FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES - CPqAM DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA NESC VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: UMA APROXIMAÇÃO DAS AÇÕES PÚBLICAS DE SAÚDE EM CAMARAGIBE, PE. REGINA COELI JAPIÁ MOTA SÍLVIA LÚCIA GOMES WALESKA FERREIRA DE AZEVEDO FRANÇA ORIENTADOR: SIDNEY FEITOSA RECIFE, 2002
REGINA COELI JAPIÁ MOTA SÍLVIA LÚCIA GOMES WALESKA FERREIRA DE AZEVEDO FRANÇA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: UMA APROXIMAÇÃO DAS AÇÕES PÚBLICAS DE SAÚDE EM CAMARAGIBE, PE. Trabalho de conclusão do curso apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Especialista no Curso de Pós-Graduação latu sensu em nível de Especialização em Saúde Pública do departamento de Saúde Coletiva/ CPqAM/FIOCRUZ/MS, sob a orientação do professor Sidney Feitosa. Recife, 2002
REGINA COELI JAPIÁ MOTA SÍLVIA LÚCIA GOMES WALESKA FERREIRA DE AZEVEDO FRANÇA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: UMA APROXIMAÇÃO DAS AÇÕES PÚBLICAS DE SAÚDE EM CAMARAGIBE, PE. Relatório do pôster aprovado como requisito parcial à obtenção do título de Especialista no Curso de Pós-Graduação latu sensu em nível de Especialização em Saúde Pública do Departamento de Saúde Coletiva/CpqAM/FIOCRUZ/MS, pela Comissão formada pelos Professores: Orientador: Prof. Sidney Feitosa- NESC/CPqAM/FIOCRUZ/MS Debatedora: Prof. Cristina Figueiredo - UFPE Recife,2002
Autores : FRANÇA, Waleska F de A ; GOMES, Sílvia L.; MOTA, Regina C. J. Violência Doméstica Contra a Mulher : Uma Aproximação das Ações Públicas de Saúde em Camaragibe PE, 2002. RESUMO O presente estudo Violência Doméstica contra a Mulher: Uma Aproximação das Ações Públicas de Saúde em Camaragibe -PE tem por objetivo descrever as ações desenvolvidas pela Casa da Mulher em Camaragibe/PE, instituição que atende mulheres em situação de violência doméstica, relacionando-as com as orientações contidas no Caderno de Atenção Básica sobre Violência Intrafamiliar, elaborado pelo Ministério da Saúde(2002). A violência contra a mulher, atualmente denominada violência de gênero, pode ocorrer tanto no espaço privado quanto no espaço público. Para a pesquisadora Heleieth Saffioti, (1994), a violência familiar recobre o universo das pessoas relacionadas por laços consangüíneos ou afins. A violência doméstica é mais ampla, abrangendo pessoas que vivem sob o mesmo teto, mas não necessariamente vinculadas pelo parentesco. A Organização Mundial de Saúde(OMS) reconhece a violência doméstica como um problema de saúde pública, pois trata-se de situações que afetam a integridade física e a saúde mental das vítimas e que vem configurando-se enquanto uma questão endêmica na população mundial. Através da coleta de dados obtidas por meio de entrevistas semi-estruturadas realizadas com os profissionais que atuam na Casa da Mulher, buscamos descrever o funcionamento do serviço trazendo elementos que permitam refletir sua dinâmica interna e externa, os avanços e limites do atendimento oferecido, bem como apresentamos os resultados obtidos e discussões acerca das ações desenvolvidas na instituição, sua eficácia e perspectivas sobre novas formas de enfrentamento à violência doméstica.
SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO...6 2.OBJETIVOS...7 3.METODOLOGIA...8 4.RESULTADOS...9 5.DISCUSSÃO...11 6.CONCLUSÃO...12 7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...13 ANEXOS
6 INTRODUÇÃO Este trabalho propõe-se a discutir a violência doméstica contra a mulher, enquanto uma das formas mais comuns de manifestação da violência e que, no entanto, ainda constituise uma das mais invisíveis, perpetuando-se como das violações dos direitos humanos mais praticados e menos reconhecidas do mundo. Chama a atenção para as questões ligadas ao poder e controle masculinos, percebendo-a como uma questão de desigualdade entre os sexos e de direitos humanos da mulher. Violência doméstica contra a mulher é qualquer ação ou conduta cometida por familiares ou pessoas que vivem na mesma casa e que cause morte, dano ou sofrimento, físico, sexual ou psicológico. Trata-se de um fenômeno mundial que não respeita fronteiras de classe social, raça/etnia, religião, idade e grau de escolaridade.(oliveira,1999) No campo da Saúde Coletiva, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS,1993) analisa que a violência pelo número de vítimas e a magnitude de sequelas orgânicas e emocionais que produz, adquire um caráter endêmico e se converteu em um problemas de saúde pública em vários países. A violência recebeu da Organização Mundial da Saúde (OMS,1993) a denominação de causas externas na Classificação Internacional de Doenças ( CID-10), reconhecendo a violência doméstica como um problema de saúde pública pois afeta a integridade física e a saúde mental. Na América Latina, a violência doméstica incide sobre 25% a 50% das mulheres. No Brasil, 23% das mulheres brasileiras estão sujeitas à violência doméstica. A cada 4 minutos, uma mulher é agredida em seu próprio lar por uma pessoa com quem mantém relação de afeto. As estatísticas demonstram que 70% dos incidentes acontecem dentro de casa e que o agressor é o próprio marido ou companheiro e que somente 10% da violência contra a mulher é denunciado. Portanto, ente trabalho traz elementos para novas discussões e aprofundamentos sobre um tema bastante amplo e relevante, que envolve questões culturais e psicossociais.
7 OBJETIVOS GERAL : Estudar a relação entre as ações desenvolvidas na Casa da Mulher do município de Camaragibe e as Normas e Técnicas de Práticas em Serviço propostas pelo Ministério da Saúde(2002). ESPECÍFICOS : Identificar como são desenvolvidas as ações relativas à violência doméstica contra a mulher na Casa da Mulher em Camaragibe, PE; Estabelecer uma relação entre as ações da Casa da Mulher e as Normas e Técnicas de Práticas em Serviço propostas pelo Ministério da Saúde(2002); Identificar os aspectos positivos e negativos das ações desenvolvidas na Casa da Mulher de acordo com as Normas e Técnicas de Práticas em Serviço propostas pelo Ministério da Saúde(2002).
8 METODOLOGIA Este trabalho consiste em um estudo descritivo qualitativo, sobre o atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica realizado na Casa da Mulher no Município de Camaragibe PE. A coleta de dados para a discussão realiza-se através de entrevistas semi estruturadas(em anexo), utilizando-se de um gravador e roteiro, aplicadas em toda a equipe técnica multidisciplinar do serviço composta por 06 (seis) profissionais: um coordenador, uma recepcionista, uma guarda municipal, uma psicóloga, uma médica e uma assistente social.
9 RESULTADOS Ações Desenvolvidas. Parcerias Eficácia das Ações Programa de Referência Avaliação Nacional de enfrentamento ao tema Avaliação da Instituição Metas e Sugestões Atenção Médica e Psicossocial às mulheres vítimas de violência; Acolhimento, sensibilização para auto valorização, estímulo ao respeito e diálogo entre os gêneros; Encaminhamento para a SEDESE( Secretaria de Desenvolvimento Social e Econômico - Programa de Saúde da Mulher) e COA ( Centro de Orientação e Aconselhamento). USF s (Unidades de Saúde da Família); SEDESE / PAM (Política de Atenção à Mulher). Fortalecimento da auto valorização e apropriação dos Direitos Humanos; Não possui ainda levantamento estatístico que indique a eficácia das ações. Não foi referenciado nenhum Programa Municipal, Estadual ou Federal relativo ao tema que nortei as ações da Instituição. Necessidade de maior investimento na oferta e divulgação de serviços, na capacitação profissional. Pontos Positivos : - Implantação de um serviço de referência no Município; - Demanda espontânea e referenciada pelas USF s. Pontos Negativos : - Falta de maior divulgação junto à comunidade; - Deficiência na articulação com as USF s e ONG s do Município; - Necessidade de aprimoramento nas ações e capacitações dos profissionais. Divulgação e sensibilização ao tema junto às instituições públicas e não governamentais; Capacitação direcionada à temática aos profissionais da Casa da Mulher; Aumento das parcerias( Secretaria de Justiça, Delegacia da Mulher);
10 10 Metas e Sugestões Investimento numa política de atendimento integral e articulada. Funcionamento interdisciplinar da equipe técnica; Estímulo à denúncia por parte das mulheres vítimas de violência doméstica; Trabalho nas USF s de abordagem às mulheres vítimas de violência doméstica e seus agressores.
11 DISCUSSÃO De acordo com as orientações para a Prática em Serviço de Atenção Básica propostas pelo Ministério da Saúde ( 2002 ) relativo à violência intrafamiliar, a Casa da Mulher promove o acolhimento e atendimento biopsicossocial às mulheres vítimas de violência doméstica, embora apresente dificuldades no desenvolvimento de suas ações. Questões como a dificuldade na divulgação da oferta de serviço, na capacitação de seus recursos humanos, na integralidade do funcionamento da equipe, necessitam de um maior investimento. Também demonstra limitações quanto à intersetorialidade das ações, no que se refere à formação de parcerias junto à Unidades de Saúde da Família, Secretaria de Justiça, Delegacia da Mulher e Organizações Não Governamentais. Apesar do Município de Camaragibe possuir um Programa de Atendimento à Mulher (PAM), a instituição não mantém um programa norteador para as suas intervenções na comunidade voltado para a questão da violência doméstica, mostrando-se imprescindível um maior aprofundamento institucional nas várias faces desta problemática.
12 CONCLUSÃO O trabalho desenvolvido na Casa da Mulher parece refletir o panorama nacional de enfrentamento ao tema da violência doméstica de gênero. Apesar da iniciativa dos gestores públicos de saúde de Camaragibe em intervir frente a esse tipo de violência, o tema necessita de um investimento sistemático e não apenas pontual, pois, o isolamento social vivenciado pelas mulheres em situação de violência doméstica dificulta a identificação dos casos e conseqüentemente prejudica a adoção de medidas de enfrentamento. Desse modo, mostra-se imprescindível um maior investimento na oferta de serviços, na capacitação dos profissionais de saúde e na formação de parcerias junto ao Programa de Saúde da Família, com também com outras esferas públicas (justiça e educação), entidades não governamentais e na sensibilização da sociedade civil para uma discussão sobre os Direitos Humanos, as relações de gênero e o poder, possibilitando uma destituição da legitimação da violência contra a mulher.
13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARTICULAÇÃO DE MULHERES BRASILEIRAS. Políticas Públicas para Mulheres no Brasil: Balanço Nacional Cinco Anos Beijing.. Brasília: AMB,2000. BARSTED, L. Violência Contra a Mulher e Cidadania: Uma Avaliação das Políticas Públicas. Rio de Janeiro: CEPAI, Ano 1, n. 1, Nov., 1994. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência Intrafamiliar: Orientações para Prática em Serviço. Brasília, 2002. 89 p. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde, Ministério da Justiça, Secretaria do Estado de Direitos Humanos. Direitos Humanos e Violência Intrafamiliar: Informações e Orientações para Agentes Comunitários de Saúde. Brasília, 2001. 40 p. CONFERÊNCIA NACIONAL DE MULHERES BRASILEIRAS. Plataforma Política Feminista. Brasília, Jun., 2002. 64 p. MINAYO, M.C e SOUZA, E. É possível prevenir a violência? Reflexões a partir do campo da saúde pública. Ciência e Saúde Coletiva, v.4, n.1,p.7-23,1999. Nações Unidas e Ministério da Justiça. Uma Vida sem Violência é um Direito Nosso. Propostas de Ação Contra a Violência Intrafamiliar no Brasil.. Brasília, Jul., 1998. OLIVEIRA, F. A violência contra a mulher é uma questão de saúde pública. Jornal da Rede Saúde n. 19, Nov., 1999. SAFFIOTI, H. I.B. Violência de Gênero no Brasil Atual. Revista Estudos Feministas / CIEC/ECO/UFRJ n. especial 2º semestre, Out., 1994.
14 SEMINÁRIO ESTUDOS DE GÊNERO FACE AOS DILEMAS DA SOCIEDADE BRASILEIRA. Violência contra a mulher e violência doméstica. São Paulo, 1997.
ANEXOS ROTEIRO DA ENTREVISTA (SEMI-ESTRUTURADA) Que ações são desenvolvidas na Casa da Mulher com relação à violência doméstica de gênero? Qual a abordagem feita pela Casa da Mulher às mulheres vítimas de violência? Qual a dinâmica do atendimento?(rotina) A Casa da Mulher desenvolve alguma estratégia de incentivo à resolução não violenta de conflitos? Como vocês tem lidado com a questão da mudança dos valores culturais como o machismo e abuso de poder masculino nas relações intrafamiliares? De que forma a Instituição trabalha a questão da desvitimização das mulheres atendidas? A Casa da Mulher, através do atendimento oferecido, consegue obter mudanças significativas no cotidiano das vitimas? Como você lidam com os agressores? Existe algum trabalho ou projeto de trabalho envolvendo-os? A Casa da Mulher articula-se com outras instituições e/ou comunidade em geral dentro e fora do Município? Quais? Como se dá? Vocês tem como referência algum Programa Municipal, Estadual ou Nacional relativo ao tema? Como você avalia a oferta e o funcionamento da Política Nacional de Saúde de enfrentamento a este tema?
Nesse 1º ano de implantação da Casa da Mulher, como avalia o atendimento oferecido?identifique pontos positivos e negativos. Que melhorias nas ações de saúde públicas voltadas a esse público alvo você sugere? A instituição possui metas ou projetos a curto, médio ou longo prazo?