Produção, Natureza e Sociedade: equilíbrio em busca da segurança alimentar

Documentos relacionados
14º CONGRESSO BRASILEIRO DO AGRONEGÓCIO FÓRUM ALIMENTOS. Vamos tornar o Brasil o primeiro produtor de Alimentos do Mundo?

PANORAMA ENERGÉTICO INTERNACIONAL

A visão de longo prazo contempla: Produção Exportações líquidas Estoques. Área plantada Produtividade Consumo doméstico (total e per capita)

NUTRIÇÃO E SUSTENTABILIDADE. Luciana Dias de Oliveira CRN2 4498

Em 20 anos, Brasil poderá gerar 280 MW de energia do lixo

O Mercado Mundial de Commodities. Palestrante: André Pessôa (Agroconsult) Debatedor: André Nassar (Icone)

SEMINÁRIO INSTITUTO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO (ifhc)

Paulo do Carmo Martins Economista (UFJF) Mestre em Economia Aplicada (UFV) Doutor em Economia Aplicada (USP) Pesquisador Embrapa Gado de Leite

Conjuntura e perspectivas. Panorama do mercado de extração de óleos

A Segurança Alimentar num país de 200 milhões de habitantes. Moisés Pinto Gomes Presidente do ICNA

AGRONEGÓCIO NO MUNDO PRINCIPAIS PLAYERS

PANORAMA DA INDÚSTRIA DE BATATA CHIPS NO BRASIL E NO MUNDO

Brasil como maior exportador mundial de carne bovina: conquistas e desafios

Do campo ao garfo: desperdício alimentar em Portugal 13 de Março Autores: Pedro Baptista Inês Campos Iva Pires Sofia Vaz

O papel da APROSOJA na promoção da sustentabilidade na cadeia produtiva da soja brasileira

Carência vs. Desperdício Alimentar. Hélder Muteia Representante da FAO em Portugal/CPLP 22 de janeiro de 2016

CENÁRIO DO DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS NO MUNDO E NA AMÉRICA LATINA. Alan Bojanic Ph.D. Representante FAO Brasil

CENÁRIO GLOBAL DE CARNES (FRANGO E SUÍNO) E MILHO

Seminário O Impacto das Mudanças Climáticas no Agronegócio Brasileiro

Pressão sobre os recursos nos mercados globais de commodities afeta economia global

Tratados internacionais sobre o meio ambiente

Os desafios do desenvolvimento brasileiro e a Política Industrial

"PANORAMA DA COLETA SELETIVA DE LIXO NO BRASIL"

A Água da Amazônia irriga o Sudeste? Reflexões para políticas públicas. Carlos Rittl Observatório do Clima Março, 2015

Levin Flake Economista Senior de Comércio Escritório de Análise Global Serviço Exterior de Agricultura Departamento de Agricultura dos Estados Unidos

BRASIL. Francisca Peixoto

A Floresta Amazônica, as mudanças climáticas e a agricultura no Brasil

Aimportância do trigo pode ser aquilatada pela

Tackling the challenge of feeding the World: A Family farming perspective

A produção mundial e nacional de leite - a raça girolando - sua formação e melhoramento

Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura Ano Internacional dos solos

Painel Oficina 4 Agricultura e Segurança Alimentar

A perspectiva das Organizações Não- Governamentais sobre a política de biocombustíveis

Diagnóstico Analítico da Gestão dos Resíduos Sólidos no Brasil

Visão Sustentável sobre o Desenvolvimento de Embalagens

INTEGRAÇÃO NA CADEIA PRODUTIVA COM USO DE

Energia, tecnologia e política climática: perspectivas mundiais para 2030 MENSAGENS-CHAVE

em números Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento

DO OUTRO, O AGRONEGÓCIO PRODUZ UM PAÍS CADA VEZ MAIS FORTE.

Benchmarking Internacional de Transferência de Tecnologia América Latina. Rui Trigo Morais

O papel da agricultura familiar e os desafios do combate à fome

O Transporte Aquaviário como Solução Logística e Ambiental

O mercado de carnes suínas Tendências a Osler Desouzart osler@odconsulting.com.br

Plano Brasil Maior e o Comércio Exterior Políticas para Desenvolver a Competitividade

Programa para Redução da Emissão de Gases de Efeito Estufa na Agricultura. Programa ABC

A primeira análise do ciclo de vida da embalagem de leite UHT em toda a Europa

climáticas? Como a África pode adaptar-se às mudanças GREEN WORLD RECYCLING - SÉRIE DE INFO GAIA - No. 1

PROJETO DE LEI Nº, DE 2015 (Do Sr. Fabio Faria)

Geografia. Professor: Jonas Rocha

O IBGE divulgou a pouco o primeiro prognóstico para a safra de 2011: Em 2011, IBGE prevê safra de grãos 2,8% menor que a de 2010


Empregos verdes na agricultura Peter Poschen, OIT

VI DSSA DEBATE INCINERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: TECNOLOGIA APLICÁVEL NO BRASIL? Mauro Gandolla. (Econs Suíça)

AGRONEGÓCIO BRASILEIRO PAINEL: A PROPRIEDADE INTELECTUAL NA AGROINDÚSTRIA

Tema Agricultura e Segurança Alimentar Painel: Edson Paulo Domingues, Cedeplar/UFMG

Agronegócio no Brasil e em Mato Grosso

Crise ambiental e saúde no planeta

PROJETO DE LEI Nº, DE 2011

Os Benefícios do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) para a sociedade e suas perspectivas para os próximos anos.

Avaliação de Ciclo de Vida. Buscando as alternativas mais sustentáveis para o mercado de tintas

INOVAR E INVESTIR PARA SUSTENTAR O CRESCIMENTO Fórum do Planalto 03/07/2008

Os Desafios do Estado na implementação dos Parques Tecnológicos

REQUERIMENTO (Do Sr. Vittorio Medioli)

Como está a situação da população mundial e que expectativa razoável podemos ter para o futuro?

INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO

APROVEITAMENTO INTEGRAL DE ALIMENTOS

Gestão da Sustentabilidade: Políticas Publicas e Mudanças Climáticas no Estado de São Paulo

Formas de uso da água

A aceleração da inflação de alimentos é resultado da combinação de fatores:

Produção de Commodities e Desenvolvimento Econômico O Esforço Empresarial Brasileiro Instituto de Economia UNICAMP 29 de março de 2010

Questão 11 Questão 12

JURANDI MACHADO - DIRETOR. Cenário Carnes 2014/2015

ECONOMIA VERDE A Nova Economia Desafios e Oportunidades FACULDADE FLAMINGO

LINEAMENTOS PARA MELHORAR A GESTÃO DAS ÁGUAS RESIDUAIS DOMÉSTICAS E FAZER MAIS SUSTENTÁVEL A PROTEÇÃO DA SAÚDE

Infraestrutura Turística. Magaeventos Esportivos e a Promoção da Imagem do Brasil no Exterior 16 e 17 de agosto Brasília.

PERFIL INSTITUCIONAL AGO/2014 ÁFRICA - AMÉRICA - ÁSIA - EUROPA - OCEANIA

Fundos Comunitários. geridos pela Comissão Europeia. M. Patrão Neves

Exportações no período acumulado de janeiro até abril de Total das exportações do Rio Grande do Sul com abril de 2014.

15/10/2012. Oficina de Mobilização de Recursos. Apresentação. Estrutura de um Projeto. Programação. Conteúdos

O DESAFIO CONTINUA.. A AGRICULTURA FAMILIAR FRENTE AO DESAFIO Alan Bojanic Ph.D. Representante da FAO no Brasil

CAMPANHA - COPOS PLÁSTICOS

A CR C IS I E S E MU M N U DI D A I L D O D S ALIM I E M N E TO T S: S O qu q e o B r B asi s l p o p de d f a f ze z r?

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E OS MECANISMOS DE GESTÃO AMBIENTAL

Panorama Nutricional da População da América Latina, Europa e Brasil. Maria Rita Marques de Oliveira

Fortaleza, junho de 2015

Carlos Alberto Rosito Conselheiro da Saint-Gobain Canalização. 18 de Março de 2013 FUNASA - IV Seminário Internacional

Visão. Brasil precisa inovar mais em tecnologias de redução de emissões de carbono. do Desenvolvimento. nº 97 4 ago 2011

AMEAÇAS FITOSSANITARIAS, Ciência e Inovação para alimentar o mundo. José Perdomo Presidente CropLife Latin America

Pequenas e Médias Empresas no Canadá. Pequenos Negócios Conceito e Principais instituições de Apoio aos Pequenos Negócios

Contribuições da Agricultura Familiar para a Segurança Alimentar e Nutricional: Desafios Futuros

Desempenho Recente e Perspectivas para a Agricultura

Bioeconomy Science Center (BioSC) Centro de Competência em Pesquisa para a Bioeconomia Alemanha / Renânia do Norte-Vestfália (NRW)

A Indústria de Alimentação

As políticas públicas de mudanças climáticas e suas implicações

Mudanças do clima, mudanças no campo

Novas Tecnologias para Ônibus 12/12/2012

PLANO DE RECUPERAÇÃO FINAL

Exportações no período acumulado de janeiro até março de Total das exportações do Rio Grande do Sul.

Curso Agenda 21. Resumo da Agenda 21. Seção I - DIMENSÕES SOCIAIS E ECONÔMICAS

Transcrição:

VI Fórum Inovação, Agricultura e Alimentos Produção, Natureza e Sociedade: equilíbrio em busca da segurança alimentar Walter Belik Instituto de Economia - Unicamp São Paulo, 14 de outubro de 2014

em milhões Malthus Revisitado População Mundial 10000 9000 8000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 1950 1970 1990 2010 2030 2050 Fonte: ONU Desenvolvidos Em desenvolvimento Fonte: BBC

Correlação Positiva entre Pobreza e Subnutrição

Situação da Segurança Alimentar A relação entre desnutrição infantil crônica (estatura/idade) e adequação energética é fraca Uma alimentação pobre baseada unicamente em cereais, tubérculos e raízes pode levar a desnutrição infantil crônica

Projeções para 2050 A produção de alimentos terá que crescer 60% até 2050; O incremento nos rendimentos agrícolas de arroz, trigo,soja e milho serão insuficientes para alimentar o mundo em 2050; O consumo de carnes deverá subir de 32 para 52 kg/capita/ ano; Disputa alimentos vs. matérias-primas energéticas (demanda por energia deve aumentar 100% até 2050); A mudança climática traz novos desafios para a produção; Escassez de terras (preços em disparada) e água (+ 100%) (atualmente 36% da população mundial está em áreas sem disponibilidade de água)

Projeções para 2050 Vamos aumentar a produção! Difusão de novas tecnologias (biotecnologias, OGM, nanotecnologias etc); Investimento em tecnologia e educação; Intensificação do uso da terra; Novas áreas com potencial para a agropecuária;

OFERTA DE ALIMENTOS Previsões de Aumento da Oferta Crescimento nos Rendimentos Agrícolas (%a.a.) Produto Países 1982-94 1993-2020 Desenvolvidos 1.35 1.06 Trigo Em desenvolvimento 2.32 1.30 Mundo 1.80 1.17 Desenvolvidos 1.01 0.84 Milho Em desenvolvimento 2.27 1.36 Mundo 1.16 1.03 Desenvolvidos 0.61 0.53 Arroz Irrig. Em desenvolvimento 1.81 1.08 Mundo 1.74 1.05 Desenvolvidos 0.85 0.78 Outros Grãos Em desenvolvimento -0,09 1.24 Mundo 0.26 0.85 Fonte dos dados brutos: Chang & Zepeda (2003)

Projeções para 2050 Vamos reduzir as perdas e o desperdício! Considerando que as perdas e o desperdício representam 30% sobre tudo que é produzido para consumo humano, uma redução de 50% no desperdício resolveria 25% do problema de oferta para 2050; A agricultura é responsável por 12-14% das emissões de gases estufa, podendo chegar a 30% se considerarmos a toda a cadeia do agronegócio e a conversão de novas áreas para a produção; O desperdício corresponde ao que é produzido de gases nos EUA atualmente. O consumo de água limpa anual para produzir o que é desperdiçado representaria 230 km3 ou o equivalente a toda a água que corre anualmente pelo do Rio Volga A área necessária para a produção do que é perdido ou desperdiçado representa 1,4 bilhão de ha ou 30% das áreas agricultáveis; O custo direto anual das P&D (excluindo a pesca) é de US$ 750 bilhões (aprox. 1/3 do PIB brasileiro)

Projeções para 2050 Fonte: FAO e BBC Considerando a parte comestível da produção de alimentos para fins alimentares e energéticos de 6 bilhões de toneladas

Definições Perda de massa ou valor nutricional em produtos originalmente destinados ao consumo humano. Ocorrem na fase inicial da produção (no campo), no transporte ou estocagem. Deve-se a problemas no processo produtivo ou a eventuais variações de preços Alimento apropriado pelo consumo humano que é descartado. Ocorre na fase de comercialização, restauração ou no consumo doméstico. Deve-se a problemas de planejamento ou previsão de vendas (data de validade) ou mesmo a falta de consciência do consumidor

Questões Metodológicas Perdas normais vs anormais ; Ano da coleta de dados (2009) Cálculos em peso transformado em energia; Conversão de perda de qualidade ou preço em peso; Parte Comestível; Problemas: Comparação de diferentes sistemas produtivos Diferentes Culturas Alimentares Referências para estudos de caso Literatura antiga Descarte baseado no peso

P&D por Região e por Atividade América Latina e Caribe Sul e Sudeste da Ásia Norte e Centro da África e Europa Central Africa Subsaariana Japão, Coréia e China América do Norte e Oceania Europa (incl. Rússia) 0% 20% 40% 60% 80% 100% Agricultura Póscolheita Processamento Comercialização Consumo Fonte: Save Food

P&D por Atividade no Mundo Distribuição das P&D parte comestível no mundo 22% 32% 12% Agricultura Póscolheita Processamento Comercialização Consumo 11% 23% Fonte: Save Food

P&D por atividade e Região (em milhões de toneladas ano) 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 América Latina e Caribe Sul e Sudeste da Ásia Norte e Centro da África e Europa Central Africa Subsaariana Japão, Coréia e China América do Norte e Oceania Europa (incl. Rússia) Fonte: Save Food

Perdas e Desperdício Comparativas Representa o desperdício na ponta do consumo Representa as perdas na produção, transporte e distribuição

P&D por atividade e Região (em porcentagem) 40 35 30 7 % 25 20 15 10 5 0 14 12 15 9 2 2 7 5 28 Desenvolvidos Em desenvolvimento

P&D na ALC (em milhões de toneladas ano) Produção* e Perdas na América Latina e Caribe (2009) 800 700 600 500 400 300 711 200 373 100 0 Produção Bruta Parte comestível 126 P&D * Cereais, grãos, leguminosas, oleaginosas, raízes e tubérculos, frutas e vegetais, carnes, peixe, ovos e leite Fonte: Save Food

Como Diminuir as P&D? Prevenção Doações Alimentação Animal Matéria Prima Industrial Bio Fermentação Compostagem Incineração Aterro

Inspiração & Boas praticas em abordagem de projeto Europeu Business FUSIONS deve incentivar, encorajar, envolver e dar suporte a atoreschave na Europa levando a uma redução de 50% nas P&D e uma redução de 20% nos recursos (naturais e financeiros) nas cadeias produtivas até 2020. Governm ent Science

Campanhas contra as Perdas e Desperdício loss or waste of food

Conclusões Considerando-se os valores médios e as falhas metodológicas das pesquisas as P&D não são tão elevadas no Brasil; A coleta de alimentos desperdiçados representa a melhor alternativa no Curto Prazo e é aquela que não interfere no sistema econômico. Aproximar os ganhos de produtividade em diferentes ambientes (variedades resistentes à deficiência hidrica p. ex) é tarefa mais imediata que aumentar a produtividade; Como os bancos de alimentos no Brasil não atuam na parte de processados a disponibilidade de coleta é ainda menor; Assistência Técnica Rural, Tecnologia de Alimentos e Educação Alimentar ao Consumidor permitem reduzir as perdas e melhorar o aproveitamento do alimento que antes era desperdiçado. Combater o desperdício é aumentar a disponibilidade de alimento reduzindo a pressão sobre os recursos naturais e a emissão de gases que provocam o efeito estufa;