Filosofia do Direito

Documentos relacionados
Hans Kelsen. Prof. Nogueira. O que é Justiça?

PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO ELEITORAL FADIVALE FILOSOFIA DO DIREITO

22/08/2014. Tema 7: Ética e Filosofia. O Conceito de Ética. Profa. Ma. Mariciane Mores Nunes

Teorias éticas. Capítulo 20. GRÉCIA, SÉC. V a.c. PLATÃO ARISTÓTELES

IMMANUEL KANT ( )

A HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO. Aula n.º 02

1ª Fase PROVA OBJETIVA TEORIA GERAL DO DIREITO

Clóvis de Barros Filho

IMMANUEL KANT ( ) E O CRITICISMO

O caminho moral em Kant: da transição da metafísica dos costumes para a crítica da razão prática pura

Filosofia (aula 20) Dimmy Chaar Prof. de Filosofia. SAE

Filosofia Iluminista. Profª Karina Oliveira Bezerra Unidade 01. Capítulo 04: p Unidade 08. Capítulo 05: pg

2 A Concepção Moral de Kant e o Conceito de Boa Vontade

Kant e a Razão Crítica

NODARI, Paulo César. Sobre ética: Aristóteles, Kant e Levinas. Caxias do Sul: Educs, 2010

Aula Véspera UFU Colégio Cenecista Dr. José Ferreira Professor Uilson Fernandes Uberaba 16 Abril de 2015

AULA 01 FILOSOFIA DO DIREITO KANT E A FILOSOFIA CRÍTICA

OBRA DA ÉPOCA MODERNA: FUNDAMENTAÇÃO DA METAFÍSICA DOS COSTUMES, DE KANT

Os Sociólogos Clássicos Pt.2

Textos, filmes e outros materiais. Habilidades e Competências. Conteúdos/ Matéria. Categorias/ Questões. Tipo de aula. Semana

Biografia Básica. Austríaco. Judeu

A teoria do conhecimento

ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL MÓDULO 2

Parte I Filosofia do Direito. Teoria Geral do Direito e da Política

O ESTADO MODERNO COMO PROCESSO HISTÓRICO A formação do Estado na concepção dialética de Hegel

O NORMATIVISMO JURÍDICO DE HANS KELSEN: a norma jurídica como objeto da Ciência do Direito

As provas da existência de Deus: Tomás de Aquino e o estabelecimento racional da fé. Colégio Cenecista Dr. José Ferreira

A Liberdade e a Igualdade em Kant: fundamentos da cidadania. Sob a égide do Estado Democrático de Direito, instituído pela

Sobre Kant. Kant nasceu em Konigsberg, no ano de 1724 e morreu em 1804 sem nunca ter saído da sua cidade natal.

MORAL E ÉTICA. Consciência Moral: noção de bem e mal/certo e errado/justo e injusto.

A ÉTICA NA HISTÓRIA DO PENSAMENTO

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

Unidade I ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL. Prof. Aguinaldo Pereira Alves

Ficha de filosofia. A necessidade de fundamentação da moral Análise comparativa de duas perspectivas filosóficas. Fundamento e critérios da moralidade

SOCIOLOGIA PRINCIPAIS CORRENTES.

Considerações acerca da moral kantiana e suas implicações no direito

Quem criou o termo e desenvolveu a sociologia como ciência autônoma foi Auguste Comte. Sua obra inicia-se no início do século XIX e é central a noção

Introdução À Ética e a Moral. A verdadeira Moral zomba da Moral Blaise Pascal( )

A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER. Professora: Susana Rolim

Sumário. 1 Sobre a Filosofia, 1 A filosofia como tradição, 1 A filosofia como práxis, 5

Conceito de Moral. O conceito de moral está intimamente relacionado com a noção de valor

O. 8. BITTÇ~R EDU~RDO. Curso de Etica Jurídica. É ti c a geral e profissional. 12ª edição, revista, atualizada e modificada ..

Roteiro 16. Livre-arbítrio. FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita Programa Filosofia e Ciência Espíritas

AULA FILOSOFIA. O realismo aristotélico

LÓGICA JURÍDICA E A NOVA RETÓRICA

ÉTICA KANTIANA: A IMPORTÂNCIA DA TEORIA DE KANT SOBRE ÉTICA PARA A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

Cotações. Prova Escrita de Filosofia. 10.º Ano de Escolaridade Março de Duração da prova: 90 minutos. 3 Páginas

Crítica do conhecimento teórico e fundamentação moral em Kant

A Concepção Moderna do Ser humano

FILOSOFIA MODERNA (XIV)

Sigilo. Coleguismo Honra. Justiça. Responsabilidade. Zelo. Honestidade. Igualdade. Respeito. Competência Liberdade. Solidariedade.

Teoria Realista das Relações Internacionais (I)

Metafísica & Política

FILOSOFIA COMENTÁRIO DA PROVA DE FILOSOFIA

EFA NS C P 5 _ D E O N T O L O G I A E P R I N C Í P I O S É T I C O S

Curso: Direito. Unidade Curricular: 2º Semestre Disciplina: Filosofia do Direito Turma: 2014/1


TEORIA DOS VALORES. Quais são os valores que você mais preza? Introdução

Justiça Equitativa e Autonomia Política em John Rawls

HANS KELSEN ( )

Unidade 04. Prof.ª Fernanda Mendizabal Instituto de Educação Superior de Brasília

Prof. Ricardo Torques

Ricardo Terra. Kant & o direito. Rio de Janeiro

Moral e Direito. Moral e Direito. Filosofia Moral. Moral e Direito 09/03/2014. Do ser ao que deve-ser. Distinção entre Moral e Ética. Moral.

Filosofia 2016 INFORMAÇÃO PROVA DE EQUIVALÊNCIA À FREQUÊNCIA

Filosofia Moderna: a nova ciência e o racionalismo.

Teorias do conhecimento. Profª Karina Oliveira Bezerra

Professora Edna Ferraresi. Aula 2

Vocabulário Filosófico Dr. Greg L. Bahnsen

Sumário. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Wallace Ricardo Magri

INTRODUZINDO O PENSAMENTO DE HANS KELSEN. Renata Salgado Leme¹

Unidade 3: A Teoria da Ação Social de Max Weber. Professor Igor Assaf Mendes Sociologia Geral - Psicologia

CORRENTES DE PENSAMENTO DA FILOSOFIA MODERNA

TEORIA GERAL DO ESTADO

Teoria do Conhecimento:

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE DIREITO

SISTEMAS JURÍDICOS NA VISÃO DE JUSFILÓSOFOS

PLANO DE AULA DISCIPLINA: ÉTICA E CIDADANIA I CÓD. ENUN º PERÍODO SEMANA CONTEÚDOS/MATÉRIA TIPO DE AULA TEXTOS, FILMES E OUTROS MATERIAIS

CEAP Curso de Direito Disciplina Introdução ao Direito. Aula 04. DIREITO NATURAL E DIREITO POSITIVO Prof. Milton Correa Filho

ÉTICA E MORAL. O porquê de uma diferenciação? O porquê da indiferenciação? 1

John Locke ( ) Inatismo e Empirismo: Inatismo: Empirismo:

Dignidade Humana e Justiça Social

Fundamentação ética em Kant versus posição ética de Nietzsche

Próxima aula: Ética III Kant (ponto 6).

A MORAL DEONTOLÓGICA KANTIANA SOB O VÉU DO IMPERATIVO CATEGÓRICO. Luzia Cunha Cruz Universidade Iguaçu

O conceito ética. O conceito ética. Curso de Filosofia. Prof. Daniel Pansarelli. Ética filosófica: conceito e origem Estudo a partir de Aristóteles

Capacitação em Educação em Direitos Humanos. FUNDAMENTOS HISTÓRICO- FILOSÓFICOS DOS DIREITOS HUMANOS Módulo 1.1

PLANO DE AULA DISCIPLINA: ÉTICA E CIDADANIA I (CÓD. ENUN60004) PERÍODO: 1 º PERÍODO EXPOSITIVA EXPOSITIVA EXPOSITIVA EXPOSITIVA

Utilize apenas caneta ou esferográfica de tinta indelével, azul ou preta.

O soberano não representava mais seus príncipes e condes, passando a encarnar diretamente a representação do povo submetido ao seu poder!

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO ANOTAÇÕES DA AULA 2

TEORIA DO CONHECIMENTO Immanuel Kant ( )

INFORMAÇÃO-PROVA DE EQUIVALÊNCIA À FREQUÊNCIA FILOSOFIA MAIO 2017 Prova: 161

JUPRUDÊNCIA DOS CONCEITOS - PUCHTA

SERGIO LEVI FERNANDES DE SOUZA. Principais mudanças da revolução copernicana e as antinomias da razão pura.

The Kantian ethics: regulatory instance of human actions.

III Estado Romano de um pequeno grupamento humano ao primeiro império mundial. Características: a) Base familiar de organização; b) Cristianismo.

Ética aplicada: ética, moral, valores e virtudes. Professora Renata Lourdes.

POR QUE HUME NÃO É EMOTIVISTA? 1 WHY HUME IS NOT EMOTIVIST?

ÍNDICE SISTEMÁTICO. Abreviaturas e siglas usadas. Apresentação

Transcrição:

1 Filosofia do Direito Grupo de estudo Revisão José Roberto Monteiro 21 de novembro de 2012

2 Matéria para a prova de 22/11/12 A Justiça em Aristóteles. Hugo Grócio. Immanuel Kant. Hans Kelsen

3 A Justiça em Aristóteles Entende justiça como virtude. Principais conceitos de justiça estão no livro Ética a Nicômano. O direito natural é eterno, imutável, mas há o direito positivo, que o homem cria a partir do direito natural. O fogo arde de maneira igual na Grécia e na Pérsia.

JUSTIÇA 4 Justiça Universal Justiça Particular Justiça Distributiva Justiça Corretiva

5 Justiça Universal A justiça universal é a maior de todas as virtudes, pois seu exercício permite o exercício de todas as outras. É a virtude perfeita, do indivíduo para si (caráter) e para o próximo. É o maior bem universal. É injusto o homem que transgride a lei: o que é lícito é justo.

6 A lei prescreve condutas: é justo o corajoso, o comedido, o gentil, o generoso. A justiça universal é, em si própria, o justo meio Injustiça Justiça Injustiça Justiça Particular Excesso Justo meio Falta Prodigalidade Generosidade Avareza Imprudência Coragem Covardia

7 A virtude está no meio. A justiça particular tem por medida o respeito à igualdade. Corresponde a uma relação de proporção entre grandezas. Envolve um valor, uma medida, daí a balança. Justiça particular distributiva Realiza igualdade para repartir riquezas e dignidades. Visa à equiparação de cidadãos. Está ligada à ideia de justiça política. Busca a atribuição de algo a alguém.

8 Justiça particular corretiva Realiza a igualdade na relação entre as pessoas. Os cidadãos são pressupostos como iguais. O que importa é equivalência das coisas. Busca, impessoalmente, o equilíbrio entre o que se fez e o que se recebe. É a medida para contratos e reparação de delitos.

9 Contexto histórico Hugo Grócio 1583 ~ 1645 Holandês de família aristocrática. Contemporâneo à expansão mercantilista e a reforma protestante. - Capitalismo e a ética protestante (Max Weber) - Cia das Índias Orientais comércio demandando nova ordem jurídica internacional. Grande advogado.

10 O homem é um animal de excelente espécie, com desejo de sociedade. Esse desejo de conservação da sociedade inerente à natureza do intelecto humano é a fonte do direito natural. Não é mais Deus ou a ordem divina, o substrato do direito, mas a natureza humana, a natureza das coisas. Grócio não discorda de que o direito natural é um mandamento, com regras constantes e universais, e aceita o livre-arbítrio de Deus.

11 Só que agora... É um mandamento da meta razão, a razão que é capaz de definir as ações humanas, a necessidade moral de um comportamento, sua justiça ou injustiça em relação à ordem lógica. 2+2=4, ainda que Deus não queira. Necessidade moral das ações mediante o acordo ou desacordo com a ordem racional.

12 Há uma ordem racional. A razão é a fonte do direito, porque ordena o social. -... E não a necessidade física como em Hobbes! Agora... JUSNATURALISMO. Em Grócio: Pacta sunt servanta, pois na formação do contrato social, há justiça, é obedecido o que é justo. Tratando tanto da relação entre indivíduos, quanto entre Estados soberanos, Grócio contribuiu de modo decisivo para a criação do direito internacional.

13 Immanuel Kant 1724 ~ 1804 Nasceu, viveu e morreu em Königsberg na Prússia Oriental, nunca tendo se afastado mais de 90 km dali. Solitário e metódico, nunca se casou. Filosofia voltada à razão. Racionalismo Rompe com a teocracia da Idade Média em que o mundo era centrado em Deus e o direito natural é o divino.

Empirismo: utiliza o método indutivo, que diz que para conhecer é necessária a experiência do mundo exterior. 14 Inatismo: defende que conhecimento é interno ao homem, inato na razão. Kant: Tanto empiristas como inatistas estão certos, mas é preciso antes discutir a razão, o que ela é. Esse é o criticismo kantiano, discutir a razão.

15 A Razão é vazia Razão Pura. (memória RAM). É o conhecimento sintético a priori. O papel da razão é formular e orientar a sensibilidade e o intelecto. O conhecimento começa pelos sentidos. É o sentido inicial. Mas conhecemos parcialmente as coisas, porque quem vai à substância é a Razão (princípios, causa-efeito, temporalidade). São os princípios da Razão que permitem julgar o que vem de fora.

16 Conhecimento sintético a priori é o juízo anterior à experiência, a RAZÃO PURA O conhecimento em Kant Juízos sintéticos a priori + Sentidos absorvem experiência + Razão elabora os sentidos = Conhecimento submetido à subjetividade

17 Imperativo categórico Age de tal modo que a máxima da tua ação seja ao mesmo tempo razão universal. O imperativo Categórico é um princípio moral. Para Kant, é o princípio ético fundamental.

18 Como a liberdade é o valor maior para Kant e, ser livre é ter autonomia, cada vontade, livre, deve agir de acordo com a máxima de vida gerada pelo imperativo categórico. O agir livre é o agir moral e, agir de acordo com o dever: Age de modo que a máxima de tua ação seja ao mesmo tempo razão universal Ora, sendo o homem racional (fim em si mesmo), a humanidade (soma de homens) deverá ser, sempre, tomada como fim em si mesmo dever moral.

19 No dizer de Kant, a boa vontade não é boa pela sua adequação para alcançar determinado fim a que nos propusemos; é boa somente pelo querer... é boa em si mesmo! O dever moral não possui sanção; a sanção está no Direito, aliás é o ponto fundamental que separa a norma moral da norma jurídica. Moral autônoma Direito Heterônomo, vem do outro, do estado se eu não cumprir: SANÇÃO.

20 Ética kantiana Para Kant a razão é insuficiente para alcançar o modelo ideal de realização da felicidade humana. É um instrumento incapaz de fornecer as explicações para as razões últimas do existir, de querer e de escolher eticamente. O princípio moral exige a universalidade das práticas morais e da maneira de agir. Para Kant, o agir moral pressupõe a liberdade do indivíduo. É o dever pelo dever.

21 Porque a concepção de Kant sobre a liberdade não é se fazer o que se quer, situação em que, de fato, se é escravo da sua própria vontade. Qual é a diferença entre moral e direito para Kant? Moral é o dever pelo dever, regula a conduta interna do indivíduo, e não é dotada de sanção. Direito regula a conduta externa do indivíduo e é dotado de sanção.

22 Sobre a moral em Kant A doutrina moral em Kant é independente de qualquer sentido religioso. Exclui a noção de intenção psicológica. E o dever não é uma obrigação a ser seguida em função de um ente superior. Para Kant o imperativo categórico é uma lei universal e necessária presente em todos os homens, em todos os tempos, em todos os lugares. O dever é o princípio supremo de toda a moralidade.

23 Dessa forma uma ação se realiza em conformidade com o imperativo categórico, toda a vez que estiver em harmonia com o sentimento do dever. No sistema kantiano, moral e direito são duas partes de um mesmo todo unitário, mas se relacionam respectivamente à interioridade e exterioridade do indivíduo.

24 Hans Kelsen 1881 ~ 1973 Positivismo jurídico e normativismo Delimitação do direito como ciência. A ciência do direito só é pura se separada das outras ciências. Desvinculação com a justiça e a moral. Teoria Pura do Direito, quebra a relação do Ser com o Dever-ser.

25 O Ser cultural, sociológico, antropológico, ético, metafísico, religioso, histórico não é jurídico. O Dever-ser é o fenômeno jurídico puro. O objeto do direito é a norma. Uma norma não precisa ser justa, precisa apenas ser válida e globalmente eficaz, ou seja, eficaz enquanto parte do ordenamento.

26 Kelsen defendeu que a validade de uma norma decorre de uma relação com outra norma, dentro dos critérios de hierarquia do ordenamento em que se insere. Assim as normas se relacionam pela submissão das normas inferiores às hierarquicamente superiores. Em um Estado de Direito o ápice do ordenamento jurídico é a Constituição. Acima da Constituição está a norma fundamental, que dá validade jurídica a todas as normas. É a Grundnorm.

27 A Grundnorm é um conceito abstrato, uma norma hipotética, que não está posta em nenhum sistema jurídico. Não existe historicamente nem fisicamente, é pressuposta logicamente. Assim, a partir da Grundnorm que em tese afirma a validade da primeira Constituição histórica - as normas vão sendo validadas por outras normas em um sistema fechado, sendo elas o princípio e o fim de todo o sistema.

28 A ordem jurídica requer um regresso ad infinitum até a norma hipotética fundamental que valida todo o sistema. A ciência jurídica não tem espaços para juízos de justiça, mas apenas a juízos de direito. É possível para Kelsen alcançar o sentido das normas jurídicas por interpretação. Mas essa interpretação não abrange a consideração a leis morais, valorativas, mas apenas às possibilidades de sentido de um texto normativo em sua literalidade.

29 Postura positivista Não valorativa Não política Não ética Normativismo Normas e validade Norma hipotética fundamental Fundamentos de validade