ESTIMATIVA DA DEMANDA POR ENERGIA ELÉTRICA NAS INDÚSTRIAS DO BRASIL: UMA ANÁLISE DE SÉRIE TEMPORAL

Documentos relacionados
MODELOS DE REGRESSÃO E DECOMPOSIÇÃO PARA DESCREVER O CONSUMO RESIDENCIAL DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL ENTRE 1985 E 2013

XI Encontro de Iniciação à Docência

FATORES EXPLICATIVOS DO SALDO DA BALANÇA COMERCIAL DO BRASIL 1990 A 1997

UMA ANÁLISE ECONOMÉTRICA DO ICMS *

ECONOMETRIA. Prof. Patricia Maria Bortolon, D. Sc.

AULAS 14 E 15 Modelo de regressão simples

Capítulo 3. O Modelo de Regressão Linear Simples: Especificação e Estimação

Econometria - Lista 6

Introdução à Microeconomia. Elasticidades. Danilo Igliori

Gabarito da 1 a Lista de Exercícios de Econometria II

ECONOMETRIA I. I (11 valores)

5. ANÁLISE DE RESULTADOS

Modelagem do comportamento da variação do índice IBOVESPA através da metodologia de séries temporais

Carga Horária: 80 horas (correspondem a aulas e atividades extra-classe)

Previsão da inflação do indicador IGP-M através de um modelo ARIMA

AULA 01 Principais Conceitos em Econometria

4 Mecanismo gerador dos dados, quebras estruturais e cointegração

ANÁLISE ECONOMÉTRICA DO MERCADO DO TOMATE NO ESTADO DO CEARÁ:

Tabela 1 - Teste de Dickey-Fuller para série log-preço futuro. Teste ADF 0, ,61% Tabela 2 - Teste de Dickey-Fuller para série log-preço à vista

Econometria Semestre

ECONOMETRIA. Prof. Patricia Maria Bortolon, D. Sc.

Exercícios Selecionados de Econometria para Concursos Públicos

Para o presente estudo, foram obtidos os dados através das bases de dados Bloomberg e Ipeadata.

CURSO DE ANÁLISE DE SÉRIES TEMPORAIS MODELO ARIMA MATERIAL DE APOIO

EAE Fundamentos de Microeconomia

ELASTICIDADE E SUAS APLICAÇÕES

Identificando transformações estruturais da economia brasileira:

MICROECONOMIA

AULA 09 Regressão. Ernesto F. L. Amaral. 17 de setembro de 2012

AULA 30 16/06/2009 Econometria. Bibliografia:Introdução do livro: GUJARATI, D. Econometria Básica. São Paulo: Makron Books, 2000.

9 Correlação e Regressão. 9-1 Aspectos Gerais 9-2 Correlação 9-3 Regressão 9-4 Intervalos de Variação e Predição 9-5 Regressão Múltipla

Universidade Federal do Paraná (UFPR) - Endereço eletrônico:

Contabilometria. Aula 9 Regressão Linear Inferências e Grau de Ajustamento

LISTA DE EXERCÍCIOS I. Faça os seguintes exercícios do Apêndice D do livro do Wooldridge:

AULA 11 Heteroscedasticidade

A Metodologia de Box & Jenkins

Prova de Estatística

Parte 1: Oferta, demanda e equilíbrio de mercado. Parte 2: Elasticidades. O conceito de utilidade marginal. Microeconomia - Prof. Marco A.

Dissecando o Método Comparativo Direto de Custo Utilizado na Engenharia de Custos - Aplicação para o Caso de Termelétricas

Elasticidade. Copyright 2004 South-Western

4 Base de dados, métricas estatísticas e metodologia

Econometria - Lista 5

Análise da Regressão. Prof. Dr. Alberto Franke (48)

Microeconomia. UNIDADE 1 Aula 3.1

Análise da série temporal do desemprego em regiões metropolitanas do Brasil

Economia. Sumário. Prof.Carlos NEMER 1. Conceito. Elasticidade da Demanda e da Oferta

Elasticidade e Suas Aplicações

INSS Economia Macroeconomia Keynesiana Fábio Lobo

ECONOMIA MICRO E MACRO

MICROECONOMIA PA R T E I I. Demanda Individual e de Mercado Slutsky (Efeito Renda e Substituição) Escolha Intertemporal Elasticidades Incerteza

Estimação parâmetros e teste de hipóteses. Prof. Dr. Alberto Franke (48)

Demanda de carne suína pelas famílias dos acadêmicos da UEMS - Ponta Porã/MS

Macroeconomia. 5. O Mercado de Bens e Serviços. Francisco Lima. 2º ano 1º semestre 2013/2014 Licenciatura em Engenharia e Gestão Industrial

PROJEÇÃO DA TAXA R$/US$ NO MÉDIO PRAZO

MICROECONOMIA AULA 02 Prof. Jorge Junior

Análise Prospectiva do Consumo de um Produto

OBJETIVOS DOS CAPÍTULOS

4 Resultados. 4.1 Resultados das Regressões Estruturais

PRO 2208 Introdução a Economia. Aula 4 - Elasticidade. Prof. Dr. Regina Meyer Branski

BOLETIM: Julho/2016 Produtividade no Contexto Mundial PESQUISA DE PRODUTIVIDADE

Impactos da mudança estrutural da economia brasileira sobre o seu crescimento

AULAS 25 E 26 Heteroscedasticidade

A importância da educação para o corretor de seguros Francisco Galiza Mestre em Economia (FGV)

Regressão múltipla: problemas adicionais. Unidades de medida. Unidades de medida. Unidades de medida salário em dólares (*1000) Unidades de medida

Análise de previsão da inflação no período pós-plano Real

Introdução à Microeconomia

Demanda Individual e Demanda de Mercado

Mais de 12 mil séries de tempo relativas às economias brasileira e mundial, selecionadas por sua relevância e que podem ser acessadas de forma

Microeconomia. UNIDADE 1 Aula 2.2

Capítulo 5 Elasticidade e sua Aplicação

CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Examinemos as duas curvas de demanda dispostas abaixo. Qual a diferença entre uma e outra?

Resolução da Prova de Matemática Financeira e Estatística do ISS Teresina, aplicada em 28/08/2016.

Elasticidade e Análise Marginal

Aula 9 23/09/ Microeconomia. Demanda Individual e Demanda de

II. O mesmo investigador efetuou um conjunto de testes sobre a informação do Prazo Médio de Pagamentos cujos resultados são apresentados no Anexo I.

Perspectivas para o Saldo da Balança Comercial

R-quadrado para comparar modelos em nível e modelos. Gretl SÉRIE DE NOTAS TÉCNICAS EM ECONOMIA DA UFG NT N. 06. NOTA TÉCNICA EM ECONOMIA n.

Estatística Aplicada ao Serviço Social

EMENTÁRIO. Princípios de Conservação de Alimentos 6(4-2) I e II. MBI130 e TAL472*.

2 Conteúdo Informacional da Estrutura a Termo da Taxa de Juros no Brasil

TD DE GEOGRAFIA UECEvest ENEM 22/02/2014 PROF. TIAGO FERNANDO

Elasticidade e Suas Aplicações

Macroeconomia. 5. O Mercado de Bens e Serviços. Francisco Lima. 2º ano 1º semestre 2012/2013 Licenciatura em Engenharia e Gestão Industrial

M l u t l i t c i oli l n i e n arid i a d de

NÍVEL DE ATIVIDADE, INFLAÇÃO E POLÍTICA MONETÁRIA A evolução dos principais indicadores econômicos do Brasil em 2007

Modelos de Regressão Linear Simples - Análise de Resíduos

TEORIA ECONÔMICA I. Princípios de Microeconomia

(ii) Acrescente lucros ao modelo da parte (i). Por que essa variável não pode ser

REGRESSÃO E CORRELAÇÃO

A Dinâmica da Oferta e Demanda de Energia Elétrica no Brasil em

REGRESSÃO LINEAR Parte I. Flávia F. Feitosa

Demanda Brasileira de Importação de Borracha Natural,

MODELO APLICADO À PREVISÃO DA DEMANDA DE ENERGIA ELÉTRICA DO CAMPUS I DO CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS (CEFET-MG).

4 Modelos de Regressão Dinâmica

UC: Economia da Empresa

PLANO DE ENSINO EMENTA

URBANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO HUMANO NOS MUNICÍPIOS DO PARANÁ

CORRELAÇÃO. Flávia F. Feitosa

Estatística - Análise de Regressão Linear Simples. Professor José Alberto - (11) sosestatistica.com.br

Transcrição:

ESTIMATIVA DA DEMANDA POR ENERGIA ELÉTRICA NAS INDÚSTRIAS DO BRASIL: UMA ANÁLISE DE SÉRIE TEMPORAL Renato Alves de Oliveira (Univesidade Estadual de Ponta Grossa) natoliveiralves@hotmail.com Eduarda Machoski (Universidade Estadual de Londrina) eduarda_machoski@hotmail.com RESUMO O presente trabalho estima a demanda por energia elétrica das indústrias do país em função da tarifa cobrada pela mesma, para o período de 1994 a 2010. Para isto, dados do IPEADATA foram coletados e o software Gretl foi utilizado para estimar a equação da demanda na forma linear - por energia elétrica. Neste trabalho, a demanda por energia elétrica pelas indústrias é estimada apenas em função da tarifa, ou seja, todas as outras variáveis que possivelmente explicam a demanda pelo serviço são abrangidas pelo termo de erro. Os resultados obtidos mostraram que existe uma relação inversa entre a demanda por energia elétrica e a tarifa cobrada pelo serviço. Observou-se, também, que no período estudado a demanda por energia elétrica foi inelástica em relação à tarifa cobrada pelo serviço. Palavras-chave: indústria, tarifa, demanda. DEMAND ESTIMATE FOR ELECTRICITY IN INDUSTRY OF BRAZIL: AN ANALYSIS OF TIME SERIES ABSTRACT This paper estimates the demand for electricity of the country's industries depending on the rate charged by the electricity, for the period 1994 to 2010. For this, IPEADATA data were collected and Gretl software was used to estimate the demand equation - in linear form - by electricity. In this work, the demand for electricity by industries is estimated only on the basis of price, that is, all the other variables that possibly explain the demand for the service are covered by the error term. The results showed that there is an inverse relationship between the demand for electricity and the price charged for the service. It was noted also that in the period studied demand for electricity was inelastic with respect to the rate charged for the service. Keywords: industry, price, demand. 1 Introdução Na Inglaterra, o século XVIII é marcado pelo período que ficou conhecido na literatura como Revolução Industrial. Neste, um conjunto de mudanças tecnológicas acarretou na mecanização do processo produtivo que deixava de ser um processo artesanal, tal como ocorrido durante a Idade Média. Com a mecanização foi possível aumentar as quantidades produzidas devido à diminuição do tempo gasto nessa produção. A máquina a vapor e os grandes teares são os principais símbolos da transformação do processo de produção.

As novas tecnologias utilizadas no sistema de produção proporcionaram grandes transformações em diversos países, principalmente nos quais puderam utilizar mais amplamente de tais processos tecnológicos. O capitalismo é o sistema econômico predominante nas sociedades industrializadas que visam, principalmente, a obtenção de lucros cada vez maiores. No Brasil, muitos pesquisadores consideram que o surto industrial ocorreu durante a Primeira Guerra Mundial. Porém, a industrialização ainda apresenta efeitos positivos sobre a economia e o desenvolvimento do país. A indústria é considerada motor para o desenvolvimento das economias por diversos autores. Isto deriva do fato de países industrializados possuírem melhores indicadores de desenvolvimento econômico tais como maior grau de escolaridade, maior expectativa de vida, menor índice de mortalidade infantil, entre outros. Além disso, economias mais desenvolvidas possuem maiores vantagens no comércio internacional, uma vez que tendem a comercializar produtos com maior valor agregado. Porém, industrializar-se não é uma missão fácil. Ainda hoje muitos países se encontram em situação de subdesenvolvimento e miséria. Utilizando a ótica voltada para a tomada de decisão da indústria, fatores diversos devem ser analisados, tais como a qualidade da mão de obra presente no local, o acesso aos meios produtivos, a melhor maneira de evacuar a produção (como a qualidade da estrada, os impostos e os incentivos fiscais, e a energia elétrica presente em tal região), entre tantos outros. No que se refere à energia elétrica, esta pode ser obtida a partir de outros tipos de energia. No Brasil, as princiais fontes são as energias hidríca, térmica e eólica. É captada e transportada, chegando aos consumidores por meio de sistemas elétricos complexos compostos de quatro etapas: geração, transmissão, distribuição e consumo. (ABRADEE, 2015). A energia foi e ainda é um importante insumo para a o desenvolvimento das sociedades e das economias. No entanto, esta relação de dependência, sociedade-energia, traz grandes preocupações quanto ao futuro da humanidade. O modelo de desenvolvimento atual das economias implica necessariamente em grande e progressivo consumo de energia. Neste sentido, o presente trabalho objetiva estimar e analisar a demanda por energia elétrica do setor industrial brasileiro, a fim de identificar/mensurar a sua relação com a tarifa cobrada pelo serviço. Espera-se que o mesmo possa contribuir para estudos futuros, uma vez que fornecerá informações sobre o principal determinante do consumo elétrico das indústrias do país. 2 A importância da indústria e o crescimento econômico no Brasil A industrialização tem como principal interesse a maximização de lucros. Esta maximização é alcançada pela substituição do modo de produção, ou seja: a mecanização dos processos de produção. Em tal substituição, é possível aumentar o nível de produção com uma redução no tempo e no dinheiro gasto. Com a ajuda da tecnologia disponível, a industrialização torna possível a produção em série e em grande escala. Segundo alguns autores, o setor industrial tende a ser o lócus do desenvolvimento econômico. Kaldor (1963) confirma isso ao apresentar suas leis que apontam a indústria como motor do crescimento econômico. Segundo ele, isso acontece pelo fato de o setor industrial apresentar retornos crescentes de escala, o que não se verifica nos demais setores. Na Primeira lei de Kaldor, o autor defende a existência de uma forte relação entre a taxa de crescimento da produção na indústria de transformação e a taxa de crescimento do PIB. Na segunda lei, uma forte e positiva relação entre a taxa de crescimento da produtividade na

indústria de transformação e o crescimento da produção nessa indústria é defendida. Por fim, a terceira lei de Kaldor destaca que quanto maior o crescimento da produção na indústria de transformação, maior é a taxa de transferência de trabalhadores dos demais setores para o industrial. Assim, a produtividade total é positivamente relacionada com o crescimento da produção e do emprego na indústria de transformação e negativamente associada com o crescimento do emprego nos demais setores (THIRLWALL, 1983, p. 347-354). No Brasil, a industrialização sempre foi considerada como um dos principais fenômenos necessários ao crescimento econômico do país. De fato, estudos econômicos como os de Kaldor (1963) tornam difícil negar a importância do setor industrial para o crescimento econômico. Segundo Nakabashi, Scatolin e Cruz (2006), a Primeira Guerra Mundial foi o primeiro período em que a industrialização ocorreu de fato no país e isto aconteceu principalmente em função da política de substituição de importações. Com a crise de 1929 e com o empenho do Governo Vargas em aprofundar o processo de industrialização no país, novos movimentos de indústrias surgiram, além do fortalecimento das indústrias aqui já instaladas. Na década de 1950, o país passou por um processo muito mais intenso de industrialização via substituição de importações, que resultou em um processo de grande transformação estrutural na economia brasileira (LORENZO-FERNÁNDEZ, 1980). O setor de bens de consumo duráveis foi o mais dinâmico da economia brasileira na década de 1950 (NAKABASHI, SCATOLIN e CRUZ, 2006). As intensas transformações ocorridas com Segunda Guerra Mundial e a intensificação do intercâmbio e das comunicações são consideradas como os principais fatores que fizeram com que a demanda interna por bens de consumo durável aumentasse. Assim sendo, conforme Brum (1985), a instalação de indústrias desse setor no Brasil tornou-se viável, uma vez que existia uma demanda interna significativa para ser atendida. Após um período breve de desaceleração da economia brasileira, o país passou pelo maior crescimento de sua história, denominado Milagre Econômico. Até o final da década de 1970, o setor industrial brasileiro passou por uma fase de elevadas taxas de crescimento. Nos anos de 1980, porém, esse ritmo não foi observado e o desempenho do setor industrial e da economia brasileira como um todo, ficou muito aquém do esperado (NAKABASHI, SCATOLIN e CRUZ, 2006). Nesta época, houve a preocupação de muitos estudiosos brasileiros, uma vez que a indústria no Brasil passava por uma intensa fase de desindustrialização. Com a estabilização da política monetária pós-1994, a economia brasileira voltou a crescer. Desde então, o país oferece um ambiente extremamente favorável à instalação e ampliação de indústrias. 3 Referencial teórico A curva de demanda tem sido amplamente utilizada em Economia Aplicada, visto que relaciona as diferentes quantidades de um bem que os consumidores adquirirão aos vários preços alternativos possíveis em um dado período de tempo (MAGALHÃES, 2005). A teoria da demanda atende a dois objetivos importantes: fornece o entendimento necessário para lidar com a demandade maneira eficaz e contribui para a previsão de vendas e a parcela da receita do fluxo de caixa da empresa (MCGUIGAN; MOYER; HARRIS, 2010). Ainda Magalhães (2005) aborda que a Lei da Demanda pode ser enuciada como a quantidade que se deseja comprar, por unidade de tempo, quanto menor for o preço, ceteris paribus, ou seja, tudo mais permanecendo constante. Em geral (bens normais), quando o

preço de um bem aumenta, sua demanda diminui (VARIAN, 2006). Desse modo, o preço (p) e a quantidade demandada (x) de um bem irão se mover em direções opostas, o que siginifca que a curva de demanda apresentará uma inclinação negativa. Em termos de taxas de variações, isto pode ser expresso por < 0. De acordo com a Teoria do Consumidor, a elasticidade-preço mede a variação da quantidade demandada de um produto ou serviço diante da variação do preço do mesmo. Ou seja, a elasticidade-preço da demanda informa qual a variação percentual na quantidade demandada de bem, após o aumento de 1% no preço deste bem, ceteris paribus (PINDYCK; RUBINFELD, 2010). Diante disso, o papel da elasticidade é responder a seguinte questão: quão sensível é a mudança na quantidade demandada por consequencia da variação do preço? 4 Metodologia 4.1 Material Os dados coletados para estimar a equação da demanda das indústrias por energia elétrica em função da tarifa desta foram coletados do site IPEADATA, tendo como variável dependente o consumo de energia elétrica da indústria por quantidade (GWh), e como variável independente a tarifa média da energia elétrica consumida pelas indústrias (MWh). Ambas as proxys foram coletadas para o período de 1994 a 2010. Destaca-se, porém, que para a proxy tarifa média por MWh, os dados foram deflacionados pelo IGP/DI, sendo o índice o ano de 2010. Uma vez coletados os dados utilizou-se o software Gretl para a estimação da demanda. 4.2 Método O método adotado neste trabalho é o de séries temporais, tendo como base a econometria. Para este caso particular, o modelo de Mínimos Quadrados Ordinários-MQO apresenta a seguinte forma: = + + (1) onde C i é consumo de energia elétrica da indústria em GWh, T i é a tarifa média da energia elétrica em MWh, α é coeficiente linear, β é coeficiente angular (também expressa a derivada da função de demanda por energia) e u i é o termo de erro (parte não explicada pelo modelo). Antes de se iniciar a estimação, um passo importante a ser feito é a testar a estacionariedade dos dados contidos no modelo. Para isso, o teste de Dickey-Fuller aumentado foi realizado. Para este teste, espera-se que os valores obtidos p-valor sejam menores que 5% - resultado que significa que os dados são estacionários. Segundo Rossi e Neves (2014), um dos problemas clássicos no processo de modelagem é a eliminação das séries não estacionárias quando estas são identificadas. Dessa maneira, deseja-se obter um filtro tal que sua saída elimine a não-estacionariedade (presença de raiz unitária) das variáveis, mantendo-se as demais características da série observada. Os resultados obtidos demonstraram que as variáveis não são estacionárias (Anexo A). Assim sendo, decidiu-se por aplicar a propriedade de Primeira Diferença para as duas variáveis, a fim de se obter dados estacionários. Conseguiu-se para a variável de consumo de energia elétrica um p-valor menor que 5%. Porém, para a tarifa o resultado obtido ainda foi maior que 5%. Dessa forma, aplicou-se novamente a propriedade das diferenças, obtendo a segunda diferença da variável tarifa (Anexo B). Os operadores de primeira e segunda diferença segundo Gujarati (2006) são dados por: a) Primeira diferença para variável consumo de energia:

= = (2) b) Segunda diferença para variável tarifa de energia: = = (3) A partir da série estacionária, o modelo de MQO estimado foi dado pela seguinte expressão: = + + (4) onde λ 1 e λ 2 são os parâmetros estimados do modelo e e é o resíduo (termo de erro) da regressão. Após obter a estacionariedade dos dados, através do processo descrito sobre a equação (4), fez-se outro passo importante. A distribuição dos resíduos foi verificada e observou-se, por sua vez, que os mesmos apresentaram normalidade (Anexo C). Seguindo, realizou-se o teste Reset de Ramsey para verificar se o presente modelo encontravase especificado corretamente. Resultados de p-valor maiores que 5% representam uma especificação correta do modelo, tal como encontrado pelo trabalho (Anexo D). Para verificar se a regressão apresenta heterocedasticidade (se as variâncias não são as mesmas para todas as observações), utilizou-se o teste White, o qual ajuda a superar o problema de extração de inferências incorretas das estimativas quando o mesmo existe. Após realizar o teste, deve-se analisar se o p-valor apresentado (que deve ser superior a 5% para que não haja problema). Assim sendo, não foi detectado problema de heterocedasticidade no modelo (Anexo E). É importante destacar que, para a interpretação do modelo, faz-se necessário introduzir o conceito de elasticidade-preço ou tarifa da demanda por energia elétrica, bem como a sua forma de obtenção. Na equação da demanda, a elasticidade-tarifa (Ɛ t ) não é obtida diretamente. Assim, optou-se por aplicar a equação (5) para a obtenção da mesma: = (5) onde C/ T é a derivada parcial de primeira ordem da função de demanda por energia elétrica das indústrias. Neste caso, a elasticidade-preço foi calculada no arco, ou seja, no intervalo entre primeira e última observação na equação estimada em diferença. De forma simplificada, se o valor (em módulo) de ε t alcançar valor superior a uma unidade, poder-se-á concluir que a demanda por energia elétrica das indústrias é elástica. De modo análogo, quando o valor da Ɛt situar-se no intervalo entre 0 e 1, ter-se-á que a demanda por energia é inelástica. Por fim, o modelo descrito em (4) foi rodado no software. É importante ressaltar que, para a presente estimação, espera-se obter um coeficiente negativo na tarifa média da energia elétrica. Ou seja, espera-se que a influência da tarifa da energia elétrica sobre a demanda industrial da mesma seja negativa, mantendo-se as demais variáveis constantes. 5 Análise de resultados Esta seção apresenta os resultados obtidos pela pesquisa. Primeiramente, apresenta-se um breve panorama do consumo de energia elétrica industrial e da tarifa média cobrada pela energia no país, para o período de estudo. Por fim, os resultados obtidos a partir da estimação são apresentados e analisados. 5.1 O consumo de energia pela indústria brasileira nos anos recentes

A Figura 1 apresenta o consumo de energia elétrica pela indústria no Brasil, para o período de 1995 a 2014. Pela análise da mesma, percebe-se que houve um crescimento do consumo elétrico das indústrias durante o período. De fato, o crescimento linear ocorrido no período é de aproximadamente 70% (passando de 107GWh em 1990 para mais de 179GWh em 2010). Também é possível verificar que de 2008 para 2009 houve uma drástica queda no consumo de energia pela indústria em relação ao ano anterior obtendo uma variação de -7,98%, devido à crise econômica, o que acarreta em menor produção industrial e, consequentemente, menos consumo de energia elétrica pelas indústrias. GWh 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Fonte: IPEADATA, dados trabalhados pela pesquisa. Figura 1- Consumo de energia elétrica (GWh) pela indústria no Brasil - 1994 e 2010. Seguindo, a Figura 2 apresenta a tarifa média cobrada pela energia elétrica industrial, para o período de 1995 a 2014. O comportamento observado também é de crescimento e bastante semelhante ao observado para o consumo. Porém, as magnitudes observadas são significativamente distintas. Neste caso, a tarifa média apresentou uma elevação de aproximadamente 30% durante o período de análise (de R$211,00 em 1994 para mais de R$270,00 em 2010). Além disso, também pode-se perceber uma queda no ano de 2008. R$ 350 300 250 200 150 100 50 0 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Fonte: IPEADATA, dados trabalhados pela pesquisa. Figura 2 Tarifa média por MWh industrial R$ - IGP/DI - 1994 a 2010. A simples análise das variáveis utilizadas torna possível perceber que o comportamento de ambas é muito parecido, o que pode induzir no pensamento de que há uma relação entre as duas. Porém, para tal conclusão, é preciso uma estimação correta e é neste sentido que se apresenta a próxima seção.

5.2 Estimação do consumo de energia elétrica industrial em função da tarifa cobrada Após a realização de todos os testes econométricos necessários para a verificação de eventuais problemas existentes, verificou-se que o único problema encontrado estava relacionado à não estacionariedade (a média e a variância não são constantes) das variáveis. Porém, ao se aplicar as propriedades de primeira diferença (aplicada à variável consumo) e segunda diferença (aplicada à variável tarifa), tal problema foi resolvido. Assim sendo, o MQO (Modelo de Mínimos Quadrados Ordinários) foi rodado. Os resultados obtidos são apresentados na Tabela 1. Variável dependente: d.consumo de energia eletrica industrial Coeficiente Erro Padrão razão-t p-valor const 5180,5 1795,34 2,8855 0,01276 ** dd.tarifa media por MWh -240,234 78,6505-3,0544 0,00922 *** Média var. dependente 4794,267 D.P. var. dependente 8759,681 Soma resíd. quadrados 6,25E+08 E.P. da regressão 6936,038 R-quadrado 0,417814 R-quadrado ajustado 0,373031 F(1, 13) 9,329639 P-valor(F) 0,009221 Log da verossimilhança -152,8781 Critério de Akaike 309,7562 Critério de Schwarz 311,1723 Critério Hannan-Quinn 309,7411 rô -0,134019 Durbin-Watson 2,011993 Fonte: Dados do IPEADATA, trabalhados pela pesquisa. Tabela 1- Resultado do MQO obtido no Gretl para o consumo de energia elétrica das indústrias (GWh) em função da tarifa cobrada pelo serviço (MWh). **Significativo a 5% ***Significativo a 1% A equação obtida após rodar o método de MQO, a partir do modelo da equação (4), foi a seguinte: = 5.180,5 240,23 (6) A constante apresentada foi significativa a um nível de significância de 5% e a tarifa média cobrada foi significativa a um nível se significância de 1%. Analisando-se o coeficiente de determinação entre a variável dependente e explicativa (r-quadrado), pode-se perceber que o resultado obtido foi igual a 0,41714. É possível concluir, então, que 41,17% da variação do consumo de energia elétrica das indústrias é explicada pela variação da tarifa média cobrada pelo serviço. Ou seja, os outros 58,83% de variações que ocorrem na demanda por energia elétrica são explicadas pelo erro. Neste caso, portanto, aproximadamente 59% da variação da demanda é explicada por variáveis que não estão contidas no modelo. Dando continuidade, rejeitou-se a hipótese nula ao analisar a estatística F - estatística esta que analisa se as variáveis independentes (ou seja, os βs) exercem influência sobre a variável depende. É importante notar que, para esse teste, esperava-se rejeitar a hipótese nula (Ho: β=0) e aceitar a hipótese alternativa (H1: β 0), resultado que demonstra que ao menos uma variável independente exerce efeito sobre a variável explicativa. Neste presente caso, ao rejeitar-se Ho, assume-se que a tarifa média de energia elétrica exerce efeito sobre o consumo de energia elétrica pelas indústrias. E, de fato, isso também foi comprovado ao analisar o R², como feito anteriormente. Além disso, a partir da Equação (6) pode-se perceber que esse efeito é negativo. Ou seja, a partir destas análises feitas e observando o coeficiente de β s na Equação (6), podese concluir que o aumento de R$1,00 no preço da tarifa, em relação ao ano anterior, de

energia elétrica diminui o consumo da mesma por parte das indústrias em aproximadamente 240GWh. No que se refere à elasticidade-preço da demanda industrial por energia elétrica, calculada a partir da Equação (5) sobre a equação (6), o resultado obtido, em módulo, foi igual a 0,8689%. Esse resultado demonstra uma demanda inelástica do consumo de energia elétrica. A classificação inelástica para o consumo de energia pela indústria também foi observada por Schmidt e Lima (2004) como valor aproximado de -0,545%. De forma mais detalhada, o resultado demonstra que a variação de 10% na diferença do preço da tarifa média de energia elétrica em relação ao ano anterior, diminui em 8,689% o consumo de energia elétrica pelas indústrias, ceteris paribus. 6 Considerações finais O presente trabalho tinha por objetivo estimar e analisar a demanda por energia elétrica da indústria brasileira, entre os anos de 1994 e 2010, sendo que a finalidade do mesmo era se identificar se demanda esta possui relação com a tarifa cobrada pelo serviço. Assim sendo, optou-se por utilizar software Gretl para determinar a equação da demanda, em sua forma linear simples. Após a realização de determinados testes estatísticos para verificar possíveis erros - e também corrigi-los, caso esses existissem - rodou-se o modelo de MQO (Mínimos Quadrados Ordinários). Pode-se concluir que há uma relação inversa entre as duas variáveis, ou seja, com um aumento de R$1,00 no preço da tarifa cobrada, em segunda diferença, há uma queda na demanda do setor industrial de aproximadamente 240GWh, em relação ao ano anterior. Além disso, ao se observar o R², foi possível constatar que 41,17% da variação do consumo de energia elétrica do setor industrial brasileiro é explicada pela variação da tarifa média cobrada pelo serviço prestado. A demanda por energia elétrica das indústrias, no período de 1994 a 2010, foi considerada inelástica à tarifa, demonstrando que as variações nas quantidades demandadas reagem menos que proporcionalmente às variações da tarifa cobrada pela energia. O resultado obtido mostrou que as quantidades demandadas por energia diminuem 0,8689% em relação ao ano anterior sobre ao aumento de 1% na tarifa em segunda diferença, permanecendo os demais fatores constantes. Pode-se constatar, então, que a tarifa de energia elétrica causa efeito menos que proporcional na demanda do setor industrial. 7 Referências Associação brasileira de distribuidores de energia elétrica - ABRADEE. <http://www.abradee.com.br>. Acesso em maio de 2015. BRUM, Argemiro Luis. O desenvolvimento econômico brasileiro. Rio Grande do Sul: Editora Vozes, 6ª edição, 1985. Companhia Energética de Minas Gerais - CEMIG. Alternativas Energéticas: uma visão Cemig. Belo Horizonte, 2012. GUJARATI, Damodar N. Econometria básica. São Paulo: Makron Books, 2006. KALDOR, Nicholas. The case for regional policies. In: TARGETTI, F.; ROSSI, J. W.; NEVES, C. Econometria e séries Temporais: com aplicações a dados da Economia Brasileira. LTC. Rio de Janeiro, 2014. LORENZO-FERNÁNDEZ, Oscar Soto. A evolução da Economia Brasileira. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 2ª edição, 1980.

NAKABASHI, Luciano.; SCATOLIN, Fábio Dória.; CRUZ, Márcio José Vargas da. Nível De Atividade E Inflação Monetária: Investimento, Indústria e Crescimento Econômico Brasileiro. Economia e Tecnologia, ano 2, vol. 7, out/dez de 2006. PINDYCK, Robert S.; RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. Tradução de Eleutério Prado e Thelma Guimarães.7.ed. São Paulo: Prentice Hall, 2010 SCHMIDT, CRISTIANE ALKMIN JUNQUEIRA ; LIMA, MARCOS A. M.. A demanda por energia elétrica no Brasil. Revista Brasileira de Economia (Impresso), v. 58, p. 68-98, 2004. THIRLWALL, Anthony Philip. A Plain Man s Guide to Kaldor s Laws. Journal of Post Keynesian Economics, vol. 5, no 3, 1983. VARIAN, Hal R. Microeconomia: princípios básicos. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. Anexos Anexo A - Resultados do teste de Dickey-Duller Teste de Dickey-Fuller para Consumo de energia elétrica industrial dimensão de amostragem 16 hipótese nula de raiz unitária: a = 1 teste com constante modelo: (1-L)y = b0 + (a-1)*y(-1) + e coeficiente de 1ª ordem para e: -0,310 valor estimado de (a - 1): -0,00520738 estatística de teste: tau_c(1) = -0,0519488 p-valor 0,9395 Teste de Dickey-Fuller para Tarifa média por MWh dimensão de amostragem 16 hipótese nula de raiz unitária: a = 1 teste com constante modelo: (1-L)y = b0 + (a-1)*y(-1) + e coeficiente de 1ª ordem para e: 0,267 valor estimado de (a - 1): -0,0677955 estatística de teste: tau_c(1) = -0,609474 p-valor 0,8425 Anexo B Resultados do teste Dickey-Fuller obtidos para as duas variáveis através dos métodos de primeira e segunda diferença Teste de Dickey-Fuller para d.consumo de energia elétrica industrial dimensão de amostragem 15 hipótese nula de raiz unitária: a = 1 teste com constante modelo: (1-L)y = b0 + (a-1)*y(-1) + e coeficiente de 1ª ordem para e: -0,076 valor estimado de (a - 1): -1,3166 estatística de teste: tau_c(1) = -4,53766 p-valor 0,003448 Teste de Dickey-Fuller para dd.tarifa média por MWh dimensão de amostragem 14 hipótese nula de raiz unitária: a = 1 teste com constante modelo: (1-L)y = b0 + (a-1)*y(-1) + e coeficiente de 1ª ordem para e: -0,067 valor estimado de (a - 1): -1,2836 estatística de teste: tau_c(1) = -5,0375 p-valor 0,001647 Anexo C Gráfico de distribuição de normalidade dos resíduos

Anexo D Resultados obtidos através do teste RESET Regressão auxiliar para o teste de especificação RESET MQO, usando as observações 1997-2011 (T = 15) Variável dependente: d_consumo energia_eletrica_ coeficiente erro padrão razão-t p-valor ---------------------------------------------------------------------- const 6332,32 3404,61 1,860 0,0898 * d_d_tarifa_media~ -272,054 153,968-1,767 0,1049 yhat^2-2,22958e-05 0,000111700-0,1996 0,8454 yhat^3 1,71645e-010 9,07554e-09 0,01891 0,9852 Estatística de teste: F = 0,094508, com p-valor = P(F(2,11) > 0,0945084) = 0,911 Anexo E Resultados obtidos através do teste White Teste de White para a heteroscedasticidade MQO, usando as observações 1997-2011 (T = 15) Variável dependente: uhat^2 coeficiente erro padrão razão-t p-valor ------------------------------------------------------------------------- const 2,99115e+07 1,19235e+07 2,509 0,0275 ** R-quadrado não-ajustado = 0,209577 d_d_tarifa_media~ -474659 471915-1,006 0,3344 sq_d_d_tarifa_me~ 24077,3 13689,3 1,759 0,1041 Estatística de teste: TR^2 = 3,143652, com p-valor = P(Qui-quadrado(2) > 3,143652) = 0,207666