ESTADO NUTRICIONAL DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE E SUA RELAÇÃO COM O CONHECIMENTO SOBRE ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL Florence Fontes Pinheiro (bolsista do PIBIC/CNPq¹) Adriana de Azevedo Paiva (Orientador, Depto de Nutrição UFPI) Introdução: A obesidade é uma doença crônica multifatorial, caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, fortemente associada ao desenvolvimento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT s) e que vem aumentando progressivamente em todo o mundo (ABESO, 2010). Sabe-se que o nível de instrução e o conhecimento acerca dos alimentos tem relação positiva sobre o consumo de alimentos saudáveis, que irão influenciar no estado nutricional (TORAL, 2007). O Agente Comunitário de Saúde é o profissional que atua nas ações de promoção e prevenção de agravos a saúde (BRASIL, 2001). Sua atuação junto à população em geral e aos grupos populacionais é de suma importância no combate da obesidade e suas co-morbidades. Assim, o presente estudo visa avaliar o estado nutricional e o nível de conhecimento sobre alimentação saudável e nutrição em Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Desta forma, pretende-se verificar as condições de saúde desse profissional que atua de forma ativa na prevenção dos agravos à saúde na comunidade. Metodologia: Trata-se de um estudo com abordagem quantitativa e delineamento transversal, descritivo e analítico, desenvolvido com 222 ACS. Coletaram-se dados sobre características socioeconômicas e demográficas, além de dados antropométricos (peso e estatura) e aplicou-se uma escala de conhecimento nutricional. Os dados foram analisados utilizando-se o software SPSS v.20. Os dados foram analisados utilizando-se a estatística descritiva (medidas de frequência, tendência central e dispersão), bem como análises bivariadas, para verificar medidas de associações, utilizando o Teste Qui-quadrado. A correlação entre IMC e
pontuação na escala de conhecimento nutricional foi avaliada através do teste de correlação de Pearson. O nível de significância adotado foi de 5%. O Projeto foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da Fundação Municipal de Saúde (FMS) e, em seguida, submetido à Plataforma Brasil, para análise do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí (CEP/UFPI), que obteve aprovação por meio do parecer nº 1.315.077), em 09 de Novembro de 2015. Resultados: Os participantes dessa pesquisa eram predominantemente do sexo feminino 166 (74,8%), com idade entre 23 e 59 anos. A maioria possuía ensino médio completo (72,1%) e se encontram em classe social D, se auto-declarava de cor parda/preta (80,6%) e 68,5% eram casados ou moravam com companheiros. A avaliação antropométrica revelou que 66% das mulheres estavam com excesso de peso; dessas, 48% estavam com sobrepeso e 18% com algum grau de obesidade. No tocante ao sexo masculino, 63% dos homens estavam com excesso de peso; desses, 43% estavam com sobrepeso, 13% com obesidade grau 1 e 7% obesidade grau 2. A maioria dos ACS possuíam conhecimento nutricional moderado sobre alimentação saudável e nutrição (71%) e não foi verificada associação estatísticamente significativa entre o conhecimento nutricional e estado nutricional (p=0,648). Além disso, não verificou-se correlação significativa entre IMC e pontuação da escala (p= 0,786). Discussão: Os ACS participantes eram predominantemente do sexo feminino, resultado que corrobora com outros trabalhos realizados com ACS em outros municípios brasileiros, bem como outros profissionais da área da saúde (FREITAS, 2015; LINO, 2012; BARBOSA et al., 2012; SALIBA, 2011). Essa característica está
associada ao papel histórico de cuidadora exercida pela mulher na sociedade (MOTA, 2010; SANTANA, 2009). Os indivíduos estudados tinham idade entre 23 e 59 anos, predominantemente idade 40 anos. Moura (2010) acredita que ACS com mais idade tendem a conhecer melhor a comunidade, ter vínculos e laços de amizades, entretanto, podem ter maior resistências a novos conceitos relacionados a promoção de saúde, devido experiências próprias ou alheias. O papel dos ACS na Atenção Básica é de extrema importância, uma vez que além de assistir as famílias da comunidade, o ACS desenvolve ações nos campos políticos e sociais. Diante dessas atribuições, a conclusão do ensino fundamental passou ser pré-requisito para o trabalho de ACS (BRASIL, 2001). Os ACS deste estudo possuem escolaridade acima da mínima exigida, a maioria possuía ensino médio e alguns com ensino superior. A prevalência do excesso de peso no presente estudo mostrouse superior aos dados encontrados na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008-2009 ao investigar o estado nutricional de 188 mil brasileiros e revelou que 50,1% dos homens e 48% das mulheres estavam com excesso de peso. Há 8 anos, Freitas (2008) estudou o mesmo grupo populacional no município de São Paulo e observou uma prevalência de excesso de peso inferior a do presente estudo (46,6%), confirmando a tendência de crescimento das taxas de excesso de peso em população brasileira. Sendo assim, torna-se necessário desenvolvimento de ações de educação nutricional com os ACS, uma vez que estes são mensageiros e agentes ativos para conscientização da comunidade quanto aos hábitos alimentares e nutricional. Estudos que avaliam o nível de conhecimento vêm ganhando espaço no meio científico, em virtude da premissa que o conhecimento sobre nutrição e alimentação pode estar relacionado com mudanças dos hábitos e práticas alimentares (CASTRO; DÁTTILO; LOPES, 2010; DATTILO, 2009; NICASTRO et al.,
2008). O presente estudo é o primeiro a utilizar a Escala de Conhecimento Nutricional em ACS, embora não exista outros trabalhos que avaliam a mesma população deste estudo, os resultados encontrados corroboram com publicações anteriores que usam o mesmo método de avaliação (PESSI, 2011; CASTRO; DÁTTILO; LOPES, 2010). Embora não se tenha encontrado associação estatística entre o estado nutricional e conhecimento nutricional, ressalta-se a necessidade de desenvolver novos estudos com dada população, uma vez que outras variáveis, tais como, sexo, idade, renda, escolaridade, nível de atividade, estado civil pode atuar como fatores de risco associados ao excesso de peso (AMER, 2011). Conclusão: A amostra de ACS avaliada apresentou conhecimento nutricional regular, embora não se tenha encontrado associação significativa entre estado nutricional e conhecimento nutricional. Ressalta-se a necessidade de novos estudos acerca desta temática com ACS, uma vez que estes encontram-se com elevada prevalência de sobrepeso e obesidade, o que podem estar associados a outros fatores de risco (idade, sexo, estado civil, renda, nível de atividade, entre outros). REFERÊNCIAS ABESO - Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica: Atualização das Diretrizes para o Tratamento Farmacológico da Obesidade e do Sobrepeso. 2010 Acesso em: 07 de janeiro de 2016. Disponível em: http://www.abeso.org.br/uploads/downloads/2/5521af637d07c.pdf Amer NM, Marcon SS, Santana RG. Índice de Massa Corporal e Hipertensão Arterial em indivíduos adultos no Centro-Oeste do Brasil. Arq. Bras. Cardiol. 2011. Barbosa GB, Correia AKS, Oliveira LMM, Santos VC, Ferreira SMS, Júnior DFM et al,. Trabalho e saúde mental dos profissionais da Estratégia Saúde da Família em um município do Estado da Bahia, Brasil. Rev. Bras. Saúde Ocup. 2012.
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