Autor :Jean Michel do Ouro Caravalho Barboza; Co-autor: Keyla Vitória Marques Xavier; Orientador :Diego César Nunes da Silva.

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Transcrição:

PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS DE Callithrix jacchus LIAEUS, 1758 E Callithrix penicillata ÉTIEE GEOFFROY, 1812, DO CETRO DE MAEJO DE FAUA DA CAATIGA CEMAFAUA-CAATIGA, O MUICÍPIO DE PETROLIA, PERAMBUCO Autor :Jean Michel do Ouro Caravalho Barboza; Co-autor: Keyla Vitória Marques Xavier; Orientador :Diego César unes da Silva. (UIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRACISCO-UIVASF,- email: Jeeh-carvalho2011@hotmail.com ; keyla_xavier@live.com Introdução Os saguis-de-tufo-branco (Callictrix jacchus) são endêmicos do ordeste Brasileiro, sua distribuição geográfica original incluía áreas de Mata Atlântica, mas em virtude da intensa destruição desse ecossistema, passaram a ocorrer em outros biomas, inclusive, de maneira invasora. Os saguis-de-tufo-preto (C. penicillata) ocupavam originalmente a caatinga e o cerrado brasileiro (HIRSCH et al., 2002), mas atualmente também estão presentes em outras tipologias vegetais como: galerias de florestas, extremidades das florestas secundárias, bosques semidecíduos e vegetação de savanas (CHAGAS; PIEMOTE; RAPOSO-FILHO, 1999; VILELA; FARIA, 2004). Possuem boa adaptabilidade aos diferentes ambientes, sendo que podem viver até mesmo em ambientes perturbados e fragmentados (RYLADERS; FARIA, 1993), aumentando a sua área de distribuição e eficiência na exploração do ambiente. Como grande parte das invasões observadas em todo o mundo, os casos envolvendo C. jacchus possuem estreita relação com a translocação intencional desses animais através dos diferentes estados brasileiros, embora a dispersão natural dessa espécie também possa ocorrer em locais próximos à sua área nuclear de ocorrência. Por serem animais com grande capacidade de adaptação à vida cativa, os C. jacchus e C. penicillata são um grande atrativo para o comércio de animais de estimação. Além disso, por possuírem semelhanças fisiológicas com a espécie humana, esses primatas têm sido amplamente utilizados em pesquisas biomédicas, o que tem comprovado seu potencial como hospedeiros e transmissores de agentes infecciosos nocivos à saúde humana (EPPLE, 1970; MASFIELD, 2003). Como resultado do tráfico ilegal destes animais, muitos apresentam sinais clássicos de desidratação, subnutrição, assim como ferimentos e traumatismos. Além

disso, outra grave consequência do comércio ilegal é a falta de controle sanitário dos animais, que podem transmitir doenças graves para criações domésticas e até mesmo para o ser humano. Por tais motivos há necessidade de se estabelecer indicadores, para avaliação da sanidade dos primatas provenientes do tráfico, assim como para o monitoramento, recuperação e possível reintrodução desses indivíduos (SGAI, 2007). O Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga (CEMAFAUA- CAATIGA), têm suas ações concentradas, desde 2008, nos estudos de inventário, resgate e monitoramento da fauna silvestre nas áreas de influência direta e indireta do Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias do ordeste, e conta com seu Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS), atuando na recuperação de espécies animais, por meio de ações de conservação ex situ na sua unidade CETAS, conforme determinado SISFAUA/IBAMA. À vista disso, o atendimento de animais selvagens em clínicas de triagem tem se tornado cada vez mais necessário para se avaliar o estado de saúde, no qual, mediante exames laboratoriais como o hemograma, por exemplo, fornecem dados cruciais para o monitoramento e diagnóstico de possíveis enfermidades, contribuindo para conservação dessas espécies (DEEM et al., 2009; FOX et al, 2008). O hemograma, portanto, é um exame laboratorial capaz de fornecer dados sobre a saúde do animal quantitativa-qualitativamente, por meio de técnicas que geram informações relativamente rápidas, pouco invasivas e econômicas, e, quando devidamente empregadas na avaliação clínica, tornam-se um instrumento na investigação das enfermidades por meio de interpretações corretas dos parâmetros hematológicos sendo necessário assim, estabelecer padrões de normalidade para a espécie (CLARK et al., 2009). Desta forma, o presente trabalho visa determinar os parâmetros hematológicos de Callithrix jacchus Linnaeus, 1758 e Callithrix penicillata Étienne Geoffroy,1812, criados em cativeiro no Centro de Manejo de Fauna da Caatinga- CEMAFAUA- CAATIGA. O qual é crucial para estabelecer os valores de normalidades para espécie, bem como o acompanhamento, diagnóstico e prognóstico de enfermidades, fornecendo dados sobre a saúde do animal, por meio de técnicas que geram informações relativamente rápidas, pouco invasivas e econômicas (BE, 2014; GARCIA- AVARRO, 2005; BIRGEL JUIOR, 2001).

Metodologia o presente estudo foram avaliados 7 indivíduos machos e 5 fêmeas da espécie Callithrix penicillata Étienne Geoffroy,1812 (sagüi-de-tufo-preto) e 2 indivíduos machos e 2 fêmeas da espécie Callithrix jacchus Linnaeus, 1758 (sagüi-de-tufo-branco), totalizando 16 indivíduos, os quais estavam individualizados em 16 gaiolas com medidas (170 cm x 60 cm x 50 cm) acomodados no quarentenário, pertencentes ao CEMAFAUA - CAATIGA, tendo um alto nível de adaptação ao cativeiro. Todos foram considerados clinicamente saudáveis e aptos ao exame de venopunção. A contenção física foi realizada manualmente, capturando o animal de dentro da gaiola com utilização de luvas grossas de raspa de couro, para aplicação do anestésico (contenção química); Após a aplicação intramuscular, o animal foi então colocado novamente na gaiola até que o anestésico fizesse efeito. Após anestesia, o animal foi retirado da gaiola para a realização dos exames clínicos (analise de frequência cardíaca, temperatura) e coleta do material biológico. Para a contenção química, foi considerado o peso do animal para o cálculo da dose do anestésico. Os animais foram anestesiados com cloridrato de Ketamina1*, (10mg/kg/via intramuscular), na musculatura da coxa, com seringa de 1 ml e agulha 13X4,5. Durante a anestesia, as frequências respiratória e cardíaca, foram medidas com o auxílio do estetoscópio. Após o tempo médio de 5 minutos da aplicação, e relaxamento do animal foi realizada uma coleta única de sangue venoso por punção da veia femoral, no plexo arteriovenoso da região inguinal, coletando-se aproximadamente 0,5 ml de sangue de cada indivíduo, com o auxílio de seringa de 1 ml e agulhas 25 x 0,70 (22 G 1 Descarpack) e transferidos para tubos contendo ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) a 10%, destinados à realização do hemograma, atentando-se para que o volume de sangue coletado não ultrapassasse 1% do peso do animal Posteriormente confeccionou-se duas lâminas de distensão sanguínea para cada animal (total de trinta e duas lâminas) a fim de analisar a morfologia das células do sangue. O procedimento foi realizado por meio da metodologia descrita por BAI (2016). A lâmina secou a temperatura ambiente. Após a preparação do esfregaço, a mesma foi corada por meio da coloração panótico Rápido LB. O processo de coloração seguiu as instruções do fabricante (LABORCLI, 2003; THRALL, et al, 2012). Em seguida, as lâminas foram analisadas no microscópio óptico.

A análise dos parâmetros hematológicos foi realizada, imediatamente após a coleta, através do analisador de células sanguíneas HEMATOCLI 2.8 VET do CEMAFAUA-CAATIGA (LOPES et al., 2007). Foram analisadas a serie vermelha: contagem de hemácias (RBC), dosagem de hemoglobina (HB), hematócrito (HT), índices hematimétricos : volume corpuscular médio (VCM), hemoglobina globular média (HCM), concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) e amplitude de distribuição de hemácias (RDW); a série branca: contagem de leucócitos com diferencial (eutrófilos, eosinófilos, basófilos, linfócitos e monócitos); e a contagem de plaquetas. Foi realizada a determinação dos valores médios e desvios para todos os parâmetros hematológicos no programa Microsoft Excel. Resultados e discussão Os parâmetros hematológicos dos espécimes da espécie C. jacchus são apresentados na Tabela 1. A hematimetria, hematócrito e hemoglobimetria, para os machos, apresentaram valores médios de 7,57 10 6 /mm 3, 53,35 % e 15,35 g/dl, e para fêmeas, 6,86 10 6 /mm 3, 48,1 % e 13,7 g/dl, contudo os valores de referência utilizados pelo analisador hematológico HEMATOCLI 2.8 VET são para a espécie C.penicillata, conforme mostra a Tabela 2 e não para a espécie C. jacchus, podendo implicar em uma eritrocitose não verdadeira. Além disso, os dados na literatura para esta espécie são escassos e moderadamente variáveis, mostram-se algumas vezes conflitantes, em função dos estudos tratarem de indivíduos criados de diferentes formas e ambientes, como por exemplo, criatórios em ambientes de cativeiro e animais que se encontram soltos na natureza (ROBEL et al.,1996). Esta variação é decorrente do fato dos organismos sofrerem uma adaptação para cada tipo de ambiente. Sendo, portanto, possíveis de apresentarem diferenças fisiológicas entre espécies iguais que vivem em regiões geográficas diferentes, e até em uma mesma região (BIRGEL,1982). Desta maneira, acreditamos que tal aumento não implica em real alteração, sendo mais provável decorrer da adaptação ao ambiente e/ou valor normal para a espécie.

Tabela 1 e desvio de eritrograma de machos e fêmeas de primatas da espécie C. jacchus do presente estudo. Eritrograma Macho Fêmea Hemácias (10 6 /mm 3 ) 2 7,57 0,125 2 6,86 0,02 Hemoglobina (g/dl) 2 15,35 0,55 2 13,7 0 Hematócrito (%) 2 53,35 0,85 2 48,1 0,5 VCM (u 3 ) 2 70,45 0,05 2 70,15 0,55 HCM (pg) 2 20,6 0,4 2 19,95 0,05 CHCM (%) 2 28,7 0,6 2 28,4 0,3 Tabela 2 Valores hematológicos de referências bibliográficas para animais de cativeiro, C. penicillata (machos e fêmeas). Parâmetros Animal Hemácias (10 6 /mm 3 ) Hemoglobina (g/dl) Hematócrito (%) VCM (u 3 ) HCM (pg) CHCM (%) C.penicillata 6,9±2 15,2±0,2 49,7±1,3 72,9 ± 1,1 20,3 ±2 30±2 Quanto aos índices hematimétricos, não foi observada nenhuma alteração (VCM, HCM, CHCM ) apresentando normocitose (VCM normais) e normocromia (HCM e CHCM normais). A análise morfológica (esfregaço sanguíneo) corroborou com os parâmetros da automação, sendo visto hemácias morfologicamente normais, com formato esférico e bem coradas. ão foi visto a presença de inclusões eritrocitárias do tipo howell-jolly, pontilhado basófilo ou anel de Cabot, tampouco hemoparasitos. Em relação ao gênero Callithrix sp., foi observada um pequena diferença significativa (p 0,05), de acordo com Larsson et al.(1999), em Cebus apella Linnaeus,1766, o hemograma varia de acordo com o sexo e idade, onde constatou que as fêmeas apresentaram valores de eritrócitos, hemoglobina e hematócrito mais baixos quando comparados com machos, o que é atribuído a perda sanguínea no período de menstruação, deficiências nutricionais, e hormonal (RIVIELLO & WIRZ,2001).

A avaliação da série branca ou leucograma apresentou-se dentro dos valores de referência, ou seja, sem quadros de leucocitose ou leucopenia, não mostrando significativa variação entre os indivíduos, tampouco entre gênero. A contagem diferencial apresenta distribuição semelhante a outras espécies de primatas como Cebus. apella (macaco prego) e Homo. sapiens (homem) com predomínio de neutrófilos segmentados e linfócitos, respectivamente. Os resultados obtidos também corroboram com estudos anteriores da literatura (RAMACHADRA et al, 1998; LARSSO et al, 1999; HOFFMA, 2013). Quanto a análise morfológica, os leucócitos mostraram-se morfologicamente conservados, não sendo observado processos tóxicos degenerativos, indicativos de infecções, como, por exemplo, granulações tóxicas, vacuolização e corpo de Döhle ou presença de precursores granulocíticos com consequente desvio a esquerda, tampouco sinais de estresse, como tampouco desvio a esquerda demonstram. Os trabalhos de Cunha et al., (2005) e Boere et al (2005) mostraram que situações de estresse agudo levam ao aumento de cortisol com consequente aumento dos números de leucócitos, cursando normalmente com neutrofilia (aumento do número dos neutrófilos) e em algumas situações com monocitose (aumento do número de monócitos). Logo, nossos resultados refletem que o quadro de sanidade e, consequentemente eficácia das estratégias de manejo adotadas pelo CEMAFAUA-CAATIGA cumpre com suas obrigações e exigências suprindo as necessidades nutricionais de cada indivíduo, atentando para as demandas proteicas e de cálcio, vitaminas, fibras e demais exigências, além do bom cuidado com cada espécie que abriga em seu estabelecimento. A contagem de trombócitos ou plaquetas mostrou valores normais apresentando valor médio de 929 mil /mm 3 para fêmeas e 745,5 mil /mm 3. Quanto a análise morfológica, corroborou com os valores da automação, não sendo visto quadros de anisocitose plaquetária como, por exemplo, macroplaquetas

Hematologia de Callithrix penicillata Tabela 3 e desvio do leucograma de machos e fêmeas de primatas do gênero C. penicillata. Leucograma Macho Fêmea Leucócitos (mm 3 ) 7 6502 1500,56 5 5634,24 2459,08 Bastonetes (mm 3 ) 7 0 0 5 0 0 Segmentados(mm 3 ) 7 3817 1615,77 5 4386 1573,28 Eusinófilos (mm 3 ) 7 47,32 34,26 5 52,56 79,88 Basófilos (mm 3 ) 7 0 0 5 0 0 Linfócitos (mm 3 ) 7 1705 416,21 5 1996,64 931,46 Monócitos (mm 3 ) 7 47,72 33,26 5 66 56,43 Plaquetas (mil /mm 3 ) 7 833,85 154,83 5 690,85 139,83 Ao analisar o leucograma dos animais, se pôde observar que os animais machos apresentavam maiores médias nos valores de leucócitos (6502 ± 1500,56), quando comparados aos de fêmeas (5634,24 ± 2459,08), com predomínio de neutrófilos e linfócitos, respectivamente, para ambos os gêneros. Estes dados corroboram os observados por ascimento et al. (1993) para espécie Callithrix kuhli. Estes autores, entretanto, quando avaliaram estes parâmetros em C. aurita e C. geoffroyi encontraram, tanto em machos como fêmeas, maiores médias para linfócitos. Os valores da contagem absoluta e diferencial deste estudo estão em concordância com os trabalhos de Ramachandra et al. (1998) e Larsson et al. (1999). Assim como para a espécie C. jacchus os leucócitos mostraram-se morfologicamente preservados não apresentando alterações morfológicas sugestivas de infecções. Quanto aos trombócitos ou plaquetas, encontramos valores médios de 833,85±154,83 e 690,85±139,83, não sendo observadas alterações morfológicas plaquetárias. Quanto a série vermelha, os valores estão descritos na tabela 05. A hematimetria não apresentou valores abaixo dos de referência para a espécie (tabela 05). O aumento do VCM caracteriza um quadro de macrocitose. Embora os valores de hemoglobina e hematócrito estejam normais. A diminuição do número de hemácias e a macrocitose podem

levar a graves prejuízos aos indivíduos. Estas alterações normalmente decorrem de deficiências nutricionais como, por exemplo, deficiência de ácido fólico e vitamina B12. ão observamos diferenças entre os machos e fêmeas para o eritrograma, apresentando concordância com o trabalho de ascimento et al (1993), onde foram comparadas três espécies de Callithrix (C.kuhli; C.aurita; C.geoffroyi) não havendo diferenças significativas nos parâmetros hematológicos de machos e fêmeas. Tabela 4 e desvio do eritrograma de machos e fêmeas de primatas do gênero C. penicillata. Eritrograma Macho Fêmea Hemácias (10 6 /mm 3 ) 7 6,28 0,21 5 6,35 0,40 Hemoglobina (g/dl) 7 16,48 0,86 5 16,73 1,05 Hematócrito (%) 7 49,46 2,8 5 50,20 3,17 VCM (u 3 ) 7 79,57 2,8 5 79 4,64 HCM (pg) 7 26,14 0,98 5 26 1,54 CHCM (%) 7 33 0 5 33 0 Conclusões Embora o número amostral seja pequeno para constituir-se em valor de referência os dados apresentados podem ser utilizados como base para a avaliação de animais da espécie C. jacus e C. penicillata em cativeiro, auxiliando o manejo e tratamento destes animais em Centros de Triagem de Animais Silvestres, possibilitando a sua reintrodução ao seu habitat. Referências AURICCHIO, P. Primatas do Brasil. São Paulo: Terra Brasilis, p. 168, 1995. BAI, B.J. Células Sanguíneas: Um Guia Prático. 3. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. 437 p. BOERE, V.; PIHEIRO, E.C.; OLIVEIRA, ESILVA, I.; PALUDO, G.R.; CAALE, G.; PIATA, T.; WELKER, A. & ROCHA DE MOURA, R.C. 2005. Comparison between sex and age class on some physiological,thermal,and hematological índices of the

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