COMERCIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO ANIMAL EM ASSENTAMENTOS DA REFORMA AGRÁRIA NO DISTRITO FEDERAL

Documentos relacionados
AGRICULTURA FAMILIAR E ESTRATÉGIAS DE REPRODUÇÃO SOCIAL

POLÍTICAS PÚBLICAS E ASPECTOS LEGAIS. Danilo Prudêncio Silva

PLANO SAFRA AMAZÔNIA

CARACTERIZAÇÃO DA REALIDADE SOCIOECONÔMICO DOS PRODUTORES RURAIS DO DISTRITO DE MONTE ALVERNE, MUNICÍPIO DE MIRADOURO- MG.

ASPECTOS DA IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA FAMILIAR NO ESTADO DO AMAPÁ

DESAFIOS E PERSPECTIVAS NA FORMAÇÃO DE TÉCNICOS AGRÍCOLAS COM OS PRINCÍPIOS AGROECOLÓGICOS: REFLEXÕES A PARTIR DA PESQUISA E EXTENSÃO

SOCIOLOGIA E EXTENSÃO RURAL

TRABALHO DE EXTENSÃO EM COMUNIDADE QUILOMBOLA: A AGROECOLOGIA COMO ELEMENTO FUNDAMENTAL DA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

Caminhos para uma socioeconomia sustentável em áreas rurais: uma análise agroecológica do Maciço de Baturité, Ceará

CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO DE FARINHA DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) UTILIZADOS POR AGRICULTORES FAMILIARES DE MOJU, PA

Agricultura Familiar e Desenvolvimento Sustentável

Territórios da Zona da Mata Sul e Norte da Paraíba e a promoção do desenvolvimento territorial sustentável: As Feiras Agroecológicas e da Agricultura

ANEXO IV - EDITAL Nº 001/ SEGES/IDATERRA/MS

A AGROECOLOGIA COMO FERRAMENTA PARA A REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

PRONAF - AGRICULTURA FAMILIAR ANO AGRÍCOLA 2015/2016

Agricultura familiar: dinâmica de grupo aplicada às organizações de produtores rurais

Agricultura familiar, orgânica e agroecológica. Semana do Meio Ambiente

Experiência da parceria Embrapa, Emater e Produtor Rural em inovações tecnológicas na produção animal no DF e Entorno

Agroindústria familiar: aspectos a serem considerados na sua implantação

Agricultura familiar e mercados: algumas reflexões

Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural. Secretaria de Agricultura

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL CONDRAF

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

PERFIL DOS PRODUTORES DE UMA FEIRA DE ALIMENTOS ORGÂNICOS EM MANAUS - AM

Experiência da parceria Embrapa-Emater- Produtor Rural nos sistema de produção de maracujá no DF e entorno

Programa Analítico de Disciplina FIT490 Agroecologia e Agricultura Orgânica

FRANGO DE CORTE CAIPIRA BENEFICIA PRODUTOR

ATER e SETOR PÚBLICO no BRASIL

ARRANJOS PÚBLICOS. Sistema Público de Agricultura. Novembro de 2012

COMERCIALIZAÇÃO E DESTINO DE FRUTAS E HORTALIÇAS APÓS AS FEIRAS AGROECOLÓGICAS DE MUNICIPIOS PARAIBANOS

SISTEMATIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES SOBRE ASSOCIATIVISMO NOS ASSENTAMENTOS DA REFORMA AGRÁRIA NO CENTRO-SUL TOCANTINENSE

SITUAÇÃO DAS PROPRIEDADES RURAIS DE CERRO CORÁ RN, COM BASE NOS DANOS CAUSADOS PELA SECA. Vicente de Andrade

Título: TANQUES COLETIVOS DE RESFRIAMENTO DE LEITE: IMPACTOS NA INSERÇÃO AO MERCADO E NO AUMENTO DA RENDA DA AGRICULTURA FAMILIAR EM UNAÍ MG.

EXTENSÃO RURAL: Diagnóstico e transferência de tecnologias para associações dos municípios de Inconfidentes e Bueno Brandão, MG

A produção agrícola orgânica na região da Grande Dourados/MS: uma possibilidade sócio-ambiental alternativa.

INOVAÇÃO TECNOLÓGICA DA CHÁCARA BEZERRA,

Rede de Pesquisa, Inovação, Tecnologia, Serviços e Desenvolvimento Sustentável. em Microbacias Hidrográficas

ALIMENTOS ORGÂNICOS E A INDÚSTRIA

PALAVRAS-CHAVE: Agroindustrialização Rural, Gestão, Beneficiamento de Frutas.

O COOPERATIVISMO E A REFORMA AGRÁRIA POPULAR

Agroecologia: Mudança de Paradigmas no Distrito Federal

A INFLUENCIA DA ASSISTÊNCIA TÉCNICA NA AGRICULTURA FAMILIAR: ENFOQUE NO ASSENTAMENTO MARINGÁ, ARAGUATINS-TO. Apresentação: Pôster

INCLUSÃO DIGITAL COMO ESTRATÉGIA DE MELHORIA DA PRODUÇÃO E PÓS-COLHEITA DE BANANA PARA JOVENS ASSENTADOS

Custos de Formalização e Valor Agregado em Sistemas

CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DA PRODUÇÃO LEITEIRA E DIAGNÓSTICO RURAL PARTICIPATIVO COM AGRICULTORES FAMILIARES DO MUNICÍPIO DE ITAPUCA-RS.

ANÁLISE SOBRE A AGROECOLOGIA NA VISÃO DE JOVENS DA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL OLIMPIA SOUTO.

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

Sistema Agroflorestal no Assentamento Poções

Agroecologia e economia solidária: a experiência da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares ITCP-UFV/MG

O III PLANO DIRETOR E A ZONA NORTE: A questão do rururbano na cidade de Pelotas-RS

VIABILIDADE ECONÔMICA DA CULTURA DA MAMONA NO MUNICÍPIO DE ITAETÊ, CHAPADA DIAMANTINA-BA

Análise econômico-financeira da produção de tomate e pimentão no Distrito Federal: um estudo de caso.

DIAGNÓSTICO E PERFIL DOS PRODUTORES RURAIS DA FEIRA AGROECOLÓGICA DO MUNICÍPIO DE BANANEIRAS PB. Apresentação: Pôster

PECUÁRIA FAMILIAR no Município de Bagé, RS

HISTÓRICO DE ATUAÇÃO E DEMANDAS TECNOLÓGICAS DO SETOR AGROPECUÁRIO DO DF

O Brasil Melhorou. 36 milhões. de brasileiros saíram da pobreza em 10 anos. 42 milhões. de brasileiros ascenderam de classe.

Sumário Prefácio 9 Apresentação e agradecimentos 11 PARTE I

RELATÓRIO DE ATIVIDADES DE EXTENSÃO REALIZADAS NO ANO DE

PLANO SAFRA 2007/2008 CONDIÇÕES DO CRÉDITO RURAL DO PRONAF GRUPO PÚBLICO MODALIDADE FINALIDADE CRÉDITO/TETO JUROS BÔNUS DE ADIMPLÊNCIA (2)

PRODUÇÃO E GERAÇÃO DE RENDA DE PRODUTOS ARTESANAIS NO. MUNICÍPIO DE PEREIRA BARRETO: um estudo de caso.

Agroecologia e tecnologia social um caminho para a sustentabilidade

SISTEMATIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES SOBRE ASSOCIATIVISMO NOS ASSENTAMENTOS DA REFORMA AGRÁRIA DO TERRITÓRIO DA CIDADANIA DO BICO DO PAPAGAIO

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Pecuária Sul Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Ovinos

TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA FEIRA DE AGRICULTORES ECOLOGISTAS (FAE) NO MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE, RIO GRANDE DO SUL: POTENCIALIDADES E LIMITAÇÕES

MUDANÇAS NO PRONAF. 1. Enquadramento no Pronaf. - assentados da Reforma Agrária e beneficiários do Crédito Fundiário que

16º CONEX - Encontro Conversando sobre Extensão na UEPG Resumo Expandido Modalidade B Apresentação de resultados de ações e/ou atividades

PRODUÇÃO AGRÍCOLA FAMILIAR SUAS RELAÇÕES

CAMPOS, Hebert 1 ; MELLO, Marcelo 1 ; SOUZA, Rômulo 1 ; COSTA, José Ronaldo 1 ; MARQUES, Francisco 1

BENEFICIAMENTO DE ALGODÃO ORGÂNICO NO AGRESTE PARAIBANO

5ª Jornada Científica e Tecnológica e 2º Simpósio de Pós-Graduação do IFSULDEMINAS 06 a 09 de novembro de 2013, Inconfidentes/MG

DESENVOLVIMENTO DE UMA NOVA ALTERNATIVA DE RENDA AOS PEQUENOS PRODUTORES RURAIS DA REGIÃO DE AQUIDAUANA

com ênfase em comunidades rurais

PLANO DE ERRADICAÇÃO DA EXTREMA POBREZA NO ÂMBITO DO DISTRITO FEDERAL

Projeto Balde Cheio --- Tecnologias que agregam valor à produção de leite. Pecuária Sudeste

DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL E AGRICULTURA FAMILIAR

CUSTO DE PRODUÇÃO DE MANDIOCA E DERIVADOS (FARINHA E POLVILHO), EM ÉPOCA SECA (MAIO A SETEMBRO), NA COMUNIDADE BOA ESPERANÇA, BURITIS MG.

Caracterização da produção de hortaliças no município de Bambuí MG

Delegacia Federal de Desenvolvimento Agrário - DFDA-ES. Políticas Estruturantes da SEAD: DAP, Crédito e ATER. Eng. Agrônomo Max Ribas

DESENVOLVIMENTO PARTICIPATIVO DA CADEIA PRODUTIVA SUSTENTÁVEL DE AVES NO ASSENTAMENTO RURAL IRACI SALETE

COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS DE ORIGEM AVÍCOLAS ORIUNDOS DE PRODUÇÃO FAMILIAR

MEMORIAS DEL V CONGRESO LATINOAMERICANO DE AGROECOLOGÍA Archivo Digital: descarga y online ISBN

130 - Núcleo de Agroecologia Itamarati: organização e desenvolvimento participativo

PALESTRA PARA O V CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO

Avaliação de Impacto das Tecnologias da Embrapa: uma medida de desempenho institucional

ANÁLISE DE ADOÇÃO DAS VARIEDADES DE MANDIOCA 'ALAGOANA' E 'LAGOÃO' NO MUNICÍPIO DE BROTAS DE MACAÚBAS - BA. Introdução

PALAVRAS-CHAVE: Mecanização agrícola, extensão universitária, grupo de estudos.

Agricultura Urbana e Segurança Alimentar

Ambiente de Gerenciamento do PRONAF e Programas de Crédito Fundiário

REUNIÃO TÉCNICA Agricultura familiar: Desenvolvimento Tecnológico. Altair Toledo Machado

A DIALÉTICA DA AGROECOLOGIA E CAMPESINATO NO MUNICÍPIO DE ITAPURANGA/GO

O Ordenamento Fundiário no Brasil. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR - PNAE

cursar a faculdade de Agronomia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro para

AGRICULTURA. Manutenção e desenvolvimento das atividades da Secretaria da Agricultura

Organização de Produtores Orgânicos de Francisco Beltrão-Pr e da Associação de Produtores Agroecológicos de Verê-Pr.

SISTEMA DE RASTREABILIDADE DIGITAL PARA TRIGO: aplicações e estatísticas de adoção

A Cadeia produtiva do Caju como Modelo para o Desenvolvimento Sustentável no Assentamento Che Guevara, Estado do Ceará

Orgânicos e a Economia verde: Oportunidade e desafios.

Transcrição:

COMERCIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO ANIMAL EM ASSENTAMENTOS DA REFORMA AGRÁRIA NO DISTRITO FEDERAL Marcelo Corrêa da Silva 1, Fernanda Paulini 1,2, Sumar Magalhães Ganem 3, Andreza Siani 1, José Robson Bezerra Sereno 1 ( 1 Embrapa Cerrados, BR 020, Km 18, Caixa Postal 08223, 73310-970 Planaltina, DF. e-mail: sereno@cpac.embrapa.br 2 Universidade de Brasília, Campus Universitário Darcy Ribeiro, 70910-900 Brasília, DF, 3 Emater-DF UAPE Cerrados, BR 020, km 18, 73310-970 Planaltina, DF.) Termos para indexação: Produção animal, assentamentos da reforma agrária, comercialização. Introdução Os sistemas de produção animal desenvolvidos em assentamentos do Distrito Federal apresentam diversas carências e dificuldades para a viabilização e inserção de seus produtos no mercado local. Muitas vezes pequenas atividades de produção declinam devido às essas dificuldades. Observa-se que a constante necessidade de venda para atravessadores impossibilita a obtenção de uma margem de lucro adequada, tornando a atividade insustentável. Apesar dos entraves, a agricultura familiar é responsável por 31% da área total dos estabelecimentos rurais, produzindo 38% do valor bruto de produção nacional, representando 77% das pessoas que trabalham na agricultura (SAF, 2006). Nesse contexto, é possível verificar a importância de uma política de estabilização de renda aos produtores, assim como a viabilidade do aumento na especialização da produção familiar e o grau de interação com o mercado, que é o indicativo da sustentabilidade econômica da atividade (Pontes et al., 2007). Segundo Wilkinson (1999) o futuro dos produtores agrícolas depende da capacidade de criar novas formas organizacionais para alcançar uma articulação dinâmica com os mercados.

Este trabalho teve como objetivo avaliar a interação da produção animal desenvolvida em dois assentamentos de reforma agrária do Distrito Federal com o mercado local. Material e métodos Para investigar o potencial de produção animal e sua a interação com o mercado para a comercialização dos produtos aplicaram-se questionários semi-estruturados a 32 famílias cadastradas na Emater DF, nos meses de março e abril de 2008. O assentamento Três Conquistas, localizado à margem direita da rodovia DF 130, próximo ao quilômetro 40, na região administrativa do Paranoá, criado em 1996 com a extensão 1002 hectares e 65 famílias residentes, sendo a maior parte delas proveniente do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) que se encontravam acampada em terras alheias. O outro núcleo visitado, denominado Fazenda Larga, está localizado na região administrativa do Pipiripau criado em 2003 com 225 hectares onde atualmente residem 85 famílias, inicialmente compostas por carroceiros transferidos após o local que residiam ser transformado em reserva ecológica. Os dados coletados foram processados em planilha eletrônica Excel, considerando apenas as entrevistas realizadas dentro das propriedades onde as instalações e animais foram visualizados. Ainda utilizando-se este software realizaram-se as análises estatísticas descritivas. Resultados e Discussão Durante o processo da modernização da agricultura houve uma desarticulação gradativa do pequeno produtor com o setor agrícola, tornando a geração de renda através da agricultura cada vez mais difícil. O processo acarretou a substituição das atividades praticadas de uma grande parcela do meio agrícola e contribuiu para o empobrecimento dos pequenos agricultores e o êxodo rural (Caporal, 2003). Isso justifica o fato das atividades agrícolas praticadas dentro dos assentamentos não serem suficientes, na maioria das vezes, para garantir renda digna aos moradores. Nesse contexto, os resultados apontaram que 47% dos entrevistados praticavam alguma

atividade laboral fora do assentamento para auxiliar na renda familiar, sendo que 44% vivem exclusivamente das atividades desenvolvidas na propriedade e apenas 9% dos entrevistados não sabiam responder essa questão. Observou-se que todos os entrevistados criavam alguma espécie animal, entre elas podese citar: bovinos, suínos, ovinos, patos, entre outros, sendo a produção de galinhas a principal delas. Durante o ciclo de produção, devido às baixas condições de capital e manejo inadequado, os produtores consomem e vendem os animais, entretanto, não conseguem número suficiente de animais para viabilizar a criação. 78% dos entrevistados adquirem animais para reposição fora dos assentamentos, destes, 59% efetuam a compra em propriedades vizinhas, sendo 16% no mercado (feiras agropecuárias, no mercado local e/ou em propriedades vizinhas) e 3% não souberam responder a esta questão. Apesar do exposto, a venda de animais é praticada apenas por 63% dos entrevistados, o que corresponde a 20 famílias. Os assentados não comercializam seus produtos para o mercado local, sendo esta praticada em suas próprias propriedades (Figura 1). 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Na Propriedade Em fazendas vizinhas Em sua propriedade e fazendas vizinhas No mercado ou para mercado Figura 1. Pontos de venda dos animais criados nos assentamentos Três Conquistas e Fazenda Larga.

Observou-se que a forma de comercialização se dá de maneira informal, nenhum produtor alegou vender animais ou produtos de origem animal com contrato ou destino certo da produção. É importante ressaltar que essas dificuldades existem por inúmeros motivos. Um fator crucial observado nas entrevistas é que a maioria das pesquisas e tecnologias está direcionada a um público diferente do setor de produção familiar. Caporal (2003) aponta que a pobreza e exclusão dos trabalhadores rurais é resultado parcial do processo de modernização da agricultura, no qual a tecnologia não se tornou acessível aos pequenos produtores. A maneira de estimar o preço dos produtos vendidos demonstra falta de articulação desses produtores com o mercado, inclusive conhecimento técnico para formação do preço com foco no mercado e outros. Do total de criadores que comercializam animais, 50% baseiam seu preço em vizinhos, amigos e nos compradores, 20% apenas nos compradores, 10% em vizinhos e amigos, 10% no preço praticado na cidade, 5% em criadores referência e 5% na oferta e preço da cidade. Quanto à forma de pagamento praticada pelos produtos provenientes dos assentados, 60% declarou receber sempre em dinheiro e 40% na troca por outros produtos. Caporal & Costabeber (2000) relatam a necessidade de novas práticas de comercialização que respeitem os diferentes estilos de vida. O modelo de produção familiar, ao adotar técnicas diferentes das convencionais, agrega valor ao seu produto e passa a ser reconhecido como um setor produtor de alimentos nobres. Portanto, alternativas que exploram a agregação de valor, diferente daquelas que visam quantidade da produção, podem ser estratégicas para a agricultura familiar. Wilkinson (1999) cita que o início do processamento das matérias primas dentro da propriedade representaria uma grande fase de transição para o agricultor familiar. Do total de entrevistados 88% não comercializam produtos processados de origem animal, embora 9,1% façam algum tipo de processamento. Meireles (2004) considera fundamental a formulação e execução de políticas públicas que apóiem e consolidem redes solidárias de produção e circulação dos produtos. Dos produtores que praticam a venda de animais, somente 15% comercializam produtos de origem animal.

Apesar das dificuldades com o escoamento dos produtos, 75% dos entrevistados declararam ser favorável à produção animal como alternativa de renda familiar e apenas 12,5% não concordam por acreditar que o risco econômico da atividade é elevado. Conclusão Observa-se que os criadores não estão articulados com o mercado local, vendendo seus produtos para atravessadores sem agregar valor aos produtos de origem animal. Apesar das dificuldades observadas, muitas famílias ainda persistem com essa prática acreditando na viabilidade da atividade em assentamentos de reforma agrária. Faz-se necessário realizar alguns ajustes nos sistemas de produção, especialmente na organização social com vistas à maior interação com o mercado. Isto pode ser um caminho para melhorar a qualidade de vida dos assentados e viabilizar economicamente os assentamentos. Referências bibliográficas CAPORAL, F. R. Superando a Revolução Verde: A transição agroecológica no estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Lavras, 2003. Disponível em: <http://www.agroecologia.uema.br/publicacoes/superando.pdf>. Acesso em 30 de maio de 2008. CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Agroecologia e desenvolvimento rural sustentável: perspectivas para uma nova Extensão Rural. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, v.1, p.06, 2000. MEIRELES, L. Soberania alimentar, agroecologia e mercados locais. Rio de Janeiro: Revista Agriculturas, v. 1, n. 0, set. 2004. p. 11-14 PONTES, F.S.T.; MARACAJÁ, P. B.; RODRIGUES, F. E.; PONTES FILHO, F. F.; PONTES, F. M. Tipificação da agricultura familiar no município de Icapuí-CE. Revista Caatinga, v.20, n.4, p123.-131, 2007.

SAF. Secretaria da Agricultura Familiar. Disponível em: <http://www.mda.gov.br/saf>. Acesso em 01 de junho de 2008. WILKINSON, J. Cadeias Produtivas para a Agricultura Familiar. Revista de Administração da UFLA, 1999.