MORTALIDADE DE ESPÉCIES DO CERRADO APÓS DEZ MESES DE PLANTIO, SOB DIFERENTES CONDIÇÕES DE ADUBAÇÃO ORGÂNICA E ROÇAGEM EM PLANALTINA-DF. Fabiola Latino Antezana¹, José Carlos Sousa-Silva², Eny Duboc² (¹Universidade de Brasília, Departamento de Engenharia Florestal, Brasília DF. E-mail: fabiolalatino@yahoo.com.br. ²Embrapa Cerrados, Planaltina DF) Termos para indexação: mortalidade, adubação orgânica, roçagem, Cerrado, recuperação. Introdução O Bioma Cerrado, segundo maior bioma brasileiro, ocupa cerca de % do território (Ribeiro & Walter, 998; Alho, 5). A vegetação ocorrente no Cerrado apresenta tipos de formações: as florestais, as savânicas e as campestres (Ribeiro & Walter, 998). Devido à ocupação desordenada do Cerrado, restam % do original (Alho, 5).Uma alternativa para a recomposição do Cerrado é o plantio de mudas de espécies nativas (Duboc, 5). Dentro da perspectiva de recuperação de áreas do Cerrado, estão sendo implantados os Módulos Demonstrativos de Recuperação de Áreas Degradadas com espécies nativas de uso múltiplo - MDR. Estes módulos consistem em unidades de plantio misto em que são utilizadas espécies nativas do Cerrado de uso múltiplo, trazendo, também, o beneficio gerado pelas espécies utilizadas (Módulos, ). O plantio misto utiliza espécies de Mata de Galeria, Mata Seca e Cerrado sentido restrito, e está sendo adotado por permitir maior rapidez na cobertura da área pelas espécies florestais enquanto as espécies savânicas se desenvolvem, e, por meio de suas raízes profundas contribuem para recuperação do solo (Felfili et al., 5). O MDR foi criado com o intuito de facilitar a reconstituição de áreas de Reservas Legais previstas por lei e o fluxo gênico de flora e fauna por meio da implementação de corredores ecológicos (Felfili et al., 5; Módulos, ).
A taxa de mortalidade em plantios com espécies do Cerrado é um fator a ser tratado com precaução, dada a quantidade de fatores envolvidos. Foi analisada neste trabalho a taxa de mortalidade de espécies florestais e savânicas de forma a verificar o comportamento entre os grupos durante dez meses após o plantio em uma área degradada em Planaltina DF, Brasil. Material e Métodos A área do experimento, S 5º5 59 e W 7º 99, está localizada na Embrapa Cerrados, em Planaltina-DF, Brasil. Compreende,7 ha e encontra-se limitada por um Cerradão, área de reserva; um campo experimental de plantio de Caryocar brasiliense Camb. - pequi; e uma estrada de uso interno da instituição. É uma área degradada de Cerrado sentido restrito, abandonada após plantio de Andropogon gayanus Kunth. cv. Planaltina (andropogon), e onde já houve tentativa de recuperação com plantio de Dipteryx alata Vog. (baru) e Eugenia dysenterica DC. (cagaita). Esta tentativa, sem sucesso, resultou na recolonização pelo andropogon e pelo aparecimento de Brachiaria sp. (braquiária). Foram implantados blocos, cada um contendo tratamentos (Figura ). com adubação e roçagem (CA-CR), com adubação sem roçagem (CA-SR), sem adubação com roçagem (SA-CR) e sem adubação e roçagem (SA-SR). Cada tratamento foi constituído de três repetições das 5 espécies selecionadas (Tabela ). A área foi demarcada com espaçamento de xm. O número total de mudas plantadas foi 7, totalizando,7 ha. As covas foram abertas por uma perfuratriz de 9 polegadas, com profundidade de 6 cm, para alcançar o tamanho de cova de xx6cm e evitar o espelhamento, todas as covas foram alargadas com cavadeiras manuais. O plantio obedeceu ao desenho experimental de tratamentos com e sem adubação. Assim, metade das mudas foi adubada com composto orgânico, na quantidade de 5g/cova. O plantio foi monitorado bimensalmente, de dezembro de 6 a dezembro de 7, para verificação da mortalidade das espécies oriundas das fitofisionomias de Mata de Galeria, Mata Seca e Cerrado sentido restrito, considerando o tratamento aplicado; cada tratamento continha
plantas por espécie, portanto 8 plantas por espécie no experimento, totalizando 7 mudas plantadas. Figura Desenho experimental da área de trabalho na Embrapa Cerrados, Planaltina-DF, Brasil. Tabela Espécies nativas do Bioma Cerrado de diferentes formações vegetacionais utilizadas conforme o potencial de uso múltiplo e disponibilidade no viveiro da Embrapa Cerrados, em Planaltina - DF. Nome científico Nome comum Formação vegetacional Amburana cearensis (Fr. All.) A.C. Smith Imburana Mata Seca Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan Angico branco Mata Seca Astronium fraxinifolium Schott Gonçalo Alves Mata Seca Callophylum brasiliense Camb. Guanandí/Landim Mata de Galeria Eugenia dysenterica Mart. ex D.C. Cagaita Cerrado sentido restrito Genipa americana L. Jenipapo Mata de Galeria
Hymenea courbaril L. Jatobá-da-mata Mata de Galeria Hymenea stigonocarpa Mart.ex Hayne Jatobá-do-cerrado Cerrado sentido restrito Myroxylon peruiferum Linn. F. Bálsamo Mata Seca Plathymenia reticulata Benth. Vinhático Cerrado sentido restrito Rapanea guianensis Aubl. Pororoca Cerrado sentido restrito Simarouba versicolor St. Hil. Mata cachorro Cerrado sentido restrito Tabebuia roseo-alba Sand. Ipê branco Mata Seca Tapirira guianensis Aubl. Pau-pombo Mata de Galeria Tibouchina frigidula Cogn. Quaresmeira Cerrado sentido restrito Resultados e Discussão Após meses, dezembro de 6 a dezembro de 7, quatro espécies apresentaram % de mortalidade, sendo uma de fitofisionomia Mata de Galeria - Callophylum brasiliense e três de Cerrado sentido restrito - Eugenia dysenterica, Rapanea guianensis e Tibouchina frigidula. A qualidade das mudas plantadas influenciou estes resultados. Das espécies de Mata de Galeria, Genipa americana apresentou % de sobrevivência em todos os tratamentos, o que indica que esta espécie possui alta probabilidade de sucesso em projetos de recuperação de áreas degradadas nas condições testadas. Hymenaea courbaril apresentou taxa de mortalidade de 8,%, nos tratamentos em que o fator adubação estava presente, sendo considerada como de alta sobrevivência (Corrêa & Cardoso, 998), e, portanto, pode ser fortemente indicada para plantios de recuperação em área de Cerrado sentido restrito degradada por pastagem. Já Tapirira guianensis alcançou taxa de mortalidade de 5% no tratamento CA-SR, sendo que o tratamento mais restritivo foi o único que apresentou % de sobrevivência (Figura ). Duboc (5) obteve taxas de sobrevivência variando entre 5% e 58%, também em Planaltina DF, este resultado, pode ser explicado pela diferença das características do solo ou pela adubação utilizada, orgânica e química.
8 Mortalidade (un) 6 H. courbaril 6 T. guianensis CA-CR CA-SR SA-CR SA-SR Espécies Figura. Mortalidade das espécies da fitofisionomia Mata de Galeria, após meses de plantio dez/6 a dez/7, na Embrapa Cerrados, Planaltina DF. Dentre as espécies de Mata Seca, Tabebuia roseo-alba e Anadenanthera colubrina apresentaram % de sobrevivência em todos os tratamentos enquadrando-as no grupo das altamente potenciais para recuperação de áreas degradadas, corroborando com Silva (7). Amburana cearensis apresentou maior mortalidade no tratamento mais restritivo, 75% (Figura ), indicando-a para recuperação, com taxa de sobrevivência média (Corrêa & Cardoso, 998). Duboc (5) classificou-a como de baixa, média e alta sobrevivência, mostrando que esta espécie possui boa resposta de crescimento ao fator adubação, seja este orgânico ou químico, em Planaltina DF. Astronium fraxinifolium, nos tratamentos com roçagem, apresentou taxa de mortalidade de 6,67%, ficando no grupo de alta sobrevivência (Corrêa & Cardoso, 998). Myroxylon peruiferum apresentou,67% de mortalidade no tratamento com CA-SR (Figura ) sendo classificada como de baixa sobrevivência (Corrêa & Cardoso, 998). Entretanto, no tratamento 5
mais restritivo apresentou taxa de 6,67%, alta sobrevivência, o que pode indicar que a espécie não é exigente em termos de adubação e roçagem. 6 5 Mortalidade (un) CA-CR CA-SR SA-CR SA-SR A. cearensis A. fraxinifolium M. peruiferum Espécies Figura. Mortalidade das espécies da fitofisionomia Mata Seca, após meses de plantio dez/6 a dez/7, na Embrapa Cerrados, Planaltina DF. No grupo das espécies de Cerrado sentido restrito, Eugenia dysenterica, Rapanea guianensis e Tibouchina frigidula, houve % de mortalidade. Hymenaea stigonocarpa alcançou mortalidade de,%, perda de plantas, nos tratamentos CA-SR e SA-CR, sendo que no tratamento mais restritivo, não houve mortalidade o que pode indicar que esta espécie não é exigente com relação aos fatores aplicados, resultado que corrobora com Oliveira (6). Plathymenia reticulata apresentou % de sobrevivência no tratamento CA-CR, nos demais a taxa foi de 8,%, resultado similar ao de Silva (7) que pode demonstrar uma tendência positiva à adubação orgânica e roçagem. Simarouba versicolor apresentou no tratamento mais restritivo % de sobrevivência, alcançando maior mortalidade no tratamento SA-CR, com perda de (três) plantas, ou 5% de mortalidade (Figura ). 6
5 Mortalidade (un) H. stigonocarpa P. reticulata S. versicolor CA-CR CA-SR SA-CR SA-SR Espécies Figura. Mortalidade das espécies da fitofisionomia Cerrado sentido restrito, após meses de plantio dez/6 a dez/7, na Embrapa Cerrados, Planaltina DF. As espécies de Mata de Galeria e Cerrado sentido restrito mostraram-se mais tolerantes a situações críticas, especialmente no tratamento sem adubação e roçagem (SA-SR), o que demonstra a potencial plasticidade dessas espécies. A maior taxa de mortalidade está associada às espécies do Cerrado sentido restrito,,6%; seguida das espécies de Mata de Galeria, 7,%; e das espécies de Mata Seca,,7%, o que indica que as espécies das diferentes formações apresentaram sobrevivências alta e média. Vale ressaltar que a taxa de mortalidade do experimento após meses de plantio foi de,% para 7 mudas plantadas incluindo as espécies que obtiveram % de mortalidade, excluindo as espécies com % de mortalidade, a taxa de mortalidade cai para,% para 58 mudas restantes. Os resultados evidenciaram um comportamento geral de alta sobrevivência, sendo assim, a utilização de espécies de diferentes fitofisionomias, na forma proposta pelo Módulo Demonstrativo de Recuperação - MDR é uma boa opção para plantios de recuperação de áreas 7
degradadas em Cerrado, pois, possivelmente, devido à combinação dos diferentes fenótipos, há um aumento do sucesso do plantio de recuperação. Referências Bibliográficas ALHO, C. J. R. Desafios para a conservação do Cerrado, em face das atuais tendências de uso e ocupação. In: SCARIOT, A.; SOUSA-SILVA, J. C.; FELFILI, J. M. (Org.). Cerrado: ecologia, biodiversidade e conservação. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente, 5. p. 68-8. CORRÊA, R. S.; CARDOSO, E. S. Espécies testadas na revegetação de áreas degradadas. In: CORRÊA, R. S.; MELO FILHO, B. (Org.). Ecologia e recuperação de áreas degradadas no cerrado. Brasília-DF: Paralelo 5, 998. p. -6. DUBOC, E. Desenvolvimento inicial e nutrição de espécies arbóreas nativas sob fertilização, em plantios de recuperação de áreas de cerrado degradado. 5. 5 p. Tese (Doutorado) - Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu. FELFILI, J. M.; FAGG, C. W.; PINTO, J. R. R. Modelo nativas do bioma stepping stones na formação de corredores ecológicos, pela recuperação de áreas degradadas no cerrado. In: ARRUDA, M. B. (Org.). Gestão integrada de ecossistemas aplicada a corredores ecológicos. Brasília, DF: IBAMA, 5. 7 p. MÓDULOS demonstrativos de recuperação de áreas degradadas de Cerrado com espécies nativas de uso múltiplo: MDR-Cerrado. [S.l.:s.n.],. p. RIBEIRO, J. F.; WALTER, B. M. T. Fitofisionomias do Bioma Cerrado. In: SANO, S. M.; ALMEIDA, S. P. de (Ed.). Cerrado: ambiente e flora. Planaltina, DF: Embrapa-CPAC, 998. p. 87-66. SILVA, J. C. S. da. Desenvolvimento inicial de espécies lenhosas, nativas e de uso múltiplo na recuperação de áreas degradadas de cerrado sentido restrito no Distrito Federal. 7. Dissertação (Mestrado) - Departamento de Engenharia Florestal, Universidade de Brasília, Brasília, DF. 8