O QUE SIGNIFICAM ESTES TERMOS?

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Transcrição:

O QUE SIGNIFICAM ESTES TERMOS? 1. ILUMINISMO: movimento intelectual do século XVIII centrado na racionalidade crítica e na ciência, que promoveriam o progresso da humanidade. 2. RACIONALISMO: modo de pensar que atribui valor à razão, ao pensamento lógico. 3. INUTILIA TRUNCAT : termo que significa corte das inutilidades, afastamento daquilo que é inútil. No Arcadismo, foi uma reação ao rebuscamento barroco. 4. LOCUS AMOENUS : lugar ameno, rural, pastoril, propício para se alcançar a paz no amor. 5. FUGERE URBEM : termo latino que significa fugir da cidade. 6. BUCOLISMO: termo utilizado para nomear tipo de poesia pastoral ou pastoril.

CASA NO CAMPO (Zé Rodrix e Tavito) Eu quero uma casa no campo Onde eu possa compor muitos rocks rurais E tenha somente a certeza Dos amigos do peito e nada mais Eu quero uma casa no campo Onde eu possa ficar no tamanho da paz E tenha somente a certeza Dos limites do corpo e nada mais Eu quero carneiros e cabras Pastando solenes em meu jardim Eu quero o silencio das línguas cansadas Eu quero a esperança de óculos E um filho de cuca legal Eu quero plantar e colher com a mão A pimenta e o sal Eu quero uma casa no campo Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapê Onde eu possa plantar meus amigos Meus discos e livros E nada mais A busca de simplicidade dos artistas árcades são evidentes nos versos. A definição de bucolismo pode ser exemplificada também pela imagem.

CASA NO CAMPO (Zé Rodrix e Tavito) Eu quero uma casa no campo Onde eu possa compor muitos rocks rurais E tenha somente a certeza Dos amigos do peito e nada mais Eu quero uma casa no campo Onde eu possa ficar no tamanho da paz E tenha somente a certeza Dos limites do corpo e nada mais Eu quero carneiros e cabras Pastando solenes em meu jardim Eu quero o silêncio das línguas cansadas Eu quero a esperança de óculos E um filho de cuca legal Eu quero plantar e colher com a mão A pimenta e o sal Eu quero uma casa no campo Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapê Onde eu possa plantar meus amigos Meus discos e livros E nada mais Todos os itens grifados demonstram os ideais árcades de inutilia truncat, fugere urbem, bucolismo, simplicidade.

. AULA 03 LIRA LXII Torno a ver-nos, ó montes; o destino Aqui me torna a pôr nestes outeiros, Onde um tempo os gabões deixei grosseiros Pelo traje da Corte rico e fino. Aqui estou entre Almendro, entre Corino, Os meus fiéis, meus doces companheiros, Vendo correr os míseros vaqueiros Atrás de seu cansado desatino. Se o bem desta choupana pode tanto. Que chega a ter mais preço, e mais valia, Que da Cidade o lisonjeiro encanto; Aqui descanse a louca fantasia; E o que até agora se tornava em pranto. Se converta em afetos de alegria. (Cláudio Manuel da Costa) O eu-lírico assume o papel de um pastor que confronta os valores da natureza com os da cidade grande. Para ele, a verdade está na natureza. Almendro e Corino são exemplo da adoção de nomes de pastores no Arcadismo.

O quadro de Fragonard sugere que o amor, a paz e, conseqüentemente, a felicidade estão no ambiente calmo e harmonioso do campo. Observe as expressões das crianças, o meiosorriso dos amantes, as roupas campesinas dos adultos.

A arquitetura neoclássica reflete a tendência da sociedade de imitação das construções greco-latinas, com suas formas sóbrias. Veja como o templo de Júpiter, na Grécia, foi imitado no Panthéon, em Paris. O Teatro Arthur Azevedo, no Maranhão, lembra os dois monumentos ao lado. Na arquitetura brasileira, também se podem perceber vestígios da arquitetura neoclássica: o Teatro da Paz, em Belém, é uma típica construção desse estilo.

O QUE SIGNIFICAM ESTES TERMOS? 1. ARCÁDIA: designação comum a sociedades literárias dos séculos XVII-XVIII que cultivavam o classicismo e cujos membros adotavam nomes de pastores na simbologia poética. 2. ENCICLOPEDISMO: o conjunto de conhecimentos de caráter enciclopédico; sistema ou orientação intelectual básica dos enciclopedistas do século XVIII; tendência que conduz ao acúmulo sistemático dos conhecimentos nos diversos ramos do saber. 3. CICLO-DO-OURO: exploração intensa dos recursos minerais (ouro e diamantes) da Colônia brasileira, pelos portugueses. 4. INCONFIDÊNCIA MINEIRA: Revolta em Minas Gerais, motivada pela execução da derrama, cobrança de impostos. Foi reprimida pelo governo português, em 1.789.

A Europa, no século XVIII, progredia tecnológica e cientificamente: lei da gravidade, classificação dos seres vivos, estudo das sensações pela psicologia fazem com que o ser humano se preocupe em registrar tais avanços, para que eles não se perdessem no tempo. A Enciclopédia foi pensada e produzida para ser uma síntese dos conhecimentos existentes e, ao mesmo tempo, um veículo de sua divulgação. (Francisco Falcon) Como o homem explorava sua capacidade de raciocínio e sua inteligência, nada mais óbvio do que a Antigüidade greco-romana e também o Renascimento voltassem às artes da época, incluindo-se aí, a literatura. As sociedades literárias do século XVIII adotam o termo arcádia, porque esse é o nome de uma região da Grécia onde pastores viveriam em harmonia com a natureza, dedicando-se à poesia e ao pastoreio. Daí vem a explicação para os pseudônimos dos escritores árcades e de suas musas inspiradoras. Cláudio Manuel da Costa adotou para si o nome de Glauceste Satúrnio e para sua amada o de Nise. Tomás Antônio Gonzaga se intitulava Dirceu e sua jovem paixão era chamada, poeticamente, de Marília, em suas composições líricas.

Lira III De amar, minha Marília, a formosura Não se podem livrar humanos peitos. Adoram os Heróis; e os mesmos brutos Aos grilhões de Cupido estão sujeitos. Quem, Marília, despreza uma beleza, A luz da razão precisa; E se tem discurso, pisa A lei, que lhe ditou a Natureza. Lira II Pintam, Marília, os Poetas A um menino vendado, Com uma aljava de setas, Arco empunhado na mão; Ligeiras asas nos ombros, O tenro corpo despido, E de Amor, ou de Cupido São os nomes, que lhe dão. Nas liras transcritas ao lado, observamos que o artista Tomás Antônio Gonzaga é um autêntico poeta árcade porque no poema percebe-se: 1. uso de pseudônimo para a musa inspiradora; 2. valorização da natureza; 3. descrição de ser mitológico (Cupido); 4. simplicidade; 5. versos brancos (sem rimas); 6. referência ao sentimento amoroso sem sentimentalismos; 7. objetividade nos elogios à pessoa amada.

Recreios campestres na companhia de Marília Olha, Marília, as flautas dos pastores Que bem que soam, como estão cadentes! Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes Os Zéfiros brincar por entre flores? Vê como ali beijando-se os Amores Incitam nossos ósculos ardentes! Ei-las de planta em planta as inocentes, As vagas borboletas de mil cores. Naquele arbusto o rouxinol suspira, Ora nas folgas a abelhinha pára, Ora nos ares sussurando gira: Que alegre campo! Que amanhã tão clara! Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira, Mais tristeza que a morte me causara. ( Bocage poeta português) Curiosamente, no poema lusitano, o eu-lírico também se dirige à amada tratando-a por Marília. Outras características árcades podem ser observadas: Bucolismo: Que alegre campo!

Recreios campestres na companhia de Marília Olha, Marília, as flautas dos pastores Que bem que soam, como estão cadentes! Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes Os Zéfiros brincar por entre flores? Vê como ali beijando-se os Amores Incitam nossos ósculos ardentes! Ei-las de planta em planta as inocentes, As vagas borboletas de mil cores. Naquele arbusto o rouxinol suspira, Ora nas folgas a abelhinha pára, Ora nos ares sussurrando gira: Que alegre campo! Que amanhã tão clara! Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira, Mais tristeza que a morte me causara. ( Bocage poeta português) Referência a pastores: Olha, Marília, as flautas dos pastores Locus Amoenus : As vagas borboletas de mil cores./olha o Tejo a sorrir-se! Presença de ser mitológico para nomear elemento da natureza: Zéfiros (vento) O eu-lírico condiciona a beleza de tudo à visão que ele tem de Marília. Sem ela, a voz poética não usufruiria de todas as delícias descritas.

Tomás Antônio Gonzaga é o autor das Cartas Chilenas, obra satírica que circulou em Vila Rica, hoje Ouro Preto. Sob o pseudônimo de Critilo, o poeta critica o governador de Minas Gerais na época. As Cartas são endereçadas a Doroteu,talvez o outro árcade Cláudio Manuel da Costa. Na obra, Gonzaga satiriza as pessoas, não o governo. Não cuides, Doroteu, que vou contar-te Por verdadeira história uma novela... Tem pesado semblante, a cor é baça, o corpo de estatura um tanto esbelta, feições compridas e olhadura feia; tem grossas sobrancelhas, testa curta, nariz direito e grande, fala pouco em rouco, baixo som de mau falsete; sem ser velho, já tem cabelo ruço, e cobre este defeito e fria calva à força de polvilho que lhe deita... Ainda me parece que o estou vendo no gordo rocinante escarranchado, as longas calças pelo embigo atadas, amarelo colete, e sobre tudo vestida uma vermelha e justa farda. O governador Cunha de Meneses é descrito como um ser bizarro. Talvez, até por isso, é chamado pelo eu-lírico de Fanfarrão Minésio.

A situação político-social do Brasil justifica a produção de poemas épicos e satíricos. Os autores árcades de renome são, predominantemente, de Minas Gerais, já que é nesse estado que estão as riquezas minerais desejadas por Portugal. Cecília Meireles, em 1.953, publica Romanceiro da Inconfidência, obra em que, liricamente, é recontada a trajetória dos revoltosos em Minas Gerais. Entre os poemas há o Romance XLIX ou DE CLÁUDIO MANUEL DA COSTA, cuja estrofe final é Entre esta porta e esta ponte Fica o mistério parado. Aqui, Glauceste Satúrnio,(1) Morto, ou vivo disfarçado, Deixou de existir no mundo, Em fábula arrebatado, Como árcade ultramarino (2) Em mil amores enleado. Os versos possuem marcas de intertextualidade: nome de pastor adotado pelo inconfidente(1) e a sociedade poética a que Cláudio Manuel pertencia(2). A estrofe conjectura como teria ocorrido a morte do poeta.

À D. BÁRBARA HELIODORA Bárbara bela, do Norte estrela, Que o meu destino sabes guiar, De ti ausente triste somente As horas passo a suspirar. Por entre as penhas de incultas brenhas Cansa-me a vista de te buscar; Porém não vejo mais que o desejo, Sem esperança de te encontrar. Eu bem queria a noite e o dia Sempre contigo poder passar; Mas orgulhosa sorte invejosa, Desta fortuna me quer privar. Tu, entre os braços, ternos abraços Da filha amada podes gozar; Priva-me a estrela de ti e dela, Busca dous modos de me matar! Alvarenga Peixoto Romance LXXVIII ou DE UM TAL ALVARENGA...e sua mulher tão bela, e sua mulher tão nobre, Bárbara que ele dizia a sua Estrela do Norte, nem lhe dirigia a vida nem o salvava da morte... Era ele o tal Alvarenga, que, apagada a glória antiga, rolava em chão de masmorra sua sorte perseguida. Fechou de saudade os olhos. Deu tudo o que tinha: a vida. As sextilhas transcritas de uma longo poema de C.Meireles também dialogam intertextualmente com os versos do árcade inconfidente. Ao final, o eu-lírico descreve como foi o fim da vida de Alvarenga Peixoto.

O ÍNDIO NO CENÁRIO DA LITERATURA ÁRCADE Há dois autores tipicamente árcades que prenunciam o que se consolidaria no Romantismo brasileiro: a figura do indígena como herói da terra do Brasil. Basílio da Gama escreveu O Uraguai, poema épico-narrativo das lutas dos povos das Missões, no Uruguai, contra o exército espanhol. Nos versos, percebe-se a adaptação do mito do bom selvagem, de Rousseau, ao cenário do país. Segue-se Caitutu, de régio sangue E de Lindóia irmão. Não muito fortes São os que ele conduz; mas são tão destros No exercício da frecha que arrebatam Ao verde papagaio o curvo bico, Voando pelo ar. Nem dos seus tiros O peixe prateado está seguro No fundo do ribeiro. Vinham logo Alegres guaranis de amável gesto. (Canto IV) O vocabulário, a fauna e a flora, a caracterização do indígena apontam para uma literatura que começava a despertar para a necessidade de tratar o Brasil como nação.

. AULA 03 ÁRCADE A RACIONALIDADE O CARAMURU DE FREI JOSÉ DE SANTA RITA DURÃO A epopéia a respeito do descobrimento da Bahia foi composta nos moldes tradicionais desse tipo de obra: proposição, invocação, oferecimento, narração, epílogo. Os versos são distribuídos em dez cantos, que têm como herói, Diogo Álvares Correia, o CARAMURU. O título dado a esse português, O FILHO DO TROVÃO, vem da esperta estratégia dele para se safar dos tupinambás por quem era perseguido: ele usa um tiro para dominar o inimigo que, por não conhecer a pólvora, imagina-o com poderes sobrenaturais. Caramuru recebe dos chefes indígenas a índia Paraguaçu e provoca a paixão de Moema. Quando o branco retorna à Europa, leva consigo Paraguaçu e vê que a apaixonada Moema tenta alcançá-lo nadando atrás de sua embarcação. CANTO I De um varão em mil casos agitados, Que as praias discorrendo do Ocidente, Descobriu recôncavo afamado Da capital brasílica potente; Do Filho do Trovão denominado, Que o peito domar soube à fera gente, O valor cantarei na adversa sorte, Pois só conheço herói quem nela é forte.

CANTO II Entre o sussurro ali das fontezinhas, Harmônica se escuta a voz sonora, Com que mil inocentes avezinhas Entoam a alvorada à fresca aurora; Muitas com vôos vão ao céu vizinhas, Outra segue o consorte, a quem namora, E mil doces requebros gorjeando, De raminho em raminho vai saltando. Percebem-se, no texto de Santa Rita Durão, vários ingredientes árcades, principalmente, a culto à vida natural, ao bucolismo. É importante ressaltar que alguns traços românticos podem ser percebidos: valorização da fauna e flora brasileiras, sentimentalismo amoroso e a caracterização do índio, grande personagem literário na escola artística advinda do Arcadismo. Em 1.932, Murilo Mendes recontou assim os feitos de Diogo Álvares: O ALVO DE CARAMURU...Eu atirei no que vi Eu acertei no que vi E também no que não vi: Apontei pra uma pomba E acertei em duas pombas: A linda Paraguaçu Vem arrulhando pra mim... As índias me acompanharam Até o meio do oceano, Agitam lenços de espuma. Foi nesse dia que Moema, O meu flirt mais puxado, bateu recorde de amor... Vejam que o modernista, de maneira irreverente e bem-humorada, menciona vários personagens da história do país.

RECAPITULANDO Contexto sócio-cultural do Arcadismo Ideais iluministas de mundo Enciclopedismo Século das Luzes Progresso científico Classificação dos seres vivos, lei da gravidade Equilíbrio entre razão e fé Resgate da cultura greco-romana Extração de riquezas minerais no Brasil Inconfidência Mineira Aparecimento do índio no cenário literário

RECAPITULANDO Algumas características formais e temáticas do Arcadismo 1. Referência a seres mitológicos 2. Poemas de forma fixa: soneto 3. Vocabulário fácil em comparação com o do Barroco 4. Uso das símiles e comparações 5. Verso branco 6. Presença do índio como elemento de composição do cenário brasileiro 7. Crítica a governantes e autoridades que estavam a serviço de Portugal 8. Objetividade 9. Expressão de sentimentos universais 10. Simplicidade 11. Preocupação com a realidade do Brasil

RECAPITULANDO Principais autores do Arcadismo brasileiro Cláudio Manuel da Costa Tomás Antônio Gonzaga Alvarenga Peixoto Basílio da Gama Frei José de Santa Rita Durão