ESPORTE E LAZER NAS PÁGINAS DO JORNAL FOLHA DE LONDRINA (1952-1960) Resumo



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ESPORTE E LAZER NAS PÁGINAS DO JORNAL FOLHA DE LONDRINA (1952-1960) Graduando Tiago Giovani Fonseca Graduando Michel Pompolini Paiva Prof. Dr. Tony Honorato Universidade Estadual de Londrina UEL Iniciação Científica Fundação Araucária tiagogfddd@hotmail.com michelguga@hotmail.com tony@uel.br Resumo Neste subprojeto de pesquisa, nível iniciação científica, objetivamos identificar a partir do Jornal Folha de Londrina (1952-1960) quais eram as práticas e representações de esporte e de lazer que veiculavam na cidade de Londrina. A Teoria dos Processos Civilizadores e a Sociologia Figuracional, propostas inicialmente por Norbert Elias (1980; 1992; 1993; 1994a; 1994b; 2000), servirão, ao mesmo tempo, de fundamentação teórica e orientação metodológica para desenvolvimento do objeto de estudo proposto. Tendo os jornais como fontes de pesquisa histórica, seguiremos os passos de pesquisa: 1º) leitura analítica das referências; 2º) coleta das notícias; 3º) registro dos dados; 4º) análise dos dados, conforme Cruz & Peixoto (2007). Palavras-chave: Esporte; Lazer; Jornal Folha de Londrina. Introdução Elegemos como objeto de estudo deste subprojeto de pesquisa, nível iniciação científica, o tema práticas e representações de esporte e de lazer veiculadas no Jornal Folha de Londrina (1952-1960). A periodização histórica (1952-1960) foi delimitada, primeiro, em razão de ser o ano do Jornal Folha de Londrina identificado e disponível na Biblioteca Municipal de Londrina (BML) 1, já o tempo de fechamento receberá fundamentação no processo de pesquisa. Partindo do pressuposto de que o esporte e o lazer ocupam lugares privilegiados na sociedade moderna do século XX (BOURDIEU, 1983; ELIAS & DUNNING, 1992), dados os motivos de socialização, militarização, competição, ludicidade, passatempo e distinção social, o tema de pesquisa revelará práticas e representações transmitidas, inventadas e veiculadas a serem incorporadas pelos novos munícipes paranaenses, produzindo, assim, comportamentos e habitus do homem londrinense. Sobre a história da cidade de Londrina, há um conjunto significativo de produções acadêmicas (ADUM, 1991; CASTRO, 1994; MAGALHÃES, 1996; BENATTI, 1997; TOMAZI, 1997; ARIAS NETO, 2008; BONI, KOMARCHESQUI & RODRIGUES, 2010). Por sua vez, há também uma produção expressiva sobre o esporte e o lazer na formação e no desenvolvimento da modernidade em diversas cidades 1 A primeira edição do Jornal Folha de Londrina é de 1948, porém, até o presente, ainda não encontramos no acervo da BML os impressos referentes ao período entre 1948 e 1952. Tal fato indica que precisaremos consultar outros arquivos.

brasileira (LUCENA, 2001; DEL PRIORE & MELO, 2009; MELO et al, 2010; SOARES & CUNHA JR, 2010). Empreenderemos estudos sobre a produção existente que narra a história e a memória de Londrina e a história do esporte e lazer em diferentes cidades. Contudo, até o presente levantamento bibliográfico, não encontramos pesquisas que assumiram a compreensão do esporte e do lazer em Londrina a partir dos registros nos jornais de época, como possibilidade de leitura sobre o modo de vida do homem citadino londrinense. Em outras palavras, temos como proposta de iniciação científica desenvolver a seguinte questão de pesquisa: quais eram as práticas e representações de esporte e de lazer veiculadas em Londrina segundo o Jornal Folha de Londrina (1952-1960)? Esta proposta de iniciação científica está conectada com o Projeto de Pesquisa intitulado História do Esporte e do Lazer em Londrina-PR (1934-1960), coordenado pelo Professor Tony Honorato, que tem como questões fundantes de pesquisa: a) o que representou as práticas de esporte e de lazer para as pessoas que viviam na cidade de Londrina/PR, segundo os jornais impressos no período entre 1934 e 1960? ; b) como o homem londrinense em constituição apropriou-se de práticas consideradas modernas, como a do esporte e a do lazer, numa cidade criada em interdependência com o campo, em meados do século XX?. Os jornais são considerados por autores da historiografia (CHARTIER, 1990; LE GOFF, 2003) instrumentos que além de manter informados os cidadãos, cumpre, muitas vezes, a função ideológica, cultural, política e de relação de poder entre os homens letrados. Os jornais colaboram com a intervenção na vida social. Como fonte de pesquisa, eles apresentam os acontecimentos históricos no seu cotidiano e situam, ao mesmo tempo, os objetos de estudo num contexto micro e macro. Partiremos do conceito de esporte e de lazer especialmente elaborados por Elias e Dunning (1992). Como primeiro registro, estes autores consideram esporte e lazer como representações humanas específicas e interdependentes ao estágio civilizador de uma dada sociedade. A partir das práticas esportivas e de lazer, as pessoas assumem pra si e estendem aos demais o sentimento de ser civilizado fundamentado naquilo que é considerado como bons hábitos, que são expressos em comportamento historicamente construídos e devem ser transmitidos a gerações futuras distinguindo um grupo social e, por sua vez, o indivíduo de outros indivíduos. Com outras palavras, não foi simplesmente e sem tensão que na sociedade hodierna, particularmente a londrinense, chegamos a atingir um nível de exigência de civilidade representada na prática regular de esporte, de exercício físico e de gozo do tempo de lazer. Para Gebara (2002, p. 84-85) a questão do lazer moderno, para os estudos figuracionistas, assenta-se sobre três aspectos fundamentais: 1º) o lazer moderno não é sinônimo de liberdade, é sim um efeito histórico específico, afetando situações de equilíbrio e restrições em suas múltiplas esferas emergentes nos processos civilizadores; 2º) o descarte de emoções violentas, espontâneas e intensas na sociedade moderna devese ao alto desenvolvimento de limiares de contenção civilizada, se tomado em consideração nosso passado mais distante; 3º) o lazer moderno é uma atividade crescentemente correspondente a formas de comportamentos miméticos. É relevante dizer que as práticas de lazer, bem como as esportivas, acompanham as forças e os padrões das necessidades emocionais, e diferem de acordo com o estágio que a sociedade atinge no processo de civilização. Por sua vez, o esporte na sociedade moderna representa outras atividades específicas que se diferenciam de brincadeiras e atividades recreativas que objetivam essencialmente divertimento. Para Elias e Dunning o esporte:

[...] seja ele qual for, é uma actividade de grupo organizada, centrada num confronto entre, pelo menos duas partes. Exige esforços físicos de certo tipo e é disputado de acordo com regras conhecidas, incluindo, onde se revelar apropriado, regras que definem os limites autorizados de força física. O grupo de participante é organizado de tal maneira que em cada encontro ocorre um padrão específico de dinâmica de grupo um padrão que é flexível, umas vezes mais, outras vezes menos, e, por isso, variável e, de preferência, não inteiramente previsível no seu curso e nos seus resultados (ELIAS & DUNNING, 1992, p. 232). O esporte varia conforme seus grupos de jogadores, suas regras, suas formas de praticar, em outras palavras, suas diferentes configurações de indivíduos envolvidos. No esporte moderno os indivíduos determinam, diferentemente dos passatempos tradicionais, as respectivas regulamentações e organizações altamente especializadas que controlam o seu cumprimento. Contudo, no âmbito desta proposta de estudo, esporte e lazer são entendidos como ações que caracterizam diferentes, porém, não estanques esferas de sociabilidade e inter-relações culturais. Dado que o lazer não acabou para dar lugar ao esporte. Este último é entendido como uma prática que vem atender às expectativas de uma elite que passa a ter, conforme Lucena (2001, p. 49), na esportivização suas ações lúdicas e, mais tarde, com a profissionalização, seu meio de subsistência. Portanto, os conceitos da sociologia figuracional e da teoria dos processos civilizadores, elaboradas inicialmente por Norbert Elias, colaborarão para a compreensão do objeto de estudo deste projeto de iniciação científica. Com o desenvolvimento deste subprojeto de pesquisa, expectativa também resultados como: a) preservação da memória material do esporte e do lazer da cidade de Londrina; b) ampliação do acervo do Centro de Memória, Informação e Documentação da Educação Física, Esporte e Lazer (CEMIDEFEL/UEL Programa de Extensão), disponibilizando em mídia CD-ROM as fichas referentes às notícias encontradas nos jornais pesquisados. Justificativa Os estudos sobre história da educação física, do esporte, do lazer e das práticas corporais têm aumentado de maneira vertiginosa, situação observada especialmente nos resultados do Grupo de Trabalho Temático Memória da Educação Física e Esporte no Congresso Brasileiro de Ciência do Esporte (CONBRACE), do Simpósio Temático História do Esporte e das Práticas Corporais na Associação Nacional de História (ANPUH) e do Congresso Brasileiro de História do Esporte, Lazer, Educação Física e Dança que vai para a sua décima segunda edição em 2012. Embora haja avanço da produção de conhecimento histórico na área de Educação Física, ainda a área carece de pesquisas de natureza histórica que assumam como temática central: quais eram as representações das práticas de esporte e de lazer das pessoas que viviam em específicas cidades no contexto da modernidade brasileira do século XX. Nesse sentido, a opção por estudar Londrina é em razão de ser uma cidade com gênese no século XX, que nos anos 30 nasceu em interdependência com o campo e rapidamente em sete décadas de sua existência se transformou em um dos principais municípios do Norte do Estado do Paraná, no quesito de urbanização. O seu processo de

urbanização contou também com as práticas esportivas e de lazer típicas da modernidade, por este motivo há relevância de identificarmos quais eram as práticas e representações de esporte e de lazer na formação do cidadão londrinense. Desenvolver esta pesquisa trata-se de levantar, coletar, organizar e preservar memórias das práticas de esporte e de lazer das pessoas que viviam, ou ainda vivem, em Londrina. Estas práticas são importantes manifestações socioculturais num determinado tempo e lugar. Elas são articuladas com as novas dinâmicas da cidade, com os meios de comunicação, com a política, com a economia, enfim, com o modus vivendis. Assim, torna-se pertinente estudar as memórias das práticas de esporte e de lazer porque são patrimônios culturais do povo londrinense e experiências significativas na formação de identidades de classe, de gênero, de ídolos e de etnia, conectadas à construção do sentido de ser urbano moderno. Produzir este conhecimento pode ajudar-nos a entender melhor a história de Londrina, bem como do Estado do Paraná e do Brasil. Haja vista que a formação da cidade de Londrina não esteve isolada de outras esferas, e as suas práticas esportivas e de lazer podem revelar modelos locais e nacionais de circulação cultural. A opção para realizar esta pesquisa justifica-se também por entendermos ser a história uma área de conhecimento que possibilita um mergulho nas formas de vidas particulares e coletivas, nas tradições e nas inovações socioculturais dos homens no tempo (LE GOFF, 2003). Torna-se pertinente dizer que ao optarmos por tomar como objeto de estudo o passado do esporte e do lazer no modo de vida do homem londrinense, acreditamos que os Cursos de Educação Física Bacharelado devem assumir, de forma mais direta, dentro da Universidade e junto à sociedade, o compromisso de desenvolver projetos que objetivem resistir ao movimento de esquecimento do passado em prol do progresso envolvente marcado pela racionalidade técnica a-histórica. Na medida em que nosso estudo pode ser caracterizado na dimensão da história cultural (CHARTIER,1990; BURKE, 2005), para a realização de nosso objetivo geral optamos pelos fundamentos de pesquisa norteados pelos princípios teóricometodológicos da Teoria dos Processos Civilizadores e da Sociologia Figuracional propostas por Norbert Elias (1890; 1992; 1993; 1994a; 1994b; 2000) e seus interlocutores que discutiram as questões sobre esporte e lazer (BOURDIEU 1983; GARRIGOU, 2001; DUNNING, 2001; GEBARA, 2002; MARCHI JR, 2004; PILATTI & GEBARA, 2006; entre outros). Portanto, essa perspectiva historiográfica é considerada por nós um caminho teórico-metodológico pertinente ao estreitamento entre o campo da história e o da história da educação física, do esporte e do lazer. Em razão de ela ser uma alternativa para leitura dos processos sociais com os quais os sentidos e os fazeres da vida do homem são produzidos por ele em consonância à dinâmica da vida cultural em sociedade. Objetivo Identificar a partir do Jornal Folha de Londrina (1952-1960) quais eram as práticas e representações de esporte e de lazer que circulavam na cidade de Londrina. Metodologia

Para elaborarmos uma interpretação da história do esporte e do lazer em Londrina, serão importantes os seguintes pressupostos da Teoria dos Processos Civilizadores e da Sociologia Figuracional de Norbert Elias: civilização, configuração, habitus, poder, lazer e esporte. A partir da teoria eliasiana, o primeiro passo será compreender que tanto o universo do esporte e do lazer, quanto a sociedade londrinense, foram (são) inteiramente formadas por indivíduos. Dicotomias entre indivíduo e sociedade, indivíduo e esporte ou indivíduo e lazer, não existem na perspectiva historiográfica da Teoria dos Processos Civilizadores. Para compreender as representações e práticas de esporte e de lazer que circulavam no Jornal Folha de Londrina (1952-1960), será importante pensar num segundo passo: uma história do esporte e do lazer não deverá ser interpretada como fenômeno separado ou em oposição aos indivíduos, porque são eles que modelaram o interior e o universo da cidade de Londrina e contribuíram com a formação da boa sociedade considerada civilizada para sua época. Os sentidos das representações e práticas a serem interpretados no desenvolvimento deste subprojeto de pesquisa, serão produzidos a partir dos documentos. Nos documentos históricos (fontes) há possibilidades de identificar as práticas esportivas e de lazer, podendo dar sentido às posições, às distinções e às dinâmicas figuracionais constituídas pelos indivíduos no interior e no universo da cidade de Londrina. Por essa razão, optaremos por um corpus documental composto por um jornal de época. Desse modo, para esta iniciação científica, elegemos o seguinte jornal a ser pesquisado: Folha de Londrina. Maio/1952 a Dezembro/1960. Os exemplares serão consultados no acervo da Biblioteca Pública Municipal (BML). Como um dos elementos da imprensa na modernidade, os jornais tornaram-se fontes primárias para as pesquisas históricas. Eles representam forças ativas de um dado período, são férteis para o conhecimento do passado, são fontes materiais de informações cotidianas e são materiais privilegiados para o resgate das experiências históricas. Transformar um jornal ou revista em fonte histórica é uma operação de escolha e seleção feita pelo historiador e que supõe seu tratamento teórico e metodológico. Trata-se de entender a Imprensa como linguagem constitutiva do social, que detém uma historicidade e peculiaridades próprias, e requer ser trabalhada e compreendida como tal, desvendando, a cada momento, as relações imprensa/sociedade, e os movimentos de constituição e instituição do social que esta relação propõe. (CRUZ & PEIXOTO, 2007, p. 6) Enquanto materialidade os jornais carregam limites e possibilidades colocados pela sua produção social e cultural. Isso significa não reduzir a função dos jornais a meros veículos de informação. Considerando os jornais como fontes de pesquisa e os objetivos norteadores do subprojeto de iniciação científica, ora proposto, o processo de pesquisa está estruturado em cinco momentos interdependentes, a saber: 1º. Momento: Mapeamento das referências e leitura analítica Neste estágio da pesquisa produziremos a leitura analítica das obras sobre: a) história do esporte e do lazer nas diferentes cidades brasileiras; b) Teoria dos Processos Civilizadores, Sociologia Figuracional, História Cultural.

2º. Momento: Coleta das notícias Neste momento será realizada a leitura de cada exemplar do Jornal Folha de Londrina (1952-1960), objetivando identificar as notícias sobre as representações e práticas de esporte e de lazer vividas pelas pessoas na cidade de Londrina. 3º. Momento: Registro dos dados Concomitante ao anterior, neste momento as notícias coletadas na pesquisa serão digitalizadas por meio de uma câmera fotográfica disponível no CEMIDEFEL. As notícias serão organizadas em fichas a serem digitadas no computador e organizadas conforme os itens procedimentais de análise de jornais, descritos no próximo estágio. 4º. Momento: Análise dos dados Para análise dos dados coletados nos exemplares do Jornal Folha de Londrina, seguiremos os procedimentos propostos pelas historiadoras, especialistas em periodismo, Heloisa de Farias Cruz e Maria do Rosário da Cunha Peixoto (2007). Objetivando descrever os procedimentos de análise, reproduziremos abaixo o Roteiro elaborado por Cruz e Peixoto (2007, p. 13-15): ROTEIRO DE ANÁLISE DA IMPRENSA PERIÓDICA I. Identificação do Periódico Título: Subtítulo: Datas-Limites da publicação: Periodicidade: II. Projeto Gráfico/Editorial A. Projeto Gráfico: capas e primeiras páginas; partes e cadernos; cadernos especiais e suplementos; edições comemorativas Seções: colunas fixas e assinadas; iconografia ilustrações, charges, desenhos, gráficos; anúncios e publicidade B. Produção e distribuição B.1. Grupos produtores: proprietários, diretores, redatores B.2. Circulação e distribuição: tiragem, preço, espaços de circulação e distribuição III. Projeto Editorial: Movimentação e posicionamento político na conjuntura A. Intervenções na agenda pública B. Principais temas e campanhas gerais 5º. Momento: Produção do relatório final da Iniciação Científica Este momento será destinado ao processo de escrituração do relatório final, bem como dos artigos a serem disseminados em periódicos científicos e congressos. Referências

ADUM, S. M. S. L. Imagens do progresso: civilização e barbárie em Londrina, 1930/1960. Dissertação (Mestrado em História) Departamento de História, Universidade Estadual Paulista, Assis, 1991. ARIAS NETO, J. M. O eldorado: representações da política em Londrina (1930-1975). 2.ed. Londrina: EDUEL, 2008. BENATTI, A. P. O centro e as margens: prostitutas e vida boêmia em Londrina (1930-1960). Curitiba: Editora Aos Quatro Ventos, 1997. BONI, P. C.; KOMARCHESQUI, B. M.; RODRIGUES, N. F. O papel do Paraná Norte na construção da Santa Casa e o esporte nas ondas do rádio: duas experiências históricas da imprensa londrinense. Londrina: Planográfica, 2010. BOURDIEU, P. Como é possível ser esportivo? In:, Questões de Sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983. p.136-153. BURKE, P. O que é história cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. CASTRO, R. A. A. O cotidiano e a cidade: práticas, papéis e representações femininas em Londrina (1930-1960). Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Curitiba, Curitiba, 1994. CHARTIER, R. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel; Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1990. CRUZ, H. F. São Paulo em papel e tinta: periodismo e vida urbana (1890-1915). São Paulo: EDUC; FAPESP; Arquivo do Estado de São Paulo; Imprensa Oficial, 2000. CRUZ, H. F.; PEIXOTO, M. R. C. Na oficina do historiador: conversar sobre história e imprensa. Projeto História, São Paulo, n. 35, p. 253-270, 2007. Disponível em: http://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/2221. Acesso em: 06 de dez. 2010. DEL PRIORI, M.; MELO, V. A. (Orgs.) História do esporte no Brasil: do Império aos dias atuais. São Paulo: Editora UNESP, 2009. DUNNING, E. Civilização, formação do estado e primeiro desenvolvimento do esporte moderno. In. GARRIGOU, A.; LACROIX, B. (Orgs.). Norbert Elias: a política e a história. São Paulo: Perspectiva, 2001. p. 91-103. ELIAS, N. Introdução à sociologia. Edições 70. Lisboa: Pax, 1980. ELIAS, N; DUNNING, E. A busca da Excitação. Lisboa: Difel, 1992. ELIAS, N. O processo civilizador: formação do estado e civilização. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. v 2. ELIAS, N. O processo civilizador: uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.1994a. v 1. ELIAS, N. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994b. ELIAS, N.; SCOTSON, J. L. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. GARRIGOU, A. O grande jogo da sociedade. In. GARRIGOU, A.; LACROIX, B. (Orgs.). Norbert Elias: a política e a história. São Paulo: Perspectiva, 2001. p. 54-90. GEBARA, A. Sociologia configuracional: as emoções e o lazer. In: BRUNHNS, H. T. (Org.). Lazer e ciências sociais: diálogos pertinentes. São Paulo: Chronos, 2002. p.75-92. GEBARA, A.; PILATTI, L. A. Ensaios sobre história e sociologia nos esportes. Jundiaí: Editora Fontoura, 2006. LE GOFF, J. História e Memória. São Paulo: UNICAMP. 2003 LUCENA, R. F. O esporte na cidade: aspectos do esforço civilizador brasileiro. Campinas/SP: Autores Associados, Chancela editorial CBCE, 2001. 153f. (Coleção educação física e esportes) MAGALHÃES, M. V. O Paraná e as migrações (1940-1995). Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1996.

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