Autos nr. 2155-48.2013.8.16.0147 Vistos. 1. Trata-se de Ação Civil Pública com Pedido de Condenação em Obrigação de Não Fazer c/c Pedido de Tutela Antecipada que o Ministério Público do Estado do Paraná promove em face do Município de Itaperuçu, na qual pretende o autor impedir que seja realizada a permuta entre um imóvel de domínio público e outros dois, de propriedade particular, situados no município de Itaperuçu. Para tanto, alega o Ministério Público, em suma, que a permuta, solicitada pelo Prefeito de Itaperuçu Neneu José Artigas e autorizada pela Câmara de Vereadores local, viola normas previstas na Lei das Licitações (Lei nr. 8666/93), bem como atenta contra preceitos constitucionais que regem a Administração Pública. Requer a concessão de liminar inaudita altera parte que proíba a concretização do negócio. Pois bem. O exame da narrativa fática constante da petição inicial e da prova de natureza documental que a veio acompanhando leva a crer, em princípio, que a alienação (permuta ou venda) do imóvel público situado na Rua Jacob Lovato, no Bairro Jardim Itaú, no Município de Itaperuçu, autorizada pelo Poder Legislativo local, mediante a aprovação do Projeto de Lei nr.021/2013 o qual foi apreciado e votado em regime de urgência, em atenção a requerimento que o atual Chefe do Poder Executivo de Itaperuçu Neneu José Artigas apresentou à Câmara de Vereadores viola a seguinte norma contida na Lei Federal nr. 8666/93 (Lei das Licitações):
Art. 17. A alienação de bens da Administração Pública, subordinada à existência de interesse público devidamente justificado, será precedida de avaliação e obedecerá às seguintes normas: I - quando imóveis, dependerá de autorização legislativa para órgãos da administração direta e entidades autárquicas e fundacionais, e, para todos, inclusive as entidades paraestatais, dependerá de avaliação prévia e de licitação na modalidade de concorrência, dispensada esta nos seguintes casos: (...) c) permuta, por outro imóvel que atenda aos requisitos constantes do inciso X do art. 24 desta Lei Tal violação decorre, em primeiro lugar, do fato de que a avaliação prévia exigida na norma retro transcrita, segundo o que se observa nos documentos acostados na seq. 1.5, foi realizada sem a observância das normas impostas pela ABNT NBR 14653-2 (PARTES 01 a 03) e por pessoas (servidores públicos municipais) desprovidas da qualificação técnica obrigatoriamente exigida para o desempenho daquele mister. Em segundo lugar, não se vislumbra, a prima facie, a existência do interesse público capaz de autorizar e justificar a alienação patrimonial sugerida pelo Prefeito e acatada, sem maior relutância, pelos Vereadores do Município de Itaperuçu. De fato, o imóvel de domínio público da Rua Jacob Lovato, no Bairro Jardim Itaú, em Itaperuçu, cujo atual gestor público pretende ver permutado por outros dois de propriedade particular e que serão destinados à construção de uma CRECHE PADRÃO, vinculada ao Programa PROINFÂNCIA do Governo Federal, bem como a um transbordo de resíduos sólidos consiste num terreno que se acha localizado em área central e plana do município, tida como nobre. Bem diversa é a situação do imóvel de propriedade privada situado no prolongamento da Rua Itapemirim, Bairro São Miguel (o qual, se concretizada a permuta pretendida, será o local destinado a comportar a edificação da aludida creche), pois, pelo que revelam as fotografias anexadas à petição inicial, trata-se de um
terreno localizado defronte a uma encosta, em região de acentuado aclive, circunstância fática que, por si só, já é suficiente para tornar plausível a alegação do Ministério Público de que a Administração Pública de Itaperuçu pretende erguer a creche infantil, vinculada ao Programa PROINFÂNCIA do Governo Federal, sobre uma área de risco. Daí porque, ao menos neste primeiro juízo valorativo, que ora se faz em sede de cognição sumária, não se constata a existência do interesse público capaz de autorizar a pretendida permuta entre o imóvel de domínio público da Rua Jacob Lovato, no Bairro Jardim Itaú, no Município de Itaperuçu e os dois terrenos pertencentes à empresa privada EMPAR AMERICANA EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA Cumpre ressaltar, ademais, que ao aderir ao Programa PROINFÂNCIA, do Governo Federal, o Município de Itaperuçu celebrou Termo de Compromisso perante o Ministério da Educação, oportunidade em que indicou um imóvel situado na Rua Assembléia de Deus, no Bairro Jardim Itaú, como sendo o local que seria destinado à edificação da creche. Diante da aprovação do imóvel que na época foi ofertado pelo Município de Itaperuçu, destinou-se a ele, então, uma verba de R$679.121,73 (seiscentos e setenta e nove mil, cento e vinte e um reais e setenta e três centavos), tendo sido liberada, para o início da execução da obra, a cifra de R$135.824,35 (cento e trinta e cinco mil, oitocentos e vinte e quatro reais e trinta e cinco centavos). Assim, resta evidente que sem o prévio conhecimento e a anuência do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento em Educação) autarquia federal encarregada de gerenciar o programa PROINFÂNCIA o Município de Itaperuçu não pode substituir o imóvel que ofertou e que se encontra vinculado ao referido programa do Governo Federal. Não bastasse isso, há sérias suspeitas ainda de que o Prefeito de Itaperuçu Neneu José Artigas seja sócio oculto da
empresa EMPAR AMERICANA EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA (proprietária dos dois lotes a serem permutados com o imóvel de domínio público da Rua Jacob Lovato) e que, portanto, a permuta imobiliária tenha a finalidade única de satisfazer interesses patrimoniais escusos do Alcaide, em detrimento do interesse público municipal, numa flagrante e inadmissível afronta aos princípios da legalidade, da moralidade e da impessoalidade administrativa, previstos no caput, do artigo 37 da Constituição Federal. Por sinal e lamentavelmente as graves suspeitas que pesam, por ora, sobre o Prefeito de Itaperuçu, e que se comprovadas podem resultar até mesmo na perda do seu mandato eletivo não chegam a causar maior perplexidade, haja vista ser praxe daqueles que costumam se revezar na gestão do município sobrepor os seus interesses pessoais aos interesses coletivos. Existe nos autos, portanto, prova inequívoca capaz de convencer acerca da verossimilhança do direito alegado na petição inicial, haja vista que a prova documental inicialmente produzida evidencia que a pretendida alienação do imóvel público da Rua Jacob Lovato, no Bairro Jardim Itaú, no Município de Itaperuçu, será feita em desacordo com a Lei das Licitações e com grave ofensa aos postulados constitucionais elementares que norteiam e subordinam a atuação do administrador público. Não há dúvida, por outro lado, de que o interesse público poderá ser comprometido de maneira irremediável, se não for imediatamente obstado o ato de disposição patrimonial que o Poder Executivo de Itaperuçu (com a chancela do Poder Legislativo) pretende ver concretizado, visto que, com o aperfeiçoamento da permuta, o particular que receber o imóvel de domínio público da Rua Jacob Lovato, no Bairro Jardim Itaú, estará legitimado a ingressar na posse do bem e a iniciar ali a execução das obras que julgar convenientes, podendo daí resultar, por força do princípio da segurança das relações jurídicas, a posterior impossibilidade de reversão das situações fáticas que vieram a se consolidar, naquele local, ao longo do tempo.
Presentes se fazem portanto, os pressupostos legais reclamados para a concessão da tutela antecipada pleiteada pelo Ministério Público, razão pela qual Defiro a liminar e PROÍBO, até ulterior deliberação, a alienação (permuta ou venda) do imóvel público situado na Rua Jacob Lovato, no Bairro Jardim Itaú, no Município de Itaperuçu. A fim de assegurar a eficácia da medida liminar, comino ao Prefeito do Município de Itaperuçu Neneu José Artigas, para o caso de transgressão da proibição aqui imposta, multa diária de R$1.000,00 (hum mil reais), sem prejuízo da sua responsabilização, na esfera penal, por crime de desobediência. Determino, ainda, seja a presente decisão comunicada, de imediato, ao Ofício de Registro de Imóveis de Itaperuçu, a fim de que este se abstenha de praticar qualquer ato tendente a concretizar o ato de disposição patrimonial ora vedado; 2. Intime-se pessoalmente, por mandado, o Prefeito de Itaperuçu Neneu José Artigas, acerca das consequências a que se encontra o mesmo sujeito em caso de descumprimento da liminar; 3. Cite-se o Município de Itaperuçu, com as advertências legais, para, no prazo legal, apresentar resposta; 4. Intimem-se as partes. Diligências necessárias. Rio Branco do Sul, 18 de julho de 2013 MARCELO TEIXEIRA AUGUSTO Juiz de Direito