PORTUGUÊS 11.º ANO ENSINO SECUNDÁRIO ELSA MACHADO FREITAS ISABEL GOMES FERREIRA

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Transcrição:

PORTUGUÊS 11.º ANO ENSINO SECUNDÁRIO ELSA MACHADO FREITAS ISABEL GOMES FERREIRA

ÍNDICE LEITURA PADRE ANTÓNIO VIEIRA, SERMÃO DE SANTO ANTÓNIO AOS PEIXES Antes de começar 8 Estudar, hoje, Padre António Vieira 9 Contextualização histórico-literária 10 O Sermão: arte da palavra no Barroco 12 Objetivos da eloquência (docere, delectare, movere) / Intenção persuasiva e exemplaridade 13 Crítica social e alegoria 13 Linguagem, estilo e estrutura 14 Orientações para a leitura de excertos do Sermão de Santo António aos Peixes 15 Praticar 23 Técnicas de escrita 30 Marcadores discursivos 31 Exposição sobre um tema 32 Praticar 32 Apreciação crítica 37 Praticar 38 Leitura Artigo de opinião 41 Praticar 42 Para não esquecer 47 Teste 1 50 Teste 2 55 ALMEIDA GARRETT FREI LUÍS DE SOUSA Antes de começar 62 Estudar, hoje, Frei Luís de Sousa 63 Contextualização histórico-literária 64 Praticar 66 Frei Luís de Sousa 67 Linguagem, estilo e estrutura 68 Recorte das personagens principais 76 O espaço 77 O tempo 81 O drama romântico: características 82 Características românticas em Frei Luís de Sousa 84 O sebastianismo: história e ficção 86 O estilo e a linguagem / A arte do diálogo 87 Praticar 88 Para não esquecer 88 Discurso político 90 Praticar 91 Artigo de divulgação científica 93 Praticar 94 Teste 1 98 Teste 2 103 A TERRA ALMEIDA GARRETT VIAGENS NA MINHA Antes de começar 110 Estudar, hoje, Viagens na Minha Terra 111 Deambulação geográfica e sentimento nacional 113 A representação da Natureza 113 Dimensão reflexiva e crítica 114 Personagens românticas (narrador, Carlos e Joaninha) 114 Linguagem, estilo e estrutura 116 Praticar 117 Para não esquecer 120 Teste 121 B AMOR DE PREDIÇÃO CAMILO CASTELO BRANCO Antes de começar 130 Estudar, hoje, Camilo Castelo Branco 131 Sugestão biográfica (Simão e narrador) e construção do herói romântico 133 A obra como crónica da mudança social 133 Relações entre personagens 134 O amor-paixão 135 Linguagem, estilo e estrutura 135 Para não esquecer 137 Praticar 138 Teste 140 4

PORTUGUÊS 11.º ANO A EÇA DE QUEIRÓS OS MAIAS Antes de começar 146 Estudar, hoje, Eça de Queirós 147 Contextualização histórico-literária 148 O romance: pluralidade de ações; complexidade do tempo, do espaço e dos protagonistas; extensão 153 Visão global e estruturação: título e subtítulo 155 Estrutura da obra 155 Os Maias capítulo a capítulo 157 Espaços e o seu valor simbólico e emotivo 170 A representação de espaços sociais e a crítica de costumes 172 Personagens: características trágicas 176 Os tipos sociais / A crónica de costumes 177 Linguagem e estilo 182 Praticar 183 Para não esquecer 190 Teste 1 191 Teste 2 197 EÇA DE QUEIRÓS A ILUSTRE CASA B DE RAMIRES A Ilustre Casa de Ramires 204 Estruturação da obra: ação principal e novela 205 Caracterização das personagens e complexidade do protagonista 205 O microcosmos da aldeia como representação de uma sociedade em mutação 207 O espaço e o seu valor simbólico 207 História e ficção: reescrita do passado e construção do presente 208 A Ilustre Casa de Ramires capítulo a capítulo 209 Para não esquecer 219 Teste 220 ANTERO DE QUENTAL SONETOS COMPLETOS Antes de começar 224 Estudar, hoje, Antero de Quental 225 A angustia existêncial 225 Configurações do Ideal 226 Linguagem, estilo e estrutura 227 Praticar / Analisar 228 Para não esquecer 238 Teste 239 CESÁRIO VERDE CÂNTICOS DO REALISMO Antes de começar 246 Estudar, hoje, Cesário Verde 247 Contextualização histórico-literária 248 Praticar 251 A representação da cidade e dos tipos sociais 252 Deambulação e imaginação: o observador acidental 253 Perceção sensorial e transfiguração poética do real 253 Linguagem, estilo e estrutura 256 Praticar / Analisar 257 Para não esquecer 288 Teste 290 FICHAS INFORMATIVAS Discurso, pragmática e linguística textual 298 Dêixis: pessoal, temporal e espacial 307 Reprodução do discurso no discurso 309 PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 314 5

PORTUGUÊS 11.º ANO SABER O ESSENCIAL Contextualização histórico-literária José Maria Eça de Queirós nasce em 1845, na Póvoa de Varzim, e morre em 1900, em Paris. Em Coimbra, estudante de Direito, conhece Teófilo Braga e Antero de Quental, com quem priva e partilha as novas ideias filosóficas vindas da Europa, o que influenciou a sua formação como homem e cidadão. Em 1871, participa nas Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, que pretendiam abalar o marasmo da sociedade portuguesa, marcada pelo Ultrarromantismo. Em 1888, publica Os Maias. Pintura de Rafael Bordalo Pinheiro. Mudanças culturais e sociais na Europa na segunda metade do séc. XIX. Sob o ponto de vista cultural, a segunda metade do século XIX estava, ainda, dominada pelo Ultrarromantismo e o seu apego ao passado, à ideação sentimentalista, ao misticismo e a temáticas como a morte e a solidão. Contudo, uma vaga de grandes alterações começa a surgir na Europa, que vê a política, a ciência, a religião e, logicamente, as teorias sociais a mudar: a expansão do Liberalismo, as novas teorias sobre a evolução das espécies e a hereditariedade e uma postura anticlerical transformam a sociedade, permitindo uma nova mundividência. A nova mentalidade: Darwin Lamarck Comte Proudhon Hegel Autores como Darwin e Lamarck, Comte, Proudhon e Hegel exerceram influência decisiva para a criação da nova mentalidade. Todas as áreas do saber procuravam alicerçar os seus conhecimentos, as suas teorias na certeza comprovada e, assim, a própria arte encetou o seu caminho na procura da verdadeira realidade, transportando-a para as suas obras a verdade e a objetividade eram, por isso, a sua preocupação, tendo deixado ficar para trás o sentimentalismo doentio, a idealização do mundo e a expressão exacerbada do amor. Papel da geração dos estudantes de Coimbra na transformação da sociedade portuguesa. Consciência da necessidade de mudar o país, na tentativa de acompanhar a Europa. Portugal, por esta altura, estava já ligado à Europa pelas novas vias de comunicação de salientar o papel desempenhado pelos caminhos de ferro e, como tal, todas as novas ideologias chegavam aos jovens estudantes de Coimbra, que as absorviam com avidez e os motivavam, desenvolvendo neles o desejo de liderar a transformação da sociedade portuguesa que vivia o chamado período da Regeneração. Uma certa estabilidade política aliada a uma situação de desenvolvimento da banca e a um progresso social evidenciado pelo aparecimento do caminho de ferro, de novas estradas e mesmo de uma rede escolar marcou a vida do país de 1850 a 1870, aproximadamente, até porque havia a consciência de que era urgente modernizar Portugal, para que este beneficiasse dos melhoramentos de que grande parte da Europa já então usufruía. 148

A EÇA DE QUEIRÓS, OS MAIAS PORTUGUÊS 11.º ANO SABER O ESSENCIAL A transformação social portuguesa fez-se sentir de múltiplas formas e para isso muito contribuiu a chamada revolução do comboio. Portugal, país essencialmente agrícola, produzia vinho, azeite e cereais que eram, à época, consumidos, na sua maioria, localmente, sendo comercializado o excedente da produção por via dos almocreves. Ora, com o avanço das estradas e da linha férrea, foi possível um transporte mais rápido e seguro das mercadorias. Aumenta o dinheiro nas aldeias, tendo a sua distribuição sido alterada: os pequenos proprietários passam a ter um rendimento que lhes permite mandar os filhos à escola, comprar vestuário, mobilar melhor a sua casa. Na cidade, a instalação dos serviços administrativos aumenta o número de postos de trabalho, o comércio prolifera, sendo numerosos os indícios do crescimento e prosperidade de uma vasta e emergente classe média. A população de Lisboa mais do que duplica, sendo necessário criar novas soluções de alojamento. A construção civil é uma atividade que se torna atrativa e desencadeia o desenvolvimento fabril a ela associada (cerâmica, vidro, serrações). No entanto, Portugal não deixa de estar dependente de importações, até porque o desenvolvimento nacional não acompanha o ritmo do desenvolvimento das nações industrializadas. As grandes cidades, Porto e Lisboa, não são aglomerados industriais, são antes locais de serviços e de consumo, situação, aliás, que se irá manter até ao final do século XIX. A migração para as grandes cidades torna-se significativa, mas nem todos aí encontram o posto de trabalho que procuram, tornando-se difícil a integração urbana daqueles que saíram do campo. Camponeses e burgueses continuam a ser as duas classes sociais estruturantes da sociedade portuguesa, não tendo o proletariado expressividade, o que se reflete na ausência de peso político das movimentações socialistas no século XIX português. Surge a emigração, que é orientada para o Brasil, sobretudo do Norte e das Beiras. As transferências de divisas que se operam na altura contribuíram, de certa forma, para atenuar o desequilíbrio económico. Contudo, nem todos os emigrantes tiveram sucesso e, na época, falou-se mesmo de escravatura branca. O fluxo migratório provocou o despovoamento de aldeias inteiras e consequente agravamento da falta de mão de obra para a agricultura. O papel do caminho de ferro na transformação da sociedade portuguesa. As mudanças na sociedade portuguesa. Porto e Lisboa: polos de desenvolvimento. A sedução pelo espaço hurbano. Emigração para o Brasil. A prosperidade da economia portuguesa era, então, aparente, e a dependência quase total em relação ao estrangeiro não ajudou à viabilização da independência económica relativamente aos países europeus mais desenvolvidos. É, assim, neste panorama que surge o grupo de jovens que configura a nova intelectualidade do país, grupo esse que visa a transformação social, moral e política de Portugal, no intuito de lhe conferir, novamente, um papel de relevo na Europa. Dependência económica relativamente ao estrangeiro. Aparecimento da Geração de 70. 149

PORTUGUÊS 11.º ANO TESTE Grupo I Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada. A DESLUMBRAMENTOS Milady, é perigoso contemplá-la Quando passa aromática e normal, Com seu tipo tão nobre e tão de sala, Com seus gestos de neve e de metal. Sem que nisso a desgoste ou desenfade, Quantas vezes, seguindo-lhe as passadas, Eu vejo-a, com real solenidade, Ir impondo toilettes complicadas! Em si tudo me atrai como um tesoiro: O seu ar pensativo e senhoril, A sua voz que tem um timbre de oiro E o seu nevado e lúcido perfil! Ah! Como me estonteia e me fascina E é, na graça distinta do seu porte, Como a Moda supérflua e feminina, E tão alta e serena como a Morte! Eu ontem encontrei-a, quando vinha, Britânica, e fazendo-me assombrar; Grande dama fatal, sempre sozinha, E com firmeza e música no andar! O seu olhar possui, num jogo ardente, Um arcanjo e um demónio a iluminá-lo; Como um florete, fere agudamente, E afaga como o pelo dum regalo! Pois bem. Conserve o gelo por esposo, E mostre, se eu beijar-lhe as brancas mãos, O modo diplomático e orgulhoso Que Ana d Áustria mostrava aos cortesãos. 290

CESÁRIO VERDE. CÂNTICOS DO REALISMO, O LIVRO DE CESÁRIO VERDE PORTUGUÊS 11.º ANO TESTE E enfim prossiga altiva como a Fama, Sem sorrisos, dramática, cortante; Que eu procuro fundir na minha chama Seu ermo coração, como um brilhante. Mas cuidado, milady, não se afoite, Que hão de acabar os bárbaros reais; E os povos humilhados, pela noite, Para a vingança aguçam os punhais. E um dia, ó flor do Luxo, nas estradas, Sob o cetim do azul e as andorinhas, Eu hei de ver errar, alucinadas, E arrastando farrapos as rainhas! 1. Atente no retrato feminino apresentado. 1.1. Faça a sua caracterização, apresentando cinco traços de caráter. 2. Explicite a relação existente entre o sujeito poético e esta personagem feminina. 3. Clarifique a atitude assumida pelo sujeito poético nas últimas quatro estrofes. B Poeta do imediato, Cesário é também um poeta da memória. [ ] Jacinto do Prado Coelho Considerando o estudo realizado sobre Cesário Verde, comente a afirmação transcrita num texto de oitenta a cento e trinta palavras, que revele um bom domínio dos mecanismos de coesão textual, tendo em conta os seguintes tópicos: o quotidiano na poesia de Cesário Verde; o jogo objetividade/subjetividade. 291