POPULAÇÃO DE PERCEVEJOS PENTATOMÍDEOS EM PLANTAS HOSPEDEIRAS EM LAVOURAS DE SEQUEIRO NA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PASINI, Mauricio Paulo Batistella Pasini 1 ; LINK, Dionisio 1, SCAICH, Gabriel 1, RAFAEL, Motta 1 1 Universidade Federal de Santa Maria E-mail: mauricio.pasini@gmail.com; RESUMO Este trabalho teve por objetivo efetuar levantamentos da população de percevejos pentatomídeos em plantas hospedeiras em lavouras de sequeiro na região noroeste no estado do Rio Grande do Sul. Os levantamentos foram realisados em julho de 2011, num total de 14 pontos. As plantas foram escolhidas aleatóriamente e as espécies de percevejos identificadas e quantificadas. Os valores foram submetidos à análise estatistica. Edessa meditabunda foi à espécie mais abundante dentre os percevejos pentatomídeos levantados. Schizachyrium sp, e Paspalum sp e Panicum sp, apresentaram maior abundância de percevejo dentre as espécies botânicas levantadas. Palavras-chave: Ecologia de populações; Comportamento; Entomofauna; Hemiptera. 1. INTRODUÇÃO A modificação dos ambientes naturais, gerada pela implantação de lavouras, tende a influenciar a entomofauna local ao alterar a relação existente entre inseto e ambiente que, pela ação antrópica de manejo, altera o equilíbrio populacional e o comportamento das espécies, uma vez que reduz o número de predadores e parasitoides naturais (THUM, 1991). Muitas são as espécies de insetos associados a cultivos de sequeiro, entretanto, sua classificação como praga depende de fatores comportamentais que determinam características como regularidade de ocorrência, preferência alimentar e amplitude geográfica de atuação (ÁVILA et al., 1997), variáveis que por sua vez influenciam o potencial do inseto em causar danos econômicos significativos as culturas. A partir de sua constatação na lavoura, a população do determinado inseto pode permanecer em níveis baixos ou desenvolver-se grandemente e assim tornar um inseto primeiramente sem importância em praga secundária ou principal. Os pentatomídeos fitófagos são denominados comumente como percevejos e se alimentam succionando a seiva dos vasos condutores (GALLO, 2002). Além do dano direto 1
causado pela sucção, a perfuração do limbo foliar pelo aparelho bucal do inseto facilita a penetração de microrganismos saprogênicos ou patogênicos, bem como pode causar reações no local da picada em virtude da ação tóxica ou infectante da saliva quando esta contenha toxinas ou esteja contaminada por agentes patogênicos (CARTER, 1939). Os pentatomídeos prejudiciais aos cultivos de sequeiro iniciam a colonização das lavouras no final do período vegetativo e início da floração. Nessa época, os percevejos saem da diapausa ou de hospedeiros alternativos e migram para a soja e outros cultivos, aumentando progressivamente suas populações durante a fase reprodutiva, causando danos expressivos, acarretando em perdas econômicas para o produtor rural (CORRÊA- FERREIRA & PANIZZI, 1999; CORRÊA-FERREIRA & PERES, 2003). Nos principais cultivos existentes no Rio Grande do Sul, os percevejos consistem em pragas chave, causadoras de grandes perdas. Os insetos são encontrados em plantas cultivadas atuando como insetos-praga ou predadores e em plantas nativas provedoras de recursos alimentares para o desenvolvimento das ninfas e reprodução dos adultos (PANIZZI, 1997). As espécies Euschistus heros (F.), Piezodorus guildinii (West.) e Nezara viridula (L.) são as mais abundantes no Brasil (FERREIRA, 1999; HOFFMANN-CAMPO, 2000). Na região sul do Brasil, os adultos entram em diapausa reprodutiva durante o inverno deslocando-se para sítios de hibernação e assim sobrevivendo por um período de até seis meses (CHOCOROSQUI, 2001). Deste modo que o estudo da entomofauna pode fornecer informações importantes sobre a situação do ecossistema enfocado. Segundo Link & Grazia (1987), ao se conhecer a fonte de alimento utilizada durante o ciclo de vida deste grupo de insetos, é possível entender de forma mais clara a ecologia, dinâmica populacional, alternância de hospedeiros e previsão de surgimento de espécies nocivas às plantas cultivadas, fatores que permitem prevenir perdas e conduzir a produção de alimentos de uma forma mais racional e sustentável. Este trabalho teve por objetivo efetuar levantamentos da população de percevejos pentatomídeos em plantas hospedeiras nos arredores de lavouras de sequeiro na região noroeste do Rio Grande do Sul. 2. METODOLOGIA 2
Em julho de 2001, foi efetuado um levantamento da entomofauna pentatomídea em 14 pontos, na região noroeste no estado do Rio Grande do Sul, em diferentes plantas hospedeiras localizadas nas bordaduras de lavouras de sequeiro. Os locais foram escolhidos aleatoriamente, distribuídos a distâncias não inferiores a 50 quilômetros em lavouras próximas as principais rodovias da região. Em cada local optouse pelas espécies botânicas mais abundantes, sendo em todos os locais houve a abrangência de cinco espécies botânicas. Para melhor acompanhamento da variação climática procedeu-se o acompanhamento da temperatura ambiente com termômetro digital. As espécies botânicas foram identificadas e classificadas até gênero. Nos pontos de levantamentos as plantas eram escolhidas aleatoriamente, sendo que cada planta foi considerada uma unidade experimental. As espécies foram: Eringium sp (Apiaceae), Schizachyrium sp (Poaceae), Paspalum sp (Poaceae), Panicum sp (Poaceae) e Chloris spp (Poaceae). Após escolha das plantas, estas eram arrancadas, podadas com auxílio de tesoura de poda e triadas. Os insetos encontrados foram coletados e levados para laboratório para identificação, triagem e quantificação das espécies de percevejos pentatomídeos. Dos 14 pontos, 149 plantas foram de levantadas. Os dados obtidos foram tabulados e submetidos à análise estatística e separação das médias pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Na execução deste levantamento foram contados 1568 indivíduos adultos de percevejos pentatomídeos, divididos em seis espécies. Os somatórios de adultos amostrados por espécie estão representados na figura 1. A espécie que obteve a maior abundância foi E. meditabunda, com 1466 indivíduos adultos, para esta espécie não houve registros de ninfas nos pontos levantados, também não houve registro de percevejos atacados por fungos entomopatogênicos. E. rufomarginata apresentou nas plantas hospedeiras poucos indivíduos coletados quando comparados com a espécie anterior, 8 indivíduos, apenas nesta espécie houve registro de ninfa, porém apenas um único indivíduo em planta de Schizachyrium sp. D. furcatus foi à segunda espécie de maior abundância, com 53 indivíduos. E. heros apresentou valores inferiores. P. guildini com 13 indivíduos, seus registros não estavam associados às touceiras das plantas. As coletas dos indivíduos desta espécie foram 3
realizadas nas proximidades das touceiras das espécies botânicas avaliadas, porém devido à temperatura ambiente das coletas estarem superiores a 15 graus de temperatura, possivelmente os indivíduos desta espécie não se encontravam no interior da touceira, mas sim nas folhas das plantas e o manuseio das plantas promoveu a queda destes indivíduos. Cinco indivíduos foram encontrados no centro da touceira o que justifica tal afirmação. Figura 1: Somatório de indivíduos de percevejos pentatomídeos capturados em diferentes plantas hospedeiras na região Noroeste em lavouras de sequeiro no Rio Grande do Sul, Brasil, 2011. As demais espécies avaliadas encontravam-se no interior das touceiras em grupos que variavam conforme o diâmetro, havendo de um ou mais pontos de agregação de percevejos na mesma planta (LINK et al, 1987). Estes pontos de agregação eram ocupados por todas as espécies de percevejos. Nos levantamentos com temperaturas inferiores e cinco graus de temperatura os insetos permaneciam imóveis, em temperaturas de cinco a dez conforme o manuseio da touceira, alguns indivíduos eram reativos e a partir de dez graus de temperatura a movimentação passava a ser mais intensa. Os valores referentes a frequência e médias de ocorrência nas diferentes platas hospedeiras estão representados na tabela 1. Das diferentes espécies botânicas avaliadas, Chloris spp, apresentou o maior número de E. meditabunda, diferindo estatisticamente das demais. Paspalum sp, Eringium sp e Schizachyrium sp, apresentaram maior diversidade de 4
espécies, idicando estas plantas preferênciais para abrigo de percevejos pentatomídeos no entorno de lavouras se sequeiro. Tabela 1: Frequência de percevejos pentatomídeos em diferentes plantas hospedeiras em cultivos de sequeiro em 14 locais na região Noroeste do estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 2011. Pentatomidae Espécie botânica Em Eh Pg Df Er n Média n Média n Média n Média n Média Eringium sp. 14 2,07b* 3 1,33a 1 1a 5 1,4a 1 1 Schizachyrium sp. 34 11,11b 2 1a 3 1,66a 6 3,66a 4 1 Paspalum sp. 50 7,4b 5 1,6a 3 1,66a 8 1,88a 1 2 Panicum sp. 25 9b 4 2a Chloris spp 8 46a 2 1,5a *Médias seguiras por letras diferentes diferem estatisticamente pelo teste estatístico Scott-Knott a 5% de probabilidade. 5. CONCLUSÃO E. meditabunda foi à espécie mais abundante nas diferentes espécies de plantas hospedeiras no entorno de lavouras de sequeiro na região noroeste no estado do Rio Grande do Sul. Plantas de Choloris spp, apresentaram o maior número médio de percevejos. REFERÊNCIAS ÁVILA, C.J.; DEGRANDE, P.E.; GOMEZ, S.A. Insetos pragas: Reconhecimento, comportamento, danos e controle. In: Milho, informações técnicas. Dourados: Embrapa-CPAO, Circular Técnica, 5, p.157-181, 1997. CARTER, W. Injuries to plants caused by insect toxins. Botanical Review, 5:273-326, 1939. CHOCOROSQUI, V. R. Bioecologia de Dichelops (Diceraeus) melacanthus (Dallas, 1851) (Heteroptera: Pentatomidae), danos e controle em soja, milho e trigo no norte do Paraná. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 160 p, 2001. 5
CORRÊA-FERREIRA, B.S.; PANIZZI, A.R. Percevejos da soja e seu manejo. Londrina: Embrapa- CNPSo, 1999. 45p. (Circular técnica, 24). CORRÊA-FERREIRA, B.S.; PERES, W.A.A. Comportamento da população dos percevejos-pragas e a fenologia da soja. In: CORRÊAFERREIRA, B.S. (Org.). Soja orgânica: lternativas para o manejo dos insetos-pragas. Londrina: Embrapa Soja, 2003. p.27-32. FERREIRA, E. Pragas e seu controle, p. 197-209. In VIEIRA, N. R.; A. B. DOS SANTOS; E. P. DE SANT'ANA (Ed.). A cultura do arroz no Brasil. Embrapa Arroz e Feijão, Santo Antônio de Goiás. 633 p, 1999. GALLO, D. et al. Manual de Entomologia Agrícola. São Paulo: Agronômica Ceres, 2002. HOFFMANN-CAMPO, C.B. et al.; Pragas da soja no Brasil e seu manejo integrado. Londrina: Embrapa Soja. Circular Técnica/ Embrapa Soja, ISSN 1516-7860, nº. 30, 70 p., 2000. LINK, D., COSTA, E. C.; MARCHEZAN, E. Avaliação preliminar de diferentes densidades de Oebalus poecilus (Dalla 1851) sobre o rendimento do arroz. 1987. LINK, D.; GRAZIA, J. Pentatomídeos da região central do Rio Grande do Sul (Heteroptera). Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, 16 (1): 115-129, 1987. PANIZZI, A. R. Wild hosts of Pentatomids: Ecological significance and role in their pest status on crops. Revista de Entomologia, 42 (1): 99-122, 1997. THUM, A. B. Entomofauna associada à copa de algumas essências florestais nativas. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Maria, Brasil, 90pp, 1991. 6