Normas DRIS Multivariadas para Avaliação do Estado Nutricional de Pimenta-Longa

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Transcrição:

ISSN 0100-9915 Normas DRIS Multivariadas para Avaliação do Estado Nutricional de Pimenta-Longa 60 Introdução O gênero Piper contém mais de mil espécies que se distribuem no sub-bosque e na vegetação secundária de florestas tropicais, principalmente na Ásia e América Tropical (WADT et al., 2004). Na Amazônia Sul-Ocidental o gênero Piper também é abundante, destacando-se entre as espécies conhecidas a pimenta-longa (P. hispidinervum), cujo principal produto comercial é o safrol. Sua produtividade depende da produção de biomassa, do teor de óleo essencial na biomassa e do teor de safrol no óleo essencial. Em condições naturais, a variabilidade do teor de safrol no óleo essencial é baixa, com coeficiente de variação de 2,58% (MIRANDA, 2001). No outro extremo, a produção de biomassa tem variado sob diferentes condições experimentais de 799 kg ha -1 (SILVA et al., 2001) a 7.153 kg ha -1 (FIGUEIREDO et al., 2001). Rio Branco, AC Fevereiro, 2012 Autores Paulo Guilherme Salvador Wadt Engenheiro-agrônomo, D.Sc. em Solos e Nutrição de Plantas, pesquisador da Embrapa Acre, paulo.wadt @embrapa.br Lucielio Manoel da Silva Engenheiro-agrônomo, M.Sc. em Genética e Melhoramento de Plantas, analista da Embrapa Acre, lucielio.silva @embrapa.br Valdomiro Catani Químico, D.Sc. em Química, analista da Embrapa Acre, valdomiro.catani @embrapa.br A disponibilidade de nutrientes está entre os fatores determinantes da variabilidade de produção de biomassa pela pimenta-longa. Sousa et al. (2001) relatam resposta da pimenta-longa à aplicação de fósforo, de potássio na presença de calagem e de nitrogênio na ausência de calagem. Por sua vez, Wadt e Pacheco (2006) destacam que a adubação nitrogenada não proporcionou maior produção da biomassa de pimenta-longa, provavelmente devido a outros fatores limitantes, dentre os quais poderia ser qualquer outro nutriente essencial. Normas DRIS multivariadas Uma alternativa para melhorar o manejo da adubação da pimenta-longa está na avaliação correta do estado nutricional, e para isso, há necessidade de padrões nutricionais que permitam realizá-la. A ausência desses padrões é um dos principais gargalos para a melhoria do manejo da adubação em várias culturas (PARENT, 2011). Com o objetivo de suprir essa deficiência, a Embrapa Acre desenvolveu um conjunto de normas DRIS multivariadas para a diagnose do estado nutricional da pimenta-longa (Tabela 1). Essas normas DRIS foram obtidas de um conjunto de 163 acessos de pimenta-longa cultivados no Banco Ativo de Germoplasma da Embrapa Acre, calculando-se a média aritmética, o desvio padrão e o número de relações para o conjunto das relações multivariadas de cada um dos nutrientes avaliados (WADT et al., 2011a,b).

2 Normas DRIS Multivariadas para Avaliação do Estado Nutricional de Pimenta-Longa Tabela 1. Normas DRIS multivariadas para N, P, K, Ca, Mg, Zn, Fe, Mn, Cu e valor R, em pimenta-longa, adotando-se a transformação logarítmica neperiana para as relações multivariadas. Nutriente Média da relação multivariada Desvio padrão para a relação multivariada N 3,2457 0,1001 P 0,3492 0,1333 K 2,1812 0,2841 Ca 1,8911 0,1794 Mg 0,5058 0,1786 Zn -3,3697 0,2034 Fe -2,7926 0,1394 Mn -2,9799 0,3412 Cu -5,3683 0,4561 R 6,3376 0,0919 R = diferença entre 100% e o total de nutrientes identificados na amostra foliar, sendo uma estimativa da matéria seca da amostra. Avaliação do estado nutricional por meio do DRIS com relações multivariadas O Sistema Integrado de Diagnose e Recomendação (DRIS), quando baseado em relações bivariadas, tem sido indicado nos últimos anos como um método promissor para avaliar o estado nutricional das plantas, porém, exige um domínio mais apurado do uso de planilhas eletrônicas ou sistemas computacionais (MOURÃO FILHO, 2004). Por exemplo, para o cálculo do índice DRIS de nove nutrientes são necessárias 1.296 operações matemáticas e, portanto, somente usuários com maior domínio no uso de planilhas eletrônicas ou banco de dados relacionais conseguem realizar os cálculos rapidamente. Por sua vez, o método da Diagnose da Composição Nutricional (CND) (PARENT; DAFIR, 1992), também conhecido como DRIS para relações multivariadas (DRIS mv ), apresenta uma enorme simplificação no cálculo do índice DRIS, bastando que se tenha um conjunto de normas preestabelecidas (Tabela 1). Com o DRIS mv, para os mesmos nove nutrientes, são necessárias apenas 41 operações matemáticas na interpretação do estado nutricional das plantas. Embora ainda muito mais complexo do que o método convencional, baseado na Faixa de Suficiência ou no Nível Crítico que simplesmente compara o valor da análise foliar com o valor padrão para interpretar o estado nutricional, a adoção do DRIS mv simplifica consideravelmente os cálculos envolvidos. Como exemplo, será apresentada a interpretação do estado nutricional de um acesso de pimenta-longa cultivado no Banco de Germoplasma da Embrapa Acre (Tabela 2). O primeiro passo consiste na transformação dos dados originais em uma única unidade, porcentagem ou mais precisamente em dag kg -1. Para isso, os teores dos macronutrientes (que são apresentados em g kg -1 ) precisam ser divididos pelo fator 10 e dos micronutrientes (que são apresentados em mg kg -1 ) divididos pelo fator 10.000, de forma que todos os resultados sejam apresentados em dag kg -1 (Tabela 2). O próximo passo consiste na determinação do valor R, equivalente a toda biomassa foliar que não corresponde aos nutrientes avaliados, ou seja: R = 100 - (vn + vp + vk + vca + vmg + vzn + vfe + vmn + vcu)

Normas DRIS Multivariadas para Avaliação do Estado Nutricional de Pimenta-Longa 3 No caso do exemplo, R = 100 - (3,930-0,299-1,786-0,948-0,265-0,007-0,009-0,015-0,001) = 92,740 Conhecido o valor de R, pode-se agora calcular a média geométrica (mgeo) dos teores nutricionais: mgeo = (vn x vp x vk x vca x vmg x vzn x vfe x vmn x vcu x R) (1/10) Onde: mgeo = raiz de ordem n do produto dos teores nutricionais e do valor R; n = número de nutrientes + 1. No exemplo, mgeo = (3,930 x 0,299 x 1,786 x 0,948 x 0,265 x 0,007 x 0,009 x 0,015 x 0,001 x 92,740) (1/10) = 0,188 (Tabela 2). Uma vez conhecida a média geométrica, podese calcular a relação multivariada, que consiste no logaritmo neperiano do teor do nutriente dividido pela média geométrica: g = ln(teor/mgeo) Onde: g = a relação multivariada de um nutriente qualquer; Teor = a concentração de um nutriente qualquer, em dag kg -1 ; mgeo = respectiva média geométrica. No exemplo, a relação multivariada para N (gn) é dada pela expressão: gn = ln(vn/mgeo) = ln(3,930/0,188) = 3,04 (Tabela 2). Tabela 2. Sumário dos cálculos envolvidos para a avaliação do estado nutricional de pimenta-longa a partir da interpretação do teor foliar de N, P, K, Ca, Mg, Zn, Fe, Mn e Cu. Potencial de resposta à Nutriente Unidade Teor dag kg -1 Ln(X/mGeo) DRIS mv adubação N g kg -1 39,3 3,930 3,04-2,06 Maior insuficiência P g kg -1 2,99 0,299 0,46 0,86 Equilibrado K g kg -1 17,86 1,786 2,25 0,25 Equilibrado Ca g kg -1 9,48 0,948 1,62-1,52 Insuficiência moderada Mg g kg -1 2,65 0,265 0,34-0,91 Equilibrado Zn mg kg -1 70,26 0,007-3,29 0,41 Equilibrado Fe mg kg -1 90,7 0,009-3,03-1,71 Insuficiência moderada Mn mg kg -1 149,7 0,015-2,53 1,32 Maior excesso Cu mg kg -1 11,84 0,001-5,07 0,66 Equilibrado R - - 92,740 6,20-1,49 - mgeo - - 0,188 - - - IBNm - - - - 1,08 - R = diferença entre 100% e o total de nutrientes identificados na amostra foliar, sendo uma estimativa da matéria seca; mgeo = média geométrica; IBNm = índice de balanço nutricional médio. O mesmo procedimento é repetido para os demais nutrientes, obtendo-se as relações multivariadas de P (0,46), K (2,25), Ca (1,62), Mg (0,34), Zn (-3,29), Fe (-3,03), Mn (-2,53) e Cu (-5,07) e também de R (6,20), que corresponde à matéria seca foliar (Tabela 2). É importante não confundir os valores positivos ou negativos com o equilíbrio nutricional como estado de deficiência ou excesso, já que no caso de relações multivariadas, o valor negativo apenas indica que o nutriente está abaixo ou acima da média geométrica. O passo seguinte é calcular o índice DRIS mv de cada nutriente, quando então valores negativos indicarão tendência de insuficiência e valores positivos tendência para excesso. O índice DRIS de cada nutriente é obtido pela fórmula de JONES (1981): I_X = (gx - mx)/sx Onde: I_X = índice DRIS mv de um nutriente qualquer (X); gx = relação multivariada para esse mesmo nutriente (Tabela 2); mx = norma

4 Normas DRIS Multivariadas para Avaliação do Estado Nutricional de Pimenta-Longa média da relação multivariada do nutriente X (Tabela 1); e sx = norma desvio padrão da relação multivariada do nutriente X (Tabela 1). No exemplo, o índice DRIS mv para N é dado por: I_N = (3,04-3,2457)/0,1001 = -2,06 (Tabelas 1 e 2). Para os demais nutrientes, os índices DRIS são: I_P = 0,86, I_K = 0,25, I_Ca = -1,52, I_Mg = -0,91, I_Zn = 0,41, I_Fe = -1,71, I_Mn = 1,32 e I_Cu = 0,66, além do I_MS (I_matéria seca) = -1,49 (Tabela 2). Portanto, a ordem de limitação nutricional para essa amostra é: N < Fe < Ca < Mg < K < Zn < Cu < P < Mn Separação de nutrientes limitantes e não limitantes Aproveitando-se a determinação do índice DRIS mv de matéria seca (I_MS) e a determinação da ordem de limitação, podese facilmente separar nutrientes limitantes daqueles não limitantes, conforme proposto por Hallmark et al. (1987). Nutrientes limitantes são aqueles com valores de índices DRIS negativos e menores que o índice DRIS de matéria seca. No exemplo, os nutrientes N, Fe, Ca e Mg apresentam índice DRIS negativo e os nutrientes N, Fe e Ca apresentam índice DRIS menor do que o I_MS, portanto, são considerados limitantes e os demais não limitantes. Potencial de resposta à adubação O cálculo do Potencial de Resposta à Adubação tem como finalidade estabelecer um critério objetivo para interpretar o valor do índice DRIS em relação ao estado nutricional da planta. Por esse critério, os índices DRIS são classificados em cinco categorias, associadas a um determinado estado nutricional (WADT, 2005): a) Maior insuficiência o nutriente possui alta probabilidade de resposta à correção da deficiência (resposta positiva: p). Nessa situação, apresenta simultaneamente a condição de ser o nutriente com menor valor para o índice DRIS e com módulo maior do que o índice de balanço nutricional médio (IBNm). b) Insuficiência moderada o nutriente apresenta moderada probabilidade de resposta à correção da deficiência (resposta positiva ou nula: pz). Nessa situação, o nutriente deficiente não é o de menor índice DRIS, porém, o seu módulo é maior do que o IBNm. c) Equilibrado o nutriente apresenta-se nutricionalmente equilibrado (resposta nula: z), não requerendo mudança na sua disponibilidade para a planta avaliada. d) Excesso moderado o nutriente apresenta moderada probabilidade de resposta à correção do excesso (resposta negativa ou nula: nz). Nessa situação, o nutriente em excesso não é o de maior índice DRIS, porém, seu módulo é maior do que o IBNm. e) Maior excesso o nutriente apresenta alta probabilidade de resposta à correção do excesso (resposta negativa: n). Nessa situação, o nutriente em excesso corresponde simultaneamente àquele com maior índice DRIS e com módulo maior do que o IBNm. O IBNm é obtido pela soma aritmética, em módulo, dos índices DRIS de cada nutriente avaliado, dividido pelo número de nutrientes avaliados em uma dada planta ou amostra. No exemplo da Tabela 2, o IBNm corresponde à média aritmética do somatório do módulo: IBNm = ( I_N + I_P + I_K + I_Ca + I_Mg + I_Zn + I_Fe + I_Mn + I_Cu )/9 Ou seja: IBNm = ( -2,06 + 0,86 + 0,25 + -1,52 + -0,91 + 0,41 + -1,71 + 1,32 + 0,66 )/9 IBNm = (2,06 + 0,86 + 0,25 + 1,52 + 0,91 + 0,41 + 1,71 + 1,32 + 0,66)/9 IBNm = 1,08

Normas DRIS Multivariadas para Avaliação do Estado Nutricional de Pimenta-Longa 5 O índice de balanço nutricional médio corresponde ao desequilíbrio médio dos nutrientes em uma dada situação; nutrientes com índices DRIS negativos, cujo módulo desse mesmo índice seja superior ao IBNm, são potencialmente mais responsivos à adubação (maior insuficiência e insuficiência moderada), e os demais são não responsivos (equilibrados) ou mesmo com possibilidade de resposta negativa (maior excesso ou excesso moderado). Aplicando-se essas regras aos índices DRIS mv, observa-se que N, Ca e Fe apresentam deficiência moderada e, os demais, estado de equilíbrio (Tabela 2). Nesse caso, uma interpretação semelhante à obtida pela separação dos nutrientes em limitantes e não limitantes. Conclusão A disponibilização das normas DRIS multivariadas para pimenta-longa permite que a avaliação do estado nutricional dos plantios seja realizada utilizando-se o Sistema Integrado de Diagnose e Recomendação, por meio de cálculos mais simplificados do que com o uso de relações bivariadas, possibilitando um manejo mais eficiente das adubações nos plantios comerciais. Referências FIGUEIREDO, F. J. C.; ROCHA NETO, O. G. da; ALVES, S. de M.; SILVA, E. S. A. Frequência de corte de plantas de pimenta longa (Piper hispidinervum C.DC.) para fins de produção de biomassa, estração de óleo essencial e quantificação de safrol. In: WORKSHOP DE ENCERRAMENTO DO PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS PARA PRODUÇÃO DE SAFROL A PARTIR DE PIMENTA LONGA (Piper hispidinervum), 1., 2001, Rio Branco, AC. Anais... Rio Branco, AC: Embrapa Acre, 2001. p. 57-63. (Embrapa Acre. Documentos, 75). HALLMARK, W. B.; WALWORTH, J. L.; SUMNER, M. E.; MOOY, C. J. de; PESEK, J.; SHAO, K. P. Separating limiting from nonlimiting nutrients. Journal of Plant Nutrition, v.10, n. 9/16, p.1381-1390, 1987. JONES, C. A. Proposed modifications of the diagnosis and recommendation integrated system (DRIS) for interpreting plant analysis. Communications in Soil Science and Plant Analysis, v. 12, n. 8, p. 785-794, 1981. MIRANDA, E. M. de. Caracterização e avaliação produtiva de uma população nativa de pimenta longa (Piper hispidinervum C.DC.) no seringal Cachoeira, AC. In: WORKSHOP DE ENCERRAMENTO DO PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS PARA PRODUÇÃO DE SAFROL A PARTIR DE PIMENTA LONGA (Piper hispidinervum), 1., 2001, Rio Branco, AC. Anais... Rio Branco, AC: Embrapa Acre, 2001. p. 45-50. (Embrapa Acre. Documentos, 75). MOURÃO FILHO, A. A. DRIS: concepts and applications on nutritional diagnosis in fruit crops. Scientia Agricola, Piracicaba, v. 61, n. 5, p. 550-560, sept./oct. 2004. PARENT, L. E. Diagnosis of the nutrient compositional space of fruit crops. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 33, n. 1, p. 321-334, 2011. PARENT, L. E.; DAFIR, M. A theoretical concept of compositional nutrient diagnosis. Journal of the American Society for Horticultural Science, v. 117, n. 2, p. 239-242, mar. 1992. SILVA, E. S. A.; ROCHA NETO, O. G. da; FIGUEIREDO, F. J. C. Crescimento e produção de óleo essencial de Pimenta Longa (Piper hispidinervum C.DC.) sob diferentes condições de manejo, no município de Igarapé-Açu, PA. In. WORKSHOP DE ENCERRAMENTO DO PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS PARA PRODUÇÃO DE SAFROL A PARTIR DE PIMENTA LONGA (Piper hispidinervum), 1., 2001, Rio Branco, AC. Anais... Rio Branco, AC: Embrapa Acre, 2001. p. 90-95. (Embrapa Acre. Documentos, 75).

6 Normas DRIS Multivariadas para Avaliação do Estado Nutricional de Pimenta-Longa SOUSA, M. de M. M.; LEDO, F. J. da S.; PIMENTEL, F. A. Efeito da adubação e do calcário na produção de matéria seca e de óleo essencial de pimenta-longa. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 36, n. 3, p. 405-409, mar. 2001. WADT, L. H. O.; EHRINGHAUS, C.; KAGEYAMA, P. Y. Genetic diversity of Pimenta Longa genotypes (Piper spp., Piperaceae) of the Embrapa Acre germoplasm collection. Genetics and Molecular Biology, v. 27, n. 1, p. 74-82, mar. 2004. WADT, P. G. S.; SILVA, L. M. da; CATANI, V.; MESSIAS, E. de B.; OLIVEIRA, C. H. A. de. Definição da posição da folha de pimenta longa para avaliação do estado nutricional. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 33., Uberlândia, MG, 2011. Solos nos biomas brasileiros: sustentabilidade e mudanças climáticas: anais. [Uberlândia]: SBCS: UFU, ICIAG, 2011. 1 CD-ROM. 4 p. WADT, P. G. S.; SILVA, L. M.; MESSIAS, E. B. Teores foliares para interpretação do estado nutricional de pimenta longa. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 33., Uberlândia, MG, 2011. Solos nos biomas brasileiros: sustentabilidade e mudanças climáticas: anais. [Uberlândia]: SBCS: UFU, ICIAG, 2011b. 1 CD-ROM. 4 p. WADT, P. G. S. Relationships between soil class and nutritional status of coffee crops. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 29, n. 2, p. 227-234, 2005. WADT, P. G. S.; PACHECO, E. P. Efeito da adubação nitrogenada, em diferentes densidades de plantio, na produção de biomassa de Pimenta Longa (Piper hispidinervum C.DC.). Revista de Biologia e Ciências da Terra, v. 6, n. 2, p. 334-340, 2006. Circular Técnica, 60 Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Embrapa Acre Endereço: Rodovia BR 364, km 14, sentido Rio Branco/Porto Velho, Caixa Postal 321, Rio Branco, AC, CEP 69900-056 Fone: (68) 3212-3200 Fax: (68) 3212-3284 http://www.cpafac.embrapa.br sac@cpafac.embrapa.br 1 a edição 1 a impressão (2012): 200 exemplares Comitê de publicações Expediente Presidente: Ernestino de Souza Gomes Guarino Secretária-Executiva: Claudia Carvalho Sena Membros: Clarissa Reschke da Cunha, Henrique José Borges de Araujo, José Tadeu de Souza Marinho, Maria de Jesus Barbosa Cavalcante, Maykel Franklin Lima Sales, Moacir Haverroth, Rodrigo Souza Santos, Romeu de Carvalho Andrade Neto, Tatiana de Campos Supervisão editorial: Claudia C. Sena/Suely M. Melo Revisão de texto: Claudia C. Sena/Suely M. Melo Normalização bibliográfica: Riquelma de S. de Jesus Tratamento das ilustrações: Bruno Imbroisi Editoração eletrônica: Bruno Imbroisi CGPE 10048