O jornal do Brasil. RIO DE JANEIRO Quinta-feira 22 de março de 2018 FUNDADO EM 9 DE ABRIL DE 1891 SUPREMA DECADÊNCIA É HOJE

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Transcrição:

O jornal do Brasil RIO DE JANEIRO Quinta-feira 22 de março de 2018 FUNDADO EM 9 DE ABRIL DE 1891 Ano 127 nº 26 www.jb.com.br R$ 5,00 Reprodução/TV Justiça SUPREMA DECADÊNCIA Você é uma pessoa horrível, uma mistura do mal com atraso e pitadas de psicopatia Luís Roberto Barroso para Gilmar Mendes Reprodução/TV Justiça É HOJE Lula: solto ou preso Sob forte pressão de seus colegas, a presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, marcou para hoje o julgamento do habeas corpus preventivo do ex- -presidente Lula, que pode livrá-lo da cadeia mesmo se perder o recurso no TRF-4, na próxima segunda-feira. Apesar de Lula dizer que não teme ser preso, é enorme a expectativa no PT. Cármen explicou que tomou a decisão de agir com urgência diante da proximidade da Semana Santa. Na verdade, ela cedeu diante da ameaça feita pelo ministro Marco Aurélio de levar a plenário uma questão de ordem, pedindo celeridade no debate sobre a prisão de condenados em segunda instância. Mesmo depois do recuo da presidente, Marco Aurélio afirmou que é preciso resolver, de uma vez por todas, o descompasso de gradação dentro do Supremo. A sessão de ontem no STF também foi marcada por novo bate-boca violento entre Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso, que se tornaram desafetos declarados. Pág.3 PROTESTO CONTRA O PRECONCEITO Marcos Tristão BC corta juros, mas consumidor paga mais Um grupo de defensores dos direitos de pessoas especiais fez um protesto, ontem, Dia Mundial da Síndrome de Down, no Tribunal de Justiça do Rio, contra a desembargadora Marília Vieira, que ridicularizou uma professora pelas redes sociais. Pág. 7 Facebook promete mudanças após crise Após ter se mantido em silêncio, o diretor-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, admitiu culpa no caso do roubo de informações de usuários da Artes visuais em alta no Paço Imperial rede social pela consultoria Cambridge Analytica, que em vídeo divulgado no Reino Unido disse que poderia atuar no Brasil. Se não conseguimos Primeiro bloco de exposições do ano ocupa prédio histórico na Praça XV com 500 obras de sete artistas cariocas, como a de Suzana Queiroga (foto). Págs. 1 e 2 proteger seus dados, não merecemos servi-lo, afirmou o empresário, que prometeu reforçar a proteção à privacidade na rede. Pág. 13 Em decisão unânime, o Banco Central baixou ontem a taxa Selic para 6,50%. Foi a 12ª queda seguida no governo Temer, acumulando baixa de 54,4%, desde novembro de 2016. O BC sinalizou com nova queda em maio, o que pode reduzir o piso dos juros a 6,25%, o menor da história. No mesmo período, porém, o ritmo de queda das principais linhas de crédito bancário para o consumidor foi bem mais lento, com reduções entre 15,65% e 26,96%. O rotativo do cartão de crédito teve queda de 48,27%, com a mudança de regras pelo BC, que encaminhou o consumidor para crédito com juros ainda acima de 100% ao ano. Pág. 11 Brasil ganha tempo para negociar tarifas As novas tarifas dos EUA para o aço (25%) e alumínio (10%) não serão aplicadas ao Brasil enquanto as negociações entre os dois países não forem concluídas. A informação foi transmitida ontem ao presidente Temer. Pág.12 Rio não tem o que comemorar no Dia Mundial da Água O coordenador do Laboratório de Hidrologia da UFRJ, Paulo Canedo, diz que nossos rios estão poluídos, 1,8 milhão de pessoas não têm água encanada na Região Metropolitana e desperdício chega a 16 mil litros por segundo. Pág. 5 Informe JB A rodovia Amaral Peixoto é a estrela de privatizações de estradas estaduais que o governo anuncia mês que vem e pode levantar até R$ 14 bilhões Pág. 6 Tereza Cruvinel Cármen Lúcia pode ter obtido uma passageira redução na tensão, mas não conseguirá a pacificação do Supremo. O clima é de faca na bota. Pág. 2 Renato M. Prado Vale a pena o Flamengo renovar o milionário contrato do centroavante peruano Paolo Guerrero, que termina no dia 10 de agosto? Pág. 15 Botafogo vence Vasco e está na final da Taça Rio Pág.16

2 Conheça nosso site www.jb.com.br Política Quinta-feira, 22 de março de 2018 Marcelo Camargo/Agência Brasil COISAS DA POLÍTICA Tereza Cruvinel tereza.cruvinel@jb.com.br O jogo de Cármen Num jogo bem calculado, a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, marcou para hoje o julgamento do habeas corpus preventivo pedido pelo ex-presidente Lula. Exime-se da responsabilidade pelo destino dele, entregando-a ao plenário, mas sem permitir o exame da matéria que daria as bases para a concessão do habeas corpus: a revisão da autorização de prisões após condenação em segunda instância. Por isso até no PT os prognósticos são pessimistas. Cármem pode ter obtido uma passageira redução na tensão mas não conseguirá a pacificação da corte. O clima ali é de faca na bota, como se viu pelo arranca-rabo de ontem entre os ministros Gilmar e Barroso, por outras razões. Em relação ao tema segunda instância, o que divide o Supremo, Cármen manteve fora de pauta. O que uma parte do ministros cobra é a deliberação sobre duas ADCs, ações que questionam a constitucionalidade da autorização de prisão após condenação em segunda instância, aprovada em 2016. A falta de consenso sobre a matéria, no dizer do ministro Marco Aurélio Mello, vem conferindo sabor lotérico às decisões individuais sobre habeas corpus. Variam conforme a posição do relator. Mas como a tese não será examinada, a não ser que alguns ministros resolvam confrontar a presidente e forçar o exame das duas questões conexas, a rejeição ao pedido de Lula é mais provável. O julgamento do habeas corpus preventivo, desacompanhado de uma decisão sobre a constitucionalidade da prisão em segunda instância, não é promissor. Mas nós esperamos que, no debate, o plenário consiga enfrentar as duas questões, diz o deputado Nelson Pellegrino (PT-BA). É sabido que Cármen seria derrotada por 6 a 5 se colocasse em votação as duas ADCs, liberadas ainda em dezembro pelo relator, ministro Marco Aurélio. Uma nova maioria formou-se, depois da decisão de 2016, reunindo seis votos a favor de sua revisão: Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Marco Aurélio, Celso de Mello, Ricardo Lewandowski e Rosa Weber. Mas quando se trata da concessão de habeas corpus individuais, o quadro muda. Rosa Weber tem negado todos os que lhe caem nas mãos, alegando que hoje existe uma jurisprudência (a regra de 2016), que se sente obrigada a seguir enquanto ela vigir. Assim, Lula é que pode perder de 6 a 5. Votariam a favor dele cinco dos seis ministros que defendem a restauração do principio da presunção da inocência, ou da não-culpabilidade, fixada pela Constituição no artigo 5º, inciso LVII: Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Mas Rosa votaria contra. Como o TRF-4 pode concluir na segunda- -feira o exame dos recursos de Lula contra a condenação, a negação do habeas corpus, hoje pelo STF, apressaria sua prisão. Outro pedido HC seria apresentado mas o quadro na corte não teria mudado. Pode acabar acontecendo, conforme já especulado, que Lula fique algum tempo preso, sendo liberado quando Cármen permitir que o plenário reexamine e derrube a permissão de prisão em segunda instância, de repercussão geral sobre o sistema de Justiça. MBL, Lava Jato e caçadores de Lula vão chiar do mesmo jeito. Seja qual for o resultado de hoje, o caso está longe de um bom desfecho, como diz o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay: Sem julgar as ADCs, a insegurança jurídica vai persistir. Continuaremos tendo um Supremo lotérico. O cumprimento de pena após condenação em segunda instância continuará dependendo da posição do relator e da turma. O julgamento do HC do ex-presidente Lula é importantíssimo para ele, como seria para qualquer cidadão na expectativa de ser preso, mas o julgamento das ADCs é que atenderia à angústia de todos os jurisdicionados e restabeleceria a segurança jurídica, tão essencial na democracia. A procuradora-geral da República, Raquel Doge, pediu ao STF que juntasse a delação de Lúcio Funaro às investigação de propinas ao MDB Temer pede acesso a atos de Fachin e PGR Presidente quer conhecer os termos da delação do doleiro Funaro Na noite de terça-feira, os advogados de defesa do presidente Michel temer ingressaram no Supremo Tribunal Federal com um pedido de acesso à decisão do ministro Edson Fachin que autorizou a inclusão do depoimento do doleiro Lúcio Funaro no inquérito da Odebrecht, no qual são investigados ministros do governo Temer e o próprio presidente. O depoimento de Funaro foi juntado ao processo a pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge. E Michel Temer foi incluído no inquérito por decisão de Edson Fachin. O inquérito sobre a Odebrecht, aberto em março do ano passado com base em delação premiada de executivos da empreiteira, apura indícios de pagamento de propina à secretaria de Aviação Civil, que, no governo Dilma Rousseff, foi dirigida por Eliseu Padilha e Moreira Franco, hoje, respectivamente, ministro da Casa Civil e ministro da Secretaria Geral da Presidência. Dodge, na semana passada, decidiu arrolar também o presidente A pedido de Raquel Dodge, Michel Temer foi incluído no inquérito sobre propinas da Odebrecht para o MDB Temer, que na época era vice-presidente da República e presidente nacional do MDB. A defesa de Temer argumenta que ele não pode ser indiciado por denúncias relativas ao tempo em que não exercia a Presidência da República. Dizem que essa é a leitura correta do Direito Penal. E, por isso, criticam a decisão de Raquel Dodge. Fachin, porém, não viu impedimento à inclusão de Temer no inquérito. O doleiro Funaro, em seu depoimento, afirma que deu contribuição Alckmin diz que seus dois palanques não prejudicam O governador de São Paulo e pré- -candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, afirmou ontem que o duplo palanque que terá no seu estado, por apoio de dois candidatos ao governo, não deve prejudicá-lo eleitoralmente. O Brasil não tem um quadro bipartidário. Nosso quadro, infelizmente, é pluripartidário. Então você vai ter candidatos da mesma base política no País inteiro disputando um com o outro e para presidente apoiando o mesmo candidato, disse Alckmin, que participou de evento da entrega do bloco 3 do Instituto do Coração (Incor-USP) na capital paulista. Alckmin evitou comentar a troca de farpas entre os dois pré-candidatos que terão seu apoio - o prefeito João Doria (PSDB) e o vice-governador Márcio França (PSB). Nós temos o França, que está assumindo o governo, está preparado, ficou quatro anos conosco, tem boa experiência. O Doria também já tem a experiência do período de prefeito. Vamos caminhar para o futuro, Alckmin deixa o governo apenas no início de abril para se dedicar à sua campanha. No evento de ontem, contudo, ele inaugurou um edifício não mobiliado e que deverá entrar em funcionamento apenas em maio. Não vejo o Incor sem o senhor. Quando vier visitar como presidente da República, o senhor será recebido como o nosso governador, que tanto fez pelo Incor, disse o médico e presidente do Conselho do Incor, Roberto Kalil Filho, um dos que discursaram no evento. Kalil, que também é médico pessoal do presidente Michel Temer e participou da cirurgia no emedebista no fim do ano, preparou uma surpresa para o governador. Acompanhado de uma banda de funcionários do hospital, tocou saxofone em uma apresentação surpresa para Alckmin. Pelo jeito já estão fazendo meu bota fora, mas eu ainda tenho 20 dias, brincou o governador, agradecendo as homenagens. para campanhas eleitorais do MDB. E fala de recomendação expressa do ex- -ministro Geddel Vieira Lima para que retirasse R$ 1 milhão no escritório do advogado José Yunes, amigo íntimo de Temer. Seria parte da doação ilegal da Odebrecht para o MDB. O doleiro teria se referido ainda a um jantar no Palácio do Jaburu para tratar dos valores a serem distribuídos. O novo advogado de Michel Temer, Brian Alves Prado, além de pedir acesso à decisão de Fachin, que incluiu nos autos o relato de Funaro, solicitou também acesso às decisões sigilosas de Raquel Dodge. O advogado Antonio Carlos Mariz, que é amigo de Temer e foi cogitado para ocupar o Ministério da Justiça, considerou-se impedido em acompanhar o caso Odebrecht, pois já atuou como defensor do doleiro Funaro. A assessoria de Temer não faz comentários sobre o processo. E o advogado José Yunes já afirmou que não conhece Funaro e nunca recebeu dele qualquer valor. Odebrecht na agenda de Paulo Vieira O ex-diretor de Infraestrutura da Odebrecht em São Paulo Carlos Armando Paschoal esteve na Dersa em dez ocasiões, entre 2008 e 2010, período em que Paulo Vieira de Souza era diretor de engenharia da estatal, segundo a Agência Estado. Ligado ao PSDB paulista, Vieira de Souza é apontado em delações de ex-executivos da Odebrecht e da OAS e do operador Adir Assad como destinatário de propinas provenientes de contratos de obras viárias em São Paulo. As informações sobre as visitas de Paschoal à Dersa foram anexadas pela própria defesa de Vieira de Souza e citadas por ele em depoimento no inquérito no STF que investiga o suposto repasse de propina para a campanha do atual ministro de Ciência, Tecnologia e Comunicações, Gilberto Kassab, à prefeitura de São Paulo em 2008. Os repasses, segundo o delator, teriam ligação com obras viárias, entre elas o túnel Roberto Marinho.

Política Quinta-feira, 22 de março de 2018 Conheça nosso site www.jb.com.br 3 Fotos de Carlos Moura/STF O ministro Marco Aurélio ameaçou submeter ao debate do plenário uma questão de ordem. Sob forte pressão de seus colegas, a ministra Cármen Lúcia cedeu e marcou o julgamento O dia e a hora de Lula Cármen Lúcia cede e STF julga o habeas corpus preventivo que pode livrar ex-presidente da prisão KÁTIA GUIMARÃES katia.guimaraes@jb.com.br Depois de vários dias de tensão e desencontro no Supremo Tribunal Federal, a ministra Cármen Lúcia, presidente da Corte, marcou para hoje o julgamento do habeas corpus preventivo do ex-presidente Lula. Segundo ela, a inclusão na pauta do HC relatado pelo ministro Edson Fachin, que negou o pedido de liminar e liberou para análise do plenário, deve-se à urgência, pois, em função do feriado da Páscoa na semana que vem, não haveria outra data. Antes de iniciar o pregão dos casos dessa tarde, comunico aos senhores ministros e advogados presentes que, tendo sido liberada anteontem decisão em habeas corpus, de relatoria do ministro Fachin, de número 157727, e pela urgência será apregoado na data de amanhã, por não haver possibilidade de pauta anterior, até porque o prazo é curto e na semana que vem teremos a Semana Santa, afirmou Cármen. Com isso, o STF adiou o julgamento do auxílio moradia para magistrados. A decisão da presidente do STF foi anunciada logo na abertura da sessão do plená- rio de ontem, após a ministra afirmar, em repetidas entrevistas, que não via motivos para a revisão do julgamento que, em 2016, decidiu que a execução da prisão dos condenados em segunda instância não feria a presunção de inocência. O estopim da crise interna entre os ministros e a presidente do STF foi o desgaste provocado pela reunião que deveria discutir o assunto, mas que acabou não ocorrendo. Por sugestão do ministro Celso de Mello, Cármen Lúcia ficou de convocar os demais ministros, o que ela não fez. Segundo Celso, a intenção seria evitar um constrangimento público da ministra diante da apresentação de uma questão de ordem no plenário. Os ministros também se incomodaram com o fato de a presidente do STF ter concedido entrevistas, tratando do tema em público sem discutir com seus pares, que se mostravam dispostos a pôr fim à crise. Mesmo depois de ceder à pressão dos colegas, Cármen Lúcia passou por uma saia justa durante a sessão do STF. O ministro Marco Aurélio Mello estava decidido a fazer a questão de ordem, mas, com o julgamento marcado, abriu mão da iniciativa. Ele, no entanto, fez questão de pedir a Quero deixar dito que precisamos resolver vez por todas o descompasso de gradação que está havendo no Supremo MARCO AURÉLIO palavra para cobrar a análise das ações de constitucionalidade que tratam da segunda instância. Marco Aurelio referiu-se às ADCs 43 e 44, liberadas por ele para julgamento desde o ano passado, que pedem que seja reconhecida a legitimidade constitucional do Código de Processo Penal (CPP), que condiciona o início do cumprimento da pena ao trânsito em julgado. Segundo o ministro, tarda e urge a apreciação desses processos. Eu faço um apelo para que liquidemos e afastemos esse impasse que só gera insegurança jurídica, afirmou, lem- Barroso vê psicopatia em Gilmar Fotos de Nelson Jr./SCO/STF Os ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso protagonizaram um intenso bate-boca no plenário do Supremo Tribunal Federal na sessão de ontem, que deveria votar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade sobre doações ocultas de campanha eleitoral. No meio de seu voto, o ministro Gilmar Mendes - que já havia criticado o que considerou uma protelação da ministra Cármen Lúcia em relação à tramitação do pedido de habeas corpus do ex-presidente Lula - recomeçou a repreender atitudes de ministros da Corte. Mencionou a votação em que a Primeira Turma do STF decidiu que não é crime a interrupção da gravidez até o terceiro mês de gestação, num caso que teve a relatoria de Barroso. Ah, agora vou dar uma de esperto e vou conseguir a decisão do aborto. De preferência na turma com três ministros, aí fazemos um dois a um, ironizou Gilmar, provocando os colegas. Barroso, então, interrompeu Gilmar e afirmou que o ministro é uma pessoa horrível. Eis sua réplica: Me deixe de fora desse seu mau sentimento. Você é uma pessoa horrível. Isso não tem nada a ver o que está sendo Gilmar criticou colegas por votar pelo aborto Barroso disse que ele é uma pessoa horrível julgado, disse. Desafeto declarado de Gilmar Mendes, o ministro Luís Roberto Cardoso continuou: A vida para vossa excelência é ofender as pessoas. Vossa excelência é uma desonra para todos nós. Vossa excelência desmoraliza o tribunal. Já ofendeu a presidente (Cármen Lúcia), ofendeu o ministro Fux, e agora me ofende. O senhor é a mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia, afirmou Barroso. A presidente Cármen Lúcia anunciou a suspensão da sessão em meio ao bate-boca e Gilmar pediu para continuar seu voto. Cármen repetiu que a sessão estava suspensa e Gilmar Mendes ainda rebateu, referindo-se a Barroso: O senhor deveria fechar seu escritório de advocacia! brando que a concessão de habeas corpus nesses casos depende apenas do ministro sorteado para relatar. Quero deixar dito que precisamos resolver vez por todas o descompasso de gradação que está havendo no Supremo, que o desgasta como instituição, disse. O ministro não deixou passar a chance de provocar Cármen Lúcia, que havia afirmado que rediscutir o tema apequenaria o STF. Como podemos resolver vez por todas essa questão sem se cogitar apequenar o Supremo? Podemos fazê-lo designando dia para julgamento final. Seja qual for a conclusão da maioria, ressaltou. Como o Tribunal Regional Federal da 4ª Região marcou para segunda-feira o julgamento do embargo de declaração de Lula, que deve ser negado, o temor no PT é que ele seja preso em seguida, Confirmada a condenação, a ata da sessão é publicada e a prisão pode ser decretada. O julgamento de hoje fará o STF rediscutir a prisão em segunda instância e o resultado pode revelar mudanças de votos. Sabe-se que os ministros estão divididos. No julgamento ocorrido em 2016, o STF permitiu a prisão em segunda instância por 6 votos a 5. Lula afirma que não teme ser preso Em caravana pelo Rio Grande do Sul, o ex-presidente Lula, disse ontem que não está com medo de ser preso. O Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) marcou o julgamento do embargo de declaração do petista para segunda-feira, às 13h30. Se mantida sua condenação, Lula pode ir para a cadeia. Não tenho medo de ser preso, disse Lula, em entrevista à rádio Imembuí, de Santa Maria (RS). Acho que as pessoas que me condenaram estão mais intranquilas do que eu. Eu tenho a tranquilidade de um inocente e eles não têm essa tranquilidade e sabem que fizeram uma barbárie jurídica, afirmou. O ex-presidente voltou a dizer que, se for preso, será o primeiro preso político do século XXI no Brasil. Mais tarde, em passagem por São Vicente, Lula reagiu aos protestos que enfrenta no Estado e negou que sua caravana tenha caráter eleitoral. Eu fico me perguntando por que esse ódio? Vocês acham que nós vamos fazer uma caravana eleitoral?, perguntou.

4 Conheça nosso site www.jb.com.br Nacional Quinta-feira, 22 de março de 2018 Enem terá mais meia hora de duração Agência Brasil Testes mantêm a estrutura. E a isenção de taxa deve ser pedida de 2 a 11 de abril Os candidatos que participarão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) este ano terão 30 minutos a mais para fazer a prova do segundo dia, que reúne conteúdos de Ciências da Natureza e Matemática. Segundo o edital da prova, publicado ontem no Diário Oficial da União, os estudantes terão cinco horas para fazer a prova no segundo dia e cinco horas e meia no primeiro dia. Assim como em 2017, as provas do Enem serão realizadas em dois domingos seguidos: nos dias 4 e 11 de novembro. A estrutura da prova também não mudou: no primeiro dia serão aplicadas as provas de Redação, Linguagens e Ciências Humanas, com duração de cinco horas e meia, e no segundo dia, as provas de Ciências da Natureza e Matemática, com cinco horas de duração. As inscrições deverão ser feitas das 10 horas do dia 7 de maio às 23h59 de 18 de maio deste ano. A taxa de inscrição foi mantida em R$ 82. O pagamento deve ser feito entre os dias 7 e 23 de maio. A solicitação de isenção da taxa de inscrição deve ser paga entre os dias 2 e 11 de abril. Serão isentos os estudantes que estejam cursando a última série do ensino médio neste ano em escola da rede pública, ou que tenham cursado todo o ensino médio em escola da rede pública ou como bolsista integral na rede privada e que tenham renda per capita igual ou inferior a um salário mínimo e meio. Também tem isenção o participante que declarar estar em situação de vulnerabilidade socioeconômica, por ser membro de família de baixa renda e que esteja inscrito no Cadastro Único para Programas Sociais do governo federal. Neste ano, também são isentos os participantes do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) do ano passado. Os participantes isentos da taxa de inscrição que não compareceram nos dias de prova no Enem do ano passado terão que justificar a ausência por meio de atestado médico, documento judicial ou boletim de ocorrência No Enem do ano passado, 3,5 mil estudantes tiveram que refazer as provas em outra data por problemas nos locais de exame Os alunos também deverão permitir que artigos religiosos, como burca e quipá, sejam revistados pelo aplicador das provas para fazer o Enem 2018 sem pagar a taxa. O prazo para justificar a ausência no Enem do ano passado vai de 2 a 11 de abril. O participante que não apresentar justificativa de ausência no Enem 2017 ou tiver a justificativa reprovada após o recurso e desejar se inscrever no Enem 2018 deverá pagar o valor da taxa de inscrição. O edital do Enem continua prevendo a realização de revista eletrônica nos locais de prova, por meio do uso de detectores de metais. A novidade deste ano é que os alunos também deverão permitir que os artigos religiosos, como burca e quipá, sejam revistados pelo aplicador das provas. Quem não permitir a revista poderá ser eliminado. Segundo o edital, o participante afetado por problemas logísticos durante a aplicação poderá solicitar reaplicação do exame em até cinco dias úteis após o último dia de aplicação. Os casos serão julgados individualmente pela Comissão de Demandas. No ano passado, cerca de 3,5 mil estudantes tiveram que refazer as provas em outra data por problemas como falta de energia nos locais do exame. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) retirou do edital o item que determinava que a redação que desrespeitasse os direitos humanos teria nota zero. No ano passado, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) determinou a suspensão da regra. (Agência Brasil) MP prende ladrões de oleoduto da Transpetro O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro realizou ontem operação para desmontar uma quadrilha acusada de furtar petróleo e derivados de dutos da Transpetro. A Operação Bandeirantes, organizada pelo Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado e pela Coordenadoria de Segurança e Inteligência, teve como objetivo cumprir sete mandados de prisão e dez de busca e apreensão contra os acusados de furtar combustíveis. Dois policiais militares tiveram a prisão decretada: Ernani Monte de Lima, lotado no 26º Batalhão de Polícia Militar, de Petrópolis, região serrana do Rio, e José da Silva de Lima, do 16º Batalhão, de Olaria, na zona norte da capital. Também estão envolvidos no esquema três ex- -funcionários de empresas terceirizadas que prestaram serviço para a petroleira. Todos foram denunciados pelo crime de organização criminosa e tiveram a prisão preventiva concedida pela 1ª Vara Criminal da Comarca de Duque de Caxias, município onde a organização criminosa se formou e se estruturou, segundo o MPRJ. De acordo com a denúncia, para o furto de combustíveis, a quadrilha arrendou um terreno em Barbacena, na Zona da Mata mineira, por onde passa o duto da Transpetro do qual planejavam desviar petróleo e derivados para vender ilegalmente a refinarias clandestinas. A quadrilha, no entanto, foi flagrada em março do ano passado, quando se preparava para retirar o material dos dutos. O furto seria feito através do processo conhecido como trepanação, com a instalação de uma válvula para desviar o óleo. Os acusados foram presos na ocasião, mas aguardavam o julgamento em liberdade, depois de serem acusados pela justiça mineira apenas por tentativa de furto qualificado. Durante a apuração do crime, o MPRJ encontrou provas de que, para alugar o terreno por um ano, a quadrilha falsificou documentos e a assinatura de uma pessoa idosa, além do selo do 18º Registro de Notas da capital. A intenção era forjar a legalidade do aluguel do terreno em Barbacena. Na operação, os agentes tiveram apoio do Ministério Público de Minas Gerais. Arcebispo de Uberaba assume Diocese de Formosa O arcebispo de Uberaba, dom Paulo Mendes Peixoto, foi nomeado pelo Papa Francisco o novo administrador apostólico da Diocese de Formosa, no lugar do bispo dom José Ronaldo, preso na última segunda-feira, na Operação Caifás, sob suspeita de articular um esquema na Igreja Católica que teria desviado R$ 2 milhões do dízimo dos fiéis. Nota da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Regional Centro-Oeste, destaca que a Nunciatura Apostólica no Brasil comunicou na manhã de ontem a nomeação feita pelo Papa. Dom Paulo Mendes Peixoto, natural de Imbé (MG), foi ordenado bispo em 25 de fevereiro de 2006, para a Diocese de São José do Rio Preto (SP). Tornou- -se o bispo responsável pela Rede Vida de Televisão e bispo referencial para a Animação Bíblico-Catequética do Regional Sul 1 da CNBB. No dia 7 de março de 2012 foi nomeado pelo Papa Bento XVI arcebispo da Arquidiocese de Uberaba. Tomou posse no dia 1º de maio de 2012. Ele vai ocupar a cadeira de dom José Ronaldo, alvo maior da Operação Caifás, missão conjunta do Ministério Público de Goiás e da Polícia Civil. Na segunda-feira, 21, além do bispo, a força-tarefa de promotores e policiais prendeu quatro padres, o vigário-geral e o monsenhor Epitácio Cardoso. No fundo falso de um armário no quarto do monsenhor, os agentes encontraram R$ 70 mil e dólares em dinheiro vivo e mais uma caixa recheada de cédulas e moedas. O Ministério Público começou a investigar o esquema de desvios na Diocese de Formosa em dezembro, a partir de denúncias de fiéis que exigiam transparência na prestação de contas da Igreja A investigação mostra que, além do dízimo e das doações, o grupo de religiosos teria desviado dinheiro arrecadado em eventos festivos da Igreja. A reportagem da Agência Brasil fez contato com a Diocese de Formosa, mas ainda não obteve resposta. Seus responsáveis ainda não se pronunciaram sobre as denúncias do Ministério Público. Antes da nomeação de dom Paulo Mendes pelo papa, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil informou apenas que está apurando mais detalhes da Operação Caifás. Apagão no Norte e no Nordeste Treze Estados das regiões Norte e Nordeste tiveram queda de energia ontem à tarde. Interrupções no fornecimento de energia foram registradas em diversas localidades das duas regiões. Nas redes sociais, moradores de estados como Rio Grande do Norte, Bahia, Pernambuco e Sergipe relataram falhas em vários municípios. Na região Norte, a queda de energia atingiu os estados do Tocantins, Amazonas, Pará e Amapá. A Energisa, concessionária que atende diversos estados, emitiu comunicado oficial informando que um problema técnico na Usina de Belo Monte (Pará)] interrompeu o fornecimento de energia para o Norte, Nordeste e parte do Sudoeste. Segundo a nota, o Operador Nacional do Sistema (ONS) disse que não havia previsão de restabelecimento. O ONS informou à Agência Brasil que ainda está apurando a extensão e as causas do problema. A Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) disse que também estava investigando a origem da falta de energia.

Quinta-feira, 22 de março de 2018 Política Conheça nosso site www.jb.com.br 5 ENTREVISTA/PAULO CANEDO Quase dois milhões sem água Chefe do Laboratório de Hidrologia da UFRJ fala do desafio de universalizar abastecimento no Rio No Dia Mundial da Água, celebrado hoje, há pouco o que se comemorar no Estado do Rio de Janeiro. Os rios da Região Metropolitana estão poluídos, 15% dessa população não têm água encanada percentual alto, levando-se em conta que a energia elétrica atinge no Sudeste 99,7% das casas e o desperdício chega a 16 mil litros de água tratada por segundo, capazes de encher uma piscina olímpica em menos de três minutos. Em entrevista ao Jornal do Brasil, o professor Paulo Canedo, coordenador do Laboratório de Hidrologia da Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, fala dos desafios que temos pela frente. Marcos Tristão Hoje, uma fatia de 15% da população da Região Metropolitana do Rio não recebe água potável em casa. Isso não é pouca coisa Só para completarmos o encanamento para toda a área da Região Metropolitana, o investimento necessário é de R$ 6 bilhões O Brasil tem 12% da água bruta do mundo. Todo o país é muito bem servido, com exceção do semiárido brasileiro. Com o Estado do Rio não é diferente MARIA LUISA DE MELO malu@jb.com.br Com a abundância de rios no país, por que ainda temos tantas casas sofrendo com falta de água em vários estados, incluindo o Rio de Janeiro? O Brasil tem 12% da água bruta do mundo. Todo o país é muito bem servido de água, com exceção do semiárido brasileiro. Com o Estado do Rio de Janeiro, não é diferente. Mas a assistência de água potável deixa muito a desejar. Hoje, só 85% dos lares brasileiros estão conectados à rede de água potável. E eu digo só. Parece muito, mas é pouco. Devia ser acima de 95%. As pessoas têm acesso à água bruta, para o lazer, mas não para beber. E isso precisa ser mudado. Se temos mais de 95% dos lares brasileiros com acesso à energia elétrica, por que não temos o mesmo percentual com acesso à água potável? O que é mais importante, a energia elétrica ou a água? Luz elétrica é menos importante do que a água. E o atendimento pela rede de energia elétrica no Sudeste atinge 99,7%. Apesar de termos uma grande oferta de água bruta, não temos uma assistência de água potável para a população. Quem são os mais afetados com essa distribuição de água potável? Sem dúvida, os que vivem na periferia dos grandes centros urbanos e nas áreas rurais. Qual é o uso de maior demanda de água do Rio? O Rio de Janeiro não tem potenciais agrícolas nem grandes produções de energia. A maior demanda de água do Rio de Janeiro é pelo consumo doméstico, o que corresponde a cerca de 15% da produção de água do estado. Todo o Grande Rio bebe água oriunda do Rio Paraíba do Sul. Isso poderia ser diferente. Poderíamos retirar a água que usamos de um rio mais próximo, já que vivemos num estado que tem muitos rios. Mas, por conta da enorme poluição dos córregos, isso é impossível. Qual a maior consequência da poluição dos nossos rios? A principal é o valor da água. Se buscássemos a água de um rio mais próximo, pagaríamos menos por ela. Nossos rios urbanos estão completamente abandonados e deteriorados. E somos nós mesmos que pagamos o preço por isso. E sobre a qualidade da água que recebemos? O Ministério da Saúde certifica a qualidade da água que recebemos em casa. A água que chega na nossa torneira é de boa qualidade. Já as garrafas de água mineral são certificadas pelo Ministério de Minas e Energia. O grande problema está na água vendida nos galões azuis e vermelhos. Nenhum órgão os fiscaliza. Você pode ter uma água de boa qualidade, como também pode ter uma água de péssima qualidade, porque não existe um órgão responsável por essa fiscalização. Há diversas reclamações sobre a água ter um forte sabor de cloro. Corremos o risco de estarmos nos contaminando ao ingerir a água fornecida no Rio? Repito que a água fornecida no Rio é de boa qualidade. O forte sabor do cloro é uma questão residual. Usado para oxidar matéria orgânica, pode ser inseto, bactéria... Água clorada em excesso pode ser desagradável. Pode até fazer um pouco mal, porque estraga um pouco a sua flora intestinal. Mas não tem nenhum patogênico grave. Nos padrões brasileiros, a água é pra ser clorada. Aliás, é fundamental por conta do armazenamento que se faz dela nas caixas d água. O Brasil é o único lugar do mundo onde existe caixa d água. Como assim? Desde que o Rio de Janeiro era a capital, sua enorme área alagadiça dificultava a distribuição de água. Dificultava a implantação das redes de distribuição. Então, os pequenos rios não eram capazes de atender a todos na hora da maior demanda. Então, surgiu a ideia de cada residência promover o seu armazenamento. Isso passou para outros estados. Mas as caixas d água atraem muitas baratas. Por quê? Qualquer caixa d água terá barata. Pode ser a caixa d água do Vaticano, que vai ter barata. A barata gosta de lugar úmido, quente e escuro. É o melhor lugar pra ela. Aliás, não só por isso as caixas d água não são limpas, embora exista essa exigência. É o tipo de coisa que ninguém fiscaliza. Então, não temos como concluir que a caixa d água brasileira seja limpa. Se você abrir a caixa d água do seu prédio, vai levar um grande susto. Vai ter centenas de baratas. Além do problema das caixas d água, temos um outro que é o fornecimento de água em diversos pontos do estado. Quantas pessoas hoje não recebem água em casa? Hoje, 15% da população da Região Metropolitana do Rio não recebem água potável. E não é pouca coisa, já que essa região tem população de 12 milhões de pessoas. O que falta para universalizarmos a oferta de água potável no Estado do Rio? Só para completarmos o encanamento para toda a área da Região Metropolitana do Rio, o investimento necessário é de R$ 6 bilhões. Esse valor seria só para os canos e mão de obra. Mas, para garantirmos que a água chegue na casa das pessoas, temos que investir também em elevatórias e caixas d água. Além da problemática da falta d água para uma parcela da população, o Rio de Janeiro sofre com desperdício? Sim, o desperdício no Rio é muito grande. Segundo dados oficiais da própria Cedae, o Rio desperdiça 32% da água tratada, cerca de 16 mil litros por segundo. Isso é inaceitável, são muitos vazamentos. Mas com certeza esse percentual é maior. Vira e mexe temos uma tubulação estourada. Nossos canos são muito velhos e não se respeita a vida útil deles, como em outros países. Deixam o cano lá até estragar, em vez de trocá-lo ao fim de sua vida útil e evitar desperdícios. Neste Dia Mundial da Água, qual seria o maior desafio para a questão da água no Rio de Janeiro? No Brasil inteiro, o inimigo número um da população é a poluição hídrica. Nossos rios estão muito poluídos. Se eu fosse administrador público, só me preocuparia com isso. É muito grave. Por quais rios o senhor acha que o poder público deveria começar? Todos. Estão todos muito ruins. Vou começar pelo Rio Carioca porque dá nome à cidade. Todos estão podres. E essa questão caiu num descaso sem fim. No Brasil inteiro, o inimigo número um da população é a poluição hídrica. Nossos rios estão muito poluídos (...) É muito grave

6 Conheça nosso site www.jb.com.br Política Quinta-feira, 22 de março de 2018 INFORME JB Regras para crédito irritam barraqueiros Programa atenderá comerciantes da Praça Miami, na Vila Kennedy Jan Theophilo jan@jb.com.br Privatizações à vista A Rodovia Amaral Peixoto é a estrela de um pacote de privatizações de rodovias estaduais que o governo anuncia mês que vem. Os lotes de concessão foram divididos em três grupos, que englobam diferentes regiões do estado. No grupo 1, o lote Sul Fluminense abrange as rodovias RJ-127, RJ-145 e RJ-155, que se ligam à Via Dutra (BR-116) e à Rodovia do Aço (BR-393). O lote Eixo Centro- -Noroeste é formado pelas RJ-122, RJ-158, RJ-160 e RJ-186, que beneficiam municípios como Cachoeira de Macacu, Itaperuna, Bom Jesus de Itabapoana, entre outros. Já o lote Litoral Norte engloba os 213 km da Amaral Peixoto, fazendo a conexão entre São Gonçalo e Macaé, passando pela Região dos Lagos, com destaque para o trecho entre Rio das Ostras e Macaé, além dos acessos a Armação dos Búzios e Cabo Frio. O grupo dois abrange as Vias Metropolitanas: a RJ-103, Transbaixada, que ainda será construída; a Via Light (RJ-081), com um novo trecho de 7 km; e seis novos quilômetros da Linha Vermelha (RJ-071). O grupo três será formado por uma nova rodovia, a RJ-244, com aproximadamente 45 km de extensão que vai ligar a BR-101 na altura de Campos até o município de São João da Barra, onde fica o Porto do Açu. Um estudo da Firjan estima que o governo poderá levantar com as privatizações recursos da ordem de R$ 14 bilhões, o que seria mais do que suficiente para cobrir o déficit do estado, estimado hoje em cerca de R$ 10 bilhões. Manda quem pode O ex-presidente nacional do PT Ruy Falcão, afirma que não passou de uma posição pessoal do presidente do Rio, Washington Quaquá, a proposta de uma união entre PT, PC do B e PSOL em torno de uma candidatura de Marcelo Freixo ao governo. Por mais que a idéia tenha causado frisson no apartamento da Paula Lavigne, a Executiva Estadual do PT já tomou uma decisão unânime pela candidatura de Celso Amorim. Fogo amigo E o João Doria, heim? Promoveu essa semana um encontro dos bacanas do Lide, no Copacabana Palace, em torno de Rodrigo Maia. Geraldo Alckmin deve ter adorado. Carteira a jato O Detran-RJ fechou parceria com a Infraero para instalar postos do órgãos nos dois aeroportos cariocas. A ideia é colocar, até o fim do ano, uma unidade do Detran de Identificação Civil, para emitir carteiras de identidade para viajantes que precisarem dos documentos com urgência para viajar. Marie Bendelac Ururahy, sócia-diretora da Be Coaching Brasil, fala sobre gestão de conflitos e Comunicação Não-Violenta dia 28, às 16h, LANCE LIVRE Ousadia Lindbergh Farias é mesmo um homem que gosta de correr riscos. Será mesmo candidato do PT à reeleição para o Senado contrariando os amigos que julgavam mais prudente que se candidatasse a deputado federal. Freio de arrumação A Executiva Estadual do PSOL reúne-se neste fim de semana para pôr ordem na bagunça. Os debates vão desde quem abrigará os assessores de Marielle, que ficarão sem emprego, até a sobreposição de candidaturas de mesmo perfil como no caso de Jean Willys e da transexual Indianara Siqueira, candidatos a federal. Miau Um badalado grupo de whatsapp está votando qual parlamentar do PSOL do Rio é...o mais gato. É mais um passo largo na longa estrada rumo à Revolução. Até onde se sabe Flávio Serafini está surpreendendo e ganhando de Marcelo Freixo. Renato Cinco corre por fora como azarão. Já o professor Tarcisio não tem tido muitos votos. na Câmara de Comércio França-Brasil. Denise Fraga e Tuca Andrada apresentam, no Sesc Ginástico, A Visita da Velha Senhora. Com Bernardo de la Peña MARIA LUISA DE MELO malu@jb.com.br Depois da destruição de cerca de 50 quiosques e barracas da Praça Miami, na Vila Kennedy, por agentes da Secretaria de Ordem Pública (Seop), em 9 de março, durante uma ação de ordenamento urbano, o prefeito Marcello Crivella prometeu criar um programa de microcrédito para que os comerciantes dali pudessem reparar as perdas de equipamentos e mercadorias. Passados 12 dias do episódio, a regulamentação do Programa Rio Empreendedor foi publicada no Diário Oficial da Prefeitura do Rio. Ela prevê limite de crédito de R$ 20 mil a R$ 40 mil para pessoas físicas e jurídicas, respectivamente, com juros anuais que somam a taxa Selic (hoje em 6,5%) e um ágio bancário de 3%. Como se trata do primeiro empréstimo dos comerciantes, já registrados como microempreendedores individuais, o máximo de crédito permitido para contratação será de R$ 6 mil o equivalente a 15% do teto de empréstimo que contempla pessoas jurídicas. O crédito será oferecido com recursos públicos, por intermédio do Fundo de Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Fundet), mas a Prefeitura Só para comprar um freezer igual ao meu que foi destruído, vou gastar uns R$ 4 mil. Acho injusto DAIANE MOREIRA abrirá concorrência para determinar o banco que vai operar os empréstimos. Enquanto isso não acontece, o crédito segue sem liberação. Mesmo com a promessa do prefeito de conceder os novos quiosques sem custo para os barraqueiros, o microcrédito da prefeitura desagradou aos comerciantes da Praça Miami que tiveram seus estabelecimentos destruídos e equipamentos quebrados. Para começar a trabalhar como eu trabalhava antes de a Prefeitura destruir meu trailer, vou precisar de um freezer, logo de cara. Só para comprar um freezer igual ao meu, que foi destruído, vou gastar uns R$ 4 mil. Acho injusto eu ter que comprometer ainda mais a minha renda porque a Prefeitura destruiu o que era meu. Na hora da correria, o motor soltou e o freezer não funciona mais. Poderiam, pelo menos, ter nos deixado tirar as nossas coisas. Mas não deixaram, desabafa a vendedora Daiane Moreira. O Crivella disse que vai dar o quiosque novo, mas eu preciso de equipamento e mercadorias. Com essa confusão, a gente vai adquirir uma despesa extra que a gente não tinha. Para a secretária de Desenvolvimento, Emprego e Inovação, Clarissa Garotinho, poucos comerciantes precisarão aderir ao microcrédito. Acredito que poucas pessoas precisarão recorrer a esse mecanismo, porque os quiosques estão sendo implantados pela prefeitura, e a geladeira será doada pela Light, assim que os quiosques forem instalados, afirmou Clarissa. No sábado passado, os moradores que trabalhavam na Praça Miami receberam o documento de licença da prefeitura, uma reivindicação antiga do grupo. A instalação dos novos quiosques, no entanto, foi prometida para até 45 dias. Até lá, os comerciantes trabalham com barracas improvisadas ou tendas doadas e reclamam de prejuízo. MP desmantela quadrilha Inquérito contra Pezão arquivado Ministros do Superior Tribunal de Justiça decidiram, por unanimidade, arquivar o inquérito que investigava o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (MDB), por crimes contra a administração pública e lavagem de dinheiro. O pedido de arquivamento partiu do MP Federal. Thiago Viana dos Reis, de blusa branca, é um dos acusados de pertencer à quadrilha O Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ) deflagrou ontem, uma operação para desmontar uma quadrilha acusada de furtar petróleo e derivados de dutos da Transpetro. A Operação Bandeirantes, organizada pelo Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado e pela Coordenadoria de Segurança e Inteligência, cumpriu sete mandados de prisão e dez de busca e apreensão. Dois policiais militares tiveram a prisão decretada: Ernani Monte de Lima, lotado no 26º Batalhão de Polícia Militar, de Petrópolis, Região Serrana do Rio, e José da Silva de Lima, do 16º Batalhão, de Olaria, na Zona Norte do Rio. Também estão envolvidos no esquema três ex-funcionários de empresas terceirizadas que prestaram serviço para a petroleira. Todos foram denunciados pelo crime de organização criminosa e tiveram a prisão preventiva concedida pela 1ª Vara Criminal da Comarca de Duque de Caxias, município onde a organização criminosa se formou e se estruturou, segundo o MPRJ. De acordo com a denúncia, a quadrilha arrendou um terreno em Barbacena, Zona da Mata mineira, por onde passa o duto da Transpetro. Mas o bando acabou flagrado, em março do ano passado, quando se preparava para retirar o material dos dutos. Os acusados foram presos na ocasião, mas aguardavam julgamento em liberdade, depois de serem acusados pela justiça mineira apenas por tentativa de furto qualificado. Durante a apuração do crime, o MPRJ encontrou provas de que, para alugar o terreno, a quadrilha falsificou documentos e a assinatura de Monitoramento on line de carros A Prefeitura do Rio apresentou ontem um programa que dará acesso online a informações sobre veículos e seus trajetos pela capital. O Monitora Vias identificará placas e vai repassá-las a órgãos como Agência Brasileira de Inteligência, Ministério Público e Gabinete de Intervenção Federal. Petrópolis: chuva derruba barreiras A chuva forte que atingiu a cidade de Petrópolis, na Região Serrana do Rio, na madrugada de ontem, causou deslizamentos de terra que por pouco não atingiram o Palácio Quitandinha, um dos símbolos da cidade. A previsão da meteorologia é de novas pancadas de chuva para o restante da semana. Severino Silva/AE uma pessoa idosa, tudo para forjar a legalidade do aluguel do terreno. Na operação, os agentes tiveram apoio do Ministério Público de Minas Gerais, da Corregedoria da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro e da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados. Participaram da operação para prisões e buscas 28 agentes do MPRJ e 12 agentes da Corregedoria Interna da PM. (Com Estadão Con- Rio bate recorde de transplantes O Programa Estadual de Transplantes, da Secretaria de Saúde do Rio, fez, em janeiro deste ano, 129 cirurgias, o maior número de procedimentos desde o lançamento do programa, em 2010. O governo quer, agora, diminuir o índice de negativas das famílias, que ainda é de cerca de 30% dos casos.

Quinta-feira, 22 de março de 2018 Cidade Conheça nosso site www.jb.com.br 7 Síndrome de constrangimento Após ridicularizar professora portadora de Down, desembargadora é alvo de protesto em sessão do TJ Depois de atacar a memória da vereadora Marielle Franco e a professora Débora Seabra, a desembargadora Marília de Castro Neves Vieira passou por constrangimento na sessão de julgamento da 20ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça (TJ-RJ) do Rio de Janeiro, ontem pela manhã. Embora não houvesse grupos ligados à vereadora Marielle a quem Marília acusou de ter vínculos com traficantes, entre outras calúnias, cinco mães de crianças com Síndrome de Down levaram faixas à sessão, em protesto contra comentários da desembargadora contra a professora Débora, única do país portadora da ocorrência genética autorizada a trabalhar. Sandra Kiefer, mãe de uma criança portadora da síndrome e doutora em Direito, autora de uma tese sobre os direitos das pessoas portadoras de Síndrome de Down, foi uma das presentes ao ato. Quando a desembargadora apareceu no plenário, Gabriela Laborda, do projeto de acolhimento às mães que recebem o diagnóstico da doença, levantou a faixa com os dizeres: Quem julga com preconceito não sabe fazer Direito, mas logo um segurança apareceu e solicitou que ela abaixasse a faixa. Um grupo de cinco mulheres deixou a sala repetindo a frase de protesto. Somos todas Marielle, diziam elas antes de entrar na sessão, iniciada pouco após as 10h. Os desembargadores estavam posicionados na sala, e as manifestantes notaram que Marília Castro Neves não estava presente. Elas se sentaram na sala e, em seguida à aparição de Marília, ergueram a faixa. O silencioso ato não teve nada a ver com a data mundial, o Dia Mundial da Síndrome de Down, celebrado ontem, mas, sim, com a indignação diante dos comentários postados no Facebook pela desembargadora agredindo Débora: O que essa professora tem a ensinar, e a quem? Vai ali, me mata que já volto. O casal Adriana Ortolá, professora de 43 anos, e Leonardo Dias Moraes, analista de sistemas, de 35, não conseguiu participar da manifestação. Com o filho Leonardo, de 3, os dois viajaram por uma hora e meia de Senador Camará ao Centro, porém o grupo já estava do lado de fora do TJ quando eles conseguiram chegar. Vim aqui para mostrar a essa desembargadora que meu filho vai aonde ele quiser. A lei tem que valer para todos, preconceito é crime!, protestou Adriana. A síndrome ocorre quando, em vez de a pessoa nascer com duas cópias do cromossomo 21, ela nasce com três cópias, ou seja, um cromossomo número 21 a mais em todas as células, o que caracteriza uma ocorrência genética, não uma doença. O casal Adriana Ortolá e Leonardo Moraes, com o filho de 3 anos, chegaram a tempo de erguer uma faixa na frente do prédio do Fórum Reprodução do Facebook Marília é casada com Marfan Vieira O TJ não se pronuncia sobre as declarações da desembargadora porque, além de seus comentários terem origem externa ao órgão, no caso, o Facebook, considera os juízes seres autônomos, e ninguém poderia falar por eles. Marília de Castro Neves também não foi encontrada ontem pelo Jornal do Brasil em seu gabinete. O único órgão capaz de contestar um desembargador é o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que acaba de ser acionado com duas representações pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). A primeira, pela difamação à vereadora Marielle, e a segunda, contra a declaração de Marília sobre sua intenção de fuzilar o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), pelo fato de ele ser o único homossexual assumido no Congresso. O CNJ acatou os pedidos e anunciou que abrirá um procedimento para averiguar fatos relativos às passagens sobre a vereadora. Marcos Tristão Marília é casada com o ex-procurador-geral da Justiça Marfan Vieira nas gestões de Garotinho, Rosinha e Sérgio Cabral. Vieira tomou posse pela primeira vez em 2005. Foi reeleito em 2007, saiu em 2009, reassumiu em 2013 e deixou o cargo em 2017, para uma candidatura patrocinada com recursos próprios. Mal assumiu como procuradora- -geral, Marília Castro Neves foi nomeada por Garotinho para exercer o cargo de desembargadora no TJ-RJ, em 2006. Em 2016, entre 3.740 candidatos para o 28º concurso para promotores de Justiça do Rio presidido por Vieira, passaram 15. Desses, seis eram parentes de procuradores e promotores. Luciana Lanhas Reis, futura nora do então procurador-geral, foi eliminada na prova oral, assim como sua sobrinha, Raquel Vieira Abrahão. Bernardo Maciel Vieira, noivo de Luciana e filho de Marfan, foi convocado para fiscalizar as provas. Morre 30º policial no ano Manifesto pela PM Um tiroteio, na noite de ontem, entre policiais da UPP Rocinha e traficantes, na passarela que dá acesso à favela em São Conrado, Zona Sul da cidade, deixou um morador e um policial militar mortos. É o 30º policial assassinado no Rio este ano. Pela manhã, outra troca de tiros entre PMs e bandidos, na comunidade Gogó da Ema, em Belford Roxo, Baixada Fluminense, também terminou com um policial morto. De acordo com a PM, o sargento Maurício Chagas Barros, de 37 anos, foi ferido e levado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Bom Pastor, mas não resistiu. Ele era casado e estava na corporação há 16 anos. Com profundo pesar, informamos o falecimento do Sargento Maurício Chagas Barros, do 39º Batalhão da Polícia Militar (Belford Roxo). Ele foi ferido nesta manhã (ontem), em serviço, após confronto com criminosos na comuni- Reprodução do Facebook Sargento Maurício estava na PM há 16 anos dade Gogó da Ema, relatou a PM do Rio em seu perfil no Twitter. Na sexta-feira, dia 16, Barros comentou no Facebook sobre um vídeo em que um procurador do Ministério Público criticava a interpretação de alguns sociólogos em relação ao sistema penal: A realidade brasileira é que dá ao bandido a garantia de que o crime compensa! Ou as leis mudam ou continuaremos ladeira abaixo. (Com Estadão Conteúdo) Uma manifestação chamada por policiais militares está usando em sua convocação a frase PMERJ Presente!, em alusão às palavras de ordem ouvidas nas ruas nos atos em memória da vereadora Marielle Franco (PSOL), executada há uma semana Eles desejam que o esclarecimento de mortes de policiais (134 em 2017) receba o mesmo empenho da Polícia Civil que, acreditam, está sendo empregado nas investigações para se chegar aos assassinos de Marielle, disse Nilton Silva, do grupo SOS Polícia, que está apoiando a manifestação. Você é PM? Tá cansado de maus tratos do Estado? Tá cansado de ver os colegas tombados e nada ser feito?, diz o chamado para o protesto, marcado para este domingo, 25, às 10h, na Praia de Copacabana (zona sul). A mensagem está circulando em redes sociais. A organização é da Associação Somos Todos Sangue Azul, criada por parentes de policiais, que cobra ações do Estado para evitar mais mortes e elucidar os crimes. Como teve o Marielle Presente!, criaram o PMERJ Presente!. A gente está pedindo que haja investigação isonômica para todos os que morrem, não só políticos, juízes, desembargadores. Que os crimes contra PMs sejam investigados com a eficiência que está se buscando. Morreu uma pessoa da maneira como ela morreu, e os policiais estão morrendo também, disse Nilton Silva. Os colegas das vítimas se ressentem do fato de as investigações não serem divulgadas nos casos de PMs mortos. A gente não sabe quantos crimes foram desvendados, que marginais foram presos. Não se pode aceitar a morte de policiais, não pode ser banalizado. É uma ofensa ao Estado. A gente também é ser humano, tem família, quer a busca de uma resposta, afirmou. (Estadão Conteúdo)

8 Conheça nosso site www.jb.com.br Opinião Quinta-feira, 22 de março de 2018 Vice-Presidente Gilberto Menezes Côrtes Fundado em 9 de abril de 1891 Diretor Presidente Omar Resende Peres Diretor de Redação Toninho Nascimento Vice-Presidente Antonio Carlos Mello Affonso CONSELHO EDITORIAL Presidente: Omar Resende Peres Conselheiros: Gilberto Menezes Côrtes - René Garcia Jr - Octávio Costa - Wilson Cid - Hildeberto Aleluia Desafio líquido e certo Os bens da fartura, praticada inconscientemente, como ensinam as velhas lições bíblicas, costumam ser a véspera da escassez. Talvez se ajustem a isso os perigosos descuidos que as políticas públicas têm emprestado aos recursos hídricos, o que é conveniente lembrar justamente no Dia da Água. Há muito que governantes e governados se comprazem em ver pela TV a imensidão de um Amazonas, o jorrar incansável de Iguaçu, ou se encantam com o mar da Guanabara e imaginam que água é um préstimo da natureza que jamais faltará, por mais que se acumulem as irresponsabilidades. Nesse particular, a prudência dos povos indígenas tem algo a nos ensinar, porque sua água, quase sempre dada pelo pequeno rio que banha a aldeia, é tratada com amor e parcimônia. O perigo está exatamente em achar que nos basta o imenso volume para garantir o consumo diário, quando tão ou mais importante é praticar a racionalidade e a temperança, como forma de orientar o tratamento dessa grande riqueza. Em relação ao Brasil, além de lhe caber significativa cota na política internacional das águas, temos a considerar informação relevante que nos dá o diretor-presidente da Associação Pós-Gestão das Águas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Agevap), André Luís de Paula Marques: na distribuição dos recursos hídricos, 70% ficam na Região Norte, onde estão 5% da população, enquanto os 30% restantes abastecem aproximadamente 95% dos brasileiros. É uma desigualdade a mais, entre as muitas que temos, a desafiar o exercício da criatividade dos governos. A essa diferença, diz ele, é preciso acrescentar que historicamente, no Brasil, a gestão dos recursos hídricos esteve voltada para a geração de energia elétrica e, secundariamente, para a irrigação. Para acentuar a preocupação: o abastecimento de água e esgotamento sanitário não eram e não são tidos como prioritários. Costuma-se creditar ao céu e às nuvens a culpa, quando a seca aperta e os reservatórios descem a baixos níveis. Ocorre que uma boa parte das consequências indesejáveis seria minorada com planejamentos adequados. Culpa maior será dos investimentos no setor não cumpridos. Os problemas brasileiros nesse campo acumulam-se há décadas, graças à mentalidade cristalizada no íntimo da sociedade e de seus representantes de que a água, exatamente por parecer farta, não precisa ser objeto de maiores preocupações das políticas públicas. Desnecessário lembrar que o descaso que prosperou na inépcia e na ignorância já tem produzido efeitos desagradáveis, e devem prosperar mais, à medida em que não se tome a decisão de dar o primeiro passo no sentido de inscrever os recursos hídricos entre prioridades intransferíveis dos governantes. Pergunta-se: como? A resposta está na síntese elaborada pelo diretor- -presidente da Agevap, ao projetar para os estados e municípios um programa de ações que, começando agora, se estenderia pelos próximos 30 anos: 1- ampliação e implementação da coleta e tratamento de esgotos, que tenha como meta o atendimento de, no mínimo, 80% da população; 2- encerramento e remediação de 100% dos lixões; 3- redução ao nível de 25% de perdas nos sistemas de abastecimento público; 4- implantação de um programa de educação ambiental e sensibilização da população e dos setores usuários em 100% dos municípios abrangidos pela bacia para o uso racional da água. Ainda como parte dessas iniciativas, André Luís sugere proteção e recuperação de matas ciliares, nascente e mananciais, construção de represas e reservatórios em locais estratégicos e monitoramento da qualidade das águas. Pode ser muito o que fazer, mesmo com uma projeção de três décadas a cumprir. Mas importante é começar, e começar logo. A milenar sabedoria chinesa ensina que as longas caminhadas começam exatamente com um pequeno passo. Crime contra o povo mineiro JOSÉ ELOY DOS SANTOS CARDOSO* No excelente artigo O precioso negócio da Codemig, publicado no Diário do Comércio de Belo Horizonte, o jornalista Mauro Werkema, que também participou do desenvolvimento mineiro, administrando o Palácio das Artes, especificou até com detalhes por que essa empresa não deve ser, de qualquer maneira, retalhada para ser vendida, justamente naquilo que é mais precioso para Minas Gerais. Entretanto, ao especificar a riqueza que é a Codemig para o estado, esqueceu de citar, entre as empresas absorvidas por essa companhia Camig, Casemg, Metamig e Hidrominas a Companhia de Distritos Industriais de Minas Gerais (Cdimg), que foi uma das responsáveis pelo enorme desenvolvimento mineiro nos anos 70/80, quando, ao lado do Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais (Indi), da Cemig, do BDMG, da antiga Telemig e da Copasa, conseguiu produzir taxas de crescimento e desenvolvimento do Produto Interno (PIB) mineiro de 11% ao ano, em média, que representou duas vezes o PIB total brasileiro. Foi trabalho conjunto, e não milagre, porque milagres não existem em economia. A Cdimg, só para exemplificar, escolheu e implantou os distritos industriais de Extrema; Pouso Alegre; Itajubá; Santa Rita do Sapucaí; Uberaba I, II, III e IV; Uberlândia; Juiz de Fora I, II, III e IV; Rio Pomba; Santa Luzia; Vespasiano; Montes Claros; Governador Valadares e outros mais. A absorção da Cdimg pela Codemig foi um dos componentes do desastre mineiro, que vem impedindo nosso estado de poder atrair e localizar empresas nacionais e internacionais que não possuem espaços industriais localizados estrategicamente e com total infraestrutura para edificar seus empreendimentos que produzem receitas de impostos e empregos. Como economista, participante ativo do desenvolvimento mineiro pela Cdimg, não me canso de denunciar e citar a Codemig como uma das assassinas do desenvolvimento mineiro, porque absorveu a Cdimg, mas não fez o que ela fazia, colocando o estado com um elemento a menos em relação a outros estados do país. Porque existiu um distrito industrial totalmente feito e implantado, é que a Mercedes Benz veio para Minas. Mas por falta de outros semelhantes, e de um trabalho político eficaz, perdemos todas as outras empresas automobilísticas estrangeiras que vieram para o Brasil e foram se localizar em São Paulo, Goiás, Bahia, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Pernambuco. Com a recriação da nova Metamig, como sugeri em vários artigos assinados, essa nova empresa ficaria encarregada de capitalizar a nova Cdimg junto com o estado, fazendo-a entrar na economia mineira com muito mais vigor e competência, voltando a realizar o apoio mineiro para localizar inúmeras empresas nacionais e internacionais. Aí, sim, completando como fez no passado os trabalhos do Indi, e do BDMG, aproveitando os estudos econômicos da Fundação João Pinheiro. A terceira empresa de economia mista que poderia ser fundada a partir da subdivisão da Codemig, a falada Codemge, ficaria com todos os centros de convenções de Belo Horizonte e Juiz de Fora e comandaria também os estudos de prospecção das chamadas terras raras, incentivaria a chamada Economia criativa, ficaria com as explorações das águas minerais de Caxambu, Cambuquira, Lambari e Araxá, além de inúmeras ações, atualmente de responsabilidade da Codemig. Que a Codemig, hoje, é um monstrengo de quase impossível administração adequada, nenhum economista ou técnico de desenvolvimento econômico duvida. O que o poder público condena, a exemplo da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais e do Ministério Público, é a venda da fonte de recursos mineiros que é a Codemig para pagar dívidas de custeio do estado. Pensar na venda da Codemig para quitar dívidas, sejam de custeio ou investimentos, retirando parte da capacidade dos investimentos mineiros, é um crime que as gerações futuras, e não só eu, lamentarão se estivermos vivos. As futuras gerações não perdoarão nossa atual submissão a interesses escusos. Mauro Werkema, alguns poucos deputados mineiros como Antônio Jorge, João Leite e poucos outros, se ainda estivermos vivos, não perdoaremos futuramente quem está se omitindo e não falando nada no presente. Apresentar novas ideias é um dever cívico. Omitir e ficar calados, vendo o mundo desabar à nossa frente, cometendo-se um crime contra o povo mineiro, é dose cavalar. * Economista, professor titular de Macroeconomia da PUC-MG e jornalista Editores Fale com JB Venda em banca Política/Nacional: Octávio Costa octavio.costa@jb.com.br Editor do Caderno B: Deborah Dumar debora.dumar@jb.com.br Geral Dias úteis: RJ,SP,MG, ES e DF: R$ 5,00 - Demais estados: R$ 6,00 Editor de Cidade: Clóvis Saint-Clair clovis@jb.com.br Informe JB: Jan Theophilo jan@jb.com.br Editor de Arte: Ricardo.Gomes ricardo.gomes@jb.com.br Editor de Fotografia: José Marinho Peres jose.peres@jb.com.br 3923-4000 Redação 3923-4149 Domingo: RJ,SP,MG, ES e DF: R$ 6,00 Comercial Avenida Rio Branco, 53, 21 º andar - Tel.: 3923-4000 Diretor de Arte: Ziraldo ziraldo@jb.com.br redacao@jb.com.br comercial.jb@jb.com.br

Quinta-feira, 22 de março de 2018 Opinião Conheça nosso site www.jb.com.br 9 Uma sociedade de graves diferenças Porto Maravilha: projeto ainda em construção ANTONIO CARLOS MENDES BARBOSA* Os números divulgados recentemente pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE revelam que o crescimento econômico dos anos 2000, no Estado do Rio de Janeiro, retrocedeu a partir de 2015, ano em que o trancamento das pautas do governo federal pelo Congresso trouxe a queda dos investimentos públicos e privados no estado, evidenciando tanto o mal planejamento quanto o mal uso dos recursos públicos de sucessivas administrações estaduais. A deterioração da economia fluminense levou à queda do emprego, da renda e da qualidade de vida da população fluminense e atinge a todos, mas aprofunda gravíssimas e históricas distorções da nossa sociedade. Segundo a pesquisa, nos últimos três anos houve um aumento de pessoas em busca de trabalho no estado: quando os rendimentos familiares caíram, muitos jovens, entre eles aqueles que se dedicavam aos estudos, precisaram tentar complementar esses rendimentos, mas não encontraram trabalho (o mesmo MARIO MOSCATELLI* LUCIA CAPANEMA ALVARES* E JOÃO HALLAK NETO* Nos rendimentos, revelase a maior desigualdade, aquela entre homens brancos e mulheres negras ocorrendo com idosos, em menores proporções). Com a procura por trabalho maior que a oferta, observou-se a elevação da taxa de desocupação ou desemprego aberto dos jovens de 18 a 24 anos, que passou de 16% em 2014 para mais de 33% em 2017. As estatísticas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostram que o desemprego entre jovens no Brasil também vem aumentando desde 2014, chegando a crescer 45% somente no biênio 2016-2017. Ainda segundo a Pnad, a proporção de jovens de 15 a 29 anos com rendimentos na faixa até 2 salários mínimos alcançou quase 77% em 2015, indicando o alargamento do subemprego dessa faixa etária. Agravando a situação, há ainda o incremento dos afazeres domésticos, exercido por mais de 30% dos homens e 60% das mulheres de 10 a 29 anos, o que indica jornada dupla para as mulheres jovens e baixo rendimento familiar mensal. A desocupação entre negros (pretos e pardos na Pnad) é superior à da população branca, diferença que cresceu de 1,3% em 2013 para 6% em 2017, ano em que a taxa de desocupação dos negros alcançou 17,9%, aumentando a desigualdade entre os grupos e demonstrando o caráter regressivo das políticas econômicas para o estado. Embora relativamente o desemprego tenha sido inferior para os brancos, esses sofreram um achatamento nos rendimentos, com perdas salariais da ordem de 9%, contra 2% para os negros, entre 2015 e 2017. Mas a evolução da renda, segundo faixas salarias para os dois grupos étnicos, ainda mostra grande desigualdade: a proporção de negros recebendo até dois salários mínimos era de 47% em 2017, enquanto a de brancos era de 20%. À medida que cresce a faixa salarial, cresce a proporção de brancos; na faixa acima de cinco salários, encontram-se 52% dos brancos e apenas 21% dos negros. O recorte por gênero é similar àquele por etnia: a desocupação da população feminina é superior à dos homens, e também se vê em desvantagem crescente a partir de 2015. Enquanto a desocupação entre os homens cresceu mais nos anos 2015-16, provavelmente devido ao colapso das principais indústrias do estado, que empregam proporcionalmente mais homens, em 2017 a desocupação cresce mais entre as mulheres, indicando a disseminação do colapso para os setores de comércio e serviços. Mas é nos rendimentos que se revela a maior desigualdade, aquela entre homens brancos e mulheres negras: em 2013, elas recebiam apenas 40,8% dos recebimentos dos homens brancos, alcançando uma pequena melhoria até 2017, quando esta razão se elevou para 44,2%. Em suma, os indicadores sociais recentes mostram deterioração e aprofundamento das desigualdades no estado e redução das possibilidades de superação, sobretudo para os mais vulneráveis: jovens, mulheres e negros, e em especial as mulheres negras. Esses grupos encontram-se em desvantagem crescente em relação ao desemprego; mesmo com a relativa perda de rendimentos entre os brancos a partir de 2015, ainda estão em desmedida desigualdade em termos de renda. Assim, não haverá solução consistente sem ousadia, sem o aumento do investimento público, produtivo e social que amplie as possibilidades e ampare os mais vulneráveis, dinamizando o mercado consumidor interno e gerando estímulos para a volta do investimento privado no Estado do Rio. *PhD em Planejamento Regional pela Universidade de Illinois e professora da pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFF; **Doutor em Economia pela UFRJ Dia da água, dia da vergonha Somos constituídos basicamente de água. A vida, como a conhecemos, é água. Não por outro motivo, enquanto destruímos a qualidade da água da Terra, buscamos em outros planetas esse mesmo elemento para identificar, potencialmente, a vida que não respeitamos e exterminamos por aqui. Coisa que nem Freud explica. Nesse tal dia da água, comemora-se não sei bem o quê, num país que apesar de megadiverso e uma das principais potências hídricas do planeta, pouca ou quase nenhuma importância dá ao tema, tendo, muito pelo contrário, se especializado em destruir esse estratégico recurso natural. Para isso, basta ver a situação do saneamento no país, retratada por organizações especializadas, onde o esgoto de metade da população não recebe qualquer tipo de coleta ou tratamento, isto é, sai direto da latrina para valas, rios, lagoas, baías etc. Se levarmos em conta a segunda região metropolitana do Brasil, a situação beira ao escárnio, ao terrorismo ambiental de Estado, onde tudo é aceitável desde que gere alguma vantagem econômica para o degradador, seja ele quem for. Sobrevoando a Região Metropolitana do Rio de Janeiro desde 1997, tenho acompanhado a transformação de praticamente todos os rios da região em imensos valões de esgoto e lixo sem vida, fruto do crescimento urbano desordenado e da falta da universalização do serviço de coleta e tratamento de esgoto. Fruto da transformação do saneamento numa máquina de fazer dinheiro fácil, uma grande maioria paga por serviços casados, ou seja, água e esgoto, sem que esse segundo produto normalmente seja entregue. Em detrimento desse estelionato institucionalizado, quem detém o monopólio do serviço cobrado, e não prestado, transforma todos os corpos d água, doces, salgados ou salobros, em latrinas, impetrando contra sua fauna associada o extermínio de qualquer coisa que precise de oxigênio para sobreviver. Independentemente de qual seja a região, pobre ou rica, o tratamento dado à água é típico das colônias de exploração, que têm por objetivo usar o recurso, seja ele qual for, até seu esgotamento em detrimento da maior vantagem econômica possível no menor espaço de tempo possível. Nada parece obrigar os tomadores de decisão públicos, muitos dos quais eleitos pelo polvo, a mudarem a trajetória de extermínio da qualidade da água, bem como dos que dela dependem. Destaco a situação degradante do ponto de captação de água da estação de tratamento do Guandu, onde três valões de esgoto despejam diariamente milhares de metros cúbicos de esgoto na água que será utilizada para abastecer por volta de 75% da população da Região Metropolitana do Rio. Mesmo que devidamente tratada, transformando aquela pasta de esgoto em água potável, há de se chamar a atenção que tantos outros poluentes, contaminantes tais como hormônios, metais pesados e toxinas oriundas de potenciais florações de cianobactérias não são removidos da água tratada. Portanto, imaginem o que chega de fato em nossas torneiras! No tenho dúvida de que, no dia da água, muitas das excelências, que pouco se importam com a gestão de fato de nossos corpos d água e de seus ecossistemas associados, estarão no tal dia falando sobre sua importância e como devemos agir civilizadamente para protegê-la e blá-blá-blá. Acredita nessa turma quem não a conhece de perto. Eu, da minha parte, vou sendo um solitário lambe-lambe aéreo do século 21, retratando e denunciando em imagens a barbárie, a hipocrisia, a prepotência de uma cultura voltada exclusivamente em usar até acabar. Destaco que do jeito que vai, vai acabar mal para todos nós que dependemos da água e que, até provem o contrário, por muito tempo ainda, apenas temos este belo Planeta Água para viver. * Biólogo, mestre em ecologia e especialista em Gestão e Recuperação de Ecossistemas Costeiros O Porto Maravilha, projeto inovador da Prefeitura do Rio, desde a concepção de sua modelagem, inspira diferentes emoções e opiniões entre cariocas e apaixonados pela cidade. Também dá margem a interpretações até técnicas sem fundamentação. Sofre ainda do contaminante político em sua avaliação, grande obstáculo à percepção da realidade da operação urbana. Assim, além de todos os desafios concretos, padece com críticas sem base. Um olhar menos atento dirá que as obras só contemplam o entorno da Praça Mauá, a construção dos museus (do Amanhã e de Arte do Rio) e da Orla Conde. Mas a reurbanização, em parte, dos sete bairros da área legal, já transformou 180 mil metros do total de 360 mil em redes de infraestrutura (água, esgoto, drenagem, energia, gás natural, telecomunicações e iluminação pública). Tanto é que a Região Portuária passou no teste dos últimos temporais, sem registro de alagamentos ou apagões. O cronograma de obras de 2011 a 2026 contemplará, ainda, áreas que não passaram por intervenção. Some-se aí a dívida social com o Morro do Pinto (Santo Cristo), que deixou de receber investimentos para viabilizar a construção do Museu do Amanhã, ao custo de R$ 380 milhões. A prefeitura quer dar ao local perfil de bairro após reurbanização. Como todo grande projeto, o Porto Maravilha enfrenta bombardeio político, seu maior desafio. Notícias fabricadas associaram dificuldades financeiras da operação, decorrentes da crise do setor imobiliário gerador de recursos na parceria público-privada (PPP) a suposto bloqueio pela Lava Jato. A afirmação nesse sentido é resultado de má-fé ou profundo desconhecimento. Já foram investidos R$ 5 bilhões dos R$ 10 bilhões previstos. O esforço que mobiliza público e privado já apresenta os primeiros sinais de recuperação, com ocupação da área por empresas como L Oréal, Granado e Fábrica de Startups. Em breve, outros projetos serão anunciados. Nos primeiros sete anos foram implantadas novas vias e um sistema de mobilidade urbana com áreas para pedestres, ciclistas e VLT. Nem todos conhecem benefícios adicionais, como a regularização fundiária, a construção de uma usina de asfalto moderna no Caju, a instalação do terceiro Cronograma de obras contemplará, áreas que ainda não passaram por intervenção maior reservatório de águas do Rio ou a chegada de grandes empresas à área revitalizada. Em pouco tempo, a experiência torna-se referência de revitalização. A PPP, além de alimentar debates acadêmicos nas melhores universidades nacionais e internacionais, recebe comitivas de diversos pontos do país e do mundo para trocar informações. O escopo da revitalização não se reduz a obras e serviços conduzidos pela Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp), responsável pelo planejamento e fiscalização. Combate ainda a gentrificação por meio dos programas Porto Maravilha Cultural e Cidadão, além do apoio de outras unidades da administração. Não à toa, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Emprego e Inovação escolheu os Galpões da Gamboa como sede de startups. Críticas são pertinentes e bem-vindas. Assim como sugestões edificantes. Mas quem pode falar com propriedade e fundamento são moradores e empresas do Porto Maravilha que vivem o seu dia a dia. * Diretor-presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro

10 Conheça nosso site www.jb.com.br Cidade Quinta-feira, 22 de março de 2018 Papa liga para mãe de Marielle José Peres Francisco recebeu carta da filha da vereadora assassinada Para comoção dos que acompanham o caso do assassinato de Marielle Franco, mais uma vez o Papa demonstrou ser sensível à causa dos direitos humanos. Francisco ligou para Marinete Franco, mãe de Marielle, morta a tiros no último dia 14. Ele manifestou sua solidariedade com a família da vereadora. Francisco ligou para Marinete, mãe da vereadora que foi uma defensora dos direitos humanos e relatora da comissão responsável por investigar a intervenção militar no Rio de Janeiro, para comunicar seu afeto e solidariedade, indicou o Vatican Insider, site do jornal italiano La Stampa, especializado em notícias do Vaticano. O Papa argentino resolveu fazer a ligação após receber uma carta de Luyara, filha da vereadora assassinada a tiros no bairro do Estácio, Zona Norte do Rio. Negra, nascida e criada na favela da Maré, Marielle lutava pelos direitos de negros, mulheres e da comunidade LGBT e criticava a atual intervenção federal da Segurança Foto Alexandre Brum/Agência Estado Policiais da Delegacia de Homicídios investigam assassinato de Marielle Franco do Estado do Rio de Janeiro, sob a responsabilidade do Comando Militar do Leste. Investigação no Estácio Policiais civis da Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro estiveram, ontem, no local onde a vereadora do PSOL e o motorista dela, Anderson Gomes, foram ssassinados na semanada passada, no dia 14. Os agentes fecharam uma das pistas da Rua Joaquim Palhares, no Estácio, e posicionaram uma viatura nos pontos onde o veículo estava quando os tiros foram disparados e onde o carro parou após Marielle e Anderson serem atingidos. Não se tratou de uma reconstituição do crime. Os agentes apenas esclareceram dúvidas que têm surgido com o decorrer das investigações, já que a região não é monitorada por câmeras de segurança. A movimentação da polícia durou apenas alguns minutos, mas chamou a atenção de quem trabalha na região. O local onde Marielle e Anderson foram mortos recebeu flores e tem mensagens em homenagem aos dois pintadas em um muro. Antes de ir o local do crime, os agentes da Delegacia de Homicídios também estiveram na Rua dos Inválidos, no Centro da cidade, onde Marielle Franco esteve pela última vez. No fim da tarde, o delegado Geniton Lages tomou posse como titular da Delegacia de Homicídios, mas não quis fazer comentários a respeito da investigação do caso Marielle. (Com Estadão Conteúdo) Equipe militar da intervenção federal chega ao batalhão do Bope Intervenção vistoria Bope O comando da intervenção federal na segurança do estado prosseguiu ontem com a série de inspeções em batalhões da Polícia Militar. Dessa vez o quartel vistoriado foi o do Batalhão de Operações Especiais (Bope), em Laranjeiras. A imprensa não teve acesso à vistoria, que durou das 8h45 às 16h. O Gabinete de Intervenção divulgou nota em que destacou que, Liderado pelo chefe do Gabinete de Intervenção Federal, general Mauro Sinott, o grupo foi conhecer as atividades administrativas e operativas desenvolvidas pela unidade. O comunicado divulgou que foram ouvidas as principais demandas da unidade. Entre elas, está a manutenção de veículos pesados (blindados, caminhões e retroescavadeiras). Com o resultado da inspeção, o Gabinete de Intervenção Federal poderá propor soluções para os problemas apresentados, informou a nota. Verba para intervenção O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse ontem que a equipe econômica vai decidir, nos próximos dias, a fonte da qual sairá os recursos para financiar os custos da intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, bem como as despesas do recém-criado Ministério da Segurança Pública. O governo trabalha com três alternativas de fontes para o aporte financeiro: realocação de recursos de outros ministérios, reoneração da folha de pagamentos e emissão de dívidas. (Com Estadão Conteúdo) Mensagens dos leitores As cartas, contendo telefone e endereço do autor devem ser dirigidas à redação do JORNAL DO BRASIL, rua Avenida Rio Branco, 53, 2108 - CEP: 20090-004 ou pelo e-mail: cartas@jb.com.br MULTAS Existe uma decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, permitindo que veículos com multas possam fazer vistoria anual. Nada mais justo. Porém, o Detran, que no governo Pezão especializou-se em perseguir os motoristas, determinou que só vão fazer o licenciamento anual aqueles que tiverem quitado os débitos dos veículos, inclusive as multas. É um absurdo, o Detran condicionar a vistoria ao pagamento de multas. É o Estado transformando as multas em fonte de arrecadação, sendo que elas podem ser discutidas judicialmente. Os carros não podem ser rebocados por falta de pagamento do IPVA. Fernando Thadeu Rio de Janeiro RECURSOS HÍDRICOS Hoje, quando se realiza o Fórum Mundial da Água, em Brasília, podemos dizer que a escassez de água tornou-se um tormento para as populações e seus governantes. Quero recordar as palavras do ex-senador Bernardo Cabral, que é um especialista no assunto. Dizia o ex-senador que é preciso colocar na agenda da humanidade, como questão central, o planejamento e a racionalidade no uso dos recursos hídricos. Como senador, em 2000, ele foi relator da lei que criou a Agência Nacional de Águas. Em 2004, continuava na sua pregação, no Brasil e no exterior, chamando atenção para a crise hídrica. O ex-senador antevia que o Brasil teria imensas dificuldades para lidar com o tema: A falta de planejamento e racionalidade no uso de recursos hídricos não é, por certo, uma característica isolada das grandes cidades, mas, sim, uma constante em todo o Brasil, que começa a ameaçar o abastecimento adequado dos vários aglomerados urbanos. Vicente Limongi Netto Brasília VÍTIMA Lembrando o caso Amarildo, as investigações que buscam esclarecer o assassinato da vareadora Marielle Franco tomaram proporções nunca vistas. A polícia devia usar este mesmo empenho na apuração do assassinato dos seus pares, em vez de lamentar-se como vítima de si mesma. Gemerson Dias Rio de Janeiro JB NAS BANCAS Muito feliz com o retorno do JORNAL DO BRASIL às bancas. Fui assinante deste periódico por muitos anos, depois segui lendo as edições digitais, em especial os artigos de Leonardo Boff e Maria Clara Bingemer. Aproveito para desejar sucesso à equipe do novo JB. Suzana D. Calache Rio de Janeiro DISCUSSÃO NO STF O plenário do Supremo Tribunal Federal não é o lugar para acusações pessoais, mas foi lá que o ministro Luiz Roberto Barroso acusou o colega Gilmar Mendes de ser uma pessoa do mal e ter pitadas de psicopatia. Mendes criticava a proibição do financiamento das campanhas eleitorais, e outras decisões da Corte, quando Barroso reagiu: Não tem patriotismo, está sempre atrás de algum interesse que não é o da Justiça. Os ministros já se desentendem há muito tempo, mas desta vez passaram dos limites. Com os seus altos salários e mordomias de todo tipo, não servem de exemplo à sofrida população brasileira. Antônio Rodrigues Rio de Janeiro RESPEITO A atitude dos ministros para com a presidente do STF, Carmen Lúcia, é terrorismo. Fazem isso porque ela é mulher e aparenta ser frágil. E dizer que essa covardia acontece no colegiado máximo do Brasil. Vamos agir com respeito, educação e honrar a nossa condição de mulher. Exigimos respeito. Teresa Abreu de Almeida Rio de Janeiro JB NO FACEBOOK Hoje pude presenciar um embate entre Gilmar Mendes e Barroso e achei muito ruim para o Brasil tudo isso. Apesar de tudo pude sentir nas palavras de Barroso toda a indignação que o povo brasileiro sente por Gilmar Mendes, um sujeito que, pelas suas ações, tem demonstrado pensamentos mesquinhos ao extremo. Até quando vamos ter que aguentar este sujeito na mais alta corte? Já passa da hora de uma autoridade honesta deste país pedir seu afastamento. Paulo Maia Nota da Redação A foto da matéria MST invade sede da Nestlé, publicada na página 4, da edição de ontem do JORNAL DO BRASIL, é do Parque das Águas de São Lourenço, cartão postal da cidade. A sede da Nestlé, em São Lourenço, fica numa área externa ao Parque.

Quinta-feira, 22 de março de 2018 Economia&Negócios Conheça nosso site www.jb.com.br 11 Menor juro da história Banco Central reduz Selic para 6,5% e sinaliza possibilidade de novos cortes para aquecer economia O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, ontem, por unanimidade, reduzir a taxa básica de juros, a Selic, em 0,25 ponto porcentual, de 6,75% ao ano para 6,5% ao ano. Na ata da reunião, o Copom sinalizou que um novo corte do juro deve ser anunciado na próxima reunião, em maio. Para o BC. a atividade econômica está em recuperação consistente, mas a inflação tem sido menor que o esperado pelo Banco Central. Um novo corte dos juros pode ser a resposta para a queda do Produto Interno Bruto (PIB), de 0,3%, registrada na passagem de dezembro de 2017 para janeiro de 2018, de acordo com o Monitor do PIB medido pela Fundação Getulio Vargas. No trimestre móvel encerrado em janeiro, o crescimento ficou em 0,9% ante o trimestre móvel terminado em outubro de 2017. Na ata do Copom, o BC também atualizou suas projeções para a inflação. No cenário de mercado - que utiliza expectativas para câmbio e juros do mercado financeiro -, o BC alterou sua projeção para o IPCA em 2018 de 4,2% para 3,8%. No caso de 2019, a expectativa foi de 4,2% para 4,1%. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2018 em 6,5% e 2019 em 8,0%. Dez 2016 14,00 Jun 2017 10,25 Jan 2018 7,00 SELIC DESCE PELO ELEVADOR JUROS BANCÁRIOS, PELA ESCADA % AO ANO % AO ANO Jun 2017 25,0 Dez 2016 29,3 Jan 2018 21,4 Temer comemora O presidente Michel Temer usou as redes sociais para comentar a decisão do Copom, e disse que com isso seu governo vai entrar para a história. A minha política econômica está fazendo história. A taxa básica de juros, a Selic, é a menor já registrada, 6,5%, conforme decisão do Copom, hoje, escreveu. E graças à inflação que continua baixando. O resultado é mais investimentos das empresas, mais empregos e maior consumo das famílias, completou. Essa é o 12o corte seguido da Selic desde o início do governo Temer. Bancos reduzem taxas O Itaú Unibanco anunciou ontem nova redução nas taxas de juros de suas linhas de crédito para pessoas físicas, micro e pequenas empresas, repassando integralmente aos seus clientes o corte da Selic anunciado. O banco detalha que para pessoas físicas haverá redução no cheque especial e a nova taxa mínima passa a ser 2,08% ao mês. O banco informa que para micro e pequenas empresas também serão alteradas as taxas no cheque especial e no capital de giro, mas não especifica quanto. O Santander antecipou na véspera. O Bradesco informou que vai repassar o corte de 0,25 ponto percentual da taxa Selic nas principais linhas de crédito de pessoas físicas e jurídicas. O Banco do Brasil anunciou nova redução dos juros para pessoas físicas e jurídicas. Segundo o banco, as novas taxas entrarão em vigor nas agências e demais canais de relacionamento do BB já a partir de segunda- -feira.(estadão Conteúdo) Entre a escada e elevador Se alguém tem dúvida sobre a demora da intensidade da queda dos juros bancários em comparação à taxa Selic, uma busca nos dados do Banco Central reforça a impressão de que a Selic desceu das alturas de elevador, enquanto os juros bancários seguem lentamente pela escada: Em novembro de 2016, a taxa Selic seguia em 14,25 ao ano, nível fixado pelo BC no governo Dilma. Na primeira queda, ficou em 14% em dezembro daquele ano. Baixou para 10,25% em junho de 2017, fechou o ano passado em 7,00% (queda de 50% em um ano e com as duas baixas (fevereiro e março) caiu 54,39%. No site do BC só é possível comparar os juros bancários médios até janeiro deste ano. Nas operações de desconto de duplicatas para pessoa jurídica, os juros de 21,4% ao ano em janeiro de 2018 (maiores que os 18% de dezembro) tinham caído apenas 26,96% em relação a dezembro de 2016. Quase metade da queda da Selic. Num levantamento do BC entre os dias 1 e 7 de março, o Safra cobrava 9,06% ao mês no desconto de duplicata para empresas, o Santander aplicava juros de 20,10% ao ano; o Bradesco, de 25,99%, já o ItaúUnibanco operava a 25,99% ao ano. As maiores taxas, entre os grandes bancos era dos bancos públicos federais: o Banco do Brasil cobrava 27,21% ao ano e a Caixa Econômica Federal com inacreditáveis 51,73% ao ano. Taxa real é quase uma jabuticaba Para o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes, a queda da taxa Selic já era esperada, mas está longe de resolver o principal entrave à retomada do crescimento do país, que, na visão da CNC, é o alto custo bancário no Brasil. A taxa real de juros no Brasil é quase uma jabuticaba, algo que não há paralelo no mundo. Além de muito alta e de não acompanhar a queda da taxa Selic, que baliza a captação dos bancos, está contaminada por agrotóxico bastante poderoso, alfineta Fábio Bentes. Ele lembra que, enquanto a Selic baixou para 6,50% ao ano, o menor patamar histórico, a juro médio para o financiamento de pessoas físicas no mercado de taxas livres estava em 55,8% ao ano. Neste sentido ele observa que não será uma queda de 0,25 ponto percentual na taxa de captação dos bancos irá fazer a situação melhorar para o consumidor. A rigor, o consumidor não sabe o que é Selic nem calcular os juros; ele apenas sabe medir se o valor da prestação mensal cabe no orçamento, disse o economista da CNC. Estudo da CNC revelou que em janeiro, o prazo médio dos financiamentos às pessoas físicas estava em 53 meses (incluindo imóveis, veículos, móveis e eletroeletrônicos). Era o mesmo prazo de um ano atrás. Os juros caíram no período de 73,20% ao ano, em janeiro de 2017, para 55,8%, em janeiro de 2018. Na prática, num financiamento de R$ 1.000,00, houve redução no valor da prestação de R$ 51,38 para R$ 43,19. Em 12 meses, Reprodução do Youtube Fábio Bentes: juros sem paralelo uma folga de menos de R$ 98,28. O economista da CNC elogia a campanha do JORNAL DO BRASIL de apontar os abusos dos juros devido à baixa concorrência num mercado oligopolizado. Lembrou que os níveis dos juros no país, numa situação de recessão e desemprego, trouxeram a ruína de muitas pessoas e empresas. Ele cita o exemplo de uma dívida de R$ 1 mil no cartão de crédito, que duplica em 5,7 meses, com os juros acima de 200% ao ano. Já na média dos juros às PF (55,8%), a dívida dobra em 18,8 meses. Em 2015, 101 mil estabelecimentos comerciais foram fechados no país. Em 2016 fecharam 105 mil e em 2017 ainda houve a quebra de 19.300 estabelecimentos. Para o economista, na crise, a balança entre o setor produtivo e o financeiro pendeu claramente para o segundo. O setor produtivo cortou vendas, empregos e lucros. O investimento produtivo no país encolheu 30% no período, mas o setor financeiro continuou obtendo altos lucros, numa conjuntura adversa, porque aumentou os spreads

12 Conheça nosso site www.jb.com.br Economia&Negócios Quinta-feira, 22 de março de 2018 Renê Garcia Jr. A democracia pode não conseguir ser o instrumento de representação autêntica dos desejos da população quando os partidos usam por práticas a obtenção de fundos ilícitos, do mesmo modo que o judiciário pode ser envolvido em interesses difusos que prejudicam o funcionamento e a qualidade de seus julgados. Mas como combater a corrupção? Esta é uma difícil tarefa, pois a prática tem demonstrado que o sucesso no combate às causas das fontes de corrupção é um processo lento que dura mais de uma geração e basicamente começa por uma ampla reestruturação do estado, com diminuição de suas funções e a privatização de empresas estatais. O processo de diminuição do tamanho do estado na economia deve ser feito com total transparência. Do manual de combate a práticas de corrupção publicado pelo Banco Mundial já na década passada, podemos extrair, as seguintes lições: Não deve haver a transferência de monopólios estatais para a iniciativa privada sem que haja uma efetiva e clara regulamentação das atividades. A burocracia estatal deve ser diminuída com a extinção de cargos e privilégios de qualquer espécie que configure a formação de um estamento dentro do estado. Os funcionários públicos devem ser treinados e valorizados com a formação de carreira e a premiação por eficiência. Não basta a majoração das penas decorrentes da corrupção. É de fundamental importância um aumento na eficiência e o exemplo de integridade e coerência nas O outro lado da moeda A corrupção deve ser vista como uma doença? decisões dos tribunais. O Judiciário deve cobrado a dar explicações quando tomar decisões inconsistentes ou fora de valores aceitáveis, firmando um verdadeiro princípio de accountability. A legislação eleitoral deve prever a punição, ou a proibição, do financiamento de campanhas por grandes grupos econômicos e limitar o valor máximo de uma contribuição individual; preferencialmente, devem existir fundos públicos no financiamento de partidos políticos, com critérios para a distribuição dos recursos. Todas as restrições à livre movimentação do capital e do credito devem ser extintas. A existência de barreiras comerciais ou licenças especiais para a implantação de projetos direcionados rene.garciajr@jb.com.br a grandes empresas podem constituem fontes privilegiadas para as imperfeições e devem ser dadas ampla transparência. Um importante elemento na reforma do Estado é a extinção de concessões por privilégios e critérios políticos não sistematizados, principalmente as que envolvem os órgãos de comunicação. Outra ação indispensável é o combate sistemático e constante com o mercado e o tráfico de drogas. Devido à grande capacidade de acumulação de renda, essa atividade representa a maior fonte potencial de corrupção dentro do estado. Por fim, a reforma do estado deve torná-lo um eficiente provedor de bens públicos atendendo às demandas sociais e sendo um importante fator de equalização das distorções de renda. Como podemos perceber, a corrupção é um verdadeiro câncer que deve ser combatido na sociedade nos mínimos atos e manifestações. Pequenos deslizes e desvios de conduta em longo prazo convergem para a criação de um estado de convivência e degradação de valores que culminam com a destruição da confiança nas instituições e nos poderes do Estado. A diminuição de seus efeitos sobre a economia e as suas causas representam uma condição necessária ao perfeito funcionamento dos mecanismos de mercado e condição de indispensável à alocação dos investimentos e distribuição eficiente da renda, sendo A corrupção fragiliza a democracia responsável também pela criação de elementos de confiança e segurança aos investimentos externos. A globalização do capital força a equalização das taxas de retorno do capital entre os países, sendo, portanto, incompatível com as cunhas e distorções causadas pelas práticas de corrupção. O país que desejar receber recursos privados ou públicos (organismos multilaterais) terá que adotar programas consistentes de combate, controle e punição dos atos de corrupção. Esta talvez seja a principal consequência positiva do novo paradigma moral imposto pela realidade do capital sem fronteiras. A experiência internacional de combate a corrupção não teve um impacto profundo na qualidade da representação popular, na verdade, partidos foram extintos e novos surgiram, sem que mudanças expressivas na representação fossem observadas, contudo ensejaram alterações na forma de governar, mesmo que restrita a pequenos movimentos, o conjunto de ações, contribuíram para abrir espaço para programas de desmobilização de patrimônio público e diminuição de privilégios, no entanto o processo de aprendizado é em geral lento e tortuoso. Como nos ensina os trabalhos de pesquisa de Susan Rose- Ackerman e Bonnie J. Palifka Corruption, an Government (2016) Quais as lições para o Brasil? A resposta a essa indagação, exige sem sombra de dúvida uma dose forte de reflexão e a formulação de algumas considerações que exigem uma analise mais profunda do que a sociedade brasileira, do que realmente a sociedade espera de seus governantes, seja os membros do executivo, legislativo ou do judiciário. O que só será possível após as eleições de outubro de 2018. O exercício e a verdade emanada do voto, é o único e a mais relevante posição sobre esse questionamento. Vamos esperar as decisões das urnas, para saber exatamente, qual é a lição que aprendemos e de fato o que desejamos para o país e o que somos enquanto sociedade. Brasil ganha tempo Tarifa do aço será mantida enquanto houver negociações O presidente Michel Temer disse ontem, em discurso de abertura da 47ª Reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), que recebeu a informação do governo americano de que a sobretaxa de 25% sobre produtos siderúrgicos não será aplicada enquanto as conversações não forem concluídas. O decreto do presidente Donald Trump determina que as novas tarifas à importação de aço e alumínio vigorem a partir de amanhã. Soube agora de uma declaração da Casa Branca de que o Brasil é um dos países que começarão as negociações, que visam a eventuais exceções das tarifas de importação do aço e alumínio, disse Temer. Segundo o presidente, a mensagem do governo de Donald Trump é que as taxas não serão aplicadas enquanto as conversações não forem concluídas. Portanto, uma boa noticia, declarou o presidente. O ministro da Fazenda, Hen- rique Meirelles, também destacou a decisão no início de seu fala e afirmou que ficava feliz com a notícia. Segundo Meirelles, na terça-feira ele teve um diálogo serio, profundo, direto e cordial com os secretários americanos e expôs as razões que justificariam liberar o Brasil da taxação. Uma sobretaxa no aço brasileiro vai em certas circunstâncias prejudicar o preço do aço americano, a indústria americana e o consumidor americano, disse Meirelles, explicando que a indústria dos EUA utiliza aço produzido no Brasil. Meirelles disse que apontou com dados aos americanos que não faz sentido a taxação no caso brasileiro. Não há nenhum indício de prática anticompetitiva (por parte do Brasil), afirmou. UE dá aval a fusão A Comissão Europeia aprovou, ontem, a proposta de aquisição da Monsanto pela Bayer mediante determinadas condições, informou a Bayer, em comunicado. As condições envolvem o desinvestimento de alguns negócios da Bayer, como os de sementes e certos herbicidas à base de glifosato cuja aplicação predomina na Europa. A Monsanto também terá de alienar o negócio de controle de nematoides conhecido como NemaStrike. As exigências da Comissão estipulam ainda a transferência de três projetos de pesquisa da Bayer na área de herbicidas não seletivos e a concessão de uma licença para o portfólio de agricultura digital da Bayer. Antonio Cruz/Agência Brasil Meirelles: sobretaxa no aço brasileiro podem prejudicar preço do produto nos EUA A companhia alemã já havia recebido a aprovação de mais da metade das quase 30 autoridades reguladoras de países que avaliavam a transação, incluindo Brasil e China, e a resposta mais esperada era a da União Europeia. Segundo a Bayer, a expectativa é concluir a compra no segundo trimestre de 2018. Novo imposto para gigantes da internet A União Europeia propôs, ontem, um novo imposto sobre o faturamento dos gigantes da internet, entre eles o Facebook, afetado por um escândalo sobre a proteção de dados. Este projeto da Comissão Europeia, que consiste em um novo imposto sobre o faturamento dos gigantes digitais, foi revelado em um contexto já bastante tenso entre Estados Unidos e UE, com a guerra comercial sobre o aço como pano de fundo. Nossas regras concebidas antes da existência da internet não permitem taxar as empresas digitais que operam na Europa. Esta é a razão pela qual propomos um imposto, declarou o comissário europeu de Assuntos Econômicos, Pierre Moscovici, durante entrevista em Bruxelas. Este imposto aos gigantes digitais, conhecidos como GAFA (Google, Apple, Facebook e Amazon), é abertamente defendido pelo presidente francês Emmanuel Macron. Ele chegará à mesa da cúpula dos mandatários europeus em Bruxelas a partir de hoje. Isso acontece em um momento delicado para o Facebook. Segundo uma investigação pelos jornais The New York Times e The Observer, a empresa Cambridge Analytica usou dados de milhões de usuários da rede social sem seu consentimento para criar um algoritmo que prevê e influencia individualmente o voto dos eleitores. Num primeiro momento, o Executivo europeu defende a taxação de 3% das receitas - e não dos lucros, como de costume - gerados pela exploração das atividades digitais. Esta tarifa seria aplicada apenas a empresas cujo volume de negócios anual a nível mundial fosse superior a 750 milhões de euros e cuja receita na UE superasse 50 milhões de euros. Assim, as pequenas start-ups europeias, que já têm dificuldades em competir com as gigantescas americanas, não seriam afetadas pelo encargo. Publicidade na mira A Comissão Europeia mira na receita publicitária dos grupos, obtida a partir dos dados de seus usuários (no modelo de Facebook, Google e Twitter), ou na receita por relacionar internautas para um serviço específico, como Airbnb, ou Uber, por exemplo. Já as empresas cujo modelo de negócios se baseia em assinaturas, como a Netflix, não serão afetadas, nem aquelas que ganham dinheiro através do comércio eletrônico, como a Amazon. Ao todo, entre 120 e 150 empresas podem ser afetadas pelo novo tributo: metade dos Estados Unidos, um terço da Europa e o restante essencialmente asiáticas, principalmente chinesas, segundo a Comissão. Este imposto poderia gerar cerca de 5 bilhões de euros por ano.

Quinta-feira, 22 de março de 2018 Internacional Conheça nosso site www.jb.com.br 13 Facebook admite culpa Empresa envolvida em escândalo de roubo de dados diz que poderia atuar nas eleições do Brasil O escândalo do vazamento ilegal de informações pessoais de milhões de usuários do Facebook para a empresa de consultoria política Cambridge Analytica (CA), que teria manipulado os dados para influenciar nas eleições americanas, causou apreensão no mundo. Uma comissão dos Estados Unidos abriu investigação sobre o caso, e os parlamentos europeu e britânico cobraram esclarecimentos da rede social. O diretor-executivo da empresa, Mark Zuckerberg, admitiu culpa: Temos responsabilidade de proteger seus dados, e se não conseguimos, então não merecemos servi-lo. Ele também prometeu mudanças. Vamos investigar os aplicativos que tiveram acesso a grandes quantidades de informação antes de mudarmos nossa plataforma, disse ele, anunciando uma auditoria em casos suspeitos. Em 2014, o Facebook impediu o acesso aos dados dos amigos de usuários que baixaram um aplicativo, a menos que estes amigos também tenham feito o download. No caso revelado agora, a CA obteve informações de 50 milhões de usuários do Facebook após 270 mil pessoas terem baixado um aplicativo desenvolvido por Aleksandr Kogan, que ontem disse estar sendo utilizado cono bode expiatório. Zuckerberg também prometeu restringir ainda mais o acesso dos desenvolvedores a informações para prevenir outros tipos de abuso. Além disso, disse que se tornará mais fácil entender para quais aplicativos os usuários permitiram acesso aos seus dados. Mas os tentáculos da Cambridge Analytica podem ser mais longos. O uso ilegal de informações não terminaria nas eleições presidenciais americanas. Há suspeitas de que a empresa também tenha atuado no plebiscito para a saída do Reino Unido da União Europeia. Em 2016, os britânicos decidiram deixar o bloco. Além disso, em vídeo gravado secretamente para uma reportagem do Channel 4 News, do Reino Unido, dois executivos da empresa afirmam que usaram a coleta ilegal de dados em outros países, como México e Malásia, e que iriam para o Brasil para participar das eleições de outubro. No vídeo, Alex Tyler, chefe de dados da CA, diz que a coleta de informações pessoais ajuda a segmentar a população para passar mensagens sobre questões que elas se importam e linguagens e imagens com as quais provavelmente se engajam. Além disso, ele afirma: Usamos isso nos Estados Unidos, na África. É o que fazemos como empresa. Em seguida, é complementado pelo diretor-gerente da CA, Mark Turnbul: Fizemos no México, na Malásia, e agora estamos indo para o Brasil, China, Austrália.... Em 2017, a agência brasileira Ponte Estratégia, do publicitário André Torreta, chegou a firmar parceria com a Cambridge Analytica, criando a CA Ponte. Após a revelação do escândalo, a consultoria suspendeu o acordo. As duas empresas tinham um contrato que permitiria à agência brasileira utilizar os métodos de operação de bancos da Cambridge nas eleições brasileiras. A CA vende o serviço dela para marqueteiros locais, que agregam isso ao apresentar seus portfólios para políticos. Desde 2017, o governo brasileiro vem organizando o sistema eleitoral para comportar justamente o uso de ferramentas da Cambridge Analytics e incluiu a liberdade de empresas como Facebook fazerem o famoso impulsionamento de conteúdo. Ou seja, após análise de perfis, é possível direcionar propaganda para um grupo específico. Além disso, autorizou o Google a fazer ranqueamento de conteúdo para candidatos. Isto é, a busca por termos constrangedores dará menos resultado do que a respeito de termos mais elogiosos, afirma Alcides Peron, pesquisador do departamento de sociologia da Universidade de São Paulo (USP), e especialista na área de segurança e tecnologia. Para ele, as mudanças são uma ameaça para a democracia, privando o eleitor de acesso a informações relevantes: Esses sistemas, que são caros e só podem ser usados por candidatos ricos, aparecem como um verniz de legitimidade aos interesses das velhas elites politicas. Sanitarizando suas campanhas e fragilizando o debate sobre os reais problemas. Daniel Leal-Olivas/AFP QUEM É QUEM Aleksandr Kogan: Por intermédio de sua empresa, a Global Science Research (GSR), o jovem pesquisador russo de psicologia e de psicometria desenvolveu o aplicativo thisisyourdigitallife. Por meio de um teste de personalidade do app, coletou-se dados de usuários do Facebook, transmitidos para a Cambridge Analytic (CA). Kogan afirma que a CA lhe garantiu que tudo foi feito legalmente e de acordo com os termos de utilização do Facebook. Ainda assim, reconhece que a questão deveria ser mais discutida. Ele imigrou para os Estados Unidos aos sete anos, estudou na Universidade de Berkeley e obteve doutorado em Hong Kong, em 2011, antes de entrar para a Universidade de Cambridge. Alexander Nix: O CEO da Cambridge Analytica foi suspenso de seu posto após as revelações devastadoras da rede de televisão britânica Channel 4. Imagens mostram Nix se gabando de seus métodos, que envolvem acusações de corrupção e uso de prostitutas ucranianas, para desacreditar adversários políticos de seus clientes. Também se vangloria do papel de sua empresa na eleição do presidente americano, Donald Trump. Nix passou pela pelo Eton College, celeiro de líderes no Reino Unido, e pela Universidade de Manchester. Foi analista financeiro antes de se unir à sociedade britânica de marketing Strategic Communication Laboratories (SCL), da qual a CA é uma filial. Christopher Wylie: Canadense de 28 anos e cabelos cor de rosa, era um antecipador de tendências. Ao jornal britânico The Observer, contou como teve a ideia de ligar o teste de personalidade do aplicativo ao uso político. Encontrou-se com Alexander Nix, que lhe ofereceu um emprego na Cambridge Analytica, dando-lhe carta branca para agir. Wylie disse ter se reunido com Steve Bannon, ex-conselheiro estratégico do presidente Donald Trump, e com Rebekah Mercer, filha de um milionário que apoiou Trump. Em entrevista à rede canadense CBC, ele admitiu que os métodos da CA são problemáticos, pois eram baseados sobre dados privados obtidos sem consentimento dos usuários. Robert Mercer: Empresário americano de 71 anos que fez fortuna nos fundos de investimento. É um dos principais doadores do Partido Republicano. Financiou a Cambridge Analytica com cerca de US$ 15 milhões. Sua filha, Rebekah, seria membro do conselho administrativo da CA. Fez fortuna graças a algoritmos complicados. Programador na IBM, uniu-se ao administradora de fundos especulativos Renaissance Technologies. Steve Bannon: Conselheiro próximo de Donald Trump até ser demitido da Casa Branca em 2017. Segundo o The Observer, estaria no comando da CA. Dirigiu o site de notícias da extrema-direita Breitbart News antes de se tornar diretor de campanha de Trump. Autor de ataques se mata em Austin Sarkozy é indiciado por corrupção Rússia acusa Reino Unido por ataque Crise no Vaticano provoca renúncia Astronautas levam bola até o espaço Atentado em Cabul mata pelo menos 26 Um homem branco, identificado como Mark Anthony Conditt, procurado como o suposto autor de cinco explosões com pacotes bomba em Austin, no Texas, se matou na madrugada de ontem ao explodir o veículo no qual estava, no momento em que as autoridades se preparavam para detê-lo. Os ataques deixaram dois mortos e vários feridos. O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy foi indiciado pelo suposto financiamento ilegal de sua campanha presidencial em 2007 com dinheiro do regime líbio, na época governado por Muamar Kadhafi. O político foi detido ontem, prestou depoimento durante dois dias e depois voltou para casa. Sarkozy nega todas as acusações contra ele. A Rússia colocou em dúvida as acusações do Reino Unido que apontam Moscou como responsável pelo envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal, insinuando que o caso foi uma encenação das autoridades britânicas. Todos os embaixadores em Moscou foram convidados ao ministério das Relações Exteriores para ouvir a posição russa. O ministro de Comunicação do Vaticano, monsenhor Dario Viganò, renunciou ao cargo após ser acusado pela imprensa de esconder partes de uma carta de Bento XVI sobre o papa Francisco, escândalo que revela rivalidades internas. O papa emérito se negou a escrever um prólogo para livretos teológicos e didáticos de Francisco. Três astronautas decolaram, nesta quarta-feira de Baikonur, no Cazaquistão, para um voo de dois dias até a Estação Espacial Internacional (ISS), levando uma bola que será utilizada na Copa do Mundo de futebol da Rússia de 2018. Dois americanos e um russo fazem parte da missão a bordo da nave Soyuz MS-08, que tem previsão de durar cinco meses. Ao menos 26 pessoas, a maioria adolescentes, morreram ontem quando um suicida que andava a pé detonou explosivos diante da Universidade de Cabul, onde era celebrado o Noruz, a festa do Ano Novo persa. O ataque, o quinto na capital afegã nas últimas semanas, foi reivindicado pelo grupo Estado Islâmico. Os alvos geralmente são xiitas.

14 Conheça nosso site www.jb.com.br Internacional Quinta-feira, 22 de março de 2018 Jacques Marie/AFP Estudantes e operários franceses se reuniram em movimento constestatório que pedia mais liberdade política e melhores condições de trabalho, influenciando uma geração O início de maio de 1968 Há 50 anos, estudantes ocuparam Nanterre, centelha para movimento que mudou o mundo JULIETTE BAILLOTE Da AFP Sacudida por uma revolta estudantil, a França viveu em maio de 1968, há 50 anos, a maior greve geral de sua história, marcada pelo encontro entre um profundo mal-estar popular e desejos de mudança. O estopim para o movimento começou na Universidade de Nanterre, a oeste de Paris, em 22 de março. Daniel Cohn-Bendit, estudante alemão de sociologia, e uma centena de colegas ocuparam um prédio para protestar contra a prisão de estudantes dos Comitês Vietnã. Danny, le Rouge (Danny, o Vermelho), como era apelidado na época, alusão aos seus cabelos ruivos, não deixava ninguém indiferente. Seus talentos de líder das massas e de agitador lhe deram uma grande popularidade em Nanterre, inclusive entre quem não compartilha de suas ideias, escreveu a AFP na ocasião. Os estudantes protestavam contra uma reforma que dificultava o acesso às universidades e reivindicavam o direito a residências universitárias mistas. No dia 2 de maio, a Universidade de Nanterre foi fechada. A mobilização cresceu e, no dia seguinte, os estudantes dirigiram-se à Universidade de Sorbonne. Maio de 1968 começou naquele dia, às 16h45m. Equipados com capacetes e escudos, policiais entraram na universidade parisiense para desocupá-la e detiveram cerca de 600 jovens. Os estudantes se transformaram em manifestantes descontrolados, segundo o então chefe da polícia de Paris, Maurice Grimaud. Os primeiros confrontos ocorreram no entorno da Sorbonne. As universidades, escolas e teatros ocupados por jovens viraram locais de debates permanentes, onde todos queriam mudar o mundo. Nas paredes cobertas de pichações, era possível ler: A imaginação no poder. Na noite de 10 de maio, foram erguidas dezenas de barricadas no Quartier Latin de Paris. Diante das bombas de gás lacrimogêneo, jovens responderam atirando paralelepípedos. Os confrontos deixaram vários feridos. A manifestação maciça de 13 de maio, em Paris, implicou a união dos movimentos estudantil e operário. As fábricas já tinham sido palco de vários conflitos sociais em 1967 e começo de 1968. A automatização das tarefas, divididas e cronometradas, acelerou o trabalho. Quando os corpos já não conseguiam mais acompanhar o ritmo, os operários mais velhos começaram a ganhar menos. O setor agrícola também se manifestou, sobretudo no oeste do país, muito mobilizado. A confluência entre esses mundos se deu facilmente nas ruas. Os mais jovens foram os mais dispostos a confraternizar, embora no mundo operário, os sindicatos tenham visto com receio, inclusive hostilidade, aqueles esquerdistas dispostos a doutriná-los. Apesar da desconfiança inicial, o diálogo foi se estabelecendo entre todos. Na Sorbonne é mais divertido do que na fábrica ocupada, declararam à AFP jovens operários da Renault: Na fábrica, os jovens dormiam e jogavam cartas. Na Sorbonne se discute, tem gente interessante. A partir de 14 de maio, com as fábricas ocupadas, os trens e os transportes paralisados e os postos de gasolina desabastecidos, a França viveu a maior greve geral de sua história, um movimento que durou semanas e teve a adesão de sete a dez milhões de trabalhadores. Após a noite das barricadas, em 24 de maio, na qual morreram um jovem em Paris e um delegado de polícia em Lyon, o movimento deu uma reviravolta. As negociações entre os sindicatos e o governo desembocaram no dia 27 de maio nos Acordos de Grenelle, marcados por uma alta de 35% no salário mínimo. A base operária continuou a greve, mas as últimas fábricas ocupadas foram evacuadas pela polícia em junho, às vezes com truculência, como na unidade da Peugeot em Sochaux, no leste da França, onde dois trabalhadores morreram no dia 11 desse mês. À frente do Estado, o general Charles de Gaulle demorou a se dar conta da magnitude do protesto. Em 24 de maio, seu projeto de referendo para reformar a sociedade não suscitou mais que indiferença. O general deu um golpe psicológico ao desaparecer em 29 de maio. Um dia depois, voltou após comprovar, com o comando das tropas francesas na Alemanha, baseado em Baden-Baden, que poderia contar com elas em caso de necessidade. O presidente anunciou em 30 de maio sua permanência no poder e a dissolução da Assembleia Nacional. Milhares de pessoas desfilaram pela avenida Champs Elysées, agitando bandeiras francesas e cartazes, aos gritos de Abaixo a anarquia ou França, ao trabalho. A direita ganhou com folga as legislativas de 30 de junho de 1968, mas, dez meses depois, De Gaulle fracassou no referendo que convocou para modificar a organização territorial do país e renunciou. Presidente do Peru renuncia Cris Bouroncle/AFP Diante da perspectiva de ser derrotado em um processo de impeachment desencadeado por suspeitas de corrupção num caso que envolve a brasileira Odebrecht, o presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, renunciou ao cargo. A votação aconteceria hoje no parlamento. A decisão chega a apenas três dias da Cúpulas das Américas, que será realizada em Lima. Kuczynski era criticado por muitos por ter concedido um indulto, alegando razões humanitárias, ao ex-presidente Alberto Fujimori, que tinha sido condenado a 25 anos de prisão por crimes contra os direitos humanos e corrupção durante sua gestão (1990-2000). Fujimori, de 79 anos, sofre com problemas de saúde. A medida, tomada no início do ano, foi uma manobra para conseguir votos de parlamentares ligados ao filho de Fujimori, Kenji, e assim livrar o mandatário do afastamento. Não quero ser um obstáculo para que nossa nação encontre o caminho da harmonia que tanto necessita e que me negaram. Não quero que a pátria sofra. Trabalhei 60 anos de minha vida com total honestidade, afirmou Kuczynski em mensagem para os cidadãos. O partido do presidente, PPK (Peruanos Por El Kambio), vive uma guerra interna entre os filhos de Fujimori. Se por um lado Kenji ajudou a salvar Kuczynski na primeira votação de impeachment, Keiko Fujimori atuou na divulgação de vídeos que mostram seu irmão oferecendo favores para parlamentares votarem contra o afastamento. As chances do presidente eram mínimas, e para piorar houve a divulgação dos vídeos. Além disso, Kuczynski não tinha apoio no Congresso. Kenji tem sido um fiel da balança, diferente da irmã, que faz oposição. Como líder de uma bancada independente no Congresso, ele negociou votos, obtendo como troca o indulto do pai. O problema é que ao negociar a liberação de Alberto Fujimori, Kuczynski acabou sendo alvo de críticas dos parlamentares da esquerda que lhe davam apoio, deixando flanco aberto para que a oposição tentasse mais uma vez seu impedimento, diz Eduardo Heleno, professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF). Após a renúncia, o primeiro-vice-presidente, Martín Vizcarra, também do PKK, deverá assumir o cargo até o fim do mandato. Kuczynski passava por processo de impeachment

Quinta-feira, 22 de março de 2018 Esporte Conheça nosso site www.jb.com.br 15 Renato Mauricio Prado Futebol & Cia renato.mprado@jb.com.br Qual o futuro de Guerrero? Aproximando-se o final da suspensão de Paolo Guerrero, uma questão se impõe: vale a pena renovar o milionário contrato do centroavante peruano, que termina no dia 10 de agosto? Antes de pensar nisso, a diretoria rubro-negra tentará uma solução intermediária. Quer prorrogar o contrato atual até o final do ano, nas mesmas bases, e deixar as discussões de uma possível renovação mais pra frente. A ausência forçada do artilheiro, nos últimos cinco meses, aumentou o seu prestígio junto à torcida. Isso porque nenhum de seus substitutos se mostrou à altura e a camisa nove continua a ser um dos pontos fracos do time atual Henrique Dourado, ao menos até o momento, revelou-se apenas um ótimo batedor de pênaltis. E Felipe Vizeu, que nunca chegou a encantar, já está vendido e com a cabeça no futebol italiano. Restam os meninos. Lincoln é que tem ficado no banco de reservas e goza de muito prestígio no clube e na própria seleção de base, onde Edu Gaspar diz que Tite enxerga nele características semelhantes às de Gabriel Jesus. Sinceramente, não o vi jogar o suficiente para dizer se está certo ou errado. Dentro do próprio Fla, entretanto, há um outro garoto que encanta e, para muita gente boa, é melhor que Lincoln e, fatalmente, será o futuro dono da camisa nove rubro-negra: Vítor Gabriel, principal destaque do time na conquista da última Copinha. Na atual temporada, entretanto, não creio que nenhum dos dois jovens possa atingir, em 2018, o nível de Paolo Guerrero que, apesar da Copa do Mundo, ainda poderá jogar na Libertadores, no Brasileiro e na Copa do Brasil pelo Flamengo. Estender o seu contrato até o final do ano seria, de fato, a solução ideal. Resta saber se o peruano gostará da ideia ou se já tem algum outro interessado no seu futebol, no exterior. Aqui no Brasil, não creio que haja alguém capaz de bancar o seu alto salário (especulado entre 800 mil e 1 milhão de reais por mês). Até porque, inscrito pelo Fla na Libertadores, mesmo sem jogar, ele já não pode mais disputar a principal competição do continente por nenhum outro time daqui. Em tempo: a WADA, agência mundial de controle antidoping está recorrendo e tenta aumentar a pena de Guerrero para dois anos (inicialmente, a suspensão foi de um ano, posteriormente reduzida para seis meses, que vencem agora). A impressão geral, entretanto, é de que o recurso da WADA será recusado. Sem favorito Fla-Flu nunca teve favorito e o de hoje, pela praticamente inútil semifinal da Taça Rio, não é diferente. É claro que até os tricolores reconhecem que o elenco rubro-negro é melhor. Mas quando a bola rola, o peso das duas camisas equilibra tudo e a recente goleada de 4 a 0 do Flu sobre os reservas do Fla reforça a sensação de que a diferença não é tão grande assim. Esta noite, o empate classifica o Fluminense para a final da Taça. Isso, certamente, obrigará o Flamengo a buscar mais o ataque, dando para o adversário o que é a sua tática predileta: o contra-ataque. Já que o returno não vale quase nada, resta torcer para que, pelo menos, seja um jogo animado e bom de se ver. Pequeno avanço A CBV atendeu em parte a reivindicação dos atletas e os votos dos representantes das comissões dos jogadores de praia e quadra passaram de dois para quatro na assembleia geral. O grande avanço, na verdade, foi a flexibilização das regras para concorrer à presidência do órgão, o que abre mais espaço para ex-atletas chegarem ao poder. Não custa lembrar, contudo, que os últimos presidentes da CBV eram ex-jogadores: Carlos Arthur Nuzman e Ary Graça... Que cultura, que nada! Excursão do Flamengo na Itália, nos tempos em que o time era dirigido por Evaristo Macedo. No elenco, entre outros, Djalminha, Marcelinho, Paulo Nunes, Junior Baiano e Renato Gaúcho (como esse time conseguiu não ganhar nada importante?). Técnico de gosto refinado, Evaristo fez questão de levar os jogadores para um tour pela Cidade Eterna. Roteiro 1: Vaticano. Conhecer a Basílica de São Pedro. Uns dez gatos pingados se interessaram em descer do ônibus. Roteiro 2: Coliseu. Uns oito tiveram disposição pra ir ver de perto. Um pouco mais adiante, quando houve uma parada diante da famosíssima Fontana de Trevi, uma voz gutural se fez ouvir, das profundezas dos últimos bancos: - Se era pra ver chafariz, bastava ir à Praça Quinze! Evaristo capitulou na hora, ordenando ao motorista: - Amigo, nos leve a uma boa loja de material esportivo, de preferência bem próxima de uma pizzaria. Sucesso total! CBV mexe nas eleições A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) aprovou ontem mudanças que mexem com o rumo do esporte nos próximos anos. Em reunião da Assembleia Geral da CBV em sua sede, na cidade de Saquarema, a entidade decidiu que qualquer brasileiro nato com mínimo de 21 anos de idade e pelo menos seis votos na Assembleia cinco votos obrigatórios de federações poderá ser candidato à presidência da confederação. Antes da decisão de ontem, era necessário ter sete anos de participação em alguma federação filiada para concorrer no pleito. A assembleia também definiu o aumento da representatividade dos atletas. Os ex-jogadores André Heller presidente da comissão dos atletas de quadra e Emanuel Rego presidente da comissão dos atletas da praia poderão indicar um jogador de suas modalidades para comporem a assembleia, com direito a voto. Dessa forma, o número de representantes dos atletas salta de dois para quatro. A Comissão de Atletas queria, previamente, que sua classe tivesse dez votos, mas Emanuel alterou o projeto antes da definição. Aos poucos, estamos trazendo mais credibilidade, declarou. Seleção se vira sem o astro MOSCOU - A ausência de Neymar nos amistosos contra a Rússia e a Alemanha, a menos de 90 dias da estreia do Brasil na Copa, é uma oportunidade de ouro para saber como a seleção se comporta sem o seu principal jogador. Apesar de ninguém admitir abertamente, é possível que o astro não esteja 100% para a primeira partida do Mundial, contra a Suíça, dia 17 de junho, em Rostov. Não por acaso, desde que a delegação chegou a Moscou, no início da semana, a ausência do craque do PSG mereceu ao menos uma pergunta. em todas as coletivas realizadas. Até agora, quatro jogadores enfrentaram a imprensa que acompanha a seleção nestes dois amistosos na Europa. Grupo equilibrado ajuda A preocupação maior de todos eles foi destacar que a seleção hoje já não depende tanto do seu camisa 10. O Neymar é um grande jogador, importante para qualquer equipe e com a nossa é diferente. Mas a seleção cresceu muito coletivamente, isso é o ponto principal. Temos que continuar apostando nisso, disse o meia do Barcelona. Companheiro de Neymar na seleção e adversário em clubes desde as divisões de base, o volante Casemiro lembra que todos os jogadores da seleção são titulares em grandes clubes do futebol mundial. O equilíbrio do grupo, segundo ele, é um ponto que não poder ser descartado na hora de analisar a formação do Brasil sem o seu principal jogador. E olha que, criado no São Paulo e titular do Real Madrid há duas temporadas, Casemiro sabe como Neymar posa com a nova camisa da seleção, em foto feita antes da fratura poucos o que é ter o atacante do outro lado. Neymar faz falta para qualquer equipe, é um grande jogador. Mas com o grupo que temos, o jogador que entrar vai dar conta. São todos jogadores de alto nível, garante o volante de 26 anos, mesma idade de Neymar. Destaque do Chelsea nos últimos meses, Willian aprendeu na Inglaterra a importância do jogo coletivo, mesmo num elenco repleto de estrelas. Foi catequizado / Divulgação/CBF por dois mestres: o português José Mourinho e o italiano Antonio Conte, seu atual técnico. Lógico que o Neymar faz falta a qualquer time, é um craque. Mas hoje o coletivo muito forte, destaca William. Ontem a CBF divulgou oficialmente a camisa que a seleção brasileira usará na Copa do Mundo. A estreia será amanhã, contra o Rússia. A camisa nova custará R$ 449 para o torcedor. Corinthians tem que vencer hoje O Corinthians vai precisar mais do que nunca da força de sua camisa, hoje (20h), em Itaquera, no jogo de volta contra o Bragantino. Como perdeu o jogo de ida por 3 a 2, o time do técnico Fábio Carille necessita de uma vitória por pelo menos dois gols de diferença para chegar às semifinais. A primeira partida foi no Pacaembu. Quem já está garantido na próxima fase do Paulista é o São Paulo. Num jogo tenso, o tricolor venceu o São Caetano, terça-feira, no Morumbi, por 2 a 0, gols de Tréllez e Diego Souza. Na primeira partida o tricolor fora derrotado por 1 a 0. Santos consegue a vaga nos pênaltis Numa noite de horrores na Vila Belmiro, o Santos garantiu, na disputa de pênaltis, presença na semifinal do Paulista. Depois de um insosso 0 a 0 no tempo normal, o Santos bateu o Botafogo-SP por 3 a 1 nas penalidades. O jogo foi disputado debaixo de chuva e o nível técnico foi abaixo da crítica. E o que já era ruim no tempo normal, piorou nas penalidades. Foram cinco cobranças desperdiçadas. Pelo Santos, marcaram Gabigol, Diogo Vítor e Arthur Gomes. Desperdiçaram Vitor Bueno e Lucas Veríssimo. No Botafogo_SP, apenas Jheimy convertou. Os outros isolaram a bola.

16 Conheça nosso site www.jb.com.br Quinta-feira, 22 de março de 2018 JORNAL DO BRASIL Esportes Vitória na superação Botafogo vence o Vasco por 3 a 2 em jogo eletrizante e vai decidir a Taça Rio no domingo Jorge Rodriguez/Eleven/Lancepress! MAURICIO FONSECA mauricio.fonseca@jb.com.br Quem esperava um jogo contaminado pelos acontecimentos do último domingo se surpreendeu com o que Vasco e Botafogo mostraram ontem no estádio Nilton Santos. As equipes deixaram a fratura do meia alvinegro João Paulo para trás e trataram de jogar futebol. Fizeram um primeiro tempo excelente, com quatro gols. No fim, deu Botafogo: 3 a 2. Com a vitória o alvinegro, que não vencia o Vasco há 11 jogos no Carioca, decidirá a Taça Rio com o vencedor do Fla-Flu de hoje. O atacante Rildo, que quebrou a perna de João Paulo no último domingo, visitou o colega de profissão no hospital, no dia seguinte ao lance. Fui no hospital e pedi desculpas para ele e para a mulher dele. João Paulo pediu pra eu não ficar com peso na consciência. Foi um lance muito forte, mas não foi por maldade. Precisava explicar isso a ele, disse o vascaíno, que conseguiu com isso, diminuir a tensão que cercava o confronto. Como o Vasco jogava pelo empate, o Botafogo tratou de buscar o gol logo no início. E conseguiu anular a vantagem do adversário aos 12, com Brenner, após ótima jogada de Leo Valencia. Botafogo 1 a 0. O Vasco, que perdera Evander, com lesão muscular, aos 10 (Wagner entrou), não se abateu com o início conturbado. Marcando a saída de bola, encurralou o adversário. Gatito Fernandez fez grande defesa em chute de Wagner, antes de Riascos acertar o travessão. O empate veio na sequência, com Erazo aproveitando cobrança de escanteio de Paulinho, aos 19. As bolas aéreas, que têm sido o terror da zaga do Botafogo neste início de temporada dos 16 gols sofridos até agora, oito Igor Rabello comemora seu gol, o terceiro do Botafogo. O zagueiro foi vaiado por sua torcida durante o jogo e terminou a noite como herói foram de cabeça, foram novamente a dor de cabeça alvinegra. Aos 30, Paulinho cobrou novo escanteio e Riascos completou de cabeça, virando o placar. Parecia replay do primeiro gol. A torcida do Botafogo foi à loucura e passou a gritar o nome do zagueiro argentino Carli, que era titular absoluto ano passado e ainda não jogou com Alberto Valentim. O jogo não parava e o alvinegro conseguiu o empate com Luiz Fernando, aos 33, após belo passe de Igor Rabello. Foi o pri- meiro gol do atacante pelo Botafogo. Os times tiraram o pé do acelerador na etapa final e o jogo ficou mais concentrado entre as duas intermediárias. O Botafogo começou a dar sinais de cansaço e Alberto Valemtin mexeu, tornando a equipe mais ofensiva. Não adiantou muito, até que aos 39, Igor Rabello, que fora vaiado pela torcida, fez o gol que classificou o Botafogo para as finais da Taça Rio. Vasco: Gabriel Félix, Pikachu, Paulão, Erazo e Fabrício; Desábato, Wellington (Paulo Vítor), Evander (Wagner) e Paulinho; Andrés Ríos (Thiago Galhardo) e Riascos. Botafogo: Gatito Fernandez, Marcinho, Marcelo, Igor Rabello e Moisés; Rodrigo Lindoso, Marcelo Santos, Leo Valencia (Rodrigo Pimpão) e Marcos Vinícius (Pachu); Luiz Fernando (Ezequiel) e Brenner. Juiz: Wagner do Nascimento Magalhães. Cartões amarelos: Pikachu, Marcelo Santos, Wellington, Paulão, Luiz Fernando, Rodrigo Lindoso, Desábato, Igor Rabello. Reencontro que vale vaga na final GUILHERME BIANCHINI guilherme.bianchini@jb.com.br Gilvan de Souza/Flamengo Lucas Merçon/Fluminense F.C Depois de vários confrontos decisivos em 2017, é hoje o primeiro Fla-Flu eliminatório de 2018. Os rivais se enfrentam no Nilton Santos, às 20h, para definir vaga na final da Taça Rio. Por ter melhor campanha no segundo turno, o Fluminense joga pelo empate. Para o Flamengo, a vitória é fundamental para seguir em busca da taça que o garantiria na decisão do Carioca, com vantagem do empate em jogo único. O time de Abel Braga não venceu os rubro-negros nos oito clássicos do ano passado, mas se deu bem na única partida disputada no Nilton Santos. Após empate por 3 a 3, o Flu venceu nos pênaltis e conquistou a Taça Guanabara. No primeiro Fla-Flu de 2018, o tricolor goleou os reservas do rival por 4 a 0, em Cuiabá. O técnico tricolor fez mistério e não divulgou a escalação, mas deve repetir a base que vem utilizando nas principais partidas. Após o empate com a Cabofriense, Abel declarou que Douglas é titular, e o volante pode entrar em uma das três vagas do meio-campo. Não falei o time nem para meus jogadores. Se não sofrer gol, vai classificar. Mas se colocar na cabeça que o empate é bom, fica aquele negócio de que coloquei o time atrás. O time vai jogar como sempre jogou. Se pegar no papel, o Fla leva vantagem. No coletivo, não sei, analisou o treinador. Dourado treina finalizações no Ninho antes de enfrentar o ex-clube A semifinal de hoje também marca o reencontro de Henrique Dourado com seu ex-clube, já que não esteve em campo no Fla-Flu de Cuiabá. Assim como nos primeiros meses com a camisa tricolor, o Ceifador sofre pressão por estar devendo em campo. Marcou quatro gols em oito jogos pelo novo clube, sendo três de pênalti. Dourado já convive com a sombra de Paolo Guerrero, que voltou aos treinos nesta semana e tem retorno previsto para o início de maio. O camisa 19 precisa se provar em campo para ter chances de con- tinuar na equipe titular assim que o peruano estiver liberado para atuar. Nos oito clássicos do ano passado, quando estava do outro lado, marcou três gols e não saiu vitorioso em nenhum. Tem hoje a oportunidade de ouro para ganhar a confiança dos rubro-negros. Everton Ribeiro, que também não conquistou ainda a torcida rubro-negra, acredita que Dourado está se adaptando aos poucos ao novo clube. Essa pressão é normal. O Dourado é um grande jogador, sabe da responsabilidade. Quando o gol Herdeiro da vaga no ataque tricolor, Pedro convive com críticas não sai para o atacante é difícil, mas ele fez um gol nesse último jogo e está mais leve para nos ajudar, torce Everton Ribeiro, que também marcou no último jogo. Fluminense: Júlio César, Renato Chaves, Gum e Ibañez; Gilberto, Richard (Douglas), Jadson, Sornoza e Ayrton Lucas; Marcos Júnior e Pedro. Flamengo: Diego Alves, Rodinei, Réver (Rhodolfo), Juan e Renê; Jonas, Éverton Ribeiro, Diego, Lucas Paquetá (Vinícius Júnior) e Everton; Henrique Dourado. Juiz: Maurício Coelho Júnior.

Rio de Janeiro Quinta-feira, 22 de março de 2018 JORNAL DO BRASIL Conheça nosso site www.jb.com.br Não pode ser vendido separadamente Fotos de divulgação Bloco reúne 500 obras em sete individuais. Destacam-se peças de Berredo (dir), Helena Trindade (acima) e Suzana Queiroga (abaixo) Nova temporada de exposições no Paço MÔNICA RIANI monica.riani@jb.com.br Parada obrigatória para quem quer se certificar dos caminhos da arte na atualidade, o Paço Imperial, na Praça XV, abre ao público hoje o primeiro bloco de exposições do ano. São sete individuais que, através do emaranhado de sendas contemporâneas, mostram ao público o melhor da produção de artistas visuais em atividade no Rio, especialmente os surgidos nos anos 1980 e 1990. O alinhamento do grupo é resultado da curadoria da diretora Claudia Saldanha e do Conselho de Amigos do Paço, formado por Luiz Áquila, Marcelo Campos, Carlos Vergara e Marisa Flórido. As individuais escolhidas para abrir o ano são de Hilton Berredo, Osvaldo Carvalho, Suzana Queiroga, Alexandre Vogler, Marcos Abreu, Geraldo Marcolini e Helena Trindade, com quase 500 obras. Claudia Saldanha ressalta que a escolha dos artistas se pautou no fato de eles serem expoentes do Rio. A exposição de Hilton Berredo, com curadoria do próprio artista, serve de luz-guia dentro do todo. Em Dos anos 80 às obras recentes, estão expostos alguns dos motivos que tornaram Berredo um dos artistas mais notáveis do movimento Geração 80. Pondo fim a uma ausência de 20 anos desde minha última exposição individual, apresento nesta mostra meu trabalho recente, ambientado no contexto de algumas das obras que guardei comigo nas últimas quatro décadas. Espero situar o trabalho atual como a mais recente tentativa de dar forma às questões de arte que me interessam desde os anos 1980, descreve o pintor, no texto curatorial. Parei esse tempo por ambição estética, pelo desafio de desenvolver uma linguagem independente dos materiais, pela angústia do abismo que seria colocar a carreira acima da obra e navegar no sucesso fácil da repetição. Creio que esta exposição deva esclarecer a fortuna [ou o infortúnio] dessa ambição, comenta no catálogo. Ao todo, são mais de 80 obras selecionadas para o Terreiro do Paço, mas Berredo esclarece que não se trata de uma retrospectiva. O alinhamento de obras em borracha, como a importante Maré vermelha (1988), e O quinto (2018), situam o visitante em torno de aspectos da pesquisa do artista ao longo de sua carreira. Estão aí questões que configuram a linguagem nas diversas estratégias que adotei nesse tempo. Há 16 obras de borracha (1983 a 1989), sete pinturas a óleo sobre tela da série Antropofagia romântica, dos anos 1990, sete obras da série PVC, feitas entre 2008 e 2010, 44 pequenos formatos em acrílica sobre tela, das séries Estado de ânimo, de 2015, e Orgânicas, de 2016. Fechando o conjunto há doze pinturas na série Flat3D, iniciada em 2017. O artista vibra ao falar de sua mais recente obra O quinto em PB : Meu entusiasmo se deve ao efeito de profundidade que se pode comparar com o espaço real das borrachas. O espaço avança sobre o espectador, como se inflado de dentro da tela para fora, pontua. Continua na página 2

2 Conheça nosso site www.jb.com.br Caderno B Quinta-feira, 22 de março de 2018 Continuação da capa Fotos de divulgação Um dos destaques da instação de Alexandre Vogler é o díptico Fresnel 5 invertido. A individual de Marcos Abreu explora possibilidades da gravura (abaixo à esq.,), já Suzana Queiroga explora questões do tempo (ao centro) e Helena Trindade responde à tradição da poesia visual, as duas com trabalhos em grandes formatos Suzana Queiroga aborda o tempo e a paisagem em três salas No primeiro andar do prédio histórico do Centro do Rio, Suzana Queiroga apresenta Miradouro, mostra com curadoria de Raphael Fonseca. Tempo, paisagem e cartografias estão entre os temas observados pela artista. A exposição se esparrama por três salas do segundo andar do Paço Imperial, uma área total de 300 metros quadrados, que recebem 15 trabalhos em grandes dimensões, dentre pinturas, esculturas, instalações e vídeos. A exposição também terá uma parte documental, com estudos, mapas, pesquisas e o processo de trabalho da artista no ateliê, em comemoração aos dez anos do projeto Velofluxo. Logo na entrada, está uma grande pintura redonda, de 1,5m de diâmetro, em óleo sobre tela, com veios em tons de azul, verde e laranja, que representam os fluxos. Na mesma sala, haverá desenhos e rascunhos, montados sobre a parede, sem moldura, trazendo um pouco da atmosfera do ateliê da artista para o Paço. Em outra sala, estão cinco pinturas em grande formato, que representam paisagens, não só urbana, mas também aérea e marítima. No meu trabalho, penso a cartografia de forma ampla. Minha pesquisa envolve a cartografia do tempo, do infinito, afirma a artista. A obra Nuvem, composta por 24 papéis vegetais, que recebem banhos de pigmentos em tons de cinza, violeta e rosados, é um dos destaques. A grande instalação Topos (2017), que ocupará o chão da última sala, é composta por recortes em feltro, que representam as cartografias de várias cidades, reais e imaginárias. O feltro bruto, feito de aparas de refugo de indústria têxtil possui uma massa corpórea espessa, que se projeta no espaço e estabelece uma relação direta com a escala humana e arquitetônica. Ao mesmo tempo, possui uma carga simbólica: é um tipo de manta utilizada pela Serviço Paço Imperial (Praça XV de Novembro, 48. Centro. Tel. 2215-2622) Entrada franca Visitação: Até 27 de maio de 2018 Ter a sex, das 12h às 19h Sáb, dom e feriados: das 12h às 18h Terreiro: Hilton Berredo (Dos anos 80 às obras recentes) Terreirinho: Osvaldo Carvalho (Terra Prometida) Primeiro pavimento - salas Gomes Freire e 13 de maio: Suzana Queiroga (Miradouro) Primeiro pavimento - sala Academia dos Seletos: Alexandre Vogler (Pintura de Fresnel) Primeiro pavimento - sala Mestre Valentim: Marcos Abreu (Muroh) Primeiro Pavimento - salas do Trono e Dossel: Geraldo Marcolini (Fim de semana em Cabo Frio) Segundo pavimento: Helena Trindade (A Letra é a traça da letra) indústria e também pelo morador de rua como cobertor, veste e abrigo, diz a artista, que ressalta que, nesta obra, estão presentes elementos que atravessam o seu trabalho nos últimos anos: o fluxo, o tempo, o infinito, as cidades e as cartografias. Nova geração - Enquanto Berredo e Suzana trazem em comum o ponto de origem, a Geração 80, as individuais de Geraldo Marcolini, Alexandro Vogler e Marcos Abreu apontam para planos da mesma geração. São artistas pertencentes a uma mesma geração que, no entanto, percorrem caminhos diversos. Vogler mostra uma instalação composta por um conjunto de 10 serigrafias sobre papel, desenvolvidas a partir da observação das lentes de Fresnel e reunidas para instaurar um campo de energia condensada. A realização dos trabalhos combina pintura e gravura, recorrendo a processos rudimentares de mascaramento e sobreposição de cores relativamente transparentes, acumulando camadas de padrões construtivos e gerando uma aparência de dispersão solar. A cor amarela aparece decomposta por estruturas dinâmicas, configurando sua expansão e comunicando os dez elementos da instalação num ambiente imersivo. Vogler nos fala da invenção de Fresnel, físico do século XIX, que criou um sistema de lentes para faróis de sinalização, analisa Claudia Saldanha. Geraldo Marcolini apresenta Fim de semana em Cabo Frio, que traz cenários desabitados de jardins e piscinas reveladores de certa decadência. Imagens de arquivos pessoais são estampadas nas telas a óleo criando aspecto de desterro. Guilherme Bueno assina a apresentação da individual Muroh, de Marcos Abreu. A gravura não é eleita por acaso pelo artista. Assimilar elementos casuais e residuais do processo, prosseguir testes sobre como uma cor reage a diferentes situações, estabelecem uma singular situação, descreve Bueno. Impressões feitas com spray a partir dos vestígios de outros trabalhos é o fio condutor da série. No último pavimento, Helena Trindade exibe A letra é a traça da letra, que se alicerça sobre objetos, vídeos e instalações, em torno da escrita, com evocações à filosofia, psicanálise e poesia. Glória Ferreira faz a curadoria. A artista conduz o visitante por um percurso de reflexões, trata a letra como vetor de significados. Na individual Terra prometida, Osvaldo Carvalho apresenta pintura a óleo sobre papel, cartão e tela, relendo imagens de grande impacto visual que transbordam de internet, cinema e TV. A individual é sobre esse ponto de torção entre a sombra e a fulguração, sobre nossos impasses e insurreições. Gabriel Souza Felicidade é... caminhar pela orla do Leblon

Caderno B Quinta-feira, 22 de março de 2018 Um Bolsonaro nos Direitos Humanos! O vereador Carlos Bolsonaro, do PSC, recebeu ontem voto decisivo da vereadora tucana Thereza Bergher, presidente da Comissão permanente da Câmara Municipal RJ de Direitos Humanos, para ser seu vice-presidente. Votou nele, mesmo após o pleito de alternância colocado pelo vereador Reimont, do PT. Conheça nosso site www.jb.com.br Hildegard Angel hilde@jb.com.br NA CINELÂNDIA POR MARIELLE A EUFORIA TOMOU CONTA DOS manifestantes concentrados na terça-feira na Cinelândia pela memória de Marielle. Ali se misturavam emoção, tristeza, encantamento, esperança e também entusiasmo por participar daquela adesão massiva às causas defendidas por ela. Não era apenas a tragédia de Marielle e Anderson que atraía todo aquele povo àquele local. Era a necessidade de manifestar solidariedade aos mesmos valores e às mesmas lutas. Sim, Marielle estava presente... JOVENS, MUITOS JOVENS. Anônimos da passeata, quase todos. As celebridades poucas se diluíram na multidão, mas não fizeram falta. Bonita foi a diversidade. O show das cabeleiras étnicas, os turbantes, as roupas com identidade própria, sem marcas. E também os mais velhos, os sem idade. Numa Cinelândia na mais completa paz. Sem conflitos. Ninguém bateu carteira, nenhum celular foi furtado e não se viu sequer um policial por perto... E TODOS ERAM BONITOS, ali, naquela noite de engajamento, vivendo aquela situação importante, que já é fato emblemático e transformador para nosso país. A noite em que tantos choraram por Marielle, cantaram e se emocionaram, e prometeram ser fiéis a seus mais elevados propósitos, seguindo os caminhos abertos por essa verdadeira líder, que brotou num canteiro à parte do lodaçal político de nosso país, e ao florescer virou mártir... Os anônimos da passeata eram belos, eram jovens e vestiam-se, não com marcas, mas com identidade... Luyara, a filha de Marielle, chorou convulsivamente durante toda a homenagem, e quem a confortou foi Mônica Benício, viúva de sua mãe (aqui vistas na foto de Anselmo de Andrade)... O senador Roberto Requião era mais um na massa humana de 10 mil solidários... Quando a concentração se dissolveu, anônimos e conhecidos foram para o Amarelinho, com suas camisetas de português ou empunhado bandeiras partidárias, tudo é permitido no território livre da ainda chamada Brizolândia Senado na água Enquanto Brasília sedia o 8º Fórum Mundial da Água, o Senado pauta o meio ambiente no plenário, com diversos projetos. Um deles trata de incentivos a imóveis construídos com medidas para a redução do consumo de água e maior eficiência energética. Os senadores também aprovaram projeto que torna obrigatório o uso de torneiras com dispositivo de vedação au- A PRESIDENTE DO STF, Carmen Lúcia, tinha marcada ontem em sua agenda, às 13h30, audiência com quatro representantes do Movimento Vem Pra Rua, no Gabinete da Presidência... NÃO SEI SE o encontro chegou a se realizar, ou se a ministra foi alertada a tempo de que se trata de um movimento considerado por muitos como fascista, que já esteve até suspenso do Facebook, juntamente com seu Chequer cidadão fundador, por sua hostilidade aos princípios democráticos... GILMAR MENDES afirmou em sessão de julgamento do STF que procuradores do RJ ameaçaram Eike de ser estuprado na prisão... UM JORNAL JURÍDICO, chamado Migalhas, publicou isso ontem, e os procuradores da Lava Jato no Rio de Janeiro expediram, logo em seguida, Nota pública em que repudiaram com veemência a afirmação irresponsável e leviana... ELES AFIRMAM que sempre primaram pela dignidade de todas as pessoas conduzidas à prisão nas várias fases da operação no RJ, fiscalizando o cumprimento da lei e o respeito aos seus direitos, inclusive acompanhado pessoalmente as buscas e prisões... E MAIS: Os membros da Lava Jato tomática de água, em todos os banheiros de uso coletivo. As propostas são anunciadas em tom de preocupação e como solução. Até agora são apenas propostas sem valor de lei. Resta saber se nosso Senado dará prosseguimento aos projetos quando o Fórum da Água acabar na sexta-feira, 23. A ver pelo texto aprovado no Novo Código Florestal, em 2012, trata-se de puro oportunismo. no RJ se sentiram profundamente ofendidos com as injustas palavras assacadas pelo Ministro Gilmar Mendes... XI, ELES PARECEM bem zangados com o Gilmar... BRUNO FARIA, o viúvo de Marília Pêra, perdeu em 1ª Instância, mas vai recorrer. Ele tem um excelente advogado, o Ivan Nunes Ferreira... PORÉM, A JUÍZA, Andréa Pachá, também é excelente, e parece determinada a seguir vontade expressa por Marília em seu testamento, que é a de deixar para Bruno um quarto da metade do bolo. Ele, vocês sabem, acha que merece a metade inteira... O FOTÓGRAFO Marco Rodrigues, desde que ganhou a ação contra Dolores Guinle, pela herança de Jorge Guinle Filho, vem sendo tratado como milionário. Bobagem. Só o que ele vai ter que pagar ao advogado Sergio Bermudes pela sua defesa, já lá vai grande parte do acervo das pinturas de Jorge Fiho, que Marquinhos herdou... POR FALAR em advogado dos bons, Roberto Halbouti vai operar catarata com o Almir Ghiaroni, e por isso não comemora o aniversário no jantar tradicional do 6 de abril... JÁ A BETH Serpa reúne na sexta no J. Club pelo mesmo motivo. Não por catarata, pelo Caligrafia dá multa Eis problema tão velho quanto... a minha avó. Minha avó, não, que ela é gata. Minha trisavó: a caligrafia dos médicos nas receitas é para deduzir, adivinhar? A letra ilegível é uma das principais reclamações ao Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro. Para solucionar o problema, os vereadores da cidade querem que receitas médicas, pedidos de exames e atestados médicos e odontológicos sejam digitados e impressos em com- aniversário dela... TERMINADA A concentração por Marielle na Cinelândia, a esticada foi no Amarelinho. Estavam Tessy Callado, Cristina Pereira, Julita Lengruber, Vera Bocayuva Beth Mendes, Yacy Nunes e mais e mais. O Amarelinho é nosso Café de Flore, comentou uma, que já viveu em Paris e frequentava o café boêmio na esquina do bulevar Saint-Germain... PASSOU POR lá um fotógrafo de cinema gato, quiseram apresentar a uma das moças, e ela: Não estou interessada. Meu interesse é só no Lula. Quero ser primeira-dama do Alvorada... MAL FICOU cego na novela O outro lado do paraíso, o ator português Pedro Carvalho iniciou uma vakinha online... NÃO DEVIDO à sua cegueira, que é de mentirinha, mas para arrecadar fundos para a compra de um veículo para transportar donativos, em alimentos e agasalhos, até o lixão de Gramacho, em Duque de Caxias... A CAMPANHA protagonizada pelo ator é parte do projeto social Missão Amor que Cura, mantido pela Associação São Francisco de Assis na Providência de Deus... O ATOR CONHECEU o programa, na visita que fez ao Hospital São Francisco na Providência de Deus, na Tijuca, putador ou datilografados. Não seguiu a norma? Multa de R$ 1 mil a R$ 4 mil, podendo ser suspenso o alvará da clínica ou do consultório. Quem agradece não são apenas os pacientes, mas os farmacêuticos, que sofrem para decifrar. O projeto será votado em breve, na Câmara Municipal. Ganhou reforços o time que busca os culpados pela morte de Marielle. O procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussem, designou cinco promotores de Justiça do MP-RJ para auxiliar a 23ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal. Solicitação feita pelo promotor Homero das Neves Freitas Filho, titular da 23ª Promotoria de Justiça. Os promotores designados são Alexandre Murilo Graça, Alexandre Themístocles de Vasconcelos, Luís Otávio Figueira Lopes, Marcelo Muniz Neves e Márcio José Nobre de Almeida. que também distribui refeições e agasalhos para moradores de rua... A PRÓXIMA missão será em 7 de abril: distribuição de bombons de Páscoa para crianças do lixão de Gramacho... PARA SER modelo, não basta imitar a Gisele Bündchen no espelho. Yuri Graneiro sabe disso e criou um curso de um ano, imersão total, que ensina de um tudo: andar de salto alto, postura, etiqueta social, comportamento, maquiagem, história da moda etc... FICA NA Escola de Moda do Madureira Shopping, e o aluno mais dedicado ganhará uma viagem para Paris ao fim do curso... YURI TEM Graneiro no sobrenome, mas jura que o curso é superacessível, e conta com grandes nomes do mercado entre seus mestres: a jornalista Márcia Disitzer; a estilista da Cantão, Telma Azevedo; o Milton Cunha, crítico de Carnaval da Globo; a modelo Karen Rodrigues... VAI SE HOSPEDAR em casas de amigos e virá de ônibus de São Paulo, o elenco do Grupo Oficina, que vem ao Rio de Janeiro encenar O Rei da Vela, peça de Oswald de Andrade, um dos principais nomes do Modernismo brasileiro... NÃO HÁ VERBA da produção para hospedagem, bem como não se conseguiu patrocínio de rede de hotéis carioca para hospedar a equipe ou para trazê-la de avião... ZÉ CELSO Martinez Corrêa está em contato com as pessoas que conhece no Rio para ver se consegue todos os apoios possíveis para garantir a encenação na Cidade das Artes em grande estilo, estreia em 14 de abril, como contei... TRISTE VER a situação da Cultura perante o poder público nesta cidade, quando sequer um espetáculo histórico como este pode ser assumido, ou mesmo apoiado... O REI DA VELA teve sua primeira montagem em 1967. Foi agora remontado pelo mesmo grupo no SESC Pinheiro, em São Paulo, lotando todos os dias. E agora vem dar aquele abraço nos cariocas... POR FALAR em Rei, adorei ver o que fez o Rei do Benim. Precisou de atendimento médico, durante o Fórum Social em Salvador, e procurou um hospital público, do SUS. O povão na sala de espera nem acreditou que Sua Majestade estava ali aguardando a vez... O REI DO BENIM disse que no país dele as autoridades usam hospitais públicos para conhecer a condição em que o povo é assistido. Ainda temos muito a aprender com a África... Reforços para Marielle 3

4 Conheça nosso site www.jb.com.br Caderno B Quinta-feira, 22 de março de 2018 Fotos de divulgação Miguel Simek em plena função de joalheiro Joias com história Inspiração medieval brilha no figurino de novela Colar Alquimia, de prata com banho de ouro, usado por Tatá Werneck, como a Rainha Lucrécia, em Deus Salve o Rei Anel Realeza, com banho de ouro, circula nas mãos dos nobres da novela, já foi roubado, recuperado e pagou dívidas de personagens IESA RODRIGUES Em matéria de joia de novela, se o tema for histórico, o designer Miguel Simek domina boa parte dos figurinos. Desde 1982, quando deixou de ser engenheiro de produção para virar joalheiro, suas coleções têm bases com histórias e temas. Um exemplo, as pulseiras e anéis de Caminho das índias nas mãos da Juliana Paes. Ou fornecer peças para um personagem de Paraíso tropical (2007), que era joalheiro. Agora suntuosas joias de prata chamam a atenção no estilo do rei Rodolfo, da ex-rainha Lucrécia _ quem vê a novela Deus salve o rei se diverte com estes personagens vividos por Johnny Massaro e Tatá Werneck. A parceria começou com a criação de um anel importante na trama, que ajudou a pagar dívidas da família da Amália (Marina Rui Barbosa). _ Depois fui procurado pela equipe de figurinistas para completar com mais 50 peças, incluindo o lote do dote da rainha. Muitas já faziam parte da minha coleção chamada Medieval, e se adequaram ao conceito de joias com visual rico, opulento, que seriam usadas pelas figuras das realezas _ conta Miguel, que, no tal anel, usou rubis do Sri Lanka, a produção pediu mais um, com medo de perda. Em outras peças colocou granadas, ônix, lápis-lázuli e esmeralda, para aumentar a riqueza. Mas de vez em quando Tatá Werneck, como Lucrécia, com brinco de estilo medieval em lugar de diamantes podem aparecer zircônias, quartzo verde em vez de esmeraldas. Depende da visibilidade na ação. Além do roteiro televisivo, quais as inspirações do Miguel Simek, para produzir estas joias em prata ou com banho de ouro? Pesquisei a obra de Tomás de Aquino, as pinturas de Giotto, a poesia de Dante Alighieri, as viagens de Marco Polo, as catedrais góticas. Muito da Idade Média, que marcou a passagem para grandes evoluções, entre a Antiguidade e a Idade Moderna. Para quem acompanha as peripécias de Montemor (o reino regido por Rodolfo/Johnny Massaro), vale saber que nem todas as joias da novela são do Miguel Simek, há outras contribuições, para evitar o monopólio de fornecedor. Em breve, Bruna Marquezine receberá o anel de noivado feito por ele. O que deve aumentar o número de pedidos do público do Ceará, do Amazonas, querendo aderir ao look nobre destas joias. E aí vem o melhor! São bonitas, vistosas, nobres e...baratas: os preços são a partir de R$ 200, parceláveis em cinco vezes! Nesta hora, o autor bem humorado mostra que trabalha com ficção, mas mantém um pé na real: Se não está fácil vender joia barata, imagina se for cara!

Quinta-feira, 22 de março de 2018 Caderno B Conheça nosso site www.jb.com.br 5 Fotos de divulgação Laurence Fishburne, Bryan Cranston e Steve Carell atuam na trama inspirada no livro de Darryl Ponicsan Richard Linklater acerta outra vez Ex-combatentes se reúnem em momento de dor para reaprender o significado da amizade OCTAVIO CARUSO* A melhor escolha (Last flag flying) é o novo trabalho do diretor Richard Linklater, de Boyhood e Antes do amanhecer, mestre da simplicidade naturalista nos diálogos, ele retorna com a leveza habitual ao tema do comportamento humano, respeitando como sempre a inteligência do público. Na trama, adaptada do livro homônimo de Darryl Ponicsan, que continua a história já levada para o cinema em A última missão, dirigida por Hal Ashby, 30 anos depois de servirem juntos na Guerra do Vietnã, o ex-marinheiro Larry (Steve Carell, fora de sua zona de conforto cômica), consumido pelo sentimento de culpa, reúne seus antigos amigos, o irreverente Sal (Bryan Cranston) e o reverendo Richard (Laurence Fishburne), para enterrar o seu filho, um jovem que morreu durante a Guerra no Iraque. A jornada intimista do trio conduz a reflexões preciosas sobre os efeitos do conflito em suas psiques, a fragilidade alimentada por suas escolhas e renúncias ao longo da vida, com Carell interpreta um ex-marinheiro movido pela culpa Richard representando a muleta da fé ponderada, enquanto Sal, anestesiado em sua rotina como dono de bar, trabalhado no roteiro também como alívio cômico, prefere o caminho imediatista do instinto. Os três encontraram, ao longo do caminho, formas distintas de lidar com seus traumas. Quando os amigos se permitem resgatar lembranças divertidas da ingenuidade de outrora, como a noite em que Larry perdeu a virgindade, o filme encontra o tom perfeito de saudosismo e camaradagem, favorecido pela química certeira entre os atores, com destaque para a extrema competência de Cranston em operar as várias nuances de um personagem complexo que vive o processo do luto. A filosofia nunca pretensiosa no texto de Linklater vai direto na ferida exposta, com utilização sensível do silêncio como forma de potencializar a dor nos rostos em planos fechados. A mensagem crítica contra os alicerces mentirosos do belicismo é poderosa, especialmente considerando o contexto político atual norte-americano. *cinevertigo@gmail.com Cegueira metafórica em conto de empoderamento feminino O diretor alemão Marc Forster, que conquistou o mundo pela sensibilidade apurada de filmes como Em busca da Terra do Nunca, Mais estranho que a ficção e O caçador de pipas, mas acabou se perdendo em produções caras e tolas como Redenção e Guerra mundial Z, retorna ao seu estilo mais elegante com o drama psicológico Por trás dos seus olhos (All I see is you). Blake Lively, em ótimo momento, vive Gina, que perde tragicamente a visão na infância e a recupera na vida adulta, após uma cirurgia. A redescoberta sensorial do mundo impacta o dia a dia dela e de seu marido James (Jason Clarke), o relacionamento sem o elemento da dependência, intensificada na mudança profissional do casal para a Tailândia, sofre um abalo considerável. Pela primeira vez, ela sente o desejo de ser admirada nas ruas, a beleza, conceito que desconhecia, passa a ser tentadora fon- te de exploração existencial. Ele, amedrontado, inseguro, compreende que não é mais fundamental naquela equação. A forma como o roteiro trabalha esteticamente a cegueira e, por conseguinte, a sensação de isolamento da jovem, é criativamente instigante, conduzindo o espectador à dedução de imagens através de distorções visuais, sombras, borrões, tornando-o cúmplice da protagonista. O grande mérito é fazer com que o público sinta o desespero que pode ser causado pelas ações mais simples do cotidiano, como o acelerar de um carro na estrada. Na cena mais rica em simbologia, Gina subverte sua condição e propõe sensualmente vendar James na cama, atitude que ele recebe com excessivo desconforto. É a mulher reivindicando finalmente o controle de seu corpo na sociedade machista. (OC) Blake Lively contracena com Jason Clarke em Por trás de seus olhos

6 Conheça nosso site www.jb.com.br Caderno B Quinta-feira, 22 de março de 2018 Fotos: Divulgação Os esquecidos do Araguaia O helicóptero do Exército, que muitas vezes, atirava os presos na água. Abaixo, o diretor Belisario Franca. Documentário mostra ex-soldados do interior do país que foram torturados pelo próprio Exército durante os anos de chumbo MÔNICA LOUREIRO monica.loureiro@jb.com.br A História do Brasil, por tantos séculos registrada sob a ótica dos vencedores, esconde muitas outras, invariavelmente dolorosas. A Guerrilha do Araguaia é um desses acontecimentos nebulosos, mesmo passadas mais de quatro décadas. No documentário Soldados do Araguaia, que estreia hoje no Rio, São Paulo e Belém, o diretor Belisario Franca opta por um recorte praticamente inédito do massacre que aconteceu entre 1967 e 1974 na selva amazônica. A guerrilha é muito complexa e o que a gente sabe é que foi aterrorizante para todos os envolvidos: moradores, indígenas, militantes e militares de baixa patente, fala Belisário, que optou por se deter nas versões dos soldados recrutados à época no local. Os oito entrevistados não são vítimas convencionais da ditadura, pois, além de terem sido torturados, mesmo sendo do Exército, tiveram que superar a rejeição da instituição depois que a guerrilha acabou. Isso mostra que o terror de estado não tem fronteiras, é uma questão muito dura. Eles não foram torturados para confessar nem dar informações, foi para endurecerem e virarem instrumentos de terror. Isso é de uma obscenidade absurda, diz o diretor. Alternando depoimentos dos ex-soldados com cenas atuais da região e outras poucas da época - imagens e fotos de arquivo - Belisario diz que a palavra-chave na produção deste documentário foi confiança. Traumatizados com o que passaram, esses homens estavam tendo, finalmente, a chance de desabafar e relatar o que passaram ao longo de seis anos. Estávamos ali para ouvir testemunhos e não para entrevistar. Encontramos, na pesquisa, 20 ex-soldados. Alguns não quiseram participar e outros não quiseram falar para a câmera. Ao escolhermos esses oito, tentamos contar uma história coletiva, explica. Em uma exibição feita em Marabá, no Pará, há alguns meses, Belisario conseguiu reunir quase todos os participantes e conta que aqueles que tinham optado por não dar depoimentos se emocionaram tanto que, como numa catarse, resolveram falar tudo publicamente. Quando o Exército chegou no local para acabar com os comunistas, fez um alistamento local, só que os jovens achavam que estavam ali apenas para receber seus certificados. Foram 60 recrutados, preferencialmente aqueles que melhor conheciam a região, para adentrar na mata amazônica sem sequer saber qual seria a missão. Não me orgulho de ter participado daquilo ; Aquilo não era instrução, era tortura, Perdi meus testículos porque me colocaram no pau de arara ; A gente poderia matar qualquer um que não aconteceria nada ; Eu estava há dois dias sem comer e tive que beber sangue coagulado de um boi ; Eles mandavam a gente destruir as roças dos moradores, relatam os os homens traumatizados, que dizem ter, até hoje, os mais terríveis pesadelos com o que passaram na mata. Não só foram torturados, como eram obrigados a assistir a torturas dos militantes e de moradores locais. Depois de os maltratarem, davam sabonete Gessy e desodorante e os colocavam no helicóptero, dizendo que iriam para Brasília. Só que voltavam 20 minutos depois, porque, na verdade, atiravam os presos na cachoeira, testemunhou um dos entrevistados no filme. Belisario conta que muitos trechos, de tão chocantes, foram cortados. Se ficarmos apenas no escândalo, não saímos disso, então, buscamos um equilíbrio nos depoimentos. É preciso dar outras camadas, descobrir os cinzas entre o preto e o branco para mostrar que esses homens foram jogados à própria sorte, sem perspectiva alguma, explica. O diretor conta que a opção por colocá-los frente a uma câmera, num fundo preto, foi uma opção mais do que fotográfica: Queríamos que eles ficassem à vontade e tivessem o tempo que fosse necessário para falar, sem ordem cronológica. sem máscaras, sem efeitos. A região onde aconteceram os conflitos, principalmente no Bico do Papagaio, é estratégica, a tal ponto que, mesmo depois do conflito, o Exército permaneceu ocupando o local. É uma região esquisita e, ainda hoje, eles temem represálias. Ano passado,em circunstâncias não esclarecidas, morreu um homem que era mateiro, um dos que cooperavam com o Exército, mas que não eram militares. Outro aspecto grave, destaca o documentarista, é que o Coronel Curió, que liderou as tropas na época do extermínio, foi, posteriormente, controlador da Serra Pelada. Trilogia do silenciamento Soldados do Araguaia, que tem sessão comentada com o diretor hoje, às 19h, no Espaço Itaú de Cinema, em Botafogo, é o segundo documentário de uma trilogia. O primeiro foi o longa Menino 23, sobre crianças órfãs negras, que foram escravizados numa fazenda na década de 1930. Soldados segue esta questão, que a sociedade brasileira negou e nem assume seus preconceitos. Daí, vem a violência em que estamos imersos O diretor diz ter reunido um vasto arquivo durante as filmagens, o que mais à frente pode gerar outro trabalho. Belisario pretende concluir a trilogia do silenciamento, com novo documentário, onde vai abordar a questão prisional: Já rodamos este documentário no Pará - que, aliás, é um ecossistema da violência - e que está em fase de edição. Nele, vamos falar desses locais, que são verdadeiros porões. Rapazes paraenses eram recrutados na ditadura para acabar com os comunistas