USO DE POLPA DE BAMBU COMO REFORÇO DE MATRIZES CIMENTÍCIAS

Documentos relacionados
AVALIAÇÃO DE COMPÓSITOS CIMENTÍCIOS CONTENDO AREIA RECICLADA REFORÇADOS COM FIBRAS DE SISAL

3 Procedimento Experimental

Materiais de Construção II

Efeito do Processo de Calcinação na Atividade Pozolânica da Argila Calcinada

AVALIAÇÃO DE ARGAMASSAS COMPOSTAS PELO CIMENTO PORTLAND CP IV-32 E PELA ADIÇÃO MINERAL DE METACAULIM PARA ELABORAÇÃO DE CONCRETO AUTO-ADENSÁVEL

Adições Minerais ao Concreto Materiais de Construção II

LISTA DE EXERCÍCIOS Máquinas Hidráulicas

Avaliação do Comportamento de Vigas de Concreto Autoadensável Reforçado com Fibras de Aço

DECIV EM UFOP Aglomerantes Cimento Portland

Influência da fibra de curauá em compósitos cimentícios: verificação da resistência à flexão e da resistência à compressão

AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA DE PRODUÇÃO DE TELHA DE FIBROCIMENTO USANDO FIBRAS ALTERNATIVAS

CARACTERIZAÇÃO DE UMA MISTURA PRÉ-DOSEADA

Os materiais de proteção térmica devem apresentar:

MONTAGEM E EXECUÇÃO DE ENSAIOS DE PLACA EM LABORATÓRIO

Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Engenharia Civil Departamento de Estruturas. Aços para concreto armado

Reforço de Rebocos com Fibras de Sisal

DETERMINAÇÃO DE PROPRIEDADES MECÂNICAS E FÍSICAS DE ARGAMASSA REFORÇADA COM FIBRAS DE COCO E SISAL

Sumário. 1 Concreto como um Material Estrutural 1. 2 Cimento 8

ARGAMASSAS E CONCRETOS AGLOMERANTES

Caracterização de argamassas para assentamento de alvenaria de tijolo

VIABILIDADE DA UTILIZAÇÃO DE COMPÓSITOS HÍBRIDOS REFORÇADOS COM FIBRA DE SISAL E PÓ DE MADEIRA COMO MATERIAIS RENOVÁVEIS

Curso Superior em Tecnologia em Produção da Construção Civil. Materiais de Construção Civil. Prof. Marcos Alyssandro. Natal, 2013

Conteúdo. Resistência dos Materiais. Prof. Peterson Jaeger. 3. Concentração de tensões de tração. APOSTILA Versão 2013

Concretos com adições Zona de Transição na Interface.

PHENOTAN M Madeira Compensada

MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL

ENSAIOS TECNOLÓGICOS DE ARGILAS DA REGIÃO DE PRUDENTÓPOLIS-PR. Resumo: Introdução

TÍTULO: DESENVOLVIMENTO DE UM PROTÓTIPO DE EQUIPAMENTO PARA HIDROCONFORMAÇÃO DE CALOTAS METÁLICAS POR EXPLOSÃO

Caracterização microestrutural do aço ASTM-A soldado por GMAW.

RECICLAGEM DE PAVIMENTOS COM ADIÇÃO DE CIMENTO PORTLAND

Caracterização da vida de fadiga de concreto asfáltico através do ensaio de flexão em quatro pontos

ARGAMASSA ESTRUTURAL 251 F

ARGAMASSA ESTRUTURAL 250

Em marcações em superfícies de cimento após pré tratamento com um primário adequado.

TECNOLOGIA DA CONSTRUÇÃO II CÓDIGO: IT837 CRÉDITOS: T2-P2 INSTITUTO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

INCORPORAÇÃO DO REJEITO DE MÁRMORE E GRANITO EM MATRIZ POLIMÉRICA

APLICAÇÃO DA TÉCNICA DE TERMOGRAFIA ATIVA NA INSPEÇÃO NÃO-DESTRUTIVA DE TAMBORES DE REJEITO NUCLEAR

COMPORTAMENTO E PROPRIEDADES DOS MATERIAIS

3 Procedimento experimental

Concretos de retração controlada e de pós reativos: características, aplicações e desafios.

Peso especifico aparente é a razão entre o peso da amostra e o seu volume:

ANÁLISE DO EFEITO DA CARBONATAÇÃO NO PROCESSO DE DEGRADAÇÃO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO DA CIDADE DE PELOTAS/RS

Este documento contém 7 páginas e só pode ser reproduzido com autorização formal prévia do IBEC. Docto. n. DMT015 Rev. 3.

PROCESSOS AVANÇADOS DE USINAGEM

Adições Minerais ao Concreto Materiais de Construção II

COMPÓSITOS CIMENTÍCIOS PRODUZIDOS COM RESÍDUOS DA INDÚSTRIA MADEIREIRA DE PORTO VELHO

Ficha Técnica de Produto Biomassa Bloco de Vidro Código: BV001

TIJOLOS DE ADOBE ESCOLA DE MINAS / 2015 / PROF. RICARDO FIOROTTO / MARTHA HOPPE / PAULA MATIAS

DESENVOLVIMENTO DE PAINÉIS MDF UTILIZANDO A FIBRA DO COCO BABAÇU E EUCALIPTO

48 unidades (1200kg / pallets)

PLANILHA ELETRÔNICA PARA PREDIÇÃO DE DESEMPENHO OPERACIONAL DE UM CONJUNTO TRATOR-ENLEIRADOR NO RECOLHIMENTO DO PALHIÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR

Resumo. Palavras-chave: papel sintético, resíduo mineral, compósito INTRODUÇÃO

FICHA TÉCNICA Nº5. AGLOMERADO NEGRO ( ou AGLOMERADO PURO EXPANDIDO) AN STANDARD

Marco Antonio Carnio

Palavras chave: concreto de alto desempenho, durabilidade, resíduo, resistência

PROJETO DE SEDIMENTADOR CONTÍNUO A PARTIR DE ENSAIOS DE PROVETA COM SUSPENSÃO DE CARBONATO DE CÁLCIO UTILIZANDO O MÉTODO DE TALMADGE E FITCH

Cimento Portland Fabricação Composição química Propriedades

Usina Fortaleza - Rua São Paulo, 02 - Engenho Novo Barueri SP

Desempenho de argamassas reforçadas com fibras acrílicas

Universidade Estadual de Ponta Grossa/Departamento de Engenharia de Materiais/Ponta Grossa, PR. Engenharias, Engenharia de Materiais e Metalúrgica

Materiais. Conceitos para acústica arquitetônica. Marcelo Portela LVA/UFSC

Solução em portas, caixilhos, vistas e decks em compósito de fibra de vidro.

DESENVOLVIMENTO DE CONCRETO DE PÓS REATIVOS (RPC) COM FIBRAS SINTÉTICAS

Unidade 2 Dilatação Térmica. Comportamento dos sólidos Dilatação Linear Dilatação Superficial Dilatação Volumétrica

FORMULÁRIO PARA INSCRIÇÃO DE PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

Caleiras em PVC para o encaminhamento de águas nas habitações.

Ministério da Educação Universidade Federal do Paraná Setor de Tecnologia. Materiais de Construção III TC 034. Fibrocimento

Generalidades. Metal. Elemento químico, sólido, com estrutura cristalina e com as seguintes propriedades de interesse para a Engenharia

PROPRIEDADES DO CONCRETO NO ESTADO FRESCO

MADEIRA Vigas de madeira laminada e colada submetidas à flexão simples

Materiais de Construção. Prof. Aline Fernandes de Oliveira, Arquiteta Urbanista 2010

Técnicas Laboratoriais Ensaios Destrutivos

Patologias das Edificações

RELATÓRIO TÉCNICO PRELIMINAR. LUCIANO MÓDENA (Engº Civil) PRÉ-ENSAIO DE LAJES PRÉ-MOLDADAS E MOLDADAS IN-LOCO COM ARMAÇÃO TRELIÇADA.

ARGAMASSA PRODUZIDA COM AGREGADO DE PÓ DE PEDRA, AREIA, CIMENTO E CAL. Lillian Dias de Oliveira (1). Juzelia Santos da Costa(2).

Diretrizes de Projeto de Revestimento de Fachadas com Argamassa

UTILIZAM UM MATERIAL PRODUZIDO COM POUCA ENERGIA E DE FORMA SUSTENTÁVEL

Processo de Fabricação: CORTE A LASER E CORTE A ÁGUA

SUBSISTEMA NORMAS E ESTUDOS DE MATERIAIS E EQUIPAMENTOS DA DISTRIBUIÇÃO CÓDIGO TÍTULO FOLHA

Universidade Federal do Ceará. Mecânica para Engenharia Civil II. Profa. Tereza Denyse. Agosto/ 2010

Hidráulica Geral (ESA024A)

Compressibilidade e Teoria do adensamento. Mecânica de Solos Prof. Fabio Tonin

MANUTENÇÃO BÁSICA VALE A PENA! SOLUÇÕES PARA PROBLEMAS DE CORTE ÍNDICE DE CONTEÚDOS G U I A PA R A S E R R A S D E F I TA

2 Procedimento experimental

2 Revisão Bibliográfica 2.1 Utilização de fibras vegetais em compósitos

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA MCC1001 AULA 1

RELAÇÃO DE ITENS - PREGÃO ELETRÔNICO Nº 00045/

REVESTIMENTOS. Curso Técnico em Edificações Disciplina: Técnicas de Construção Civil 3 Profª Nayra Y. Tsutsumoto

Estudo da aderência aço-concreto em barras corroídas

MEDIDOR DE ALTURA TESA MICRO-HITE plus. Velocidade da coluna vertical manual combinada com a precisão de um sistema motorizado

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

DETECÇÃO QUALITATIVA DE ARGILAS PREJUDICIAIS DO GRUPO ESMECTITA EM AGREGADOS UTILIZANDO AZUL DE METILENO

Adesivo de Contato Fastbond 30-NF

CONSTRUÇÃO DE UMA FERRAMENTA NUMÉRICA PARA ANÁLISE DE RADIERS ESTAQUEADOS

Título: Autores: INTRODUÇÃO

2 Técnicas de Reforço com Materiais Compósitos em Estruturas de Concreto

Nesta aula. Fundamentos de Dinâmica Veicular Aula 02 Características dos Pneus

MÉTODO EXECUTIVO ME 49

PROGRAMA DE DISCIPLINA

ENSAIO DE PENETRAÇÃO DA IMPRIMADURA

Transcrição:

USO DE POLPA DE BAMBU COMO REFORÇO DE MATRIZES CIMENTÍCIAS M. A. S. dos Anjos 1, K. Ghavami 2, N. P. Barbosa 3 1 Escola Técnica Federal de Palmas, Palmas, Brasil 2 Departamento de Engenharia Civil, PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil 3 Departamento de Engenharia Civil, UFPB, Paraíba, Brasil RESUMO Este trabalho apresenta os resultados experimentais de um estudo que procurou desenvolver compósitos de matriz cimentícia reforçada com polpa de bambu. Foram usados dois tipos de polpa: refinada e sem refino. Fez-se variar o teor de fibras de 0 a 16% em massa da matriz. Utilizou-se o processo de sucção usado no método para moldagem e prensagem, a fim de fabricar polpa de bambu como matrizes cimentícias(pbmc). Os compósitos tiveram seu comportamento mecânico determinado através do ensaio de flexão, em três pontos, com obtenção dos respectivos diagramas carga-deflexão Conseqüentemente foi obtida a capacidade de absorção de energia e algumas imagens no microscópio eletrônico de varredura foram realizadas com o intuito de analisar o tipo de ruptura apresentado pelos compósitos. Foram também determinadas algumas propriedades físicas, como absorção, porosidade aparente, densidade seca e úmida dos compósitos. Os resultados mostraram melhor performance dos compósitos com fibras refinadas em relação àquelas com fibras sem refino. Também indicaram que a fração massa ótimo de fibras refinadas situou-se em torno de 8%, quando promoveram notáveis melhoramentos das propriedades mecânicas dos compósitos em relação à matriz plena. Mas o PBMC com teor de 14% em massa apresentou energia absorvida três vezes maior que a de 8%. PALAVRAS-CHAVE Matriz cimentícia, fibra vegetal, polpa de bambu, materiais compósitos.

INTRODUÇÃO A combinação de cimento e fibras vegetais para produção de compósitos duráveis é um grande desafio, mas que se concretizado pode criar um material de construção ecológico, resistente e durável com grande capacidade de renovação, embasada em recursos naturais renováveis (Swamy, 2000). As fibras vegetais sofrem com o ataque alcalino do cimento ao longo do tempo. Cristais de hidróxido de cálcio, oriundos da hidratação do cimento, penetram nas fibras mineralizando-as e fragilizando-as, provocando também perda de aderência com a matriz. Ocorre assim uma diminuição na resistência e na ductilidade do compósito e com isso é necessário encontrar alternativas para proteção das fibras, seja por modificação da matriz ou por modificação na constituição das fibras. Estudos recentes utilizaram alternativas para modificação da matriz através da substituição parcial do cimento Portland por materiais com propriedades pozolânicas como sílica ativa e escória granulada de alto forno (Ghavami et al., 1999; Toledo et al., 2000 e Savastano et al., 2000). Materiais pozolânicos podem melhorar significativamente as propriedades dos compósitos tanto no estado fresco quanto endurecido, melhorando também sua durabilidade através da reação pozolânica realizada por esses materiais que transformam o hidróxido de cálcio, cristais grandes e instáveis, em estruturas cristalinas menores e mais resistentes, o CSH (silicato de cálcio hidratado). Outros materiais com propriedades pozolânicas têm sido usados para substituição parcial do cimento como a cinza volante, a cinza da casca de arroz, a metacaulinita, a cinza do bagaço e da palha da cana de açúcar. A modificação na constituição das fibras vegetais é conseguida através do processo de polpação, que confere uma diminuição no teor de lignina e hemicelulose do material de origem. Os fibrocimentos com reforço de polpa de madeira são utilizados na Austrália desde 1981, em substituição ao cimento-amianto (Coutts & Ni, 1995). O presente trabalho tem como objetivo analisar o comportamento físico e mecânico dos compósitos de matriz cimentícia reforçados com polpas de bambu, determinando o teor de reforço ideal. MATERIAIS E MÉTODOS Neste trabalho foi utilizado cimento Portland CP II E 32, marca Eldorado. As polpas celulósicas de bambu foram provenientes da fábrica de papel Itapajé, localizada no Estado do Maranhão. Essas apresentavam umidade natural variando de 7% a 15% e 35% a 72%, com absorção máxima de 590% e 715%, respectivamente, para as polpas refinadas e sem refino. Os materiais utilizados para produção dos compósitos foram matrizes cimentícias (pasta de cimento) reforçadas por polpas celulósicas de bambu (antes e após o processo de refino). Foram utilizadas as proporções de 4% a 16% de polpa em relação à massa do material cimentício, sendo também utilizada a matriz plena como referência. A nomenclatura utilizada para identificar os diferentes tipos de compósito é a seguinte: CP compósito com polpa refinada e CPS compósito com polpa sem refino. O número após o tipo de compósito indica o teor de reforço.

ENSAIOS REALIZADOS Propriedades físicas As propriedades físicas determinadas neste trabalho foram densidade no estado seco (D s ) e úmido (D h ), absorção de água (W a ) e porosidade aparente (P a ), segundo recomendações do RILEM-1984, sendo este teste realizado aos 28 dias. Ensaio de flexão Os ensaios de flexão foram realizados também, aos 28 dias, em equipamento de três cutelos com vão livre L = 100 mm e aplicação de carga centrada no sentido da espessura, com deslocamento de travessão constante de 0,5 mm/minuto utilizando-se uma máquina de ensaio Instron 5500 N. Os espécimes utilizados tinham dimensões de 120 mm de comprimento total e largura b = 36,5 mm com espessura e = 6 mm. O ensaio foi realizado de acordo com o ASTM C 1185. A capacidade de absorver energia estática na flexão é determinada pela área abaixo do gráfico carga versus deflexão, até o nível de carga de 40% da carga máxima (de pico) no trecho descendente, de acordo com o proposto pelo RILEM-1984. Processo de fabricação dos compósitos A primeira etapa para a produção dos compósitos é a dispersão das polpas que foi realizada em um equipamento adaptado com hélice tipo centrífuga e rotação de 2.000 rpm (Figura 1). (A) (B (C (A) Equipamento de dispersão (B) Polpa antes da dispersão (C) Polpa após dispersão FIGURA 1. DISPERSÃO DAS POLPAS AGLUTINADAS A mistura dos materiais para a produção dos compósitos foi realizada com um misturador elétrico com velocidade de rotação de 500 rpm, com copo e hélice de aço. A mistura foi feita por 10 min, resultando em uma pasta fluida de cimento e polpa. Após a homogeneização, o material foi transferido rapidamente para a câmara de moldagem, com dimensões de (120 x 120) mm e altura de 100 mm, onde foi submetido a uma subpressão em sua face inferior, com o auxílio de uma bomba de vácuo, mostrada na Figura 2.

Misturado Bomba de vácuo Placa após sucção Câmara de moldagem Armazenamento de água Mistura do compósito (A) Equipamento de moldagem (B) Mistura, moldagem e desforma FIGURA 2. EQUIPAMENTO E SEQÜÊNCIA DE MOLDAGEM Para cada percentual de polpa foram produzidas três placas, as quais são empilhadas e intercaladas por chapas de aço e toalhas de papel, para serem submetidas à prensagem em uma prensa hidráulica, durante 5 minutos, a uma pressão constante de 3,2 MPa. A prensagem é realizada para retirar o excesso de água que restou nas placas após a sucção ou que tenha sido absorvida pela polpa. Após a prensagem, as placas foram acondicionadas em sacos plásticos durante 24 horas, para manter uma umidade constante em torno de 90-95%, e evitar a perda de água para o meio ambiente. Após a cura por imersão, durante 6 dias, as placas foram retiradas e cortadas com uma serra circular de disco diamantado, nas dimensões finais de (36,5 x 120) mm. Esses corposde-prova foram mantidos em ambiente controlado a uma temperatura de 23 ± 2 0 C e umidade em torno de 50 ± 5%, até a data dos ensaios. RESULTADOS E DISCUSSÃO Absorção de água, porosidade aparente (vazios permeáveis) e densidades seca e úmida são propriedades físicas inter-relacionadas e de grande importância para o uso pretendido desses compósitos, como por exemplo em painéis de cobertura. A Figura 3 mostra a variação da absorção de água dos compósitos com sua massa especifica para os resultados obtidos no presente trabalho e os verificados na literatura. Uma relação exponencial, com coeficiente de regressão de 0,96, foi ajustada ao conjunto de resultados o que demonstra uma boa concordância dos resultados obtidos no presente trabalho em relação a trabalhos anteriores. Verificou-se, também, que os compósitos reforçados com polpa sem refino apresentaram maior absorção de água que os compósitos com polpa refinada, fato que pode estar relacionado com o aspecto da fibra refinada, que apresenta uma superfície lisa e pouco danificada, em forma de fita, parecendo ser mais densa que a fibra sem refino. Esta última apresenta um aspecto mais circular e mais poroso, como pode ser visto na Figura 4. As fibras sem refino apresentaram, em média, diâmetro de 11 µm; já as polpas refinadas tinham variação de diâmetro com média de 7 µm, numa estimativa feita ao microscópio eletrônico de varredura (MEV).

Absorção (%) 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 CP (presente trabalho) CP S (pres ente trabalho ) Fibra de sisal (Coutts e Warden, 1992) Bambu autoclave (Coutts e Ni, 1995) Pinus Radiata (Savastano et al, 2000) Abs(%) = 291,16e R=0,96 1,6583X 10,0 0,0 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 2,2 2,4 Massa Específica (g/cm³) FIGURA 3. RELAÇÃO ENTRE ABSORÇÃO DE ÁGUA E MASSA ESPECÍFICA DE COMPÓSITOS DE MATRIZ CIMENTÍCIA REFORÇADOS COM POLPA CELULÓSICA (A) (B) (A) Fibra refinada (B) Fibra sem refino FIGURA 4. FIBRAS OBTIDAS NO MEV COM AUMENTO DE 2000 VEZES Comportamento à flexão A inclusão de fibras nos compósitos proporcionou tendência de crescimento na resistência à flexão, até um teor ótimo com posterior queda nesta propriedade. Isto ocorre porque, após certa taxa de polpa, a concentração volumétrica de fibras acarreta dificuldade de mistura e dispersão. No caso, os teores com maior resistência à flexão foram 6% para o compósito com polpa sem refino e 8% para o compósito com polpa refinada (Figura 5). A capacidade de absorver energia (tenacidade) foi a propriedade mais sensível ao acréscimo de polpa. Quando o teor de polpa passou de 4% para 14%, esta propriedade apresentou um aumento de 6 vezes para a polpa refinada e de aproximadamente 2,5 vezes para a polpa sem refino (Figura 6). O acréscimo de 14% no teor de polpa, em

relação à matriz sem reforço, aumentou a deflexão na ruptura em aproximadamente 7 vezes para ambos os tipos de polpa (Figura 7). Esses resultados demonstram o potencial da polpa celulósica de bambu para utilização em painéis submetidos à flexão. Resistência à flexão (MPa) 16,0 14,0 12,0 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 CPS CP 4 6 8 10 12 14 16 % de polpa FIGURA 5. RESISTÊNCIA À FLEXÃO COM O TEOR DE POLPA REFINADA E SEM REFINO 1,8 1,6 CPS CP Energia específica (kj/m²) 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 4 6 8 10 12 14 16 % de polpa FIGURA 6. ENERGIA ESPECÍFICA ABSORVIDA NA FLEXÃO COM O TEOR DE POLPA REFINADA E SEM REFINO

16,0 14,0 CP4 CP6 12,0 CP8 Tensão de flexão (MPa) 10,0 8,0 6,0 4,0 CP10 CP12 CP14 CP16 2,0 0,0 CP0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 Deflexão (mm) FIGURA 7. TENSÃO DE FLEXÃO X DEFLEXÃO: COMPÓSITOS COM DIFERENTES TEORES DE POLPA REFINADA CONCLUSÃO A resistência à flexão apresentou tendência de crescimento com o aumento no teor de reforço até um ponto ótimo, que no caso da polpa refinada, foi de 8% e para as polpas sem refino foi de 6%. Teores de fibra acima desses valores acarretaram dificuldades de mistura e dispersão das fibras no compósito. As fibras refinadas conduziram a compósitos de melhor desempenho que as fibras sem refino. Na porcentagem de 8%, as fibras refinadas promoveram, em relação à matriz plena, uma resistência à flexão quase 110% maior e uma capacidade de absorver energia 28 vezes maior, quase cinco vezes superior a deformação na ruptura. A incorporação de fibras aumentou significativamente a absorção e a porosidade aparente do compósito, este acréscimo sendo ligeiramente superior no caso das fibras sem refino. AGRADECIMENTOS As agências financeiras CAPES, através do programa PROCAD, FAPERJ e CNPq, pelo apoio financeiro, e ao aluno de doutorado Conrado Rodrigues, pela participação no desenvolvimento deste trabalho.

REFERÊNCIAS Anjos, M. A. S. (2002). Compósito à Base de Cimento Reforçado com Polpa de Bambu - Caracterização Física, Mecânica e Microestrutural. Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica, PUC-Rio, Rio de Janeiro, 96p. American Society for Testing and Materials-ASTM. (1996). C 1185/96 Standard Test Methods for Sampling and Testing Non-Asbestos Fiber-Cement Flat Sheet, Roofing and Siding Shingles and Clapboard, New York, 7p. Coutts, R.S.P.; Ni, Y. (1995). Autoclaved Bamboo Pulp Fibre Reinforced Cement. Cement and Concrete Composites, England, vol. 17, p. 99-106. Coutts, R.S.P.; Warden, P. G. (1992). Sisal Pulp Reinforced Cement Mortar. Cement and Concrete Composite, vol. 4, pp. 17-21. Ghavami, K.; Toledo Filho, R. D.; Barbosa, N. P. (1999). Behaviour of Composite Soil Reinforced with Natural Fibres. Cement and Concrete Composites, Elsevirer Science Ltd England, vol. 21, p. 39-48. Savastano Júnior, H.; Warden, P.G.; Coutts, R.S.P. (2000). Brazilian Waste Fibers as Reinforcement of Cement-Based Composites. Cement and Concrete Composites, England, vol. 22, p. 379-384. Swamy, R. N. (2000). Sustainnable Infrastructure Regeneration and Rehabilitation. Fibre-Reinforced Concretes (FRC), BEFB/RILEM, p. 5-17. Toledo Filho, R.D.; Scrivener, K.; England, G.L.; Ghavami, K. (2000). Durability of Alkalisensitive Sisal and Coconut Fibers in Cement Mortar Composites. Cement and Concrete Composites, England, vol.22, p. 127-143. Rilem Technical Committee 49 TFR. (1984). Testing Methods for Fibre Reinforced Cement-Based Composites, vol.17, n.102, 15p.