A elisão no dialeto pessoense

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Transcrição:

ARTIGO Letrônica v. 2, n. 2, p. 86-100, dezembro 2009 A elisão no dialeto pessoense Rafaela Veloso Machado 1 1 Considerações iniciais Este artigo traz os resultados de uma pesquisa que analisou o comportamento variável da elisão no dialeto pessoense (João Pessoa Paraíba). A elisão é vista como um processo fonológico de reestruturação silábica, em que ocorre o apagamento da vogal baixa /a/ quando ela é seguida de uma vogal de qualidade diferente (ex.: menina humilde > meninumilde). Neste texto, pretende-se discutir os fatores estruturais da língua que estão atuando decisivamente no uso das formas implementadas pelos falantes, pois, conforme as análises já realizadas (MACHADO, 2008; 2009) se observa que este processo tem nítidas restrições linguísticas para a sua aplicação. O corpus selecionado para a análise pertence ao Projeto de Variação Linguística do Estado da Paraíba (VALPB) e é composto de dados de fala de 18 informantes, oriundos da comunidade de João Pessoa/PB. A metodologia utilizada segue a Sociolinguística Variacionista (LABOV, 1972). Desse modo, foram mapeadas todas as ocorrências do fenômeno investigado e, depois de submetidas a uma análise quantitativa, seguiu-se à observação dos fatores que estavam controlando a aplicação da elisão. Com a atenção voltada para essas questões, este artigo está organizado da seguinte maneira: na segunda parte tem-se uma explicitação mais detalhada do objeto de estudo do trabalho; na terceira parte são apresentados e analisados os resultados da pesquisa; encerrando, em (4), com os comentários finais sobre o trabalho. 1 Mestre em Linguística pelo Programa de Pós-graduação em Linguística, da Universidade Federal da Paraíba. E-mail: rafaela_ufpb@hotmail.com

2 A elisão: caracterização do objeto de análise Câmara Jr. (2006) 2, no seu livro A estrutura da Língua Portuguesa, chama a atenção para a existência do fenômeno de elisão no português. Segundo esse autor, tal processo anula a separação entre uma vogal final e a inicial do vocábulo seguinte, quando átonas ambas ou pelo menos átona a primeira (p. 62). Neste trabalho, observa-se, especificamente, a supressão da vogal /a/ diante de uma vogal diferente 3. Aquela vogal, sendo átona, desaparece diante da inicial vocálica da palavra seguinte. Ex 4 :...uma pessoa na faixa etária de quarenta......uma pessoa na [faixetária] de quarenta......comprava uma casa para minha mãe...... [compravuma] casa para minha mãe... Baseando-se na explanação feita por Bisol (1992, 2000, 2002), Tenani (2002) e na releitura desses trabalhos realizada por Matzenauer (2005), o processo de elisão, segundo as teorias que versam sobre a sílaba, e representado pelo modelo proposto pela Fonologia Autossegmental, é descrito de acordo com (1): (1) camisa usada a) Estrutura inicial b) Choque de núcleos c) Ressilabação d) Elisão σ 1 σ 2 σ 2 σ σ A R R R A R A R N N N N N C V V C V V C V V C V s a u s a u s a u s u 2 A obra de Câmara Jr. consultada para as referências deste trabalho é 38º edição do seu original de 1970. 3 Bisol (1992, p. 94) salienta que elisões de outras vogais podem ocorrer, não tendo, contudo, o caráter geral que a apresenta. 4 Esses exemplos foram retirados do corpus do VALPB. Letrônica, Porto Alegre v.2, n.2, p. 87, dezembro 2009.

A estrutura inicial que desencadeia a elisão (1a) advém de duas palavras que entram em contato e cuja sílaba final da primeira e a inicial da segunda formam a seqüência VV (vogal + vogal), ocasionando o choque de núcleos silábicos 5 ; esse choque (1b) apaga a primeira sílaba da seqüência, desassociando os segmentos C (consoante) e V (vogal); nesse contexto, ocorre a ressilabação (1c), determinada pelo PLP 6, com adjunção da consoante desassociada à rima da sílaba seguinte, formando ataque com a vogal da sílaba remanescente, resultando, conseqüentemente, com o apagamento da vogal /a/, na elisão (1d). A ressilabação age, neste sentido, para resolver a configuração silábica marcada, ou seja, uma sílaba sem ataque (que corresponde, em geral, a V2 na seqüência VV). Isso significa que, além da elisão se manifestar como uma tendência da língua a evitar hiatos, representa também uma busca pelo padrão silábico universal CV (consoante + vogal). (BISOL, 2000a, 2002). Trata-se, indiscutivelmente, de um processo que envolve (re)estruturação silábica. Uma vez desencadeado o processo de ressilabação, o processo de elisão provoca uma reestruturação rítmica dos vocábulos envolvidos, no sentido de que a sílaba resultante do processo incorpora-se à pauta prosódica do vocábulo seguinte (BISOL, 1992, 1994). Verificase, ainda, que, com a perda da sílaba, a consoante passa a ser o ataque da sílaba seguinte. Posto isso, observa-se que, dentro do contexto favorecedor da elisão, algumas restrições são determinantes para a sua aplicação. Estudos já realizados sobre o fenômeno demonstraram que esse processo é controlado, especialmente, por duas questões: o acento e tamanho dos vocábulos envolvidos. Dessa forma, será visto, adiante, como os fatores estruturais, selecionados pelo programa computacional, estão interferindo na aplicação da elisão no dialeto analisado aqui. 3 A elisão: apresentação e análise dos resultados Como já foi dito anteriormente, esta pesquisa fundamenta-se na Sociolinguística Quantitativa e adota os seus critérios metodológicos para o cumprimento dos objetivos determinados. A fim de verificar que fatores estavam intervindo na ocorrência da elisão, 5 Sabe-se que o núcleo é preenchido pelo elemento mais sonoro da sílaba; no Português, esta posição é ocupada, exclusivamente, por uma vogal. 6 De acordo com o Princípio do Licenciamento Prosódico (PLP), todas as unidades devem pertencer a estruturas prosódicas mais altas (ex: segmentos devem pertencer a sílabas; sílabas devem pertencer a pés; pés a palavras, etc) caso contrário, serão apagadas pelo mecanismo Stray Erasure, que elimina elementos não licenciados (ITÔ, 1988). Letrônica, Porto Alegre v.2, n.2, p. 88, dezembro 2009.

dados foram submetidos à análise computacional do pacote de programas VARBRUL (PINTZUK, 1988), que forneceu os números relativos ao fenômeno em estudo. Nesse processo, existe a possibilidade de aplicação da elisão, com o apagamento da vogal /a/, e consequente reestruturação silábica e rítmica, alternando-se com a manutenção do hiato. Verifica-se, através da visualização da tabela 1, que o processo de elisão no dialeto pessoense não é muito produtivo, pois, num total de 1871 dados encontradas no corpus, registrou-se apenas 444 (24%) para a realização da elisão e 1427 (76%) para a não-realização. Ocorrências Percentual Aplicação 444 24% Não-aplicação 1427 76% Tab 1. A elisão no dialeto pessoense Para a análise, foram considerados três fatores sociais sexo, faixa etária e anos de escolarização e seis fatores lingüísticos acento, constituintes prosódicos, qualidade da vogal, extensão da primeira palavra, extensão da segunda palavra e tipo de palavra. Apenas os fatores linguísticos foram selecionados pelo programa como relevantes para a aplicação do processo de elisão. Como a variável mais influente tem-se a extensão da primeira palavra da seqüência. Com o objetivo de verificar se o tamanho da palavra influenciava na aplicação da elisão, os dados foram controlados em função do número de sílabas da primeira palavra da sequência (a que, pela regra, perde elemento fonético, devido ao apagamento da vogal /a/). A hipótese levantada era de que a aplicação da elisão seria desfavorecida em palavras monossilábicas e estaria mais passível de ocorrer em palavras com maior número de sílabas. Pela visualização da tabela 2, é possível perceber que a hipótese não foi completamente confirmada: Letrônica, Porto Alegre v.2, n.2, p. 89, dezembro 2009.

Total/Aplicação Porcentagem Peso relativo MONOSSÍLABA (ex.: num dá não pra ele ir 548/43 8%.34 pra Copa não JM 2NM) DISSÍLABA (ex.:...brinquei bastante na minha infância... FPMF- 864/320 37%.65 1UM) TRISSÍLABA Tab (ex.:...uma cultura inferior 341/70 21%.47 2. FPMF-1UM) POLISSÍLABA (ex.:...só namorava 118/11 9%.22 escondido RAM - 2GF) Extensão da primeira palavra O único contexto favorecedor do apagamento da vogal /a/ é aquele em que a primeira palavra da seqüência é dissílaba (.65). Todos os outros valores estão abaixo do ponto neutro e são considerados, portanto, como inibidores na aplicação da elisão. Quando se trata das palavras monossilábicas, percebe-se que a hipótese foi confirmada, pois com um peso relativo de.34 vê-se que esse fator não favorece a aplicação da elisão. Acredita-se que o comportamento dessa variável é determinado por uma questão semântica da língua, que age no bloqueio do apagamento de segmentos lingüísticos que podem interferir na inteligibilidade da expressão. Isso porque a maioria dos contextos encontrados nos dados para esse fator refere-se a formas monomorfemáticas, isto é, a palavras que apresentam a combinação de morfemas constituídos de um só segmento (ex.: da igreja; na época; a ela). Letrônica, Porto Alegre v.2, n.2, p. 90, dezembro 2009.

Outro contexto monossilábico muito frequente nos dados, que inibe o apagamento da vogal /a/, diz respeito à forma variável da preposição para : pra (ex.: pra usina > *prusina; pra esperar > *presperar) 7. Sendo assim, o que se pode constatar é que as palavras que possuem uma única sílaba desfavorecem a aplicação da elisão, porque, uma vez apagado o segmento, não se deixa nenhum vestígio do item antes existente, intervindo, portanto, no entendimento (ex.: faz um tempão que eu não vou à igreja > faz um tempão que eu não vou * igreja). Os resultados relacionados às palavras trissílabas e polissílabas, entretanto, refutam a hipótese elaborada, pois os seus valores demonstram que essas variáveis não se relacionam favoravelmente ao apagamento da vogal /a/ (.47 para as palavras trissílabas e.22 para as palavras polissílabas). Entretanto, observando os dados, verifica-se que esses valores estão correlacionados à presença de um outro fator inibidor da elisão: o acento silábico. A maioria das ocorrências de palavras de três ou mais sílabas são seguidas de palavras acentuadas, seja acento primário ou secundário. O apagamento da vogal /a/, nesses contextos, geraria um choque de acentos, comportamento fortemente evitado nas línguas (Cf. TENANI, 2007). Ex.: Acento primário: naquela hora eu tem raiva AJM Acento secundário 8 : seriam marcada oportunamente ERG Embora o acento secundário nas palavras não tenha sido controlado neste trabalho, percebe-se, através da visualização dos dados, que este é um fator estrutural que também pode estar inibindo a aplicação do processo de elisão, assim como as outras proeminências acentuais, que serão explicitadas a seguir. Uma questão merece ser mencionada ainda: mais de 45% dos dados coletados para elisão é constituído por uma palavra dissílaba na primeira posição da seqüência de palavras. Esse fato, possivelmente, tem alguma relação com valores obtidos para essa variável, como pôde ser visto na tabela 2, no sentido de influenciar o percentual referente a esse contexto. 7 O asterisco (*) indica que a forma não foi possível no dialeto. 8 As línguas manifestam, basicamente, três tipos de acento: primário, secundário e principal. A sílaba que carrega o acento secundário é a mais proeminente dentre as sílabas que não carregam acento primário (o mais forte) em uma palavra (COLLISCHONN, 2005a). Em algumas palavras sufixadas, a posição do acento secundário pode variar, como é o caso do exemplo dado: oportunamente > óportunaménte ~ oportúnaménte. Letrônica, Porto Alegre v.2, n.2, p. 91, dezembro 2009.

A segunda variável mais influente para o processo de elisão, segundo o programa computacional VARBRUL, foi o acento. De acordo com Bisol (2000, 2002), uma restrição rítmica norteia a aplicação das regras de elisão, no sentido de que estas tendem a não se aplicar se a segunda vogal for portadora do acento principal. Sendo assim, tinha-se como hipótese para essa variável que a elisão seria favorecida em contexto de vogais átonas. Os resultados apresentados confirmaram a hipótese levantada. ÁTONA (ex.: uma pessoa na faixa etária de quarenta... JNA - 2UF) ACENTO PRIMÁRIO (ex.:...porque toda essa violência... JNA - 2UF) ACENTO PRINCIPAL (ex.:...hoje não desfrutam dessas coisas salutares da minha época JNA - 2UF) Total/Aplicação Porcentagem Peso relativo 1250/399 32%. 69 496/44 9%. 25 125/1 1%.03 Tab 3. Acento Entende-se por acento principal o acento mais forte de uma seqüência de palavras é o acento da frase enquanto o acento primário é o acento mais forte de uma palavra (oxítona, paroxítona ou proparoxítona). Vale lembrar que a vogal baixa /a/, átona, é condição para a elisão, portanto, os valores acima se referem ao acento da segunda vogal (V2), na seqüência VV. Como pode ser visto na tabela 3, com uma diferença bastante expressiva, o contexto das vogais átonas favoreceu a aplicação da elisão (.69), ao contrário das vogais que portam o acento principal, em que uma única aplicação da elisão foi verificada, para um contexto de 125 ocorrências (.03). Nota-se, portanto, que a elisão nesse contexto é praticamente nula. Quanto ao papel do acento primário na aplicação elisão, pode-se ver que ele também funciona Letrônica, Porto Alegre v.2, n.2, p. 92, dezembro 2009.

como um desfavorecedor expressivo no apagamento da vogal /a/, com um peso relativo de.25. O português é uma língua de recursividade à direita, ou seja, o valor forte é atribuído ao acento primário mais à direita na seqüência de palavras. Entretanto, o que se observa é que, em uma seqüência VV em que V2 porta o acento principal da frase, a tendência não é preservá-la, por ser a mais forte, mas inibir o apagamento de V1 (BISOL, 2002; TENANI, 2002). Tenani (2007) explica que a razão para o acento frasal inibir o processo de elisão refere-se à necessidade dele preservar a sua proeminência, já que o acento frasal carrega informação de natureza entoacional e, principalmente, de natureza sintática. Neste sentido, a tendência em manter a informação sintática relevante prevalece sobre a tendência da língua em (re)organizar a sua estrutura silábica (neste caso, com a busca pela otimização silábica que consiste no padrão universal CV). Essa mesma autora também investigou a influência dos choques de acento no bloqueio da elisão no Português do Brasil e no Português Europeu (TENANI, 2002, 2007) e verificou que a aplicação da elisão, em contexto de vogais acentuadas, só é permitida se não resultar em um choque de acentos, ou seja, se entre as sílabas acentuadas houver ao menos uma sílaba átona. Ex.: contra isso não > *contrisso não JPNA eles contavam com tanta ênfase > *eles contavam com tantênfase RCRA Compreende-se, então, que o hiato é a forma preferida nos contextos em que as vogais carregam qualquer tipo de acentuação, pois o apagamento da vogal implicaria uma reestruturação rítmica, no sentido de uma reordenação dos pés métricos 9 da língua, o que não seria bem aceito. A elisão, portanto, só é permitida quando o apagamento de V1 (/a/) não interfere nas proeminências acentuais da língua, seja em contexto de acento frasal, ou de choque de acentos. 9 Um pé consiste em uma seqüência de duas sílabas, uma das quais é forte (acentuada) e a outra fraca (nãoacentuada). O acento é, neste sentido, decorrente do pé. Nas palavras de Bisol (2005, p. 246), entende-se por pé métrico a combinação de duas ou mais sílabas, em que se estabelece uma relação de dominância, de modo que uma delas é o cabeça e a outra ou outras, o recessivo. Letrônica, Porto Alegre v.2, n.2, p. 93, dezembro 2009.

A terceira variável mais influente para o fenômeno de elisão diz respeito ao tipo de palavra envolvido no processo. Procurou-se investigar, com esse fator, se determinadas categorias morfológicas tinham influência sobre o apagamento da vogal /a/. A suposição, aqui, era de que a elisão seria mais provável de ocorrer quando as palavras envolvidas na juntura fossem da categoria lexical, sendo, conseqüentemente, inibida quando houvesse a presença de uma palavra funcional na primeira posição da seqüência. Com relação à combinação de palavra lexical mais palavra funcional, acreditava-se que esse fator não seria um impedimento à aplicação da elisão 10. A hipótese sugerida para esse fator foi, em geral, confirmada: Total/Aplicação Porcentagem Peso relativo LEXICAL + LEXICAL (ex.: Você nunca estudou isso 277/68 25%.42 ERG 3GM) LEXICAL + FUNCIONAL (ex.: colocando empregada em 689/216 31%.55 casa VDN - 1UF) FUNCIONAL + FUNCIONAL (ex.: pra eu ir pra abertura IMS - 282/62 22%.71 3NF) FUNCIONAL + LEXICAL (ex.: na idade que eu tô IMS - 623/98 16%.38 3NF) Tab 4. Tipo de palavra A combinação de palavras funcionais revela-se como o contexto mais favorecedor do processo de elisão (.71), contrariando, em termos, o que se supunha. Contudo, visualizando os dados, percebe-se que esse contexto é, na sua maioria, caracterizado pela presença de elementos não-acentuados (tais como as preposições para, em, e; os artigos definidos a, o, as, 10 Segundo Dubois et al (1973, p. 297) as palavras funcionais se distinguem dos morfemas lexicais porque são morfemas não-autônomos, que só têm sentido relativamente à estrutura gramatical em que entram. Neste trabalho, as palavras que foram enquadradas na categoria funcional são os artigos, os pronomes, as preposições e as conjunções. As demais classes de palavras (substantivo, adjetivo, verbo, advérbio, numeral) foram incluídas na categoria lexical. Letrônica, Porto Alegre v.2, n.2, p. 94, dezembro 2009.

os e os indefinidos um, uma), comportamento que foi visto anteriormente como favorecedor da aplicação da elisão. Ex.: olhava pra um canto > olhava prum canto MLS; joguei o balanço com ela e tudo > joguei o balanço com eli tudo SMPS. O outro contexto favorecedor da elisão refere-se à combinação de palavra lexical + palavra funcional, com um peso relativo de.55. Compreende-se que nos casos em que a palavra funcional está na segunda posição da seqüência das palavras, quem perde informação fonética é a primeira palavra (com o apagamento do /a/). Dessa forma, o entendimento dos itens lexicais não fica comprometido, pois, de qualquer forma, a idéia fica preservada na representação final do processo de fala que os envolve. Quando se trata da combinação de palavra funcional + palavra lexical, percebe-se, pelo exposto na tabela 4, que a aplicação da elisão é desfavorecida (.38), confirmando a hipótese levantada. Aqui, mais uma vez, pode-se fazer uma correlação com outra variável já explicitada neste trabalho, que é a extensão da primeira palavra. As palavras funcionais encontradas nos dados utilizados para esta análise são, em sua maioria, monossilábicas. Os casos de aplicação da elisão no contexto de palavra funcional seguida de palavra lexical se dão, majoritariamente, em formas dissílabas, que, em geral, são pronominais (ela; minha, essa). Essa constatação corrobora, portanto, a explanação já realizada sobre o comportamento da elisão em função da extensão das palavras envolvidas no processo. Como última consideração a ser feita sobre essa variável, tem-se a combinação de palavras lexicais. Os valores expostos na tabela 4 demonstram que esse contexto desfavorece a aplicação da elisão (. 42), refutando a hipótese elaborada. Uma explicação possível para esse valor pode estar relacionada à presença de acentos na sílaba seguinte à vogal /a/, pois verificase que dos 277 contextos em que havia a combinação de palavras lexicais, mais de 120 eram compostos por palavras de acento primário ou principal. Ex.: Eu vou na mesma hora tomar as providências SMPS Ele era uma criatura ótima GPS Esses resultados confirmam o que já atestava Bisol (1992, 1994, 2000, 2002), quando revelou que os processos de sândi são norteados, acima de tudo, por uma questão rítmica. Letrônica, Porto Alegre v.2, n.2, p. 95, dezembro 2009.

Partindo para o quarto fator lingüístico escolhido pelo programa computacional, temse a tabela com os valores referentes aos chamados constituintes prosódicos. Total/Aplicação Porcentagem Peso relativo GRUPO CLÍTICO Tab 5. (ex.:...pra sua prova na universidade... VDN 1UF) 851/138 16%.39 FRASE FONOLÓGICA (ex.:...nunca houve nada... 1020/306 30% ERG 3GM ).59 Constituintes prosódicos A hipótese levantada, de que a frase fonológica seria o contexto mais acessível ao processo de elisão, foi confirmada pelos dados. Os resultados mostram que a frase fonológica favorece a aplicação da elisão (.59), ao passo que o grupo clítico inibe o apagamento de /a/ (.39) 11. Uma primeira interpretação que se pode fazer a partir desses valores é que o contexto que compreende a frase fonológica representa um ambiente maior de possibilidades de aplicação da regra, se comparado ao outro contexto, pois os clíticos 12 abrangem uma classe pequena dentro da língua. Outra consideração merece ser feita: é sabido que existe uma identificação entre o que é considerado clítico e os itens monossílabos átonos. Assim, acredita-se que o que também pode estar inibindo a aplicação da elisão é a extensão do vocábulo e não somente o fato de pertencer à categoria grupo clítico na escala prosódica, uma vez que esse fator foi selecionado pelo VARBRUL como a variável mais relevante à aplicação da elisão. Os números obtidos para essa variável corroboram as inferências dadas por Tenani (2002), que constatou que os processos de sândi ocorrem em todos os domínios prosódicos observadas (frase fonológica, frase entoacional e enunciado exatamente os domínios prosódicos considerados nesta pesquisa), desde que não haja presença de pausas entre elas. 11 A noção de constituintes prosódicos baseia-se na proposta de Nespor e Vogel (1994); e a organização dessa variável, em termos metodológicos está de acordo com Bisol (2002). 12 Os clíticos são elementos em sua maioria monossílabos átonos, que dependem, quanto à acentuação, das palavras que os acompanham (ex. a, da, etc). (CÂMARA JR, 2006). Letrônica, Porto Alegre v.2, n.2, p. 96, dezembro 2009.

Por fim, tem-se o fator qualidade da vogal. Essa variável permite observar em que contexto vocálico a aplicação da elisão foi mais produtivo. No levantamento das hipóteses deste trabalho, seguiu-se a suposição de Bisol (2000; 2002), que acreditava ser a elisão favorecida por segmentos que tivessem alguma identificação, neste caso, o traço dorsal comum as vogais posteriores /ó/, /ô/ e /u/ e a vogal /a/, propulsora da regra. Total/Aplicação Porcentagem Peso relativo /u/ (ex.:...tinha um professor de 449/158 35%.43 química... VDN 1UF) /i/ (ex.: A minha infância foi muito boa SMPS - 2NF) 550/143 26%.54 /ó/ (ex.:...na hora que eu ia 104/6 6%.33 dobrando... SPS - 2NF) /ô/ (ex.:...e a matéria de medicina 103/5 5%.29 era outra. WL - 3UM) /ê/ (ex.:...agora eu vou sair de lá 366/89 24%.52 GSF - 1GF) /é/ (ex.:...na minha casa era só união GSF - 1GF) 299/43 14%.63 Tab 6. Qualidade da vogal Os resultados não corroboraram o que se suspeitava. Todos os valores estão ou abaixo do ponto neutro, ou em torno dele (exceto o que se refere à vogal /é/). As vogais posteriores /ô/, /ó/ e /u/, que compartilham o traço dorsal com a vogal /a/, propulsora da regra, apresentaram-se como os contextos mais inibidores da aplicação da regra (.29,.33 e.43 respectivamente). Os resultados mais expressivos referem-se às vogais anteriores /é/ (.62), /ê/ (.52) e /i/ (54), justamente o contrário do que se supunha. Acredita-se, então, que os valores referentes a essa variável são determinados pelas ocorrências existentes nos dados, no sentido de que há uma sobreposição de fatores: é, provavelmente, a relação da qualidade da vogal com outras variáveis mais significativas para Letrônica, Porto Alegre v.2, n.2, p. 97, dezembro 2009.

o fenômeno que está interferindo aqui, pois, como pode ser visto na tabela 6, o peso relativo comporta-se de maneira distinta dos valores percentuais. 4 A elisão: comentários finais Da análise realizada sobre o fenômeno de elisão, e do exposto acima, é possível afirmar que este processo é recorrente no dialeto pessoense. O estudo concentrou-se em uma análise quantitativa, nos moldes labovianos, e os resultados mostraram que este processo é fortemente condicionado por questões estruturais da língua, o que permitiu aproximar esta investigação a outras já realizadas no Português do Brasil e verter a atenção às questões que atuam diretamente sobre os usos linguísticos. Verificou-se que a elisão será aplicada numa fala concatenada, sem a presença de pausas, desde que não fira as restrições norteadoras das regras de elisão. Assim, observa-se que a aplicação da elisão é mais profícua quando se tem um contexto de vogais átonas, quando o apagamento da vogal não dificulta a compreensão do que está sendo dito e/ou quando o apagamento não resulta em um choque de acentos. Observa-se, também, que os resultados encontrados para a elisão na comunidade pessoense se identifica com as constatações já realizadas por outros pesquisadores no Português do Brasil (BISOL, 1992, 1994, 2000, 2002; MASSINI-CAGLIARI, 2006; PAVEZI, 2005; TENANI, 2002, 2007), revelando uma semelhança entre as variedades estudadas e demonstrando que a elisão é um processo fortemente condicionado por fatores linguísticos. Sendo assim, a elisão não parece ser um fenômeno linguístico estigmatizado, nem tampouco lhe subjaz severos determinantes sociais. Seus processos revelam, muito mais, uma necessidade/tendência do sistema em realizar-se por padrões universais da língua, regidos pela sua estrutura interna, determinando, como se pôde observar, a variedade utilizada. Referências BISOL, Leda. Sândi vocálico externo: degeminação e elisão. Cadernos de estudo linguísticos. Campinas, n.23, p. 83-101, 1992. BISOL, Leda. Sândi vocálico externo. In: ILARI, Rodolfo. Gramática do Português falado. v. 3. São Paulo: Campinas, 1994. p. 23-38. BISOL, Leda. A elisão, uma regra variável. Letras de hoje. Porto Alegre, v.35, n.1, p.319-330, 2000. Letrônica, Porto Alegre v.2, n.2, p. 98, dezembro 2009.

BISOL, Leda. A degeminação e a elisão no VARSUL. In: BISOL, L.; BRESCANCINI, C. Fonologia e Variação: recortes do português brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. p.231-250. BISOL, Leda. Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro. 4.ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005. CÂMARA Jr, Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. 38. ed. Petrópolis: Vozes, 2006. DUBOIS, Jean. et. al. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 1973. ITÔ, Junko. Syllable theory in prosodic phonology. Massachusetts, 1988. p. 1-47. Ph Dissertation. University of LABOV, William. Sociolinguistic patterns. Philadelphia: University Pensylvania Press. 1972. MACHADO, Rafaela Veloso. Análise sociolinguística do processo de elisão da vogal /a/ no dialeto pessoense. Dissertação de Mestrado. UFPB, João Pessoa, 2008. MACHADO, Rafaela Veloso. A elisão: resultados de um estudo sociolinguístico. In: VI Congresso Internacional da Abralin. Anais. João Pessoa: Idéia, 2009. MASSINI-CAGLIARI, Gladis. Sândi vocálico externo em Português Arcaico: condicionamentos linguísticos e usos estilísticos. 2006. Disponível em: <http://gel.org.br/4publica-estudos-2006/sistema06/gcm.pdf> Acesso em: 04 Jun 2007. MATZENAUER, Carmen Lúcia. Modelos fonológicos e avanços teóricos: uma discussão com base no fenômeno de sândi vocálico externo. Lingua(gem). v. 2, n. 2, p.149-174, 2005. NESPOR, Marina; VOGEL, Irene. La prosodia. Madrid: Visor Distribuiciones, 1994. PAVEZI, Vanessa Cristina. Haplologia, elisão e monomorfema. Estudos linguísticos. p. 750-755, 2005. Disponível em: <http://www.gel.org.br/4publica-estudos-2005/4publica-estudos- 2005-pdfs/a-haplologia-na-variedade644.pdf?SQMSESSID=a38ffc79c82bcbe561e1c641326f d16c> Acesso em: 04 Jun. 2007. PINTZUK, Suzan. VARBRUL programs. 1988. TENANI, Luciani Ester. Domínios prosódicos no português do Brasil: implicações para a prosódia e para a aplicação de processos fonológicos. 2002. 309 fls. Tese (Doutorado em Linguística). IEL, UNICAMP, Campinas, 2002. TENANI, Luciani Ester. Acento e processos de sândi vocálico no português. In: ARAÚJO, Gabriel Antunes. (Org.). O acento em português: abordagens fonológicas. São Paulo: Parábola, 2007. p. 169-194. Letrônica, Porto Alegre v.2, n.2, p. 99, dezembro 2009.

Recebido em: 30/03/09 Aceito em: 09/11/09 Contato: rafaela_ufpb@hotmail.com Letrônica, Porto Alegre v.2, n.2, p. 100, dezembro 2009.