Senhores Conselheiros:

Documentos relacionados
Exm.º Senhor Presidente do Tribunal da Relação de Lisboa, na qualidade de entidade empossante.

COMISSÃO NACIONAL DE ESTÁGIO E FORMAÇÃO

54-(2) DIÁRIO DA REPÚBLICA I SÉRIE-B N. o 3 5 de Janeiro de 2004 MINISTÉRIOS DAS FINANÇAS E DA JUSTIÇA. Portaria n. o 2-A/2004. Presidente 1.

Exmo. Senhor Presidente do Tribunal da Relação de Lisboa, na qualidade de entidade empossante.

Senhora Presidente da Assembleia da República. Senhor Conselheiro Presidente do Tribunal de Contas. Senhor Ministro dos Assuntos Parlamentares

Jornadas para a transparência na Justiça

Exmo. Senhor (Nome e morada)

Senhor Presidente do Supremo Tribunal. Senhoras e Senhores Vice-Presidentes da. Senhora Procuradora-Geral da República,

O Senhor Desembargador JOSÉ MARIA SOUSA PINTO cessa hoje as suas funções de Vice-Presidente deste Tribunal da Relação de Lisboa ao fim de um mandato

PODER EXECUTIVO (art. 76 a 91, CRFB/88)

PROJECTO DE LEI N.º 254/X

NOTA BIOGRÁFICA E CURRICULAR

Conselho Nacional de Justiça

CONSTITUIÇÂO DA REPÚBLICA PORTUGUESA. (texto integral) Tribunais SECÇÃO V CAPÍTULO I. Princípios gerais. Artigo 202. (Função jurisdicional)

Lei complementar nº 35,

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

Se devemos preferir os amigos NOVOS aos VELHOS amigos, assim como preferimos aos velhos os novos cavalos.

Intervenção do Ministro da Defesa Nacional, José Alberto Azeredo Lopes, na cerimónia

Advogados sujeitos a penhora por terem quotas em atraso. Leis. Governo apresentou proposta que altera o quadro legal desta Ordem profissional

Sua Excelência Presidente da República de Angola, Engenheiro José Eduardo dos Santos,

A EXIGÊNCIA DE COMUM ACORDO NO DISSÍDIO COLETIVO.

Senhor Desembargador Presidente Xavier Forte,

PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº, DE 2013 (Dos Senhores Mauro Benevides, Alessandro Molon e Andre Moura)

XI CONFERÊNCIA DOS CHEFES DE ESTADO E DE GOVERNO DA CPLP

Direito Constitucional Português

da Madeira, Senhoras e Senhores Juízes Conselheiros do Tribunal Constitucional, Entidades Convidadas, Minhas Senhoras e Meus Senhores,

MINISTÉRIOS DAS FINANÇAS E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DA JUSTIÇA

Síntese da cooperação entre Portugal e Moçambique. na área a Justiça

SUBVENÇÃO MENSAL VITALÍCIA DOS EX-TITULARES DE DIVERSOS CARGOS POLÍTICOS (LEI N.º 4/85, DE 9 DE ABRIL)

O ESTADO E A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Segunda-feira, 25 de Agosto de 2014 II Série A Número 2 DIÁRIO. da Assembleia Nacional SUMÁRIO

CONSELHO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Permitam começar por cumprimentar o laureado, S.Exa o Comandante Pedro Verona Pires.

JUSTIFICATIVA A MINUTA DE PROJETO DE LEI SOBRE GRATIFICAÇÃO DE PRODUTIVIDADE PREVISTA NA LEI COMPLEMENTAR 078/2011.

*6C * Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,

Exmo. Senhor Conselheiro Presidente do Supremo Tribunal de. Exmos. Senhores Vices Presidentes do Supremo Tribunal de

Entrevista Ex-Corregedor Min. Ermes Pedro Pedrassani. Entrevistador: Como Vossa Excelência encara a atividade correicional? Quais seus fins e meios?

Direito Constitucional TJ/RJ Prof. Carlos Andrade

Rafael Marques de Morais 13 de Agosto de 2009

EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS

DECRETO N.º 264/XII. Estabelece os mecanismos das reduções remuneratórias temporárias e as condições da sua reversão no prazo máximo de quatro anos

PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS. Proposta de Lei n.º 273/XII. Exposição de Motivos

É assim que vemos mencionar-se, paralelamente, e de um só fôlego:

Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Membros do Governo,

Exmº Sr. Director das Relações Internacionais da Associación de la Magistratura

NOTAS EXPLICATIVAS e MODELOS EXEMPLIFICATIVOS. Com base no texto da nova lei eleitoral aprovada pela Lei Orgânica nº 1/2001, de 14 de Agosto.

A ordem de precedência, nas cerimonias oficiais, nos Estados da União, com a presença de autoridades federais, será a seguinte:

Capítulo II A UNIDADE PROCESSUAL Concepção dualista Concepção unitária Em abono da unidade... 40

IV SESSÃO ORDINÁRIA DO COMITÉ CENTRAL COMUNICADO DE IMPRENSA

MINISTÉRIO DA JUVENTUDE E DESPORTOS

Senhores Membros do Congresso Nacional,

SISTEMA SEMI-PRESIDENCIALISTA

Portaria n.º 2-A/2004 de 5 de Janeiro

Relatório de atividades de cooperação 2012/2014

Luanda, 14 de Junho de 2016 EXCELÊNCIAS CHEFES DE ESTADO E DE GOVERNO, SENHOR SECRETÁRIO-GERAL, SENHORES MINISTROS, DISTINTOS DELEGADOS,

Gabinete de Relações Internacionais e Protocolo Divisão de Protocolo SESSÃO SOLENE COMEMORATIVA DO XXXVI ANIVERSÁRIO DO 25 DE ABRIL 10.

Europass-Curriculum Vitae

Cerimônias de Posse e Transmissão de Cargo de Presidente e Vice-Presidente da República

A República Portuguesa e a República Federativa do Brasil (doravante denominadas «Partes»):

ASSOCIAÃ Ã ES CONTESTAM ANTEPROPOSTA DE LEI DO GOVERNO 09-Ago-2006

Noções de Estado. Organização da Federação e Poderes do Estado

DECRETO LEGISLATIVO REGIONAL N.º 8/2007 REGIME DAS PRECEDÊNCIAS PROTOCOLARES E DO LUTO REGIONAL NA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES

LEI N.º 4/92 de 6 de Maio

UM TRIBUNAL DA RELAÇÃO PARA OS AÇORES

Caso prático 4. Direito Constitucional I. (resolvido) Charles é doutorado por Oxford, residindo em Portugal há 10 anos.

Discurso de apresentação de cumprimentos de Ano Novo,

Competência dos Supremos Tribunais no controle da legalidade dos actos praticados pelos órgãos de governo dos juízes

Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais

UNIÃO DAS MISERICÓRDIAS PORTUGUESAS

Conferência das Jurisdições Constitucionais dos Países de Língua Portuguesa

II O Conselho Distrital tem competência para emitir parecer, nos termos do disposto no artigo 50.º, nº 1, al. f) do E.O.A.

MINISTÉRIO PÚBLICO ARTIGOS 127 A 130 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Diário da República, 1. a série N. o de Agosto de Artigo 6. o

Anexo 3. Estatutos do Centro

DA ADvoCACiA CoM o exercício De outra ACtiviDADe PúBliCA

CRÍTICAS À ALTERAÇÃO NO REGIMENTO INTERNO DO TST cancelamento de sustentações orais. Da Academia Nacional de Direito do Trabalho.

É apenas no século XV, e subitamente, que uma venda é colocada sobre os olhos da Justiça.

CONVITE PARA A AUDIÇÃO PÚBLICA, POR INICIATIVA DO GRUPO PARLAMENTAR DO PCP, A REALIZAR NO DIA 15 DE MAIO DE 2017 SEGUNDA-FEIRA

Funcionários judiciais consideram requisição civil "inútil e prepotente"

Conselho Nacional de Justiça

Ministério da Administração do Território

BOLETIM INFORMATIVO Nº 140. FEVEREIRO de No mês de Fevereiro de 2009, o Conselho Superior do Ministério Público reuniu em

PROVA DAS DISCIPLINAS CORRELATAS DIREITO CONSTITUCIONAL

1. Acção de Formação Resolução Alternativa de Litígios A mediação nas áreas civil, laboral, de família, júnior e penal

CURSO DE DIREITO DIREITO ELEITORAL. Prof. Gilberto Kenji Futada SISTEMAS ELEITORAIS

CEM CADERNO DE EXERCÍCIOS MASTER. Organização dos Poderes CESGRANRIO

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE Conselho Constitucional. Acórdão nº 07/CC/2009 de 24 de Junho. Acordam os Juízes Conselheiros do Conselho Constitucional:

A REFORMA DA JUSTIÇA IMPÕE, ACIMA DE TUDO, A REFORMA DA MAGISTRATURA JUDICIAL

Material para PERISCOPE Composição e Competência dos Órgãos da Justiça Eleitoral

cm LV o /fáfl ACTA N. 241X111 Teve lugar no dia catorze de Dezembro do ano de dois mil e dez, a sessão

DIREITO CONSTITUCIONAL AULA DEMONSTRATIVA TJPE

CURRICULUM VITAE. 1. DADOS PESSOAIS Vitalino José Ferreira Prova Canas Nascido em 14 de Julho de 1959, em Caldas da Rainha - Portugal Três filhos.

Sobre a atuação do Profissional da Justiça Arbitral (Mediador, Conciliador ou Árbitro)

O juiz presidente e os juízes em exercício de funções jurisdicionais

Senhor Ministro das Finanças e da Administração Pública Excelência: Avª. Infante D. Henrique, nº 1-C, Lisboa

- Promotor Público em Recife. em atividade restrita, nomeado pe 746, de 24/09/1922;

INTERVENÇÃO DE SEXA O GENERAL CEMGFA. Senhor Representante da República na Região Autónoma da Madeira, Excelência;

Gabinete de Relações Internacionais da Ciência e do Ensino Superior

Transcrição:

Discurso do Conselheiro Lúcio Alberto de Assunção Barbosa, Presidente cessante, na tomada de posse do Presidente do Supremo Tribunal Administrativo Lisboa, Senhores Conselheiros: Uma primeira palavra para Vossas Excelências. Dois anos atrás, elegeram-me massivamente para Presidente deste Supremo Tribunal. A essa confiança total, respondi com o meu empenho e inteira devoção. Creio ter cumprido a minha missão. Estou certo que não desiludi Vossas Excelências. A minha gratidão. Gostaria de ter terminado o meu mandato. Porém devo confessá-lo a apostar num mandato completo deveria ter feito um outro percurso profissional, que me permitisse concorrer com êxito às eleições de 2006. Opção minha. Uma palavra também especial para o Presidente da Comissão Permanente de Negócios Estrangeiros da Assembleia da República, o deputado Alberto Martins, que exerceu no anterior Governo as funções de Ministro da Justiça. O Dr. Alberto Martins compreendeu a importância desta jurisdição, tentando sempre resolver ou minorar os problemas que nos afligiam. O meu muito obrigado. Uma palavra também para os juízes da jurisdição. Que em condições adversas (poucos juízes e poucos funcionários) trabalharam em geral muito e abnegadamente. São credores de uma palavra de reconhecimento. Uma palavra final para os funcionários deste Supremo Tribunal. 1

Tenho do mundo do trabalho uma visão peculiar, provinda dos tempos em que também eu trabalhei numa grande empresa privada. Encontrei aqui situações que não correspondiam ao meu paradigma funcional. Sem contemplações nem hesitações, implementei as minhas ideias. Estou certo que o vosso juízo a meu respeito é amplamente favorável. E, independentemente de empatias pessoais que naturalmente existem, nunca permiti qualquer discriminação. Sem embargo das relações hierárquicas que existem e sempre devem existir. Senhor Presidente do Supremo Tribunal Administrativo, Juiz Conselheiro Dr. António Calhau: Saúdo calorosamente Vossa Excelência pela sua eleição. É Vossa Excelência credor de todos os encómios e elogios. A sua ascensão fulgurante neste Supremo Tribunal corresponde necessariamente a um paradigma de alto mérito, reconhecido pelos seus pares. Devo confessar que a sua eleição foi para mim um dos momentos mais estimulantes e gratificantes da minha vida profissional. E até pessoal. Somos, senhor Presidente, amigos e companheiros de jornada. Juntos, fizemos parte de uma lista para o Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais, necessariamente vitoriosa e triunfante. Foi Vossa Excelência meu vice-presidente, numa eleição fulminante e massiva, que teve então o voto unânime de todos os colegas da Secção de Contencioso Tributário. Poucos meses depois aqui está Vossa Excelência alcandorado ao mais alto patamar desta magistratura. Que antevejo gloriosa e triunfante. Em mim encontrará Vossa Excelência alguém que, se necessário, lhe prestará apoio total. 2

Senhor Presidente: Debater-se-á Vossa Excelência com dois problemas de enorme magnitude: a autonomia ou independência desta magistratura e a arbitragem fiscal. Isto para além de problemas no funcionamento do Conselho Superior que, à míngua de um diploma orgânico, exige grande dose de esforço e de voluntarismo. A autonomia desta magistratura é um assunto recorrente. Recentemente, no Congresso dos Juízes, o senhor Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, defendeu de uma penada, a extinção, quer do Tribunal Constitucional, quer a extinção pura e simples dos tribunais administrativos e fiscais. Esqueceu-se, porém, de englobar aí o Tribunal de Contas. Explico: em Moçambique, por exemplo, o Tribunal de Contas constitui uma Secção do Tribunal Administrativo, que é o tribunal supremo da jurisdição. E a questão é simétrica à do Tribunal Constitucional. No tocante à extinção da jurisdição administrativa e fiscal, o senhor Presidente do Supremo Tribunal de Justiça está bem acompanhado. Na verdade o senhor Presidente da Associação Sindical dos Juízes anunciou também urbi et orbi que já tinha sido aprovado uma moção sindical que aponta para essa fusão, ao menos a nível dos Conselhos Superiores. Como eu o entendo. É que há que dize-lo a única maneira de o Sindicato aí entrar é através da respectiva fusão. É uma posição que tem defensores, se bem que gostaria especialmente de ver a Associação Sindical preocupada com os magnos problemas com que a classe se defronta, agora até com o esvaziamento do estatuto da jubilação, que está já na forja. Esperemos que o exemplar relacionamento da Associação com o poder político actual tenha algum reflexo benéfico para os juízes. 3

A ver vamos. Acresce dizer, em nota final, que a formação dos magistrados desta jurisdição é específica e autónoma dos juízes dos tribunais comuns. Mas se é verdade que no tocante ao tribunal constitucional a ideia está condenada ao malogro, por evidentes razões políticas e até por razões de direito comparado, no tocante à jurisdição administrativa e fiscal a situação é diversa. Lobbies poderosos movem-se nessa direcção. E se é verdade que esta é uma jurisdição com quase duzentos anos (e que as duas fusões historicamente comprovadas se saldaram num malogro total) tenho como pensável, no contexto actual, e com a correlação de forças existente, que a situação é hoje mais gravosa e preocupante. Tenho como assente que essa eventual fusão será um erro grave. Mas possível. É que o nosso mal não é só uma questão orçamental (e aí temos a troika para o demonstrar). É também uma crise moral e de valores. Falo com a independência e o à vontade próprio de quem nunca será afectado por essa eventual fusão. Mas seria bom que nos dissessem qual é o País onde a jurisdição administrativa e tributária, se autónoma, foi extinta. Reparem: Nem na Grécia onde existe igualmente uma jurisdição administrativa autónoma (Conselho de Estado). E quanto à arbitragem fiscal? Sou, como é sabido, um crítico confesso da arbitragem fiscal. São conhecidas as razões. Juiz do modelo clássico defendo como normal uma solução assente numa trilogia: tribunal, processo, juiz. Mais ainda na área dos impostos, a área pública por excelência. Demais que, como se sabe, na Europa civilizacionalmente evoluída, só em Portugal há arbitragem fiscal. 4

Estamos, é bom de ver, perante uma desjudicialização galopante da própria justiça. É que, entre um emaranhado de árbitros e mediadores, qualquer dia desaparece a figura do juiz. Mas a hora é de júbilo e de festa. Saudamos e felicitamos a eleição do Sr. Conselheiro António Calhau como Presidente do Supremo Tribunal Administrativo. E auguramos-lhe uma presidência de sucesso. São estes os meus votos. É esta a minha certeza. Disse. 5