLUÊNCIA DOS ESTADOS COMPORTAMENTAIS NA PRONTIDÃO DA MAMADA DE RECÉM-NASCIDOS PREMATUROS Leite de Sá, TP 1 ; Medeiros, AMC 2.



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Transcrição:

INFLUÊNCIA DOS ESTADOS COMPORTAMENTAIS NA PRONTIDÃO DA MAMADA DE RECÉM-NASCIDOS PREMATUROS Leite de Sá, TP 1 ; Medeiros, AMC 2. Resumo Objetivo: Investigar a relação entre os estados comportamentais e comportamentos específicos de prontidão para mamada em recém-nascidos prematuros. Metodologia: Estudo observacional, descritivo, realizado em uma maternidade pública. Participaram da amostra 25 recém-nascidos prematuros, internados em regime de alojamento conjunto, selecionados a partir do estudo dos prontuários. Os bebês foram filmados durante 5 minutos, em repouso. Os estados comportamentais observados foram: sono profundo, sono leve, sonolento, alerta, agitado/irritado e choro. Observaram-se também os comportamentos específicos relacionados à prontidão para mamada: mão na boca direita, mão na boca esquerda, sucção de mão direita, sucção de mão esquerda, protrusão de língua e movimentos de sucção. Os vídeos foram analisados, os dados registrados no programa SPSS. As variáveis foram caracterizadas por estatística descritiva e a relação entre elas foi feita através da correlação de Pearson. O valor de p foi considerado significante quando menor que 0,05 (5%) ou 0,01 (1%). Resultados: O estado comportamental predominante, em média, foi sono leve (121,56), seguido de sonolento (80,28) e alerta (75,52). Houve correlação significativa para estado de alerta com o comportamento específico mão na boca direita (p=0,482), sucção de mão direita (p=0,478), protrusão de língua (p=0,595) e movimentos de sucção (p=0,531). Conclusões: A incidência de determinados comportamentos específicos presentes nos recém-nascidos apontou para a existência de uma relação entre comportamentos relacionados à prontidão para mamada e estados comportamentais favoráveis em idade precoce (correspondente à 34 semanas de idade gestacional). Palavras-Chave: Neonatologia; Prematuro; Comportamento; Aleitamento Materno. Introdução Os estados comportamentais foram descritos por Medeiros (2002) e Csillag (1997) a partir da adaptação da escala de Brazelton, como: sono profundo, sono leve, sonolento, alerta, agitado/irritado e choro. O entendimento dos estados comportamentais do recém-nascido (RN) é importante, sendo que estes parecem influenciar na ocorrência dos comportamentos específicos relacionados à alimentação. Delgado e Halpern (2005) e Barbosa, Formiga e Linhares (2007) afirmam que existem comportamentos que estão relacionados à prontidão para mamada, como movimentos de procura, movimentos de sucção e protrusão de língua (MEDEIROS; BERNARDI, 2011). Segundo o Manual Método Canguru elaborado pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2011), o estado de atenção ou alerta é o que mais favorece a interação, ocorrendo maior incidência desses comportamentos e contribuindo na efetividade da alimentação. 1 Pós-Graduanda em Motricidade Orofacial. Email: thaprata@gmail.com 2 Doutora em Psicologia Neurociências e Comportamento. Email: andreamcmedeiros@ig.com.br

Os estudos de Andrade e Guedes (2005) mostram que dificuldades na alimentação podem estar relacionadas ao estado comportamental desfavorável apresentado pelo RN, sendo que quanto mais favorável for esse estado (alerta), melhor será o desempenho da sucção. Apresentação da Instituição/Serviços A coleta dos dados foi realizada na Ala Azul (alojamento conjunto) da Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, localizada no município de Aracaju, Sergipe. A maternidade é uma unidade de alta complexidade que atende, através do Sistema Único de Saúde (SUS), gestantes de alto risco portadoras de patologias como hipertensão, diabetes, cardiopatia e trabalho de parto prematuro. De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 1993), alojamento conjunto é um sistema hospitalar em que o recém-nascido sadio, logo após o nascimento, permanece ao lado da mãe, 24 horas por dia, num mesmo ambiente, até a alta hospitalar. Tal sistema possibilita a prestação de todos os cuidados assistenciais, bem como a orientação à mãe sobre a saúde do binômio mãe e filho. Este trabalho está vinculado à linha de pesquisa Desenvolvimento da função da alimentação em recém nascidos prematuros da Universidade Federal de Sergipe. Objetivos O presente trabalho objetivou investigar a possível relação existente entre os comportamentos específicos relacionados à prontidão para mamada e os estados comportamentais apresentados pelos recém-nascidos prematuros. Metodologia O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Federal de Sergipe sob CAAE nº 0027.0.107.000-11, sendo que o mesmo está vinculado à linha de pesquisa Desenvolvimento da função da alimentação em recém nascidos prematuros. Trata-se de um estudo observacional, descritivo, realizado com 25 recém-nascidos prematuros, de ambos os gêneros, internados no alojamento conjunto de uma maternidade pública de Aracaju (SE). A população estudada apresentou Idade Gestacional Corrigida (IGC) entre 34 semanas e 1 dia (34,14) e 36 semanas e 2 dias de vida (36,28) e curva de crescimento intrauterino Adequado para a Idade Gestacional (AIG), considerados estáveis clinicamente no momento do teste. Inicialmente os RNs eram selecionados, em seguida obtinha-se autorização, através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os RNs eram posicionados em berço de transporte, na posição de decúbito supino, com tronco e membros superiores despidos, de modo que a imagem da face e membros superiores ficasse enquadrada no vídeo. Os bebês foram filmados durante cinco minutos, sem receber nenhuma estimulação. Os dados do bebê (gênero, idade gestacional ao nascimento, idade gestacional corrigida, peso ao nascer), da mãe (nome, idade) e do teste (data e horário do teste) foram registrados em um protocolo específico.

A observação dos estados comportamentais foi pautada na descrição de Medeiros (2002) e Csillag (1997) que classificaram em sono profundo (SP), sono leve (SL), sonolento (SO), alerta (AL), agitado/irritado (AG/IR) e choro (CH). Os comportamentos específicos foram caracterizados a partir da classificação de Medeiros (2002): Mão na boca, direita (MBD) e esquerda (MBE), Sucção de mão, direita (SMD) e esquerda (SME), Protrusão de Língua (PL) e Movimentos de Sucção (SU). Os dados foram registrados no software SPSS, versão 18. Para a caracterização da população foi utilizada estatística descritiva (prevalência, média e desvio padrão). Para investigar a relação entre estados comportamentais e os comportamentos específicos considerou-se que cinco minutos são equivalentes a 300 segundos. Foi contabilizado cada um dos estados comportamentais e cada um dos comportamentos específicos segundo a segundo, e a partir disso, feita a quantidade total de vezes que estes comportamentos apareceram naquele RN. Também foram relacionados os estados comportamentais e as variáveis IGN, IGC, horas de vida, tipo de parto, peso ao nascer e Apgar. Para análise de todos os dados descritos, foi realizada a correlação de Pearson, com nível de significância de 5% (p<0,05) e 1% (p<0,01). Com o objetivo de visualizar a idade gestacional corrigida e a idade gestacional ao nascimento (IGC e IGN), utilizaram-se frações de semana, em que 1 dia representa 0,14 semanas. Por exemplo, 35 semanas e dois dias equivale a 35,28 semanas. Resultados e Discussão Dos 25 recém-nascidos prematuros estudados, 60% eram do gênero masculino e 40% do feminino. A média de idade gestacional ao nascimento foi de 34,2 semanas, a média de idade gestacional corrigida foi de 35,5 semanas e a média do peso foi de 2,308 gramas. Os recém-nascidos são considerados de risco em relação a problemas de neurodesenvolvimento e às incapacidades funcionais quanto mais prematuramente nascerem (MARLOW et al, 2005; ZOMIGNANI; ZAMBELLI; ANTONIO, 2009). Entretanto, o perfil da população aqui estudada mesmo sendo de prematuros, estes são moderados e mesmo sendo baixo peso, não são tão extremos, o que pode ter contribuído para respostas comportamentais que serão discutidas a seguir. O estado comportamental predominante foi sono leve, seguido pelos estados sonolento, alerta, agitado/irritado, choro e sono profundo, respectivamente. A maior prevalência do sono leve pode ter sido favorecida pela permanência desses recém-nascidos em alojamento conjunto, ambiente menos estressante e que tende a suprir as necessidades do RN quase que imediatamente. Da mesma forma, justifica-se a menor prevalência do choro. Além disso, a maior prevalência do sono leve na população estudada corrobora com dados da literatura (BRASIL, 2011) a qual refere que recém-nascidos dormem cerca de 90 a 95% do tempo. Já a incidência de sonolento e agitado/irritado na população estudada parece se configurar como um estado de transição para alerta, tal como aponta o estudo de Csillag (1997). A prevalência do estado comportamental alerta pode ser justificada pela idade gestacional corrigida (média de 35,5 semanas) que esses recém-nascidos se encontram, os quais já apresentam responsividade comportamental organizada (BRASIL, 2011).

Sobre a correlação entre os comportamentos específicos e os estados comportamentais, observou-se que os estados comportamentais de sono profundo e sono leve não apresentaram relação estatisticamente significante com os comportamentos específicos estudados. Justifica-se essa ausência da mesma forma que Medeiros (2007) refere, sendo que esses comportamentos estão mais presentes no estado de alerta. O comportamento de sucção da mão direita apresentou-se estatisticamente significante (p=0,478) apenas no estado comportamental de alerta, enquanto que os comportamentos mão direita na boca, protrusão de língua e movimentos de sucção apresentaram-se estatisticamente significantes nos estados comportamentais sonolento, alerta e agitado/irritado. Já o comportamento mão esquerda na boca, embora tenha tido relação estatisticamente significante com os comportamentos sonolento, agitado/irritado e choro, não apareceu de forma significante no estado comportamental alerta. (Tabela 1) A correlação entre o estado de alerta e os comportamentos específicos de mão direita na boca e sucção de mão direita corrobora com os achados de Medeiros (2007), que quando o bebê está mais organizado incidem mais comportamentos do lado direito, apontando inclusive para a questão da preferência manual. Ainda sobre o estado de alerta, houve correlação estatisticamente significante entre esse estado e os outros comportamentos de prontidão para mamada (protrusão de língua e movimentos de sucção), mais uma vez corroborando com as pesquisas de Delgado e Halpern (2005) e Barbosa, Formiga e Linhares (2007) que referem que este é um estado comportamental relacionado ao desempenho e sucesso alimentar dos RNs e que existem alguns comportamentos que estão relacionados à prontidão para mamada, como movimentos de procura, movimentos de sucção e protrusão de língua (MEDEIROS; BERNARDI, 2011). Embora no estado comportamental sonolento não houvesse expectativa de ocorrência de comportamentos relacionados à prontidão para alimentação, nesta população estudada houve a incidência, com dados estatisticamente significantes para os comportamentos mão na boca direita, mão na boca esquerda, protrusão de língua e sucção. Esta incidência de comportamentos específicos talvez esteja relacionada ao fato do estado comportamental sonolento ser um estado de transição para o estado de alerta (MEDEIROS, 2002), onde esses comportamentos são mais esperados. Neste estudo, o fato do estado comportamental agitado/irritado ter apresentado boa correlação com quase todos os comportamentos (MBD, MBE, PL e SU), poderia estar relacionado com a presença de comportamentos de autorregulação, em que o recémnascido procura a linha média, coloca a mão na boca, buscando se acalmar e regulando simultaneamente a atenção e as respostas às estimulações sensoriais (BRASIL, 2011). A busca por essa autorregulação também poderia justificar a correlação estatisticamente significante entre o estado de choro e o comportamento específico MBE, o qual não era esperado ocorrer. Tabela 1 Correlação entre os comportamentos específicos e os estados comportamentais. SP SL SO AL AG/IR CH MBD 0,323 0,451** 0,482** 0,629*

MBE 0,031 0,509* 0,149 0,689* 0,979* SMD 0,292 0,105 0,478** SME 0,179 PL 0,347 0,508* 0,595* 0,652* 0,163 SU 0,192 0,551* 0,673* 0,531* Legenda: MBD = mão na boca direita; MBE = mão na boca esquerda; SMD = sucção de mão direita; SME = sucção de mão esquerda; PL = protrusão de língua; SU = movimentos de sucção; SP = sono profundo; SL = sono leve; SO = sonolento; AL = alerta; AG/IR = agitado/irritado; CH = choro. *p< 0,01 ** p<0,05 Sobre a correlação entre os estados comportamentais e as variáveis IGN, IGC, horas de vida, tipo de parto, peso ao nascer e Apgar, houve apenas relação significativa (p= 0,501) entre o estado comportamental SL e a variável IGN. Esta relação aponta para o dado de que recém-nascidos prematuros dormem, de acordo com Brasil (2011), cerca de 90-95% do tempo e, além disso, estão no ambiente favorável do alojamento conjunto. Conclusão Os dados evidenciam que a incidência de determinados comportamentos específicos presentes nos recém-nascidos apontou para a existência de uma correlação entre comportamentos relacionados à prontidão para mamada e estados comportamentais favoráveis, tal como apontado por Fujinaga (2002), em idade precoce (correspondente à 34 semanas de idade gestacional). A necessidade de continuidade de estudos dessa natureza diz respeito aos benefícios que o entendimento dos estados comportamentais e a respectiva relação com os comportamentos de padrões de alimentação, pode trazer para o universo da intervenção fonoaudiológica de assistência à alimentação, beneficiando com condutas de intervenção com recém-nascidos de risco. Referências Bibliográficas ANDRADE, I. S. N.; GUEDES, Z. C. F. Sucção do recém-nascido prematuro: comparação do método Mãe-Canguru com os cuidados tradicionais. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, Recife, 5 (1): 61-69, jan. / mar., 2005. BARBOSA, V. C.; FORMIGA, C. K. M. R.; LINHARES, M. B. M. Avaliação das variáveis clínicas e neurocomportamentais de recém-nascidos prematuro. Revista Brasileira de Fisioterapia, São Carlos, v. 11, n. 4, p. 275-281, jul./ago. 2007. BRASIL, Ministério da Saúde. Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno. Normas básicas para alojamento conjunto. Brasília: Ministério da Saúde; 1993.

BRASIL, Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso: Método Canguru. 2ª. ed. Brasília, Ministério da Saúde, 2011. 203p. CSILLAG, S. Os três primeiros dias de vida: uma observação dos estados comportamentais do bebê recém-nascido. São Paulo, 1997. 231p. Tese (Doutorado). Instituto de Psicologia. Universidade de São Paulo. DELGADO, S. E.; HALPERN, R. Amamentação de prematuros com menos de 1500 gramas: funcionamento motor-oral e apego. Pró-Fono Revista de Atualização Científica, v. 17, n. 2, maio-ago. 2005. FUJINAGA, C. I. Prontidão do prematuro para início da alimentação oral: proposta de um instrumento de avaliação. 2002. 107 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto. MARLOW, N. et al. Neurologic and developmental disability at six years of age after extremely preterm birth. The New England Journal of Medicine. 2005;352:9-19. MEDEIROS, A. M. C. Contato das mãos com a região oral, protrusão de língua e movimentos de sucção em recém-nascidos humanos, a partir da estimulação oro gustativa. São Paulo. 2002. 178p. Tese (Doutorado). Instituto de Psicologia. NEC Neurociências e Comportamento. Universidade de São Paulo.. A existência de Sistema Sensório-Motor Integrado em Recémnascidos humanos. Psicologia USP, 2007, 18(2), 11-33. MEDEIROS, A. M. C.; BERNARDI, A. T. Alimentação do recém-nascido prematuro: aleitamento materno, copo e mamadeira. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. 2011;16(1):73-9. MEDEIROS, A. M. C. et al. Caracterização da técnica de transição da alimentação por sonda enteral para seio materno em recém-nascidos prematuros. Jornal da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. vol.23 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2011. ZOMIGNANI, A.P.; ZAMBELLI, H. J. L.; ANTONIO, M. A. R. G. M. Desenvolvimento cerebral em recém-nascidos prematuros. Revista Paulista de Pediatria. 2009;27(2):198-203. Ficha Título do trabalho: Influência dos estados comportamentais na prontidão da mamada de recém-nascidos prematuros Nome do relator: Thalyta Prata Leite de Sá Titulação do relator: Pós-graduanda em Motricidade Orofacial Nome completo dos autores: Thalyta Prata Leite de Sá e Andréa Monteiro Correia Medeiros Endereço para correspondência: Rua Matilde Silva Lima, nº 421. Condomínio Praias do Caribe, Edifício Tobago, apart. 203. Bairro Luzia. CEP: 49045-083. Aracaju, Sergipe, Brasil Email: thaprata@gmail.com