Teste de Habilidade Específica em música: inclusão das pessoas com deficiência visual no ensino superior

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Transcrição:

Teste de Habilidade Específica em música: inclusão das pessoas com deficiência visual no ensino superior Edibergon Varela Bezerra UFRN edbergon@hotmail.com Resumo: Objetivando contribuir para o ingresso da pessoa com deficiência visual nos cursos de música, a Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EM-UFRN) deu início a diversos projetos de educação musical. Este trabalho pretende apresentar os meios utilizados pelos alunos com deficiência visual na preparação para o Teste de Habilitação Específica (THE) em música. Foi utilizada a entrevista semiestruturada, observação participante e a investigação empírica. Diante disto, foi comprovado que as iniciativas promovidas pela EM-UFRN estão sendo efetivas e contribuindo no que tange a inclusão dos alunos com deficiência visual nos cursos de música, embora ainda de forma tímida, mas com grande relevância para área da música, em especial, no contexto da educação musical especial. Palavras chave: Ensino superior. THE em Música. Educação Musical Especial. Introdução Objetivando contribuir para o ingresso da pessoa com deficiência visual nos cursos de música, a Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EMUFRN) deu início a diversos projetos de educação musical especial. Entre as iniciativas, destacam-se o projeto de extensão - Curso de Flauta Doce para Pessoas com Deficiência Visual iniciado em setembro de 2011, bem como o projeto de ação associada - Curso de Musicografia Braille iniciado em março de 2013. Tais projetos têm como foco, musicalizar as pessoas com deficiência visual, oferecer aos alunos da graduação vivências com esta modalidade de ensino, assim como promover a quebra de preconceitos e estereótipos com relação ao ensino e aprendizagem de música para pessoas com deficiência visual. Para ingressar no curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), é necessário ser aprovado no Teste de Habilidade Específica (THE) em Música e no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Este THE em Música é dividido em duas etapas. A primeira é composta por uma prova dissertativa, em que o candidato deve identificar elementos musicais de um fragmento de uma determinada partitura. Após o aluno ser aprovação nesta primeira etapa, ele realizará uma segunda etapa constituída por uma prova prática. Então o mesmo deverá solfejar uma linha melódica e outra métrica

entre quatro e seis compassos, em seguida executar uma música instrumental de sua preferência e cantar uma canção de livre escolha acompanhada por um instrumento harmônico. Este instrumento poderá ser o piano ou o violão. Para que seja aprovado no THE em Música não é necessário ser um virtuoso no instrumento ou ter grandes conhecimentos teóricos musicais, mas, sim, ter conhecimento básico tanto instrumental, quanto da leitura e escrita musical. Portanto, qualquer um que tenha oportunidade de estudar música de maneira teórica e prática, tem como concorrer a uma das vagas no curso de Licenciatura em Música, independente se tem deficiência visual ou não. Embora o ensino da música nos últimos anos esteja ganhando espaço nos ambientes escolares depois da Lei 11.769/2008, ainda é muito difícil o acesso à escrita da notação musical em Braille para as pessoas com deficiência visual. Portanto, para que uma pessoa com deficiência visual tenha possibilidade de aprovação no THE em Música, precisa-se ter pelo menos o conhecimento básico da Musicografia Braille. Com relação ao mito que todo cego tem um ouvido musical apurado, Bonilha (2006, p. 59) fala que, Trata-se, pois, de uma generalização equivocada, já que a inclinação para a Música não é determinada apenas pela deficiência visual. Baseado neste mito, alguns professores de música quando vão ensinar a um aluno cego utilizam prioritariamente estímulos sonoros. Louro (2012, p. 262), também fala deste engando quando diz que, as pessoas fantasiam a respeito de tal deficiência, o que pode suscitar expectativas equivocadas, como, por exemplo, pensar que todo cego tem talento ou que a cegueira faça com que ele tenha uma audição melhor. Mantoan (2011, p. 113) enfatiza que, o atendimento educacional especializado deve prover os recursos e os meios adequados para assegurar o acesso ao conhecimento em todas as etapas e níveis escolares. Isso também se refere às aulas de música nas escolas. Bonilha (2006, p. 28), também compartilha da mesma ideia. O professor deve, então, possuir um conhecimento dos mecanismos da notação Musical em Braille, a ponto de estar consciente acerca das habilidades de que seus alunos precisam desenvolver para dominarem esse sistema. Mesmo sendo um direito do aluno com deficiência visual o acesso à materiais adaptados, Bonilha (2006, p. 32) fala que a produção de materiais é de difícil acesso. Frequentemente, os músicos com deficiência visual afirmam que não têm acesso ao

aprendizado da Musicografia Braille devido à escassez de materiais transcritos. Isto é fato, pois além das tecnologias responsáveis pela produção de materiais didáticos direcionados às pessoas com deficiência visual serem de difícil acesso, o valor econômico desses materiais é de alto custo. Com o surgimento dos projetos de inclusão na EM-UFRN e com o apoio da Comissão de Permanência e Apoio aos Estudantes com Necessidades Educacionais Especiais (CAENE), setor responsável pela produção de materiais adaptados, foi possibilitado aos alunos com deficiência visual concorrer a uma vaga no THE em Música em igualdade de condições com os demais alunos sem deficiência. No início de 2013, três alunos com deficiência visual se interessaram pelo curso de Licenciatura em Música. Como foi falado anteriormente, seria necessário ser aprovado tanto no THE em Música quanto no ENEM. Portanto, além das aulas regulares de música ministradas nos projetos, foi proposto aos três alunos algumas aulas extras. A princípio foi feito uma investigação a respeito do nível de conhecimento musical desses alunos. Após essa análise, foi pensada estratégias didáticas específicas para cada um deles, já que apresentavam níveis musicais bem distintos. Diagnóstico dos alunos Foi necessário fazer um diagnóstico para termos uma ideia do nível musical destes alunos, mediante as seguintes questões: Quais os instrumentos musicais tocam; que estilo de música gostaria de tocar no THE; qual o nível de leitura musical. Entre os três alunos, um já apresentava múltiplas habilidades instrumentais, pois tocava violão, baixo-elétrico, teclado, acordeão, flauta doce, além das aulas de iniciação ao trompete que estava tendo. Outro aluno tocava flauta doce e violão. E o terceiro, em relação aos demais, tocava unicamente a flauta doce. Inicialmente, foi proposto aos alunos que trouxessem músicas de livre escolha e, se possível, músicas fáceis de serem acompanhadas ao violão ou ao piano. Um aluno escolheu a música É preciso saber viver do cantor Roberto Carlos. O outro trouxe a música Sanfona Branca do cantor Benito Di Paula e o terceiro aluno não trouxe nenhuma canção. Foi pedido aos que trouxeram as músicas, que cantassem, e se possível, com o acompanhamento ao instrumento harmônico. Os dois alunos conseguiram cantar, mesmo com algumas

dificuldades na afinação e no tempo da música. Já o aluno que não sabia tocar nenhum instrumento harmônico, foi proposto a ele um trabalho de iniciação ao violão. Aulas preparatórias para o THE em Música As aulas preparatórias para o THE em Música, ocorreram durante seis meses. Além das aulas teóricas, foram oferecidas aulas práticas, com o estudo do violão e da flauta doce. As aulas foram divididas em dois momentos: o primeiro momento, com estudos instrumentais com ênfase ao repertório escolhido pelo aluno; e o segundo, com estudos de percepção musical com leitura e escrita musical em Braille. Após o período de preparação para o THE em Música, foi realizada uma entrevista semiestruturada com estes alunos. Entrevista Com a finalidade de saber mais sobre essa experiência durante a preparação para o THE em Música, foi realizada uma entrevista semiestruturada com os três alunos com deficiência em Música. Nesta entrevista, foram feitas as seguintes questões: 1 - Quais os recursos didáticos utilizados mais relevantes durante os estudos para o THE em Música? 2 Entre as atividades musicais realizadas, quais delas foram importantes? 3 - Quais as dificuldades encontradas durante a preparação? Aos referidos entrevistados, usaremos como identificação os pseudônimos João, Pedro e Maria. Com relação a primeira questão, João, Pedro e Maria responderam que os recursos didáticos mais relevantes para eles foram: exercício e partituras em Braille, a utilização de software musibraille, alguns instrumentos musicais (flauta doce e violão), reglete positiva e punção. Na segunda questão João, Pedro e Maria responderam que as melhores atividades foram: solfejos, leitura métrica, percepção de intervalos, prática instrumental, audição das músicas, aprendizagem das letras das canções e seus respectivos acordes. Na terceira questão, todos informaram que houveram dificuldades durante a preparação:

a) João compartilha: [...] tive muitas dificuldades na leitura rítmica, embora os professores tenham me ajudado, acredito que ainda preciso melhorar muito [...] ; b) Pedro afirma: [...] não tive muito acesso as partituras em Braille e o deslocamento até a escola de música foi muito difícil [...] ; c) Maria sinaliza: [...] a prática instrumental foi minha maior dificuldade. Como não sabia tocar violão tive que me esforça muito para tocar uma música no violão [...]. Embora tenha havido dificuldades, só o fato de estarem estudando a Musicografia Braille juntamente com a prática instrumental fez com que os alunos se motivassem e passassem a acreditar na aprovação no THE em Música. Conclusão Como resultado desta preparação, os três alunos foram aprovados no THE em Música, mas apenas um atingiu o ponto de corte do ENEM para concorrer às vagas no curso de Licenciatura em Música, ficando na terceira colocação geral. Os outros dois concorrentes ficaram na suplência. A EM-UFRN aliada a Comissão Permanente de Apoio a Estudantes com Necessidades Educacionais Especiais (CAENE), na tentativa de garantir o direito à igualdade de condições no acesso ao conhecimento estará inaugurando o Laboratório de Acessibilidade na EM-UFRN que dará condições de acesso aos conteúdos didáticos necessários aos alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE). Considerações Portanto, fica evidente que, para o delineamento de uma sociedade mais inclusiva, é necessário que ofereça condições de igualdade às pessoas com deficiência. Neste caso, às pessoas com deficiência visual. O ensino de música para este público deve ser oferecido com o apoio de materiais adaptados. As Instituições de Ensino Superior (IES) devem estar articuladas com pessoas, ambientes, produtos e serviços acessíveis para receber as pessoas com necessidades educacionais especiais. Todavia, mesmo que as IES não se encontrem preparadas para recebê-las é fundamental que as pessoas em foco ingressem no contexto

acadêmico do Ensino Superior para, mediante as necessidades surgidas, aconteçam iniciativas institucionais inclusivas.

Referências BONILHA, Fabiana Fator Gouvêa. Leitura musical nas pontas dos dedos: caminhos e desafios do ensino da musicografia Braille na perspectiva de alunos e professores. 2006. 233f. Dissertação (Mestrado em Música) Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006. LOURO, Viviane dos Santos. Fundamentos da aprendizagem musical da pessoa com deficiência. São Paulo, SP: Som, 2012. MANTOAN, Maria Teresa Eglér (Org.). O desafio das diferenças nas escolas. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.