ANAIS CAMINHOS PARA A SUSTENTABILIDADE DO SETOR DE FUNDIÇÃO NO BRASIL



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Transcrição:

CAMINHOS PARA A SUSTENTABILIDADE DO SETOR DE FUNDIÇÃO NO BRASIL ALEXANDRE BORGES FAGUNDES ( borges.fagundes@gmail.com ) UTFPR CAROLINE RODRIGUES VAZ ( caroline-vaz@hotmail.com ) UTFPR IVANIR LUIZ DE OLIVEIRA ( ivanir@utfpr.edu.br ) UTFPR Resumo: Este artigo tem por objetivo levantar as soluções atuais para a problemática das Areias Descartadas de Fundição (ADF), apontando dessa forma os processos de reciclagem como o caminho para o fomento à sustentabilidade do setor de fundição no Brasil. Descreve o processo de fundição, a classificação das ADF e os processos de reciclagem, apresenta as legislações vigentes, a normalização específica em andamento (ABNT/CB-59), faz um comparativo com o que é praticado nos Estados Unidos e sugere soluções. Palavras-chave: areias de fundição, reciclagem, sustentabilidade. 1. Introdução Quando se aborda o termo sustentabilidade, diversas vertentes remontam definições envolvendo um número variável de dimensões, portanto para o presente artigo define-se a abrangência do termo envolvendo as dimensões social, econômica e ambiental. Segundo Montibeller-Filho (2001), a dimensão social busca uma maior equidade social entre as gerações, a dimensão econômica objetiva o aumento da produção e da riqueza social, e a dimensão ambiental, por sua vez, preocupa-se com a utilização dos recursos naturais e com os limites da capacidade de carga do planeta, buscando melhorar a qualidade do meio ambiente e preservar as fontes de recursos energéticos e naturais. Pode-se citar como movimento precursor do termo sustentabilidade a Conferência de Estocolmo, ocorrida em 1972, seguida de outras ações demonstrando a constante evolução do termo desde então: a Assembléia Geral das Nações Unidas (1983), o relatório de Brundtland (1987) a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ECO 92), realizada no Brasil (consagrando o conceito de Desenvolvimento Sustentável: um modelo econômico menos consumista e mais adequado ao equilíbrio ecológico) e culminando na Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável realizada em Joanesburgo (2002), na África do Sul, traçando novas diretrizes para o Desenvolvimento Sustentável (aplicar o pensar globalmente e agir localmente ). Essa tendência mundial vem se apresentando de forma cada vez mais evidente como fator de influência na competitividade entre as empresas que, devido a essa nova realidade, estão vivenciando uma espécie de dicotomia da sustentabilidade : de um lado, no âmbito ambiental, o dever responsável para com o meio ambiente, em resposta à satisfação dos clientes que mais conscientes e preocupados com a questão ambiental agregam valor de estima aos produtos ecologicamente corretos; e do outro lado, no âmbito econômico, as imposições legais cada vez mais severas com relação ao trato de resíduos industriais, que contribuem para que as organizações aumentem seus custos. O setor de fundição surge nesse contexto como um grande reciclador, pois utiliza materiais descartados pela sociedade objetos metálicos já considerados sucata como 1/14

matérias primas para a constituição dos seus produtos finais, reintroduzindo esses materiais à cadeia produtiva e ao mesmo tempo trazendo benefícios ao meio ambiente pela diminuição da extração de minérios e outros materiais diretamente da natureza, além de poupar a energia que seria empregada nos processos primários de transformação. Em contrapartida, esse setor também é considerado um grande poluidor, pois seus processos produtivos geram grande quantidade de resíduos (vapores, escória, areias descartadas de fundição, materiais particulados, entre outros). Frente a isso e concatenado às crescentes exigências ambientais, os caminhos a serem trilhados em prol da sustentabilidade do setor direcionam-se ao trato desses resíduos. Tomando-se como referência os dados coletados da ABIFA (2008cdefg), da produção total de fundidos no Brasil nos meses de novembro de 2007 a julho de 2008, tem-se uma média de produção de 83,8% de ferros fundidos (215.085,1 t/mês) e 9,5% para aços (24.430,2 t/mês), restando 6,7% (17.106,1 t/mês) para os materiais não-ferrosos. Dependendo do tipo de peça a ser confeccionada, de acordo com Dantas (2003), a proporção entre metal e areia utilizada nos processos de fundição varia de 0,8 a 1,0. Portanto, considerando o valor médio de 0,9, movimenta-se aproximadamente 231.000t mensais de areias de fundição para suprir a média nacional de produção de metais. O crescente interesse em pesquisas para seu melhor aproveitamento - impulsionadas pelas restrições ambientais e custos cada vez maiores com disposição em aterros - faz das areias descartadas de fundição um material com grande potencial econômico a ser explorado. Desenvolvimento econômico, pela premissa de garantia de atendimento às necessidades das gerações futuras, caminha de mãos dadas com o desenvolvimento sustentável. Segundo Scharf (2004), uma empresa, para ser sustentável, deve ter perspectivas concretas de mantenabilidade de suas atividades por um longo período de tempo, minimizando possíveis riscos e mantendo também uma relação amistosa com a sociedade. O desafio para se alcançar uma sustentabilidade consistente reside em harmonizar suas três dimensões, pois a atuação em uma pode trazer reflexos às outras. Além de considerar suas necessidades econômicas uma empresa também deve atuar no campo da responsabilidade social e ambiental, pois as dimensões interagem entre si. Freitas et al. (2007) definem responsabilidade social como um comprometimento que a organização deve ter com o desenvolvimento dos seus funcionários e de um ambiente adequado ao trabalho, confiabilidade com os seus clientes e participação em projetos ambientais na região onde esta localizada. Propiciando desta forma a conquista de clientes e o reconhecimento da sociedade. Em face a essa realidade este artigo busca levantar as soluções atuais para a problemática das Areias Descartadas de Fundição (ADF) no Brasil, a legislação vigente e as atitudes que estão sendo tomadas nesse sentido, fazendo também um comparativo com o que é praticado nos Estados Unidos, procurando assim agregar maior valor a esse material que, sendo melhor estudado, pode proporcionar um aumento da sustentabilidade desse setor industrial, refletindo simultaneamente em benefícios nas dimensões econômica, ambiental e social. 2. Areias de fundição As areias de fundição são materiais utilizados na confecção de moldes e machos para fundição e podem ser divididas em dois grupos genéricos: as areias a verde e as areias ligadas quimicamente. 2.1 Areia a verde Areia a verde é o nome dado às areias aglomeradas com argila que, após confeccionado o molde, não sofrem nenhum processo de secagem antes do vazamento de metal, são constituídas basicamente por quatro componentes: material refratário (areia), 2/14

material aglomerante (argila), aditivos e água (SENAI, 1987). A mistura de areia base, bentonita, pó de carvão e água deve garantir à areia de moldagem (areia verde) boas características de trabalhabilidade, maleabilidade, compactabilidade, refratariedade, coesão, expansividade volumétrica, resistência a esforços mecânicos como compressão e tração, permeabilidade e desmoldagem (ARMANGE, 2005). 2.2 Areias ligadas quimicamente As areias ligadas quimicamente são bastante aplicadas na fabricação de machos. Formadas por material refratário (areia), material aglomerante (orgânico, inorgânico ou misto) e aditivos (COMISSÃO DO MEIO AMBIENTE DA ABIFA, 1999 e SCHEUNEMANN, 2005). De acordo com Peixoto (2003) os sistemas ligantes devem possuir características para aumentar as propriedades de vida de banca da mistura, que podem ser afetadas pela umidade, temperatura da areia e pelas reatividades inerentes aos ligantes. Para prover tais propriedades, o ligante empregado necessita formar, quando curado, estruturas altamente ligadas em cadeias. As fundições empregam uma gama considerável de resinas orgânicas para a fabricação de machos e moldes, é a química destes sistemas ligantes que origina as propriedades de ligação, técnicas de macharia e possibilidades de aplicação (PEIXOTO, 2003). 2.3 Constituintes básicos das areias Areias-base: a areia-base é o componente presente em maior porcentagem nas areias de fundição, são granulados de origem mineral formados pela fragmentação de rochas devido às intempéries da natureza, o formato dos grãos varia de acordo com o agente causador do processo de fragmentação da rocha; areias de rio, por exemplo, possuem grãos angulares enquanto que as areias de praia, devido ao movimento repetitivo e de grande amplitude que lhes é imposto e as areias de deserto, devido à ação do vento, possuem grãos mais arredondados (SENAI, 1987). Nos depósitos de areia, a dimensão do grão (que pode variar entre 0,063 a 2,0 mm) e o grau de pureza do material variam de acordo com a profundidade das camadas. A Sílica é a areia-base mais utilizada nos processos de fundição (seguida da Cromita, Zirconita, Olivina e Chamote). Em maior ou menor proporção, o Dióxido de Silício (SiO 2 ) é elemento comum à constituição de todas as areias (SENAI, 1987). A tabela 1 mostra as principais características necessárias à fundição. Tabela 1 Principais características de areias-base 3/14

Fonte: Peixoto, 2003. Aglomerante: no caso das areias para fundição aglomeradas com argila, a argila é o agente responsável por ligar entre si os grãos de areia-base. Perfazendo um total que gira em torno de 10% da mistura, apresenta suas propriedades coesivas na presença de água. São constituídas por minerais onde cada partícula possui comprimento máximo de aproximadamente 2 mícrons e espessura da ordem de alguns angströns (um angströn equivale a 10-8 cm) (SENAI, 1987). No caso das areias ligadas quimicamente, os aglomerantes utilizados são: a. Orgânicos: tais como resinas furânicas, fenólicas e uretânicas (SCHEUNEMANN, 2005). São materiais constituídos por moléculas complexas de alto peso molecular, formadas por reação, por um número de moléculas simples de mesmo ou diferente tipo, sob condições controladas de temperatura e pressão (PEIXOTO, 2003). b. Inorgânicos: tais como a sílica de sódio e o cimento portland, são constituídos por água e minerais, formados por um átomo que se combina com um ou mais elementos (SCHEUNEMANN,2005). c. Misto: é a união dos compostos orgânicos com os inorgânicos. São utilizadas misturas químicas como resinas fenólicas e alcalinas (SCHEUNEMANN, 2005). Aditivos: são produtos adicionados à mistura das areias com o propósito de lhes conferir melhores propriedades. Podem ser de dois tipos: orgânicos e inorgânicos. Dentre os aditivos orgânicos podem-se destacar os carbonáceos (pó de carvão mineral, piche e produtos afins), celulósicos (pó de madeira) e amiláceos e dextrinas (produtos a base de amido). Os aditivos inorgânicos constituem-se de pós de materiais naturais ou sintéticos, sendo os mais comuns o óxido de ferro e o pó de sílica (SENAI, 1987). Os aditivos são utilizados para a fundição de areias ligadas quimicamente são em geral aditivos inorgânicos como, por exemplo, o óxido de ferro (SCHEUNEMANN, 2005). 3. O processo de fundição O processo de fundição consiste na fusão de um metal que, em estado líquido, é vazado na quantidade necessária para o preenchimento de um molde e que, ao solidificar-se, gera uma peça com o formato desejado. Os moldes são obtidos através da moldagem, geralmente em areia a verde, num processo em que o formato externo do produto que se deseja obter é transferido às areias pela compactação das mesmas sobre um modelo, normalmente bipartido, cada qual numa caixa de 4/14

fundição. Os machos, por sua vez, formados por areia ligada quimicamente, são responsáveis por dar o formato interno do produto que se deseja obter. Em linhas gerais, depois de feita a moldagem as duas metades do molde juntam-se (com a inclusão ou não de um macho, dependendo da exigência do produto) e o metal líquido é vazado para dentro do molde, preenchendo toda a sua cavidade. A areia que entrou em contato com o metal incandescente é queimada, havendo aí alterações em suas propriedades, não garantindo a mesma performance se sujeita a nova vazagem de metal. Após a vazagem de metal todo o material contido nas caixas de fundição é submetido a uma ação vibratória a fim de separar as peças fundidas das areias de fundição; feito isso, obtêm-se como resíduo a mistura da areia a verde (a porção de areia queimada somada à porção de areia ainda boa para uso em nova vazagem), a areia ligada quimicamente (proveniente da desagregação de machos, quando utilizados na moldagem) e resíduos do metal fundido. Considerando a responsabilidade ambiental no manejo desses materiais obtidos, é particularmente a partir deste ponto do processo que se concentram as maiores atenções do presente estudo. A Figura 1 apresenta o fluxograma de todo o processo de fundição com as entradas e saídas. Figura 1 Fluxograma do Processo de Fundição com entradas e saídas Fonte: Adaptado Oliveira, 1998. 4. Classificação dos excedentes de areias de fundição Os resíduos sólidos são definidos pela ABNT Associação Brasileira de Normas 5/14

Técnicas (2004) como sendo os resíduos que se encontram no estado sólido ou semi-sólido, resultantes de atividades de cunho industrial, doméstico, hospitalar, comercial e agrícola, bem como de serviços e de varrição. Esses resíduos são classificados como perigosos quando suas características proporcionam riscos à saúde dos seres humanos ou acarretam riscos ao meio ambiente quando gerenciados de forma imprópria. No Brasil, seguem as seguintes normas, procedimentos e métodos de ensaios: a. NBR 10.004 - Resíduos Sólidos Classificação: Classe I (perigosos), Classe II-A (não inertes) e Classe II-B (inertes); b. NBR 10.005 - Lixiviação de Resíduos Procedimentos; c. NBR 10.006 - Solubilização de Resíduos Sólidos Métodos de ensaios; d. NBR 10.007 - Amostragem de Resíduos Procedimentos. Dentro dessa classificação os excedentes de areias de fundição enquadram-se geralmente nas classes I e II-A, devido a presença de ligantes químicos e metais (COMISSÃO DO MEIO AMBIENTE DA ABIFA, 1999). 5. Regulamentações vigentes As empresas de fundição têm aumentado seu interesse pelo cumprimento das legislações ambientais devido à crescente competitividade do mercado, em que se faz necessário o esclarecimento do atendimento das responsabilidades ambientais perante clientes, fornecedores, órgãos ambientais, sociedade, investidores e ONGs (CASTRO, 2001). Como conjunto de leis e regulamentos pertinentes à temática cita-se: a. Lei 5.793, de 15 de outubro de 1980 (regulamentada pelo decreto 14.250, de 05/06/81) para melhoria da qualidade ambiental; b. Lei 6.938, de 31 de Agosto de 1981 (alterada pela Lei 7.804, de 18/07/89) para avaliação do EIA/RIMA (impacto ambiental); c. Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, lei de Crimes Ambientais; d. Portaria FATMA 62/99 aprova Instruções Normativas e Norma Técnica de Licenciamento Ambiental; e. Portarias Intersetoriais 01/92 e 01/00 aprovam a listagem das atividades consideradas potencialmente causadoras de degradação ambiental. Cabe citar que apenas no estado de São Paulo há uma regulamentação sobre as regras para gerenciamento de Areias descartadas de Fundição, bem como a análise de projetos de reutilização em asfalto e artefatos de concreto (ABIFA, 2008b) através da Decisão de Diretoria da CETESB Nº152/2007/C/E publicada em agosto de 2007 Procedimentos para Gerenciamento de Areia de Fundição (ABIFA, 2008i). 6. ABNT/CB-59 Em virtude da problemática evidente acerca do trato e disposição dos excedentes de areias de fundição e da falta de legislação específica para o setor foi criada em setembro de 2007 junto à Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT (único foro de normalização do país), o Comitê Brasileiro de Fundição ABNT/CB-59, tendo como âmbito de atuação a normalização no campo da fundição compreendendo fundição de ferro, de aço e de não ferrosos, insumos, matéria-prima, resíduos no que concerne a terminologia, requisitos, métodos de ensaio e generalidades (ABNT, 2008). A necessidade de um organismo de normalização exclusivo para o setor de fundição motivou sua criação, pois até então fazia parte do CB-01 Mineração e Metalurgia, atualmente em recesso (ABIFA, 2008a). Concomitantemente a isso também foi criada a Comissão de Estudos de Areias de Fundição ABNT/CE-59 com a responsabilidade da confecção e revisão das normas, tendo sua primeira reunião realizada em 21 de fevereiro de 2008. Formada por representantes da 6/14

sociedade que de diferentes formas estão envolvidos no assunto (produtores, consumidores, universidades, entre outros) a comissão visa gerar as normas considerando a opinião de todos, favorecendo o consenso entre as partes (ABIFA, 2008a). A figura 2 mostra a forma como esta estruturado o Comitê Brasileiro de Fundição. Figura 2. Estrutura do Comitê Brasileiro de Fundição - ABNT/CB-59 No âmbito dos Resíduos de Fonte: Fundição ABIFA, (59:001) 2008h foi instalada a Comissão de Estudos de Areia de Fundição (59:001.01), que tem como escopo a normalização referente aos resíduos de fundição no que concerne a tratamento, utilização, reaproveitamento e armazenamento (ABIFA, 2008a), com dois projetos em estudo sobre as areias descartadas de fundição: a. 59:001.01-001 Áreas de triagem, disposição e reciclagem; b. 59:001.01-002 Aplicações como agregado em construção civil e cobertura de aterros sanitários. 7. Soluções propostas Segundo o Coordenador da ABIFA de Soluções para as Areias Descartadas de Fundição, Sr. Fabio Garcia Filho, ainda temos um modelo ultrapassado para o trato das Areias Descartadas de Fundição no Brasil, pois ainda hoje há a obrigatoriedade de envio para ser misturada com outros resíduos em aterros, onde as ADF passam a correr riscos de contaminação (ao contrário dos EUA onde esse resíduo já não é mais encarado como passivo ambiental sendo amplamente utilizado como subproduto em diversas aplicações e há a busca constante de obtenção de receitas com eles) (ABIFA, 2008i). Ressaltando que, devido ao descarte representar um dos maiores custos das empresas, a gestão dos procedimentos para solução das ADF deve ser encarada com a mesma seriedade com que são aplicadas as outras atividades tais como qualidade, produção e comercial no que tange ao desenvolvimento tecnológico, processos, objetivos e metas, o autor afirma que se devem buscar soluções na seguinte ordem (ABIFA, 2008h): a. Utilização máxima do material dentro do sistema; b. Regeneração mecânica; c. Regeneração térmica; d. Reutilização como sub-produto em outras aplicações; e. Destinação para áreas de processamento que possibilitem a reutilização futura; f. Destinação para aterros definitivos exclusivos de ADF; g. Destinação para aterros classe IIA misturando com outros resíduos industriais. 7/14

Figura 3 Soluções alternativas para as areias descartadas de fundição Fonte: Autores Conforme o mesmo autor, as definições das soluções existentes são: a. Retorno das areias de fundição para o sistema em circuito fechado: teoricamente é o procedimento ideal, mas na prática isso se torna impossível devido às perdas inerentes ao processo e à conseqüente necessidade de reposição de materiais. De qualquer maneira deve-se procurar utilizar os materiais ate o limite, dentro do sistema. b. Regeneração (mecânica e/ou térmica): é a solução que deve vir na seqüência do tópico anterior, buscando reciclar a areia base tornando-a novamente pronta para uso, pela eliminação/redução dos materiais incrustados à sua superfície durante o processo. c. Reutilização como matéria prima em aplicações da construção civil e cobertura de aterros de lixo: este procedimento tem sua viabilidade técnica comprovada através de diversos estudos científicos desenvolvidos no Brasil e no mundo, tornando-se também ambientalmente viável por evitar a extração de areias diretamente da natureza pelo setor de construção civil. d. Destinação para áreas que viabilizem a triagem, disposição e reciclagem ATDRs: o material contido nessas áreas deve estar dentro das especificações para reutilização, podendo ser retirado pelas empresas usuárias tanto de forma imediata como a médio ou em longo prazo, podendo ser feito em pequena escala, dentro das próprias empresas geradoras, como em grande escala, em local adequado à recepção de material de maior número de empresas. Por ser algo que ainda não foi feito no Brasil, essa prática ainda enfrentará algumas dificuldades, mas um primeiro passo nesse sentido deve ser dado. e. Destinar para aterros definitivos exclusivos de ADF: podendo ser utilizado em conjunto com as ATDRs ou não, os aterros exclusivos para ADF podem funcionar como depósitos desse material para posterior tratamento. É mais indicado para as empresas que não tem demanda de material reutilizado em sua região; atualmente é a melhor solução disponível, pois a exigência de licenciamento é a mesma para os aterros classe IIA com vantagem nos custos de construção e operação, devido às características únicas das ADF (lembrando que não pode haver mistura com outros resíduos industriais, mesmo que também pertencentes á classe IIA). f. Destinar para aterros de resíduos industriais: de acordo com ABIFA (2006), fundições e órgãos ambientais, em atenção às questões sociais e ambientais, devem juntos buscar alternativas para o manejo dos excedentes de areias de fundição de tal forma que não haja prejuízos ao meio ambiente. A disposição desses materiais em aterros industriais controlados já não são mais uma alternativa cabível, tendo em vista um volume de areia descartada que apresenta um aumento anual da ordem de 5%. O motivo dos aterros ainda estarem sendo amplamente utilizados é estritamente de cunho legal, haja vista que ainda hoje, segundo ABIFA (2008i), o encaminhamento desses resíduos à aterros industriais constituem-se a única opção legalmente validada, não exigindo 8/14

outros licenciamentos além dos referentes à implantação e operação dessas áreas, o que acaba sujeitando as empresas a arcar com custos logísticos cada vez mais onerosos, especialmente quando se trata de aterros e transporte terceirizados. Considerando aspectos ambientais a existência de aterros gera o acúmulo de passivos, nos quais acaba havendo a mistura das areias descartadas de fundição com outros tipos de resíduos geralmente com maior potencial contaminante, criando assim uma situação de risco às fundidoras, que via de regra são responsabilizadas por todo o dano ambiental que venha a ser causado; a falta de conhecimento do real impacto ambiental das areias (isoladamente) gera esse tipo de inconveniente, além do que os aterros ocupam áreas que poderiam estar sendo mais bem empregadas (ABIFA, 2008i). 8. Os processos de reciclagem em fundição A reciclagem pode ser definida, em linhas gerais, como o conjunto de operações pelo qual o produto final é submetido a fim de proporcionar sua aplicação num processo produtivo novamente como matéria-prima; podendo ainda, em se tratando de areias de fundição, ser classificada em processos de reciclagem interna - a recuperação e a regeneração - e como processo de reciclagem externa - a reutilização desse excedente em aplicação fora do processo produtivo original. 8.1 Recuperação A recuperação (também conhecida em fundição como recirculação) consiste em trazer de volta ao processo produtivo original as areias já utilizadas no vazamento de peças onde, de acordo com a Comissão do Meio Ambiente da ABIFA (1999), após feita a desmoldagem e retirados os resíduos metálicos e os torrões de areia, a mesma é esfriada e, devido à presença de uma parcela de materiais alterados pelo contato direto com o metal fundido, torna-se necessário retirar uma porcentagem dessa areia usada (porcentagem essa que varia de acordo com as características necessárias à areia no processo inicial) acrescentando areia nova à mistura na mesma proporção da areia usada que foi retirada, a fim de manter a qualidade dos machos e moldes produzidos. 8.2 Regeneração A regeneração, conforme definição da Comissão do Meio Ambiente da ABIFA (1999) é o processo ao qual as areias descartadas de fundição são submetidas a fim de proporcionar a limpeza da superfície dos grãos da areia-base, removendo os materiais aderidos, com o propósito de devolver a eles características mais próximas possíveis às das areias novas, de forma a permitir novamente sua introdução como matéria-prima no processo de fundição. Os principais processos de regeneração estão atrelados à utilização de tratamentos mecânico, térmico, úmido e químico, de forma individual ou combinada (COMISSÃO DE MEIO AMBIENTE DA ABIFA, 1999; MARIOTTO, 2000). 8.3 Reutilização A definição adotada pelo presente trabalho, considerada mais abrangente, é a fornecida pela ABIFA (2008i, p.1) em que: A reutilização consiste no uso repetido de um produto ou substância em um determinado processo produtivo na sua forma original, isto é, sem processamento, exceto por processo de limpeza ou classificação. Dentro deste conceito a reutilização de ADF pode acontecer em atividades tais como: fabricação de concreto, construção civil em geral, material para construção, cobertura de aterros e na preparação de solos especiais. 9/14

Via de regra, torna-se necessário que as fundidoras garantam a constância da qualidade das ADF fornecidas à reciclagem externa, mantendo dentro de determinados limites as características exigidas especificamente para cada tipo de aplicação. Somente a partir do conhecimento dos reais impactos ambientais das areias de fundição em cada fase do seu ciclo de vida é que se poderá determinar com maior exatidão as melhores opções para a destinação desses materiais. Atenção especial deve ser dada aos métodos de reutilização, pois o domínio do conhecimento acerca dos impactos ambientais potenciais acarretará em maior precisão na determinação das possíveis aplicações para as ADF, podendo aumentar dessa forma a gama de opções. O país mais desenvolvido no campo da reutilização é, sem dúvida, os EUA. De acordo com Silva (2007), no Brasil a classificação dos resíduos divide-se em perigosos, não-inertes e inertes, ao passo que a legislação norte americana apenas classifica-os em perigosos e nãoperigosos, permitindo a aplicação em processos e atividades tais como: fabricação de artefatos de concreto, tijolos e telhas cerâmicas; em pavimentação asfáltica; na fabricação de cimento; em obras de terraplanagem; como cobertura final de aterros ou nas camadas internas como material drenante, e nos processos de compostagem. Segundo Gibbs (2007) nos EUA os estudos em reutilização continuam crescendo e a atual tendência de interesse aponta para as aplicações no solo, mais especificamente referindo-se ao desenvolvimento de solos especiais e plantação em vasos. 9. Interações entre as soluções: descrição e comentários Tomando como base o estudo feito pela Comissão de meio Ambiente da ABIFA (1999), associadas às soluções propostas no capítulo 7 deste trabalho, podemos quantificar em cinco as diferentes alternativas de manejo dos excedentes de areia de fundição, detalhados a seguir e apresentados na Figura 4 através de um fluxograma das interações entre as soluções. a. Total disposição dos excedentes de areias em aterros/depósitos exclusivos: a tendência atual é que, após a desmoldagem seja dado o devido processamento às areias, transformando-as em matéria-prima para futura reutilização destinando-se toda a areia à depósitos exclusivos; a disposição dessas areias em aterros comerciais é uma prática que se busca evitar, conforme já comentado no capítulo 7 (item 6) deste trabalho; b. Total direcionamento dos excedentes de areias de fundição à reutilização externa: após desmoldar, destorroar e livrar as areias dos resíduos de metal remanescentes da vazagem e outros resíduos de processo destina-se toda essa areia à reutilização externa, ou seja, é dada à areia um tratamento que muda sua condição de resíduo para a condição de matéria-prima para outra aplicação fora da indústria de fundição, podendo até gerar receitas através de sua venda ao usuário externo (evita a geração de passivos ambientais, mas não impede a contínua extração da natureza dos componentes para fabrico de areia nova para continuar abastecendo o processo produtivo); c. Recuperação dos excedentes de areias de fundição com disposição de uma parcela em aterros/depósitos exclusivos: após a desmoldagem destina-se parte dessa areia à disposição em aterros/depósitos exclusivos (o percentual de areia retirado depende das condições em que a mesma se encontra e para isso são realizados testes de avaliação das suas propriedades, ou seja, busca-se otimizar ao máximo a sua utilização, retirando apenas o necessário para a manutenção das propriedades do todo com o acréscimo de areia nova). O restante desse material passa por um processo de recuperação onde se eliminam os torrões de areia e são retirados os resíduos de metal remanescentes da vazagem e também outros resíduos de processo e são adicionados a essa mistura areia 10/14

novas (em proporção igual à da areia que foi descartada) e componentes que se fizerem necessários para a correção das propriedades dessa areia para ser novamente utilizada no processo produtivo (esta alternativa é a mais utilizada pela indústria, o processo de recuperação gera economia em relação à alternativa a no sentido de reutilizar-se internamente os materiais componentes da areia, reduzindo sua extração da natureza e reduzindo também a quantidade das areias disposta em aterros/depósitos exclusivos, mas mantém a situação atual da formação de passivos ambientais); d. Recuperação dos excedentes de areias de fundição com regeneração de uma parcela e descarte do material remanescente em aterros/depósitos exclusivos: à esta opção de manejo acrescenta-se como vantagem em relação à alternativa c a obtenção, através do processo de regeneração, de areias com características muito semelhantes às areias novas (extraídas da natureza), possibilitando seu retorno ao processo original como matéria-prima poupando assim a natureza de novas extrações, e também pode-se apontar como vantagem o fato de se reduzir mais efetivamente a quantidade disposta dessas areias de fundição em aterros/depósitos exclusivos, mas ainda não erradicando totalmente o problema da geração de passivos ambientais; e. Recuperação dos excedentes de areia de fundição com regeneração de uma parcela e direcionamento do material remanescente à reutilização externa: à esta última opção acrescenta-se como vantagem em relação à alternativa d a eliminação total da disposição desses materiais em aterros. Se for adotado o processo de regeneração térmica obter-se-á um material residual calcinado, ampliando ainda mais as possibilidades de reutilização externa. O material proveniente da regeneração por atrição pode trazer consigo resíduos considerados nãoinertes (agregados à superfície de cada grão), restringindo portando suas aplicações; além do fato de que pode ser necessário um pré-tratamento desse material, se assim for exigido pelo cliente que receberá esse material. c d e a b c d e d e b e a c d Figura 4 Fluxograma das interações entre as soluções Fonte: Autores *As letras a, b, c, d, e no fluxograma indicam as interações citadas neste tópico. 10. Considerações finais 11/14

O gerenciamento adequado dos grandes volumes de ADF gerados é atualmente o maior desafio para os órgãos ambientais e para as empresas que possuem fundição em seus processos produtivos. O maior rigor das exigências ambientais e os altos custos para a disposição desses materiais em aterros estão incentivando novas pesquisas e apontando dessa forma os processos de reciclagem como o caminho para o fomento à sustentabilidade do setor de fundição no Brasil. O fato de ainda não haver regulamentação específica para fundição torna a ABNT/CB- 59 fator crucial para o aumento da competitividade desse setor produtivo pelo aproveitamento do potencial econômico das ADF. Sob a ótica puramente ambiental os procedimentos mais indicados são a reutilização das ADF que já estão dispostas em aterros (efetivamente reduzindo passivos) e a não geração de novos passivos ambientais pelas indústrias através da interação entre os processos de reciclagem: recuperação regeneração reutilização (alternativa e do tópico 9). Mas faz-se necessária a análise pelas empresas do melhor custo-benefício para avaliar quais interações entre as soluções propostas são mais viáveis para a realidade da região em que estão localizadas (considerando fatores como a proximidade de compradores desse material para reutilização; se há escassez de recursos naturais nas proximidades assim podendo favorecer os processos de regeneração; ou até mesmo a implementação de um empreendimento conjunto entre empresas próximas para reciclagem de suas ADF; entre outros). A exemplo dos EUA, o Brasil possui grande potencial para desenvolver também um programa de reuso de resíduos de fundição, valorizando as características e possibilidades de cada região. O desafio para se alcançar uma sustentabilidade consistente reside em harmonizar suas três dimensões, pois a atuação em uma traz reflexos às outras, complementando-se, e essa integração proporciona condição estratégica para simultaneamente potencializar os ganhos econômicos e favorecer a preservação do meio ambiente, atrelados à responsabilidade social. Na dimensão ambiental, o caminho para se alcançar a sustentabilidade deve ser trilhado no sentido de minimizarem-se os descartes de areias de fundição em aterros, diminuindo assim a formação e acúmulo de passivos ambientais, além da redução na extração da natureza dos componentes para fabrico de areia nova, ambas por meio da integração dos processos de reciclagem interna e externa apresentados. No âmbito econômico, com a utilização racional de todo o potencial que as ADF podem oferecer (a serem regularizados pela ABNT/CB-59), tanto em aplicações dentro quanto fora da indústria de fundição, trazendo benefícios à produção e dessa forma podendo também contribuir para o aumento da riqueza social. E na dimensão social, com a geração de empregos devida à implementação de novos procedimentos no trato das ADF, beneficiando não só os trabalhadores envolvidos, mas toda a região na qual o empreendimento está estabelecido devido ao aumento da arrecadação de impostos que retorna em forma de benefícios e conseqüente melhoria da qualidade de vida para toda a comunidade local. Referências Bibliográficas ABIFA - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FUNDIÇÃO. VI Seminário de Fundição. São Paulo: ABIFA, 2006.. ABNT/CB-59 Comitê Brasileiro de Fundição. Revista Fundição & Matériasprimas, 99ºed., São Paulo, agosto, 2008a. 12/14

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