FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL PARA PRIMATAS FERNANDO FREIRE BACCHERINI JÚNIOR



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Transcrição:

FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL PARA PRIMATAS FERNANDO FREIRE BACCHERINI JÚNIOR São Paulo 2008

FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL PARA PRIMATAS FERNANDO FREIRE BACCHERINI JÚNIOR Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora, como exigência parcial para a obtenção de título de Graduação do Curso de Medicina Veterinária, das Faculdades Metropolitanas Unidas, sob a orientação do Prof. Carlos Agusto Donini. São Paulo 2008

FERNANDO FREIRE BACCHERINI JÚNIOR ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL PARA PRIMATAS Trabalho apresentado para Conclusão do Curso de Medicina Veterinária/FMU, sob orientação do Prof. Carlos Agusto Donini, defendido e aprovado em...de...de..., pela banca examinadora constituída por: ----------------------------------------------------------------------------- Prof. Carlos Augusto Donini ----------------------------------------------------------------------------- Fernanda Meireles de Oliveira ----------------------------------------------------------------------------- Marina Gea Peres

DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais que sempre acreditaram e me deram forças em tudo o que fiz na vida, aos meus irmãos que também sempre estiveram do meu lado e a todos meus familiares que sempre botaram fé e acreditaram na minha pessoa para chegar ao fim do Curso de Medicina Veterinária.

AGRADECIMENTOS À Deus por me dar forças para realização deste trabalho e coragem para continuar esta jornada. Aos meus pais e irmãos que durante todos estes anos de faculdade sofreram e ajudaram-me nesta batalha interminável, recebendo meus amigos sempre com um cafezinho e um lanchinho, inclusive durante as madrugadas de trabalhos. Ao professor Donini que sempre me ajudou durante estes anos de faculdade também, desde os trabalhos mais simples até meus estágios e agora no meu trabalho de conclusão sem nunca medir esforços. À minha maravilhosa namorada Mirela que sempre esteve do meu lado pra que eu conseguisse alcançar a graça de terminar este trabalho e em muitos outros momentos dentro e fora da faculdade. Aos meus amigos que mesmo querendo me levar para o mau caminho estavam todos do meu lado quando precisei da ajuda e do apoio deles, são eles: Eduardo (Josi), Rafael (Nikimbas), Marcelo (Alemão), Guilherme (Rodinha), Daniel (Bim Ladem), as alemãzetes Camila (Mini), Lígia ( Sem Higiene), Cinthia (Pombinha), Tatiana (Tatyele). Aos meus amigos e companheiros de sala de aula Fernando (Pantanal), Marcel (Carpa), Rodrigo (Cafajeste), Natália (Miss simpatia), Carol (Véia). À minha super amiga Karina que mesmo morando agora muito longe é uma das responsáveis por mais esta conquista em minha vida.

A todas amizades feitas durante estes anos de faculdade desde alunos a funcionários, valeu Gesse, Caju, Cochoco. Ao Professor Eduardo Emiliano que mesmo distante de nós agora, sempre estará em nossas memórias com suas palavras de incentivo, ética profissional, serenidade e conhecimentos veterinários. E a todos os outros que de alguma forma ajudaram-me a tornar este sonho em realidade.

5

6 BACCHERINI, F. F. Jr. Enriquecimento ambiental para primatas. [Environmental enrichment to primates]. 2008. xxx f. Monografia Faculdade de Medicina Veterinária, Faculdades Metropolitanas Unidas, São Paulo, 2008. RESUMO A utilização do enriquecimento ambiental nos zoológicos, criadouros, ongs tem o intuito de minimizar os comportamentos anormais e promover o tratamento de tais comportamentos na vida cativa. Os ambientes enriquecidos aumentam a atividade dos animais, reduzindo o estresse e criando um habitat mais complexo, que consequentemente permite aos indivíduos expressarem comportamentos mais próximos ao natural. Exemplos de enriquecimento ambiental para primatas são: objetos como caixas e canos com alimentos escondidos, cordas, galhos, entre outros. Os animais criados e mantidos em ambientes enriquecidos raramente expressam comportamentos anormais. Unitermos: Enriquecimento ambiental, primatas, cativeiro.

7 BACCHERINI, F. F. Jr. Enriquecimento ambiental para primatas. [Environmental enrichment to primates]. 2008 xxx f. Monografia Faculdade de Medicina Veterinária, Faculdades Metropolitanas Unidas, São Paulo, 2008. ABSTRACT The use of environmental enrichment at the zoos has the intation of minimize the abnormal behavior and promote the treatment of these behavior in the captive life. The environmental enrichment increase the animal s activity, reducing the stress and making the place more complex, which permit the animals to express their behavior closer to the natural. Examples of environmental enrichment to primates are: objects like boxes and tubes with hidden food, ropes, branches, and others. Animals raised and keeped in places with environmental enrichment rarely express abnormal behavior, helping traters and veterinarians, so they can do clinical exam without using strength against the animals. Keywords: Environment erichment, primates, captivity. LISTA DE ILUSTRAÇÕES

8 Figura 1. Mico-leão-dourado em cativeiro onde foi introduzido um cano de plástico com frutas... 18 Figura 2. Lobo-guará alimentando-se de ração em saco pendurado por uma corda, enriquecimento usado em cativeiro de primatas... 19 Figura 3. Recinto de orangotango em que efetuou-se enriquecimento com cordas e troncos... 22 Figura 4. Exemplo de enriquecimento, com tigre onde foi utilizado um brinquedo plástico... 23 Figura 5. Chimpanzé com desafio de encontrar o sorvete escondido... 24 Figura 6. Primatas utilizando objetos de enriquecimento... 25 Figura 7. Classificação dos primatas... 29 Figura 8. Lêmures... 30 Figura 9. Exemplos de Platirrinos. A- Mico-leão; B- Macaco-prego; C- Macaco-aranha... 31 Figura 10. Exemplos de Catarrinos: A- Orangotango; B- Chimpanzé; C- Gorila... 31 Figura 11. Exemplos de Macacos do Novo Mundo: A- Sagüi-do-tufo-branco; B- Tamarino-cabeça-de-algodão... 32 Figura 12. Exemplos de Macacos do Velho Mundo: A- Mandril; B- Babuíno... 33

9 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 11 2 NECESSIDADES PSICOLÓGICAS DOS ANIMAIS EM CATIVEIRO... 12 2.1 Indicadores para a avaliação do bem-estar dos animais em cativeiro... 13 2.1.1 Saúde... 13 2.1.2 Comportamento natural da espécie... 13 2.1.3 Comportamento Individual... 15 2.1.4 Estresse... 15 2.1.5 Preferências e escolhas de enriquecimento... 16 3 INTERVENÇÃO NOS CATIVEIROS DE PRIMATAS... 17 3.1 Cativeiro... 20 3.2 Enriquecimento ambiental... 21 3.3 O papel dos zoológicos... 25 4. CONCLUSÃO... 27 5. ANEXO I... 28 PRIMATAS... 28 Primatas Inferiores... 29

10 Primatas Superiores... 30 Macacos do Novo Mundo... 32 Macacos do Velho Mundo... 32 Macacos Antropóides... 33 Primatas no Brasil... 33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS... 34

11 1 INTRODUÇÃO O enriquecimento ambiental é uma ferramenta fundamental para melhorar as condições de cativeiro e assim minimizar ou até mesmo evitar o estresse. Quando se pensa num programa de enriquecimento ambiental em zoológicos devem-se considerar os recursos naturais do ambiente, facilidade de acesso da informação pelos tratadores, pontos de fuga ou refugio para os animais, e ainda, promover uma boa visibilidade para os visitantes no caso especifico dos animais em exposição. O ambiente deve ser rico para que os animais se sintam encorajados a brincar e também a explorar os brinquedos quando não estiverem utilizando, possibilitando a manifestação de comportamentos naturais. Nos estudos feitos com animais silvestres, os efeitos das variáveis ambientais sobre a aprendizagem, isto é, as mudanças duráveis do comportamento decorrentes de experiências específicas, têm sido feitos através de diversos métodos como o Enriquecimento Ambiental. Para os mamíferos, as pressões cotidianas enfrentadas pelos indivíduos são tão diferenciadas, que seria impossível, sem o mecanismo de Enriquecimento Ambiental o estabelecimento de um repertório comportamental adaptativo e completo, capaz de garantir a sobrevivência e a reprodução. O Enriquecimento Ambiental favoreceu a plasticidade cognitiva e comportamental, tornando os indivíduos funcionalmente adaptados às contingências ambientais que enfrentam durante seu dia-a-dia. Assim, para se garantir que o manejo e a preservação das espécies em cativeiro cumpram o papel de proteger e oferecer bem-estar para os animais, é necessário que se conheça o comportamento natural das espécies, a fim de que se possa atender de forma mais eficiente às suas necessidades básicas, evitando-se, desta forma, as condições de estresse que afetam a sua saúde. Neste sentido, os primatas são particularmente sensíveis às variantes ambientais e o perfeito conhecimento dos hábitos destes animais assume especial importância. Anexo I

12 2 NECESSIDADES PSICOLÓGICAS DOS ANIMAIS EM CATIVEIRO Durante muito tempo acreditava-se que manter devidamente um animal em cativeiro implicava apenas em alimentá-lo e cuidar para que não adoecesse. Atualmente, os estudos tornaram evidentes que não são apenas os seres humanos que necessitam de estimulação ambiental complexa e que experimentam estados de sofrimento físico e psicológico (GASPAR A. D, 1993). O contraste que o repertório comportamental dos animais na natureza apresenta com o comportamento observado em cativeiro, geralmente menos diversificado e com manifestações aberrantes raramente ou nunca observadas nos habitats naturais, tornou-se objeto de preocupação e de crescente investigação e intervenção por parte dos estudiosos do comportamento animal e das pessoas de algum modo responsáveis por sua manutenção em cativeiro. Esta atitude foi impulsionada nos Estados Unidos da América (EUA) em 1985, quando foi criada legislação que assegurava o atendimento do bem-estar psicológico aos animais de zoológicos e laboratórios, pois as observações a cerca do bem-estar dos animais começaram finalmente a serem aceitos como indicadores de que eles estavam sendo criados em condições comprometedoras do seu bem-estar psicológico (FOUST et al, 1989; POOLE, 1992; BLOOSMITH, 1992). Entre os sinais e sintomas preocupantes destacavam-se os comportamentos repetitivos e sem alvo, como a marcha compulsiva e em rotinas infindáveis nas instalações do cativeiro. Outras estereotipias relatadas foram o balanceamento da cabeça e do corpo. A inatividade, a auto-agressão que muitas vezes levava à mutilação, o comportamento incessante de catar-se ou arrancar pêlos ou ainda o insucesso reprodutivo também foram comportamentos não naturais descritos na literatura (GASPAR A. D, 1993). Definir o que se entende por bem-estar psicológico não é simples. Essa expressão aparece associada freqüentemente ao conceito de sanidade mental, por oposição a estados patológicos. Por um lado, não é possível definir o que seja bem-estar psicológico, como não é razoável estabelecer um padrão preciso do que é sanidade mental, mas ao conceito de

13 insanidade está subjacente a noção de que há manifestações inadequadas e inadaptadas, enquanto que mal-estar psicológico pode ou não se revestir de manifestações exteriores. No entanto, bem-estar psicológico já foi definido como sendo a capacidade de se adaptar às mudanças ambientais, referindo-se sobretudo, à plasticidade comportamental, onde se percebe uma pressuposta equivalência entre os conceitos de bem-estar psicológico e sanidade mental (GASPAR A. D, 1993). A semelhança dos comportamentos de primatas e seres humanos que se isolam da sua própria espécie leva ao que muitos autores definam certos comportamentos como patológicos ou mesmo os rotulem, por exemplo aqueles que não se arriscam a conviver com animais da sua própria espécie. Na realidade, não é relevante identificar se o bem-estar psicológico equivale ou não à sanidade mental e nem o que é insanidade, até porque tais conclusões não são necessárias para se intervir no bem-estar animal. É justamente a identificação de alguns indícios que permite avaliar o estado de um animal nesse eixo malestar / bem-estar e considerar a necessidade de intervir nas condições do cativeiro (GASPAR A. D, 1993). 2.1 Indicadores para a avaliação do bem-estar dos animais em cativeiro 2.1.1 Saúde O estado de saúde do animal pode fornecer diversas pistas no que se diz ao bemestar psicológico, mas há indicadores de que este índice não pode ser considerado válido isoladamente e de que sua relevância é bastante secundária nesta questão (SACKETT, 1991; SUOMI E NOVAK, 1991). 2.1.2 Comportamento natural da espécie O repertório comportamental tem sido considerado como um dos sinalizadores mais expressivos do estado psicológico. Alguns comportamentos que integram o repertório da espécie, como a auto-catação em primatas, podem, em cativeiro, tornar-se excessivos na sua freqüência, duração e intensidade, a ponto de lesionarem a pele. A observação destes

14 acontecimentos deve alertar para as condições de alojamento dos animais (SUOMI E NOVAK, 1991; POOLE, 1992; GASPAR A. D, 1993). No caso dos chimpanzés a posição mais comumumente utilizada para locomoção é a quadrúpede, pois assim sendo os animais podem realizar rápidos galopes. Entretanto eles também são capazes de andar longos trechos na posição bípede. As mãos são utilizadas para levar os alimentos à boca e também para atirar objetos contra inimigos. Ao anoitecer os adultos constroem ninhos com galhos e folhas onde passam a noite, normalmente os ninhos localizam-se a nove ou doze metros de altura. Os ninhos são utilizados apenas uma vez, raramente sendo reutilizados. Durante a época das chuvas os animais podem construir ninhos durante o dia utilizando-os para descansar (GOODALL, 1986). Chimpanzés são amplamente conhecidos pela capacidade de construir e manusear ferramentas. Estas são normalmente utilizadas para auxiliar na alimentação, como por exemplo, gravetos que são modificados para serem introduzidos em cupinzeiros a fim de remover os insetos do seu interior. Há relatos da utilização de galhos para ajudar na colheita de frutos maduros e como armas em brigas, pedras para ajudar a quebrar alguns tipos de nozes, folhas utilizadas como esponjas para absorver a água ou como escovas para limpar o corpo. As ferramentas são vastamente utilizadas com objetivos menos específicos também (AURICCHIO, 1995). Aparentemente, o uso de ferramentas e a construção de ninhos não são habilidades instintivas, mas sim o conhecimento cultural, onde, animais jovens observam os mais experientes e aprendem os seus costumes. São animais de hábito diurno, durante o período de atividade podem gastar de seis a oito horas forrageando e isto pode abranger uma área que varia de 1,5 a 15 Km. Os picos de atividade ocorrem no amanhecer e por volta das 15:30 até às 18:30h (POOLE, 1992). Os Chimpanzés vivem em comunidades, flexíveis e livres podendo ser mistas ou homogêneas e apresentam uma grande variação relacionada à faixa etária. As fêmeas geralmente são instáveis quando estão com filhotes, podendo até se isolar na época da procriação. Os Chimpanzés precisam dessa relação territorial e intercomunitária para o seu desenvolvimento e aprendizado (GOODALL, 1986). As estereotipias comportamentais que surgem no cativeiro parecem exprimir problemas de bem-estar e sugere-se que o seu aparecimento seja uma reação à pobreza de

15 estímulos, uma vez que em alguns animais verificou-se que elas induziam à secreção de substâncias capazes de criar sensação de euforia (endorfina). Como exemplo de estereotipias relatá-se a ingestão de fezes, de urina e a regurgitação como comportamento típico provocado pelo cativeiro (POOLE, 1992; GASPAR A. D, 1993). 2.1.3 Comportamento Individual Pode-se comparar também as alterações comportamentais e os padrões habituais de comportamento, o que implica em conhecer bem o individuo. As características de personalidade de cada individuo têm peso nesse sentido; por exemplo, animais que habitualmente se comportam de uma forma extrovertida e com disposição sociável gozam de maior bem-estar psicológico que aqueles que apresentam orientação depressiva e evitam contatos. A avaliação destas disposições quer em ocorrências isoladas ou de maneira contínua facilitar a observação de situações que indicam tanto o bem-estar quanto o malestar psicológico (PESSOA, 2000). 2.1.4 Estresse Algumas síndromes específicas, como é o caso da síndrome do estresse, têm sido descritas em primatas. Deve-se atentar aos aspectos biológicos de cada espécie a ser introduzida em um espaço chamado cativeiro. A mudança abruta de ambiente gera dificuldades ao animal, o qual, muitas vezes não possui habilidade suficiente para superar esta nova situação (PESSOA, 2000). O grau de estresse observado por meio do comportamento, fisiologia ou em aspectos específicos do ambiente onde vive o animal é também uma variável relevante na mediação do estado psicológico dos primatas (SUOMI E NOVAK, 1991). Muitos sintomas e patologias têm sido descritos nos primatas com esta síndrome. Foi relatado, edema de face em um chimpanzé devido à diminuição na pressão de sangue venoso e diarréia. O mesmo indivíduo apresentou regressão total dos sintomas assim que foi retirado do aparato ou ambiente em que vivia. Dilatação gástrica é comumente encontrada na síndrome do estresse em macacos rhesus. Que em geral, não demonstram qualquer sinal

16 e comumente são encontrados mortos no recinto. Alguns poucos podem apresentar depressão profunda com aumento abdominal, mucosas e membranas pálidas ou cianóticas, e diarréia severa. O colapso circulatório se dá pela pressão e obstrução exercida sobre a veia cava posterior. A palpação e exames radiológicos confirmam a alteração (PESSOA, 2000). 2.1.5 Preferências e escolhas de enriquecimento As escolhas de estímulos podem não só ilustrar as necessidades ambientais dos indivíduos, mas também de categorias de indivíduos, de acordo com a idade, sexo e status social (BLOOMSMITH, 1992). Um indivíduo manifesta o seu agrado ou repulsa por um estímulo na medida em que se esforça arduamente por se afastar dele ou, ao contrário, por ter acesso a ele. A partir desse tipo de observação, seria possível efetuar um levantamento e descrição das situações em que um animal se encontra privado de algo que se esforça por obter, compilando a partir daí um conjunto de indícios daquilo que pode ser respectivamente o sofrimento para aquele animal ou um estado de bem-estar. Por exemplo, os chimpanzés manifestam preferências concretas por determinados materiais e fazem escolhas que nem sempre vêm ao encontro das expectativas humanas. Assim, alguns trabalhos demonstram que esta espécie prefere, por exemplo, materiais destrutíveis e transformáveis a outros mais resistentes (BLOOMSMITH, 1992; GASPAR, 1993).

17 3 INTERVENÇÃO NOS CATIVEIROS DE PRIMATAS A maioria dos primatas são indivíduos gregários e a formação de grupos sociais em cativeiro deve ser considerada um requisito mínimo na gestão de qualquer colônia. Estão devidamente documentadas as perturbações psicológicas que ocorrem em chimpanzés e em outros primatas quando privados de contato social. Por vezes, a interação com humanos consegue reduzir alguns desses efeitos do isolamento, funcionando como mecanismo de enriquecimento do cativeiro, mas os dados disponíveis até o momento mostram que esta compensação é largamente insuficiente ou que, pelo menos, a natureza e / ou a quantidade dessa interação não tem sido a mais adequada (BLOOMSMITH, 1988; FOUTS et al, 1989; THOMPSON, BLOOMSMITH E TAYLOR, 1991). O papel dos seres humanos é critico junto aos primatas, sobretudo quando estes estão isolados dos co-específicos (por quarentena médica por exemplo, já que outro tipo de isolamento é injustificável), mas também quando vivem em grupo, na medida em que as pessoas que deles cuidam, bem como todos aqueles que visitam regularmente a área são parte integrante do seu ambiente social (FOUTS et al., 1989). Apesar da interação com seres humanos ter inúmeros aspectos positivos e ser vivida aparentemente como agradável pelos primatas, é fundamental que as pessoas não sejam a única nem a principal fonte de interação, já que a ausência de co-específicos principalmente até alcançarem a maturidade sexual, resultará freqüentemente, após uma apresentação à espécie na vida adulta, em exibição de comportamentos sociais e reprodutores desajustados. O alojamento dos primatas, principalmente dos chimpanzés em grupo é o meio mais eficaz de reduzir as estereotipias, apesar da presença de objetos para manipular também contribuem para a redução (FOUTS et al, 1989). É bastante apreciável o interesse dos primatas em cativeiro por objetos que não existem na natureza, como jogos de computador, roupas, papéis e materiais de pintura, e a presença destes objetos tem sido associada à produção de comportamentos aberrantes. Alguns estudos têm demonstrado que o enriquecimento alimentar tem provocado nessa

18 espécie redução dos comportamentos anormais (Figura 1) (BLOOMSMITH ALFORD E MAPLE, 1988; BRENT E EICHBERG, 1991; POOLE, 1992). Figura 1 - Mico-leão-dourado em cativeiro onde foi introduzido um cano de plástico com frutas. Fonte www. www.zoologico.sp.gov.br Apesar da eficácia demonstrada, no entanto, o enriquecimento de ambientes cativos com itens manipuláveis, mobiliário, forragens, dentre outros, não pode ser encarado como solução mágica para problemas comportamentais dos primatas, delegando para plano remoto as questões relacionadas com o alojamento social. E, se por um lado à modificação física das instalações com estas estratégias é altamente exeqüível e relativamente simples, sendo o saldo entre custos, problemas eventuais e benefícios sempre positivos, já o enriquecimento social, que é fazer um indivíduo conhecer outro envolve maiores dificuldades. A experiência de agrupamento de chimpanzés comuns (Pan troglodytes) previamente alojados em pequenos grupos ou um a um é freqüentemente problemática (ADANG ET AL., 1987; HOOF, 1973; GASPAR A. D, 1993). Nos chimpanzés, a principal reticência ao plano de agrupar indivíduos numa instalação comum é a manifestação de confrontos agonísticos, que são efetivamente o primeiro problema. Porém, a exibição de comportamento agonístico é algo que não deve ser considerado indesejável (e que muitas vezes tende a ser repudiado e reprimido por treinadores e tratadores), sendo parte integrante de um repertório comportamental

19 adequadamente desenvolvido. É certo que o bom senso na gestão de uma colônia de chimpanzés deve prevenir a ocorrência de lesões sérias ou constante isolamento de um individuo recém-chegado ao grupo, mas nem todos os confrontos agressivos são graves e todo o restante do comportamento agonístico é simplesmente uma adaptação social. É importante estar atento à possibilidade de, nesta espécie, a agressão atingir proporções gravíssimas, pois embora este não ser um acontecimento freqüente, quando um grupo de machos em patrulha encontra um indivíduo de uma comunidade vizinha, pode agredí-lo até à morte e a este tipo de ação parece poupar apenas as fêmeas a partir da adolescência, quando é freqüente trocarem de grupo. Observou-se que em grupos de chimpanzés de vida livre as lutas no interior de uma comunidade não costumam durar mais do que um minuto, raramente produzindo ferimentos graves (GOODALL, 1979; GASPAR, 1993). Dispositivos que promovam desafios na busca de alimento são estratégias de enriquecimento ambiental particularmente relevantes (Figura 2), uma vez que os primatas de vida livre passam a maior parte do tempo nessa atividade (GOODALL, 1986). Figura 2 - Lobo-guará alimentando-se de ração em saco pendurado por uma corda, enriquecimento ambiental usado em cativeiro de primatas. Fonte www.zoologico.sp.gov.br Outros materiais que possam potencialmente ser usados em construção de ninhos, transformação de alimentos e cuidados com o corpo são também, requisitos mínimos na

20 produção de um ambiente naturalístico, isto é, com as propriedades de um habitat natural, muito mais do que apenas um cuidado estético (GASPAR, 1993). 3.1 Cativeiro O ideal é acomodar os primatas em recintos apropriadamente planejados e construídos, sem risco de fuga, devendo-se considerar vários fatores, como por exemplo, a destreza e a força intrínseca a cada espécie. A construção deve ser bem planejada, visando abrigá-los quando sentirem necessidade, facilitar a limpeza, contando também com uma área livre e dormitórios. Os indivíduos mantidos na região sul do Brasil devem ter o cambiamento aquecido, visto que a maioria das espécies não está adaptada as baixas temperaturas, as quais podem atingir as marcas bem abaixo do limite termoneutro dos primatas, ou seja, entre 18 e 25 C (DINIZ, 1997). Os macacos nunca devem ser amarrados pela cintura, pois o atrito constante de cordas e cintas com a pele promove lesões, desde superficiais até profundas e, em conseqüência, até peritonite. Igualmente nunca amarrá-los pelos membros ou tórax porque podem sofrer fraturas por causa de seus movimentos bruscos (BOSSO, 2003). Os cebídeos em zoológicos podem ser mantidos em ilhas, como é feito com os macacos aranhas e barrigudos, entretanto esta não é uma boa opção para os muriquis, pois esta espécie consegue nadar podendo chegar até a margem e se abrigar nas árvores, tornando difícil a captura (WEMMER; TEARE; PICKETT, 2002). Os recintos devem possuir área mínima exigida para cada espécie, conforme Instrução Normativa n 001/89-P, emitida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), em 19 de outubro de 1989, sendo recomendado para os primatas de pequeno de 5 a 8 m² e para os de médio porte de 12 a 30 m². Salienta-se que a altura dos cativeiros é muito importante para os indivíduos arborícolas, exigindo-se por volta de 2 m. As condições ambientais como umidade e temperatura devem ser igualmente observadas com atenção, sendo também recomendável a colocação de dispositivos como troncos fixos, escadas e plataformas, nas dependências da espécie, para colaborar na promoção de exercícios físicos (DINIZ, 1997).

21 Os cativeiros devem ser dotados de redes para as espécies de pequeno e médio porte, poleiros de diâmetro de acordo com o apoio e forma dos pés, bem como cochos para alimento e água, os quais devem ser colocados fora do alcance dos dejetos dos animais, para evitar contaminação. Em caso dos símios de pequeno porte, como sagüi, ficarem alojados em gaiolões, é fundamental evitar o contato da cauda com alimento e dejetos que ficam no fundo desse tipo de cativeiro, pois vão se acumulando nos pêlos da cauda, levando a infecção e necrose. Os restos alimentares e dejetos atraem insetos, potenciais portadores de doenças (WEMMER; TEARE; PICKETT, 2002). Em qualquer uma das situações de cativeiro vale sempre lembrar que são animais que podem se estressar facilmente com a presença do homem ou outra condição não habitual (CICCO, 2001). 3.2 Enriquecimento ambiental Enriquecimento ambiental é um processo onde um ambiente mais complexo e interativo é criado para melhorar a qualidade de vida dos animais mantidos em cativeiro, permitindo que assim eles possam apresentar comportamentos mais naturais de sua espécie. O zoológico deve oferecer ao animal oportunidade para que ele expresse seus comportamentos naturais, porém, isto não significa trazer todos os eventos da vida natural para o cativeiro, afinal é preciso levar em conta as limitações entre os dois ambientes (CICCO, 2001). Além de promover desafios e novidades que simulam situações que ocorreriam na natureza, o ambiente deve oferecer oportunidade de escolha ao animal permitindo, assim, o controle do seu ambiente. Ambientes enriquecidos se tornam mais complexos, portanto, menos previsíveis (CELLOTTI, 1999). Na prática, o enriquecimento ambiental consiste na introdução de variedades criativas, originais e simples nos recintos. O tipo de alimento e a maneira como ele é oferecido (camuflado, inteiro ou congelado), assim como a introdução de vegetação, barreiras visuais, substratos, estruturas para se pendurar ou se balançar (como cordas, troncos ou mangueiras de bombeiro), sons com vocalizações, ervas aromáticas, fezes de outros animais são maneiras de se enriquecer recintos em zoológicos (BOSSO, 2003) (Figura 3).

22 Figura 3 - Recinto de orangotango em que efetuou-se enriquecimento ambiental com cordas e troncos. Fonte www.honoluluzoo.org O conceito de enriquecimento ambiental foi introduzido pelo Dr. Robert Yerkes, um dos pioneiros na pesquisa de campo com primatas. Em 1920, o Dr. Yerkes projetou, em seu laboratório, aparelhos para serem utilizados por seus animais com a finalidade de atribuir uma maior estimulação física e comportamental aos mesmos. Em 1940, após estudos realizados pelo Dr. Heine Heideger sobre as necessidades psicológicas dos animais do zoológico de Zurique, sugeriu a criação de recintos que incentivassem o desenvolvimento dos comportamentos naturais dos animais (THE AMERICAN ASSOCIATION OF ZOO KEEPERS, 2002). Uma interessante definição foi dada por Shepherdson em 1993: O enriquecimento das condições ambientais é o processo no qual o zoológico cria um ambiente interativo e complexo que permite ao animal do zoológico apresentar um comportamento natural. Trata da arquitetura e da infra-estrutura dos recintos, de atividades para os animais, tamanho e

23 composição de grupos sociais, e quaisquer outros fatores que tenham potencial para influenciar a maneira pela qual um animal cativo percebe seu ambiente (RIBEIRO, 2002). O cativeiro, quando comparado a vida livre, impõe grandes diferenças que podem ser prejudiciais aos animais como a falta de complexidade e a previsibilidade do recinto e o tempo que o animal gasta forrageando ou alimentando-se. Animais mantidos em recintos limitados, apresentam comportamentos anormais, que geralmente significam um baixo nível de bem-estar. Isto se deve, principalmente, à impossibilidade de tornar os recintos mais próximos possíveis do ambiente natural da espécie (CELOTTI, 1999). Esses comportamentos podem ser divididos em qualitativos e qualitativos, que ocorrem em taxas maiores ou menores em cativeiro. A relação entre os comportamentos anormais e a qualidade do recinto está diretamente ligada com o bem-estar animal, ou seja, quanto melhor a qualidade do recinto menor será a manifestação dos comportamentos anormais (RIBEIRO, 2002). O enriquecimento pode ser realizado usando o conhecimento do ambiente e da história natural da espécie. Os tipos mais comuns de enriquecimento são: físico alterando forma e tamanho do recinto; social alterando o tamanho e composição do grupo; alimentar variando a freqüência da alimentação (Figura 5); sensorial auditiva, olfativa, tato, paladar (Figura 4,6) e ocupacional ou cognitivo utilizando quebra-cabeças (CELOTTI, 1999). Figura 4 - Exemplo de enriquecimento ambiental, com tigre, onde foi utilizado um brinquedo plástico. Fonte www.rio.rj.gov.br

24 Nas últimas décadas, os primatas têm aumentado o interesse de etólogos e do público em geral devido, talvez, à sua grande similaridade anatômica, fisiológica e etológica com a espécie humana. Estudos sistemáticos do comportamento são importantes para obtenção de informações ecológicas e etológicas a fim de preservar espécies ameaçadas pela destruição de seu habitat pelo homem (ESTRADA, 1999). O recinto deve ter no mínimo duas vezes e meia em altura e cinco vezes a largura do primata com os braços estendidos. Caso dois primatas dividam o mesmo recinto esses valores devem ser multiplicados por dois. Deve existir um poleiro para cada animal no recinto e sempre um extra, os poleiros devem ser largos o bastante para possibilitar uma acomodação confortável do mesmo. Os primatas são atípicos e curiosos. O ambiente deve ser rico para encorajá-los a brincar e explorar durante as horas em que não estão num ambiente enriquecido, por exemplo, cordas para subir ou correntes e um complexo de galhos ou vigas dispostas de maneira a permitir que os animais realizem movimentos naturais (PESSOA, 2000). Com a modernização dos zoológicos, a criação de recintos mistos, no qual diferentes espécies convivem entre si, tem sido cada vez mais freqüente. Porém, nem sempre é possível oferecer companhia a todos os animais que necessitem. Desta forma, uma das técnicas de enriquecimento que pode ser utilizada por primatas para minimizar esta questão é o uso de espelhos para proporcionar aos animais novos estímulos no ambiente cativo. Para alguns indivíduos, o espelho pode ainda exercer uma outra função a partir do momento em que eles se reconhecem ao observar sua imagem refletida no espelho, como acontece na maioria dos chimpanzés (Pan troglodytes). Ao estimular a capacidade cognitiva destes animais, estamos contribuindo também com seu bem-estar (BOSSO, 2003).

25 Figura 5 - Chimpanzé com desafio de encontrar o sorvete escondido. Fonte www.zoologico.sp.gov.br Figura 6 - Primatas utilizando objetos de enriquecimento ambiental. Fonte www.zoologico.sp.gov.br 3.3 O papel dos zoológicos Até o ano de 1800, as coleções de animais exóticos eram simplesmente um sinônimo de status, portanto, as construções dos recintos remetiam a uma arquitetura dura, pois os mesmos precisavam ser fáceis de limpar. Para tanto, eram feitos de cimento, concreto e barras de ferro. Os zoológicos eram apenas locais de exposição da vida silvestre. (BOSSO, 2003). Do século XX em diante, os zoológicos passaram a ser, então, centros de conservação para a vida silvestre. Na década de 20 surgiu conceito de enriquecimento

26 ambiental, porém, só na década de 70 este conceito começou a ser aplicado em zoológicos ao redor do mundo. E, mais recentemente, no Brasil. (BOSSO, 2003). A história do surgimento dos zoológicos no mundo é marcada por diferentes atitudes humanas em relação aos animais e também pelos diferentes papéis que essas instituições exerceram na sociedade e na cultura ao longo da história do mundo (WEMMER et. al, 2002). Atualmente o principal interesse nos animais selvagens é científico e está intimamente relacionado a pesquisas, à preservação da vida e dos recursos naturais. Os zoológicos desenvolvem projetos como planos de manejo, além de congregarem informações e conhecimentos sobre anatomia, nutrição, comportamento e patologia. Esse grande leque de bem-estar em cativeiro também contribui para o conhecimento adquirido na área de zoologia. Outra importante função dos zoológicos é proporcionar o lazer da população, associada a educação ambiental no qual são mostradas noções de ecologia e meio ambiente, além do conhecimento de vários animais que é fundamental para a conscientização das pessoas da importância da conservação da biodiversidade e de espécies da fauna ameaçadas de extinção no país e no mundo (WEMMER, et. al, 2002).

27 4 CONCLUSÃO Pode-se observar, com a realização deste trabalho, a importância da utilização de variados tipos de enriquecimento ambiental no tratamento de animais em cativeiro, independentemente da espécie. Mais do que enaltecer esta ferramenta, que já é reconhecida como uma pratica importante para desenvolvimento físico e mental, é proporcionar uma vida mais interativa, diminuindo assim os malefícios do cativeiro, colaborando com o crescimento dos estudos comportamentais dos animais cativos, além das técnicas de conservação e manejo dos mesmos, apontando soluções, relativamente simples, porém comprovadamente eficientes para melhorar a qualidade de vida das espécies, quando tiradas de seu habitat natural.

28 ANEXO I 1 PRIMATAS Setenta milhões de anos atrás verificou-se, de maneira bastante repentina, o final da idade dos répteis. Isso criou condições para que os mamíferos tivessem, por fim, uma oportunidade de evoluir com maior rapidez (CICCO, 2001). No final do cretáceo, a cerca de 47 milhões de anos, surgiram então, os primatas. Além da América do Norte e do Sul, e da Eurásia, é provável que viéssem, também, na África. Os prossímios representaram as primeiras espécies e a elas hoje correspondem as dos lemurianos e tarsióides, bem como outras afins. Tatravam-se de animais pequenos, ágeis, e sua existência era arborícola, tendo sido sua evolução concomitante à da floresta (BANDOUK, 2002). A grande ordem dos primatas compreende cerca de 180 espécies de animais mamíferos poucos especializados, a maior parte dos quais possui costumes arborícolas estão confinados em regiões tropicais. Os primatas dividem-se em duas subordens: prossímios (ou primatas inferiores que inclui os lêmures e társios) e símios (primatas superiores que incluem macacos e homem). No primeiro grupo incluem-se os mais primitivos, regra geral animal de pequeno tamanho com focinhos alongados e olhos colocados numa posição não tão frontal como os do símios. Situados mais abaixo na escala evolutiva, mostram-se mais especialidades que seus parentes antropomorfos (BANDOUK, 2002) (Figura 7)

29 Figura 7 - Classificação dos primatas segundo:. Fonte www.saudeanimal.com.br 2.1 Primatas Inferiores Há cinco famílias de lêmures com o total de 21 espécies. A maioria está confinada as florestas de Madagascar, embora alguns tenham sido levados às ilhas Comores. Os lêmures são principalmente arborícolas (Figura 8), mas podem descer ao solo à procura de alimento.

30 Sua dieta inclui insetos, pequenos vertebrados, frutas, brotos, folhas e casca de árvore (CICCO, 2001). Figura 8 - Lêmures. Fonte www.lemuridae.net 2.2 Primatas Superiores Os símios, também conhecidos como antropóides (Anthropoidea), são os primatas superiores. Formam também o grupo mais numeroso. A face é achatada e os olhos voltados para frente (CICCO, 2001). Os símios subdividem-se ainda em duas infraordens: Platirrinos e Catarrinos. As espécies agrupadas sob a designação geral de platirrinos distribuem-se por duas famílias e apresentam o septo nasal largo e as narinas voltadas para os lados; localizam-se todos no continente Sulamericano (Figuras 9). Já as três famílias que integram os catarrinos tem o septo nasal mais estreito e as narinas voltadas para frente ou para baixo; são todas elas, habitantes das florestas africanas e asiáticas (Figura 10) (BANDOUK, 2002; CICCO, 2001).

Figura 9 - Exemplos de Platirrinos. A- Mico-leão; B- Macaco-prego; C- Macaco-aranha. Fonte www.adeja.org.br; www.bonitoadventure.com.br; www.quintasi.pt 31

32 Figura 10- Exemplos de Catarrinos: A- Orangotango; B- Chimpanzé; C- Gorila. Fonte www.saudeanimal.com.br 2.3 Macacos do Novo Mundo Os únicos macacos não humanos encontrados no novo mundo são os sagüis e os tamarinos (família Callitrichidae) (Figura 11) e Macacos cebídeos. Ao contrário dos macacos do velho mundo, são caracterizados por nariz achatado com narinas separadas. As vinte espécies de sagüis e tamarinos são as menores dos primatas superiores, com o comprimento de 13 a 37 cm e longas caudas. Vivem principalmente nas florestas tropicais e, como a maioria dos primatas superiores, são ativos durante o dia, sendo basicamente arborícolas (OLIVEIRA; BRANDÃO, 2004; BANDOUK, 2002). Figura 11- Exemplos de Macacos do Novo Mundo: A- Sagüi-do-tufo-branco; B- Tamarino-cabeça-de-algodão. Fonte www.frigoletto.com; www.damisela.com 2.4 Macacos do Velho Mundo

33 As cerca de 70 espécies do velho mundo (família Cercopithecidae) incluem os macacos, mandris (Figura 11), mangabeis e outros. São encontrados na África, Ásia e Indonésia, em uma variedade de habitats muito maior que os macacos da América do Sul. Todos caminham nas quatro patas e possuem nariz estreitos com narinas voltadas para frente; nenhum deles tem cauda preênsil (BANDOUK, 2002). Algumas espécies, como os babuínos são encontradas em áreas abertas, pedregosas e áridas, e passam a maior parte do tempo no solo (Figura 12). Figura 12- Exemplos de Macacos do Velho Mundo: A- Mandril; B- Babuíno. Fonte www.gonomad.com; www.damisela.com 2.5 Macacos Antropóides Todos os antropóides possuem mandíbulas protuberantes e não apresentam cauda. Mas o ágil gibão é muito diferente dos demais. As nove espécies de gibão (família Hylobatidae) são encontradas nas florestas do sul da Ásia e Indonésia. Entre as quatro espécies de grandes antropóides encontramos os orangotangos que são o segundo maior primata chegando a 90 kg; os chimpanzés; e os gorilas que são os maiores primatas chegando a 275 kg (BANDOUK, 2002; CICCO, 2001). 2.6 Primatas no Brasil

34 Só no Brasil existem 77 espécies, sendo que um terço dos primatas brasileiros está na lista oficial do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) de animais ameaçados de extinção (AURICCHIO, 1995). REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ADANG, O. M. J,; WENSING, J. A. B.; HOOF, J. A. R. A. M.. The arnhem zôo colony of chimpanzees pan troglodytes: development and management techniques international. Zoo Yearbook, n. 26, p. 236-248, 1987. AMBIENTE. Disponível em: www.ambienteemfoco.com.br. Acesso em 20/10/2008. AMERICAN ASSOCIATION OF ZOO KEEPERS. Environmental enrichment for captive animals. Disponível em: www.enrich.org. Acesso em 29/09/2008. ANIMAIS zoológicos. Disponível em: www.zoologico.sp.gov.br. Acessso em 09/10/2008. AURICCHIO, P. Primatas do Brasil, 1995. São Paulo: Terra Brasilis. BANDOUK, A. G. et al. Ordem Primates. Disponível em: www.intermega.globo.com Acesso em: 23/09/2008. BLOOMSMITH, M. A. Environmental enrichment research to promote the well-being of chimpanzee. In: ERWIN,J.. LNDON, J. C., Chimpanzee conservation and public health: environments for the future, p. 155-163, 1992. BLOOMSMITH, M. A.; ALFORD, P. L.; MAPLE, T. L..Successful feeding enrichment for captive chimpanzees. American Journal of Primatology, n. 16, p. 155-164, 1998. BOSSO, B. L.. Enriquecimento ambiental, 2003. Disponível em: www.zoolgico.sp.gov.br. Acesso em: 10/10/2008 BRENT, L.; LEE, D. R.; EICHBERG, J. W.. Evoluation of a chimpanzee enrichment enclosure. Journal of Medical Primatol, n. 20, p. 29-34, 1991. CARDOSO,M.. Vida dos bonobos, 1996. Disponível em: www.unicamp.com.br. Acesso em: 20/10/2008. CUBAS, Patrícia. Brinquedos mudam a rotina de animais do zôo. Disponível em: www.fozdoiguacu.pr.gov.br. Acesso em 23/09/2008. CELOTTI, S. Guia para enriquecimento das condições ambientais do cativeiro. Sociedade Zoofilia Educativa Brasil, 1999.

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