CONSTRUÇÃO DA IRONIA EM TIRINHAS POR SUA UNIDADE DE SENTIDO

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Transcrição:

CONSTRUÇÃO DA IRONIA EM TIRINHAS POR SUA UNIDADE DE SENTIDO Paloma Bernardino Braga 1, Werterley Germano da Cruz 2 1 Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Letras/ palomabbraga@ufmg.br 2 Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Letras/ werterleycruz@hotmail.com Resumo: Neste trabalho, pretendemos analisar a construção da ironia nas relações criadas entre os textos verbais e não verbais em tirinhas, valendo-nos do percurso gerativo do sentido. O corpus foi selecionado dentro de um campo de crítica sociais a elevação dos temas política, machismo e estilo de vida, a fim de dar por esse estudo uma comparação entre tais tirinhas por semelhanças e diferenças, tendo como base os níveis narrativo, discursivo e fundamental. Abordaremos, tendo em vista aspectos verbais e não-verbais, como é dada a construção da ironia nas tirinhas. Palavras-chave: semiótica; percurso gerativo; ironia; tirinhas. 1. Considerações Iniciais Neste trabalho, analisaremos a construção da ironia nas relações criadas entre os textos verbais e não verbais em tirinhas, valendo-nos do percurso gerativo do sentido, oriundo da teoria semiótica de A. J. Greimas. As tirinhas foram selecionadas dentro de um campo de críticas sociais sobre temas como política, machismo e estilo de vida. Abordaremos, tendo em vista aspectos verbais e não-verbais, como é dada a construção da ironia nas tirinhas, valendo-nos dos níveis narrativo, discursivo e fundamental do percurso gerativo do sentido. 2. Apresentação do Corpus O que muitas vezes já foi confundido e dito como gênero menor, as tirinhas e quadrinhos fazem uso de um estudo e construção textual complexos; articulando linguagem verbal e não verbal, muitas vezes aliada ao humor, para refletir e criticar contextos sociais, governamentais e históricos, sobretudo da contemporaneidade. Articulação elevada por Oliveira (2008, p.74): Para Rama & Vergueiro (2004), os quadrinhos são constituídos de um sistema narrativo composto por dois códigos que atuam em constante 1

interação: o visual e o verbal. Cada um desses códigos ocupa um papel especial, dentro das HQs, reforçando um ao outro e garantindo que a mensagem seja entendida.(p.31). Abordando as questões do contemporâneo, a escolha das duas tirinhas se justificam pelo agrupamento das problemáticas contidas nelas. Disponível em: <https://www.alienado.net/fotos/2011/02/tirinha-helga-e-hagar-ironia.jpg> Na tirinha do personagem Hagar, O terrível, (doravante tirinha 1) a sua esposa usa a ironia ao falar com Hagar, o criticando por não ajudá-la em nenhum dos afazeres da casa, expressando uma figura machista e típica da sociedade patriarcal, porém Hagar entende a ironia no seu sentido superficial, sem captar a ironia em si, e glorifica sua esposa por ser boa e não querer que ele se machuque com os afazeres da casa. Disponível em: < http://www.tudodesenhos.com/uploads/images/61/tirinha-da-monica-e-do-cebolinha.gif > A próxima tirinha (doravante tirinha 2) que expressa críticas ao machismo e ao patriarcalismo é de autoria de Maurício de Sousa, na qual Mônica questiona Cebolinha sobre o porquê de ele não querer mais brincar de casinha e ele diz Adivinha! ; nesta tirinha há ações e sistemas não-verbais que demonstram que ele 2

teve que trabalhar muito, além de cuidar de toda a casa e do filho, tarefas destinadas somente às mulheres dentro do pensamento patriarcal. 3. A Construção da Ironia A ironia, elemento da retórica, é uma definição do dizer pelo que não foi dito, é a inversão de valores da essência; não é a essência do dito, mas o contrário da essência. A essência, aqui, assume-se como pensamento. Agir de forma irônica é ter a essência, mas expor pelo dito o contrário, um mecanismo de levar o leitor a refletir por meio do visual e verbal, nas tirinhas, a essência por meio do não-dito, sobretudo pela construção do humor, um dos principais elementos da construção irônica. Segundo Kierkegaard (2006 apud OLIVEIRA, 2008), há o pressuposto da efetivação da articulação da ironia, no qual o sujeito é negativamente livre, ou seja, pode dizer o contrário de sua intenção, mas deve tomar consciência se seu leitor será capaz de apreender o pronunciamento irônico. Logo, a construção harmônica entre visual e verbal toma a maior relevância frente a comunicação de sentido nas tirinhas, necessitando de coerentes articulações. 4. Breve Resumo da Teoria Semiótica A teoria semiótica aqui tratada foi inaugurada por A. J. Greimas com a publicação do livro Semântica estrutural, definindo a semiótica no plano de conteúdo, onde, segundo Pietroforte (2010, p.8), (...) a significação é descrita pela semiótica no modelo do percurso gerativo do sentido, que prevê a geração do sentido por meio do nível semio-narrativo, geral e abstrato, que se especifica e se concretiza na instância da enunciação, no nível discursivo. A semiótica, apesar de ser uma ciência em construção, é um rico instrumento de análise textual. 5. O Percurso Gerativo do Sentido Para a Semiótica, como já mencionado, o plano do conteúdo é concebido como um percurso gerativo do sentido. O percurso gerativo do sentido parte de um estrato 3

geral e abstrato e vai a um estrato mais complexo e concreto. O percurso é formado por três etapas: os níveis fundamental, narrativo e do discurso, que serão abordados em maiores detalhes nos itens a seguir. (BARROS, 2005) 5.1. O Nível Fundamental O nível fundamental é a etapa mais simples e abstrata do percurso gerativo do sentido, no qual a significação é vista como uma oposição semântica mínima (como vida vs. morte), chamadas de categoria semântica, sendo possível, a partir de tais oposições, determinar temas comuns. Esse nível busca determinar não uma relação fundamental, mas uma rede fundamental de relações (PIETROFORTE, 2010, p. 13). Junto à categoria semântica, estruturando o nível fundamental, temos a categoria fórica. Dentro dela temos os termos contrários euforia vs. disforia, sendo o primeiro uma sensibilização positiva, e o segundo, negativa (vida seria uma sensibilização eufórica e morte uma sensibilização disfórica, dependendo dos valores assumidos pelo sujeito do texto). Com base no exposto, segundo Helga, são categorias semânticas na tirinha 1: sentado (disfórico) vs. em pé (eufórico); descansar (disfórico) vs. trabalhar (eufórico). A afirmação do trabalho como positivo e do descanso como negativo se dá quando Helga, por uso da ironia, representada através das categorias semânticas, critica a atitude do marido que permanece sentado enquanto ela faz o trabalho doméstico. Já na tirinha 2 temos a seguinte categoria semântica: trabalho formal (eufórico) vs. trabalho doméstico (disfórico). A afirmação do trabalho forma como positivo se dá à reação de Cebolinha ao não querer mais brincar de casinha por ocupar um papel que, tradicionalmente, não seria seu. 5.2. O nível narrativo É no nível narrativo que a narrativa se organiza, partindo do ponto de vista de um sujeito. As oposições semânticas, analisadas no nível narrativo, funcionam como um ponto de partida da narrativa, tendo seus valores assumidos por sujeitos e que circulam através de ações e transformações também assumidas por sujeitos 4

(BARROS, 2005). Segundo Pietroforte, o desenvolvimento de uma narrativa resolve-se em transformações (2010, p.15). Dando o exposto, ao analisar as duas tirinhas vemos uma relação de privação entre os sujeitos ( S1 <> S2 ) em ambas as personagens na relação entre os participantes. A crítica feita por meio da ironia em ambas as tirinhas dá foco ao machismo e ao sistema do patriarcado, uma situação de perda, sempre, para a figura da mulher. Ao modalizar o sujeito pelo dever fazer, conseguimos vislumbrar no percurso narrativo da competência semântica a explicitação do QUERER e DEVER, qualificando a relação de perda, mesmo que velada pela situação do meio social. Visto nas reclamações da esposa de Helga, ao ironizar sua obrigação imposta de fazer todas as tarefas braçais da casa. E, na tirinha de Maurício de Sousa, a ironia faz de forma mais elaborada essa explicitação da imposição de tal querer - dever na perda por meio do patriarcado, pois ao Cebolinha assumir o papel da mulher ele é o sujeito que é privado ( S1 O S1 ሀ O ) por meio de um papel que seu arquétipo masculino impõe a manutenção social, análise da ironia necessária pela soma do verbal e não-verbal, o não-dito 5.3. O nível do discurso Também conhecido como o nível das estruturas discursivas, é no nível do discurso que o sujeito da enunciação assume a narrativa. De acordo com Barros (2005, p.15) as estruturas discursivas devem ser examinadas do ponto de vista das relações que se instauram entre a instância da enunciação, responsável pela produção e pela comunicação do discurso, e o texto-enunciado. No nível discursivo temos as oposições fundamentais (valores narrativos) que são desenvolvidas em forma de temas e podem se concretizar por meio de figuras, possibilitando, assim, leituras temáticas. Tais leituras são concretizadas através da oposição de traços que podem ser, por exemplo, espaciais, sensoriais e temporais (BARROS, 2005). Através das análises das tirinhas feitas nos níveis fundamental e narrativo, podemos 5

concluir que a ironia oferece uma leitura a ser concretizada, desde que entendida. Caso a ironia não seja interpretada como tal, uma nova leitura das tirinhas pode ser traçada: a de que os papéis tradicionalmente desempenhados pelas mulheres servem somente para aliviar a carga de obrigações do seu parceiro. Portanto, podemos concluir que a interpretação (eufórico x disfórico) das críticas trazidas pelas tirinhas somente serão concretizadas através do entendimento da ironia construída. 6. Considerações Finais Através do uso do percurso gerativo do sentido da teoria semiótica, fomos capazes de analisar a construção da ironia em aspectos verbais e não-verbais em tirinhas cujo tema central se pauta no machismo. Podemos concluir que o não-dito, as questões a serem compreendidas pela soma do meio verbal e do meio não verbal, são mais inteligíveis as análises propostas neste trabalho junto ao percurso gerativo de sentido. Nas tirinhas, os dizeres são igualmente relevantes aos elementos não-verbais, pois em praticamente todos as questões irônicas e as construções de sentido quanto às críticas não seriam construídas sem a somatória dos fatores verbais e não-verbais; explicitando, portanto, o valor de perda por parte da figura dita feminina junto às explicitações, sobretudo, através dos elementos eufóricos e disfóricos nas relações entre o papel dos arquétipos homem e mulher utilizados de forma irônica para a construção da crítica ao machismo. 7. Referências Bibliográficas BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria semiótica do texto. São Paulo: Ed. Ática, 2005. OLIVEIRA, Mônica Lopes Smiderle de. A ironia como produção de humor e crítica social: uma análise pragmática das tiras da Mafalda. Vitória: Programa de Pós-graduação UFES, 2008. PIETROFORTE, Antonio Vicente. Semiótica visual, os percursos do olhar. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2010. p. 7-21. 6