Nota de Investigação #5 CRIAÇÃO DO ECOSSISTEMA DE INVESTIMENTO. Nota de Investigação #5 CRIAÇÃO DO ECOSSISTEMA DE INVESTIMENTO SOCIAL



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Nota de Investigação #5 CRIAÇÃO DO ECOSSISTEMA DE INVESTIMENTO Social Nota de Investigação #5 CRIAÇÃO DO ECOSSISTEMA DE INVESTIMENTO SOCIAL MAIO 2014 1

Esta nota de investigação foi desenvolvida em Maio de 2014 por Joana Cruz Ferreira e António Miguel, com a supervisão científica do Professor Filipe Santos do INSEAD. Tem como objetivo explicar os conceitos de ecossistema, infraestrutura e intermediários do mercado de investimento social, bem como inspirar a criação do ecossistema em Portugal, estudando boas práticas internacionais e apresentando recomendações concretas para Portugal. Laboratório de Investimento Social O Laboratório de Investimento Social é uma iniciativa promovida pelo IES e pela Fundação Calouste Gulbenkian em parceria com a Social Finance UK. Pretende ser um centro de conhecimento de referência na área do investimento social, procurando difundir as melhores práticas internacionais e instrumentos financeiros inovadores e estudando a sua aplicabilidade à realidade portuguesa. Nota introdutória da Fundação Calouste Gulbenkian O Programa Gulbenkian de Desenvolvimento Humano incentiva e facilita a inclusão dos grupos mais vulneráveis da população, através de uma aposta na inovação social, no empreendedorismo e na capacitação de pessoas e organizações como chaves de desenvolvimento. Existe em Portugal e no Mundo Lusófono um grande número de projetos com elevado impacto que enfrentam inúmeras dificuldades financeiras que não lhes permitem realizar todo o seu potencial. Felizmente, a inovação financeira dos últimos anos tem apresentado soluções e novos instrumentos adequados às necessidades específicas das organizações e empreendedores sociais, especialmente nos países anglo-saxónicos. Estes mecanismos financeiros inovadores têm como objetivo aumentar os montantes disponíveis e diversificar as fontes de capital para financiar o setor social. Os principais problemas sociais desde a institucionalização de crianças e jovens, desemprego, abandono escolar, pessoas sem-abrigo, reincidência criminal, isolamento social de idosos, entre outros representam um enorme custo económico e social. Se por um lado, temos a sorte de ter organizações e empreendedores sociais que dedicam o seu esforço, competências e trabalho à procura de soluções que mitiguem estes desafios sociais, por outro lado, faltam instrumentos financeiros adequados que apoiem estas entidades no longo prazo e que garantam sustentabilidade financeira, para poderem maximizar o seu impacto e melhorar a qualidade de vida dos seus beneficiários. O apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, através do Programa Gulbenkian de Desenvolvimento Humano, ao Laboratório de Investimento Social está completamente alinhado com a nossa missão e pretende propor soluções para que aqueles que trabalham com as populações mais vulneráveis, possam fazê-lo de uma forma cada vez mais eficiente, capacitada e com maior impacto. Este é um processo de aprendizagem conjunta, com o envolvimento dos principais atores dos setores social, público e financeiro, para propor soluções que melhorem a qualidade de vida das populações mais vulneráveis, reduzam o nível de pobreza e reforcem a coesão social. 2

Nota de Investigação #5 CRIAÇÃO DO ECOSSISTEMA DE INVESTIMENTO Social Criação do ecossistema de Investimento Social Um ecossistema eficiente alinha diversos setores A proposta de valor do investimento social é clara: alinhar os resultados sociais com o retorno financeiro, melhorando o acesso a fontes de capital pelas organizações com missão social. 1 O potencial de utilização de investimento inteligente para apoiar a resolução dos principais desafios da atualidade pode vir a fazer do investimento social uma das grandes inovações sociais do século em que entrámos. O investimento social facilita a articulação dos recursos e conhecimentos de diversos agentes e o alinhamento dos seus interesses e esforços em torno de objetivos comuns, independentemente do seu setor de origem (comercial, público, ou filantrópico). No entanto, em sociedades organizadas segundo modelos marcadamente setoriais, o encontro de diferentes partes não é fácil de promover, gerir ou sustentar, pelo que se torna imperativo criar condições para que o ecossistema esteja preparado para a prática do investimento social e potencie o seu impacto. A construção de um puzzle de incentivos Para que se entenda em que consiste um ecossistema de investimento social, convidamos o leitor a pensá-lo como se de um puzzle se tratasse - um puzzle que se constrói com diferentes peças, de formatos e estampados distintos, todas elas fundamentais para o desenvolvimento de uma imagem final que todos possam interpretar e compreender. No caso do investimento social, a arte final representa a visão de uma sociedade em que os instrumentos financeiros estão ao dispor dos inovadores sociais que trabalham na resolução dos problemas mais complexos e negligenciados da sociedade, de forma a mitigá-los e, idealmente, erradicá-los. Uma forma de olhar para o mercado é através da junção de duas grandes peças neste ecossistema: a procura e a oferta de investimento social. 2 Com características, recursos e interesses distintos, estas peças não se juntam naturalmente e precisam de uma estrutura que as articule de forma eficiente. Esta difícil articulação acontece por várias razões: falta de imaginação da sociedade em desenvolver inovações sociais, incapacidade de mobilizar recursos de setores diferentes e/ou a inaptidão para o investimento social que os dois lados do mercado enfrentam. 3 OFERTA Procura? 1- Investimento Social ou Investimento de Impacto - Aplicação de capital em atividades, organizações ou fundos, com o objetivo de obter simultaneamente um retorno financeiro e um retorno de valor para a sociedade, sendo que ambos os tipos de retorno são monitorizados e influenciam a tomada de decisão do investidor. 2- Para saber mais sobre a oferta e a procura de investimento social, consulte Nota de Investigação #2, Fevereiro 2014 3- Queira o leitor saber mais sobre o tema Aptidão para o Investimento Social, consulte Nota de Investigação #4, Abril 2014 3

A aproximação de diferentes partes dificilmente acontece de forma espontânea, sendo necessário criar uma estrutura que possa formatar, coordenar e encaixar os detentores dos recursos financeiros com aqueles que os pretendem atrair. Esta estrutura - que se pode materializar em instrumentos financeiros adequados e implementados de forma rigorosa é parte fundamental do ecossistema. O ecossistema do investimento social consiste assim no espaço, atores e instrumentos necessários para que o capital circule de forma eficiente e a proposta de investimento social se concretize. ECOSSISTEMA DO INVESTIMENTO SOCIAL OFERTA Procura INFRAESTRUTURA DO MERCADO O todo é maior que a soma das partes: Articulação entre agentes Existem dois grandes grupos de atores do ecossistema de investimento social: aqueles que procuram o investimento social - o lado da procura do mercado, e aqueles que detêm o capital e recursos a investir no setor - o lado da oferta. Além destas duas forças, existe um outro elemento do ecossistema que também desempenha um papel fundamental na promoção e funcionamento do setor - a infraestrutura de mercado, frequentemente promovida pelo setor público a nível da regulamentação e criação de condições favoráveis de mercado. Por sua vez, a infraestrutura de mercado conta com a existência de um conjunto de intermediários que ajudam a criar as condições para que o mercado funcione. Aqui incluem-se organizações que medem o impacto, que criam redes entre investidores, que capacitam as iniciativas de inovação social para receberem investimento, entre outros papéis importantes para que o mercado aconteça (ver caixa em destaque). Os intermediários do investimento social A construção de infraestrutura está frequentemente ligada a um mercado onde existem intermediários com competências específicas e que articulam os diferentes atores de mercado. Os países com um mercado de investimento social numa fase mais avançada demonstram que a existência de intermediários é fundamental para fazer a ponte entre organizações sociais e potenciais investidores. Neste setor, os intermediários são organizações que facilitam e estruturam investimentos financeiros e/ou que prestam serviços de apoio a organizações com missão social. Na perspetiva do Laboratório de Investimento Social, os intermediários de investimento social são peças essenciais pois desempenham diversas atividades específicas que ajudam a combater as insuficiências de mercado: Prestação de apoio e capacitação a projetos de inovação social na melhoria da sua aptidão para receber investimento e através do apoio no desenvolvimento de modelos de negócio, planos financeiros, apoio legal e estratégico; Melhorar a informação disponível, credibilidade e confiança junto de investidores, através de pesquisa e investigação de mercado, medição de impacto e inovação financeira; Desenvolver produtos financeiros inovadores, criando um conhecimento profundo em diferentes áreas e oferecendo soluções adaptadas às necessidades específicas do setor social. 4

Nota de Investigação #5 CRIAÇÃO DO ECOSSISTEMA DE INVESTIMENTO Social Pontos estruturantes da infraestrutura de mercado Realçamos três aspetos importantes para a solidez da infraestrutura de mercado: Cultura Para o pleno funcionamento de um ecossistema, de todas as estruturas e atores que nele atuam, é necessário que exista uma clarificação da linguagem e alinhamento da cultura, uma harmonização dos conceitos e dos princípios a seguir por todos, de maneira a evitar falhas de perceção, motivar a criação e disseminação de informação para o setor, e promover a participação de todos os agentes na criação conjunta de valor para a sociedade. Incentivos públicos Apesar do tema poder suscitar opiniões divergentes, não é menos importante considerar a importância da criação de incentivos transversais para a catalisação do setor e para o seu bom funcionamento. O setor público tem a capacidade e o potencial de orientar a sociedade para práticas que promovam a maximização do bem-estar social, pelo que o seu papel na aceleração do desenvolvimento do setor é indiscutível. O seu envolvimento pode tomar várias formas: desde a facilitação do acesso a apoio técnico por parte de iniciativas de inovação e empreendedorismo social, aos incentivos fiscais ao investimento no terceiro setor, ou ao investimento direto em fundos que alavanquem investimento privado para projetos sociais. i Informação A simetria de informação dentro de um ecossistema é uma das chaves do seu sucesso. A recolha, produção e disseminação de informação de qualidade entre todos os atores do ecossistema está na origem do sucesso das tomadas de decisão e da construção de credibilidade do setor junto dos investidores. Aprendizagens que outros países nos trazem Por vezes torna-se difícil compreender em concreto o conceito de ecossistema. De forma a facilitar a sua interpretação, esta secção descreve através de exemplos práticos algumas abordagens com as quais outros países construíram um ecossistema de investimento social: (1) estabelecimento de taskforces nacionais e intersetoriais, (2) criação de fundos específicos para capacitação técnica e melhoria da aptidão para o investimento e (3) desenvolvimento de inteligência de mercado para produzir informação relevante para as partes interessadas. 1. Despertar para o investimento social através de taskforces Em países como o Reino Unido e Canadá, o ponto de partida para a criação de um mercado de investimento social foi o lançamento de uma taskforce nacional (grupo de trabalho) com representação inter-setorial. Mais recentemente, também a nível do G8 foi criada uma Social Investment Taskforce e, em Maio de 2014, foi lançada a taskforce para o investimento social no Brasil. No Reino Unido, a UK Social Investment Taskforce foi criada em Abril de 2000 com uma missão: estudar a aplicabilidade das práticas de empreendedorismo em projetos que geram simultaneamente retorno financeiro e impacto social e explorar formas inovadoras de atrair novas fontes de financiamento para o setor social. 4 Sir Ronald Cohen, co-fundador da Bridges Ventures e da Social Finance UK parceiro do Laboratório de Investimento Social foi o Chairman desta taskforce que durante 10 anos trabalhou no sentido de criar um mercado de investimento social no Reino Unido e que fez uma série de recomendações para o seu desenvolvimento. Elementos fundamentais de uma taskforce Representatividade inter-setorial, com membros dos setores social, financeiro, público e privado. A diversidade setorial é fundamental para alinhar as motivações e interesses e chegar a recomendações inclusivas para facilitar a ação. Criação de sub-grupos de trabalho, dentro da própria taskforce, focados em temas específicos como por exemplo: estratégia de envolvimento com investidores, enquadramento legal e barreiras regulamentares, medição de impacto social, políticas públicas. 4- Para saber mais sobre a UK Social Investment Taskforce bem como sobre os relatórios de progresso publicados, visite www.socialinvestmenttaskforce.org 5

Entre as recomendações da UK Social Investment Taskforce, publicadas em três relatórios de progresso, destaca-se a recomendação relacionada com a infraestrutura de mercado que sugeria a criação de um Banco de Investimento Social. Mais tarde, em Abril de 2012, esta recomendação veio a materializar-se com a criação da Big Society Capital. A mesma taskforce recomendou também a criação de entidades que estivessem exclusivamente dedicadas ao desenvolvimento de novos produtos financeiros, adaptados às necessidades das organizações sociais. Em 2007, nascia a Social Finance UK que mais tarde veio a criar o primeiro Título de Impacto Social um dos instrumentos de finanças sociais mais conhecidos. 5 6 Também no Canadá foi criada em 2010 a Canadian Taskforce on Social Finance. 7 Este grupo de trabalho publicou no final desse ano o relatório Mobilizing Private Capital for Public Good que se tornou no principal plano de ação para o desenvolvimento do mercado de investimento social neste país. 8 Incluindo membros como o ex- Primeiro Ministro, Paul Martin, e alguns representantes de fundações, organizações sociais e outras associações setoriais, o relatório lançou sete recomendações 9 : #1 As Fundações devem investir pelo menos 10% do seu capital em projetos de investimento social até 2020 e reportar publicamente estes investimentos; #2 O Governo Federal Canadiano deve criar um Fundo de Investimento Social Canadiano, que funcione numa lógica grossista, Fundo de Fundos, e catalise a criação de novos fundos a nível regional e temático; #3 Investidores, intermediários e organizações sociais devem desenvolver novos instrumentos financeiros como os Títulos de Impacto Social, incentivados por condições favoráveis por parte do setor público; #4 De forma a atrair investidores institucionais como Fundos de Pensões, o Governo Canadiano deve incentivar estes atores a terem políticas de investimento responsável e criar incentivos que mitiguem o risco associado a projetos de investimento social; #5 O enquadramento legal deve permitir a existência de modelos híbridos de empresa social, de forma a facilitar o seu acesso a capital e a outros tipos de financiamento não reembolsável; #6 Criar um grupo de trabalho especializado em Políticas Fiscais para explorar a adequação de incentivos fiscais para o investimento social de forma a melhorar a atratividade de projetos sociais para investidores; #7 Melhorar a capacidade e aptidão para o investimento das organizações sociais através da expansão e replicação junto das organizações sociais de projetos existentes de apoio técnico e de negócio a PMEs. Apesar de terem sido estabelecidas em tempos diferentes, ambas as taskforces têm alguns pontos em comum, nomeadamente o reforço da necessidade de criação de infraestrutura de mercado e no cuidado em criar os incentivos certos para que o financiamento seja canalizado de forma inteligente para os projetos sociais. A equipa do Laboratório de Investimento Social considera que, dada a maior proximidade do Canadá a Portugal em termos de modelo de sociedade e de maturidade do mercado de invesimento social, assim como a natureza mais recente destas recomendações, estas oferecem grande pertinência para o tipo de desafios e oportunidades que Portugal enfrenta e o papel essencial que as políticas públicas deverão assumir na criação de um mercado de investimento social. Em Junho de 2013, após o encontro do G8 no Social Investment Forum em Londres, foi também criada a G8 Social Investment Taskforce que pretende galvanizar o desenvolvimento do mercado de investimento social a nível global. 10 Cada país do G8 está representado nesta taskforce que, por sua vez, está dividida em grupos de trabalho de temas específicos, como: alocação de ativos (para atração de investidores), medição de impacto, enquadramento legal e desenvolvimento internacional. No último trimestre de 2014, esta taskforce irá publicar um relatório com recomendações e um plano de ação a nível global, capitalizando as experiências dos diversos países. 5- Nota de transparência: a Social Finance UK é o parceiro internacional do Laboratório de Investimento Social desde a sua conceção. 6- Fique a saber mais sobre Títulos de Impacto Social em Nota de Investigação #3, Março 2014 7- Saiba mais sobre a Canadian Taskforce on Social Finance em impactinvesting.marsdd.com 8- O leitor pode encontrar o relatório Mobilizing Private Capital for Public Good em www.marsdd.com/mars-library 9- Nota de transparência: um dos elementos que contribuiu ativamente para as recomendações da Canadian Taskforce on Social Finance é membro do Advisory Board do Laboratório de Investimento Social 10- Para saber mais sobre a G8 Social Investment Taskforce, queira visitar www.gov.uk/government/groups/social-impact-investment-taskforce 6

Nota de Investigação #5 CRIAÇÃO DO ECOSSISTEMA DE INVESTIMENTO Social 2. Desenvolver competências específicas que melhorem a aptidão para o investimento social A articulação entre os detentores e os recetores de capital requer competências específicas que devem ser desenvolvidas de uma forma estruturada para facilitar o número de transações e os processos de investimento. Como resposta à necessidade de criar estas competências específicas que exigem expertise a nível financeiro aliado a um conhecimento profundo do setor social, o Cabinet Office no Reino Unido criou o Investment and Contract Readiness Fund (ICRF). 11 Este fundo vem responder a diversas insuficiências de mercado: As organizações com missão social não têm tipicamente capacidade financeira para contratar serviços de apoio técnico e de gestão; como consequência, as organizações que poderiam prestar esse apoio não o fazem, a não ser numa lógica pro bono, o que limita a escala dos projetos; As organizações sociais apresentam necessidades a nível de gestão e estratégia que o mercado não consegue satisfazer; As organizações sociais não têm músculo financeiro para fazer face a um processo de investimento e due diligence que dure alguns meses, fator que contribui para a perda de potenciais oportunidades de investimento. A solução proposta pelo ICRF consistiu na criação de um fundo de 10 milhões de libras, que serve como donativo (semelhante a um voucher) que as organizações sociais podem utilizar para contratar serviços de apoio técnico e de desenvolvimento de negócio. Estes donativos são normalmente de um montante entre os 50 e 150 mil libras, não são reembolsáveis e só podem ser utilizados para contratar serviços de uma lista de entidades acreditadas pelo ICRF. Este processo de acreditação garante o alinhamento dos prestadores de serviços de apoio técnico com os objetivos e missão social do fundo. As organizações sociais que se candidatam a este fundo têm como objetivo atrair investimento de pelo menos 500 mil libras no futuro ou ter os seus serviços contratualizados pelo setor público no valor de pelo menos 1 milhão de libras. Neste sentido, o financiamento por donativos funciona como um efeito multiplicador que se reflete na capacidade futura destas organizações atraírem e receberem investimento numa lógica reembolsável. As candidaturas a este fundo são feitas em conjunto, entre a organização social que recebe o serviço de apoio técnico e a entidade prestadora de serviço, e têm de responder a uma série de critérios, nomeadamente em torno dos objetivos da prestação de serviços, da utilização do financiamento e da transferência de conhecimento para as organizações sociais. Após o primeiro ano de lançamento, o ICRF tem atualmente uma postura mais pró-ativa ao lançar calls para temas específicos, nomeadamente para organizações a trabalhar na área de reabilitação criminal, saúde e bem-estar, e artes. No relatório de progresso do ICRF, Ready, willing and able, os resultados indicam que: Desde Maio de 2012, 94 organizações sociais receberam donativos no valor de 8.9 milhões de libras para contratar serviços de apoio técnico e de negócio; Destas, oito organizações sociais já terminaram os programas de apoio técnico, no valor total de cerca de 815 mil libras; este valor ajudou estas oito organizações a atraírem cerca de 35 milhões de libras em investimento e/ou contratos para prestação de serviços públicos; O efeito multiplicador mostra que por cada libra investida foram alavancadas cerca de 43 libras; Em termos qualitativos, o relatório desenvolvido pela Boston Consulting Group mostra ainda que cerca de 70% das organizações sociais está satisfeita com as competências que lhes foram transmitidas pelas entidades prestadoras de serviços de apoio técnico. A equipa do Laboratório de Investimento Social considera que um fundo desta natureza deveria ser criado como política pública em Portugal. Um fundo deste tipo permitiria dinamizar o mercado de investimento social, não só através da capacitação das organizações com iniciativas inovadoras, mas também através do fortalecimento de um conjunto de intermediários que consigam solidificar as suas competências e transmiti-las de forma sustentável às organizações promotoras de inovações sociais. Este instrumento de vouchers de inovação social encontra paralelo nos programas de vouchers de inovação que já existem no seio da União Europeia dirigidos a PME. 12 11- Pode ficar a conhecer mais sobre o Investment and Contract Readiness Fund em www.beinvestmentready.org.uk 12- Para mais informações sobre os programas de vouchers de inovação da EU, consulte https://ec.europa.eu/digital-agenda/en/ict-innovation-vouchers-scheme 7

3. Open data e o papel da informação na criação de mercados eficientes O Reino Unido, mais uma vez, lidera pelo exemplo na criação de inteligência de mercado e no fornecimento de informação relevante a investidores e organizações sociais que pretendam desenvolver modelos de intervenção inovadores e financiá-los através de instrumentos de finança social. Em 2010, no lançamento da agenda Big Society uma das prioridades de atuação foi a publicação de informação pública de forma transparente e acessível por todos. Um resultado prático desta prioridade é a criação de uma base de custos unitários das intervenções tradicionais do setor público (ver caixa abaixo). i Como exemplo, o Cabinet Office no Reino Unido criou a Knowledge Box para Títulos de Impacto Social que inclui todo o tipo de conteúdos necessários para o desenvolvimento de um instrumento do tipo, casos de estudo com informação de detalhe para cada TIS que existe atualmente, um blog para partilha de ideias, webinars e uma lista com cobertura de media sobre o tema. 13 Não obstante o caráter fundamental de todos estes conteúdos, o elemento que destaca este portal de conhecimento é a existência de um toolkit que tem as seguintes informações: Templates para contratualização de serviços através de um Título de Impacto Social; Modelo e guia de boas práticas para desenvolvimento de Análises Custo-Benefício; Base de dados com custos unitários das principais áreas sociais. Estas três peças de informação são fundamentais para passar confiança ao mercado e construir credibilidade junto de investidores, organizações sociais e setor público. No momento de contratualização de um novo Título de Impacto Social, o promotor do projeto pode desenvolver a parte contratual de acordo com as recomendações e boas práticas sugeridas pelo setor público. As organizações ou intermediários que queiram desenvolver uma análise de custobenefício poderão fazê-lo em linha com as melhores práticas já existentes. Além de informação simétrica para o mercado, estas ferramentas permitem também criar um nível de estandardização na forma como as propostas de investimento são desenvolvidas, contribuindo para uma melhor disseminação e um maior número de transações. Base de dados de custos unitários: informação para a inovação social A base de dados com custos unitários das respostas tradicionais do setor público aos principais desafios sociais é um passo inovador que permite a organizações sociais, investidores, setor público e intermediários estruturarem as suas propostas de investimento e perceberem o valor que criam para a sociedade ao apresentarem soluções alternativas que atacam os problemas sociais pela sua raíz. Ao mesmo tempo, facilita a contratualização de serviços com base em resultados ao atribuir para cada um desses resultados um preço que equivale ao custo da solução pública alternativa. A base de dados está disponível online e dividida nas seguintes áreas: crime, educação e competências, emprego, incêndios, saúde, alojamento e serviços sociais. Por exemplo, um projeto inovador que reduza o número de crianças institucionalizadas, pode incluir no seu modelo de negócio o pressuposto de que cada criança institucionalizada custa anualmente no Reino Unido, em média, cerca de 64 mil libras ao setor público. Além da necessidade de ter acesso a dados quantitativos que permitam monetizar o impacto da resolução de problemas sociais, é também essencial compreender em profundidade esses mesmos modelos de intervenção e o seu impacto no terreno. Nesse sentido, entre outras iniciativas semelhantes, 14 foi criado nos EUA a Coalition for Evidence-based Policy que apresenta uma lista de modelos de intervenção, divididos por diversas áreas, bem como o seu impacto com base em evidência comprovada e monitorizada. 15 As áreas de evidência incluem saúde mental, educação, alojamento de pessoas sem-abrigo, obesidade, crime, entre outras. A cada modelo de intervenção está também associado a metodologia utilizada para medir o seu impacto e a evidência existente sobre a sua eficácia, que muitas vezes assume a forma de Grupos de Controlo Aleatórios uma das metodologias mais adotadas e considerada mais credível cientificamente para medir o impacto de projetos sociais no terreno. 13- Para aceder à Knowledge Box visite data.gov.uk/sib_knowledge_box/knowledge-box 14- Por exemplo, no Reino Unido a iniciativa What Works vai lançar uma série de centros indepedentes para investigar e reunir evidência de impacto em setores especificos 15- Um leitor mais interessado poderá ler mais sobre a Coalition for Evidence-based Policy em coalition4evidence.org/ 8

Nota de Investigação #5 CRIAÇÃO DO ECOSSISTEMA DE INVESTIMENTO Social Sugere-se para Portugal a criação de uma toolbox de Títulos de Impacto Social em português, bem como o início da criação de uma base de dados de custos unitários de intervenção, utilizando dados existentes e trabalhando em colaboração com os ministérios relevantes. Estes seriam passos importantes para começar a desenvolver em Portugal a inteligência de mercado para o investimento social. Um ecossistema de investimento social em Portugal Portugal está numa fase embrionária de desenvolvimento do ecossistema de investimento social. No entanto, é nesta fase que se criam os alicerces para suportar o crescimento e eficiência de um setor que pode contribuir grandemente para a inovação no setor público e de economia social. Através do exercício de benchmark e pela participação em fóruns de discussão a nível internacional, o Laboratório de Investimento Social acredita que Portugal está numa situação privilegiada para liderar a construção de um ecossistema de investimento social sem igual a nível da Europa Continental. Os fatores que contribuem para esta afirmação são: Portugal está atualmente a sair de um programa de ajustamento que durou cerca de três anos, durante os quais foram feitas inúmeras reformas estruturais que incluíram matérias de prestação de serviços sociais. Este momento surge como oportunidade para incentivar formas inovadoras de prestação de serviços sociais através da contratualização com base em resultados; A Política de Coesão Europeia 2014-2020 coloca uma tónica forte na orientação para os resultados e na inovação social. Neste sentido, dentro do novo quadro comunitário poderão existir oportunidades para experimentação de novas formas de financiamento de iniciativas de inovação e empreendedorismo social; O nosso país tem todos os ingredientes que compõem a fórmula mágica para o fomento do investimento social: (1) margem para inovação na prestação de serviços que combatem os principais desafios sociais, (2) necessidade de melhor alocação de recursos e de mobilização de novas fontes de capital para o setor social, (3) um número elevado empreendedores e promotores de iniciativas de inovação e empreendedorismo social com elevado potencial de impacto e (4) um contexto de estabilidade social, flexibilidade e vontade de colaboração inter-setorial que favorece a inovação e eficiência. 9

Para Portugal capitalizar esta posição privilegiada de liderar a construção de um ecossistema de investimento social, algumas iniciativas de base deverão ser desenvolvidas de forma colaborativa pelos diferentes atores, como já foi descrito nesta nota de investigação. Integrando as experiências de outros países, as principais linhas de ação que propomos para a dinamização do investimento social em Portugal são as seguintes: Estabelecimento de uma taskforce com representantes dos setores privado, financeiro, público e social, que se debruce sobre as principais barreiras ao desenvolvimento do investimento social em Portugal e proponha recomendações e soluções para as mesmas; Desenvolvimento de competências específicas para o investimento social, através da dinamização de intermediários que façam a articulação entre investidores e promotores de projetos. Neste âmbito, é fundamental um enquadramento de incentivos à atração e retenção de talento de forma competitiva com outros setores, contribuindo para a renovação das organizações sociais e construção de competências internas; Criação de informação e inteligência de mercado, de forma a apoiar os atores de mercado no processo de desenvolvimento de propostas de investimento. Estas atividades poderão materializar-se em práticas de medição de impacto, facilitação no acesso a conhecimento, quantificação de indicadores sociais; Profissionalização do apoio não-financeiro, promovendo uma perspetiva mais estratégica na capacitação de organizações sociais a par da filantropia e mecenato. Neste âmbito, o desenvolvimento de iniciativas de filantropia estratégica é essencial para preparar as organizações sociais para a atração de investimento futuro (este tema requer maior profundidade de análise e será o objecto da nossa próxima nota de investigação); Aproximação e estratégia de envolvimento com investidores, principalmente com aqueles que têm maior apetite para o risco e que, numa fase inicial do mercado, poderão estar mais dispostos a investir. Neste grupo incluem-se as Fundações mas também os Business Angels e outros investidores de capital de risco. A principal lição retirada da experiência de outros países é a de que este processo é interativo e requer a mobilização e colaboração próxima entre atores dos diferentes setores, bem como a criação de uma entidade de caráter público que assuma um papel pro-ativo na criação do ecosistema de investimento social, numa actuação que potencia os outros atores em vez de lhes tirar protagonismo. Quando as competências, experiências e mais-valias de cada setor se juntam de forma inteligente o resultado é visível: a inovação e empreendedorismo social acontecem em eficácia e escala e o setor social torna-se mais resiliente, eficiente e tem maior impacto junto dos segmentos mais vulneráveis da nossa sociedade. 10

Nota de Investigação #5 CRIAÇÃO DO ECOSSISTEMA DE INVESTIMENTO Social 11

Esta Nota de Investigação faz parte de uma série desenvolvida pelo Laboratório de Investimento Social. Estes conteúdos pretendem chegar a organizações, empreendedores sociais, investidores e diferentes órgãos do setor público, ajudando a criar conhecimento de referência sobre o investimento social. Os objetivos das Notas de Investigação são identificar as necessidades do setor, introduzir novos conceitos e instrumentos, refletir no que já foi feito em outros países e promover a discussão sobre a potencial implementação do investimento social à realidade Portuguesa e ao Mundo Lusófono. Convidamos os leitores a colocarem questões, fazerem sugestões e partilharem ideias para o e-mail investimentosocial@ies.org.pt Promotores: Instituto de Empreendedorismo Social IES O IES é uma Associação sem fins lucrativos que tem como objetivo estimular a inovação, a eficiência e o crescimento do impacto de projetos transformadores que quebram ciclos de problemas na nossa sociedade. A visão do IES é ser a referência do empreendedorismo social para o mundo Lusófono, promovendo a inovação, o conhecimento, a aprendizagem e o impacto social. O trabalho do IES consiste na identificação, apoio, formação e promoção de iniciativas de alto potencial de empreendedorismo social, com organizações e indivíduos excecionais e comprometidos para mudar o mundo de forma mais eficiente e inovadora. A missão do IES é inspirar e capacitar para um mundo melhor, através do Empreendedorismo Social. Fundação Calouste Gulbenkian A Fundação Calouste Gulbenkian é uma instituição portuguesa de direito privado e utilidade pública, cujos fins estatutários são a Arte, a Beneficência, a Ciência e a Educação. Com mais de 50 anos de existência, a Fundação Calouste Gulbenkian desenvolve uma vasta atividade em Portugal e no estrangeiro através de iniciativas próprias, ou em parceria com outras entidades, e através da atribuição de subsídios e bolsas. O Programa Gulbenkian de Desenvolvimento Humano, criado em 2009, tem como missão incentivar e facilitar a inclusão dos grupos mais vulneráveis da população. Social Finance UK A Social Finance foi criada em 2007 e é uma organização sem fins lucrativos que trabalha com organizações sociais, investidores e setor público no desenvolvimento de mecanismos financeiros adaptados às necessidades do setor social. A Social Finance lançou a primeira Social Impact Bond, no estabelecimento prisional de Peterborough, angariando um investimento de 5 milhões de libras junto de 17 investidores com o objetivo de reduzir a taxa de reincidência de reclusos. A equipa da Social Finance é composta por especialistas dos setores financeiro, social, público e privado. Esta equipa apoiou desde o início a UK Social Investment Taskforce, a Commission of Unclaimed Assets e esteve na conceção da Big Society Capital, o banco social do Reino Unido. 12