Design, moda e vestuário no século XIX (1801-1850).



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Transcrição:

Design, fashion and clothing in the nineteenth century (1801-1850). Oliveira, Vanessa Melo; Universidade Anhembi Morumbi. nessa_mo@hotmail.com Faria, José Neto de; Ms.; Universidade Anhembi Morumbi. josenetodesigner@yahoo.com.br Navalon, Eloize; Ms.; Universidade Anhembi Morumbi. navalon@uol.com.br Resumo A primeira metade do século XIX vivenciou a proliferação de importantes movimentos estéticos, como o Neoclassicismo e o Romantismo, que, assim como a moda dessa época, buscaram referências na Antiguidade Clássica. O presente artigo aborda esses movimentos, descreve a moda da época e tenta traçar um paralelo, mostrando as referências que podem ser encontradas em comum. Palavras Chave: design; moda; romantismo e neoclassicismo. Abstract The first half of the nineteenth century experienced a proliferation of important aesthetic movements such as Neoclassicism and Romanticism, which sought references in The Classical Antiquity as well as the fashion of that time. This article discusses these movements, describes the fashion of the time and makes a parallel, showing the references that can be found in common. Keywords: design; fashion; romanticism and neoclassicism.

Introdução. O século XIX foi marcado pelo espírito da renovação. A Revolução Francesa e o período napoleônico, que finaliza em 1815 com sua derrota em Waterloo, trouxeram transformações para toda a Europa. A França passa a ser governada por uma Assembleia representativa, a qual instaura um novo conjunto de leis. Ocorrem muitas mudanças também devido ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia, contribuindo para a construção das grandes fábricas, impulsionadas por potentes máquinas a vapor e mão de obra barata. A invenção do telefone, em 1876, e a pavimentação das ruas são alguns exemplos desse desenvolvimento. Os avanços tecnológicos também impulsionaram muito o mercado da moda, com o início da produção em massa. Durante a mesma época surge o Romantismo que influenciou a arte e a moda. Os românticos pregavam o sentimento e a emoção como contraponto ao espírito que estava se estendendo, de independência capitalista. O Historicismo foi outro movimento artístico presente na moda do século XIX que estudou as diferentes formas que a moda reviveu, reinterpretando estilos de séculos anteriores. Os delicados vestidos de musseline, leves e soltos, refletem modelos neoclássicos, inspirados nas estátuas gregas e romanas. Outra influência adotada foi o gosto pelo design escocês, devido ao grande interesse que o vestido antigo da Escócia despertava. O presente artigo abordará também, a moda da primeira metade do século XIX, mostrando as várias mudanças ocorridas, principalmente na silhueta feminina e na grande introdução de ornamentos. Será possível observar também que a moda aderiu a muitas influências dos movimentos estéticos artísticos, e se tornará bastante relevante a compreensão da relação entre essas duas áreas estéticas, e o aprofundamento no entendimento de como ocorreram as várias mudanças no vestuário desse período. Metodologia. Este trabalho é o resultado de uma pesquisa teórica, qualitativa, dedutiva e indutiva que buscava compreender as características dos movimentos artísticos, Romantismo e Neoclassicismo e a história da moda da primeira metade do século XIX e destacar as influências que esses movimentos despertaram na moda. A pesquisa foi dividida, para poder ser desenvolvida, em cinco momentos: pesquisa do referencial teórico; pesquisa e coleta de dados relevantes; organização, classificação e análise dos dados; análise dos resultados da pesquisa; e reflexão e descrição dos resultados da pesquisa. Romantismo/Neoclassicismo (1750 1850). O termo Romantismo deriva da palavra romance, utilizado para dar nome a um tipo de histórias de aventuras medievais, característicos do final do século XVIII. Contudo, o Romantismo não se refere a um estilo específico, mas a uma atitude de espírito em um conceito mais amplo. O propósito do romantismo era acabar com os artifícios que barravam o regresso à natureza. Para os participantes desse movimento, a natureza era desmedida, selvagem, sublime e pitoresca. Foi com base nela que os românticos adotaram o poder, a liberdade e tudo o que lhes inspirava a exaltação e o entusiasmo. No entanto, precisava de um estilo para se basear, mas não um de seu tempo, por isso recua a um passado ao qual se sente ligado por uma certa afinidade, favorecendo a revitalização de mais de um estilo.

O movimento apareceu com o fim do ciclo clássico, que está ligado revisitação da arte do mundo antigo, greco-romano, no qual enxerga a relação dos homens com a natureza como sendo clara e positiva. Destaca-se nesse período a transformação das tecnologias e da organização da produção econômica, com consequências que surgem na ordem social e política. Sem dúvida, o nascimento da tecnologia industrial coloca em crise o artesanato e suas técnicas refinadas e individuais, transformando as estruturas da arte, que constituem o modelo de produção artesanal. Uma das principais causas da crise da arte foi a passagem da tecnologia do artesanato para a tecnologia industrial fabril, que se baseia na ciência e age sobre a natureza de forma mais incisiva, transformando o ambiente. O período que vai da metade do século XVIII até a metade do século XIX pode ser dividido da seguinte maneira: fase pré-romântica, com a paralela poética alemã do Sturm und Drang 1 ; fase neoclássica, coincidindo com a Revolução Francesa e o império napoleônico; e a reação romântica, paralela aos movimentos de independência nacional, com as primeiras reivindicações operárias entre 1820 e 1850. O Neoclassicismo faz parte do processo de formação do Romantismo, segundo o qual a arte não é derivada da natureza e sim da própria arte. Uma característica importante do Neoclassicismo é o revival das artes da Antiguidade clássica, conforme mostra a figura 01. Essa releitura pôde ser observada também em outras áreas, como na moda. As duas principais referências do retorno à arte clássica são Roma e Paris. A primeira sendo o principal foco no estudo do neoclassicismo. Figura 01 - 'Igreja da Madeleine' de Barthelémy Vignon em Paris, de 1806, com referências clássicas (MIRABENT, 1991, p.16); e cadeira de Samuel Cragg, de 1808 (TORRENTY; MARÍN, 2005, p.46). Para os neoclássicos a arte era uma atividade mental, diferente da racional, mais autêntica. O Neoclassicismo não é uma estilística, mas uma poética; prescreve uma determinada postura, também moral, em relação à arte e, mesmo estabelecendo 1 Movimento de poetas jovens alemães do final do século XVIII.

certas categorias ou tipologias, permite aos artistas certa liberdade de interpretação e caracterização (ARGAN, 2006, p.23). Desde que a ciência e técnica vêm se impondo, a burguesia industrial iniciou sua rápida ascensão. Os artistas começaram a perceber que as técnicas industriais, proporcionam uma grande força criativa. O interesse pelo mundo clássico vem desde o final do século XVII. Quando Shaftesbury (1671-1713) defendia que era possível achar soluções adequadas para problemas estéticos de seu período. Winckelmann (1716-1768) juntamente com A. R. Mengs (1728-1779) tomaram como base as ideias de Shaftesbury e direcionaram-se a um conhecimento mais amplo da Antiguidade. Winckelmann deu início a um novo ideal de beleza, baseado nas obras gregas, pois acreditava serem caracterizadas por simplicidade e grandeza. Mengs por sua vez foi influenciado por Winckelmann, expôs suas teorias artísticas em escritos sobre a pintura, não se opondo à cópia de grandes mestres da Antiguidade. Nessa época conviveram várias correntes. Mas como em todo movimento, é importante destacar o menosprezo aos movimentos anteriores, barrocos e rococós, e a imitação de um passado mais distante dos elementos grego-latinos. O termo Neoclássico foi denominado por teóricos e historiadores com intuito de destacar a pluralidade e variedade de correntes artísticas. Esses estudiosos demonstraram que essa arte, do final do século XVIII e início do século XIX, foi mais do que uma simples imitação da arte clássica, e que muitos projetos realizados nessa época abriram a possibilidade de novas soluções. Figura 02: Arco do Triunfo de Paris de Raymond e Chalgrin, de 1837 (MIRABENT, 1991, p.21); e desenho de cadeira de Charles Percier e Léonard Fontaine, de 1812 (TORRENTY; MARÍN, 2005, p.51). Entre os diferentes tipos de arte, a que mais se apoiou na tendência clássica foi a arquitetura, seguida pela escultura e pela pintura, conforme a figura 02. A criação na arquitetura neoclássica deveria atender também a uma função, eles começaram a se preocupar se aquela forma também iria suprir as necessidades da sociedade.

A arquitetura neoclássica tem um caráter fortemente tipológico, em que as formas atendem a uma função e uma espacialidade racionalmente calculadas. O modelo clássico permanece como ponto de referência para uma metodologia de projetos que se colocam problemas concretos e atuais (...) (ARGAN, 2006, p.22). O projeto foi considerado fundamental para toda a arte neoclássica. Ele é importantíssimo para o desenvolvimento de uma ideia, o pilar que determina que aquela obra foi pensada e que passou por diversas fases antes de se materializar. Os arquitetos e engenheiros devem ter conhecimento das necessidades e desejos da sociedade, para criarem a partir desses fatos, visto que as obras serão destinadas para essa população. O Romantismo está muito ligado à arte cristã da Idade Média e, mais precisamente, ao romântico e ao gótico. Podemos definir como romântico o mundo nórdico, no qual a natureza é uma força misteriosa, frequentemente hostil. Foi teorizado pelos defensores do Renascimento, do Gótico e pelos pensadores alemães Schlegel (1767-1845), Wackenroder (1773-1798), Tieck (1773-1853), os quais defendem que a arte é a revelação do sagrado e tem necessariamente uma essência religiosa. No inicio do século XIX, Schinkel (1781-1841) admirava a sabedoria construtiva dos arquitetos góticos e admitia que a arquitetura classicista era baseada na expressão do sentido do Estado e que a arquitetura gótica, por sua vez, exprimia a tradição religiosa da comunidade. Podemos citar Viollet-Le-Duc (1814-1879), escritor, restaurador e engenheiro, como sendo o maior pioneiro do revival do gótico na França. Aprofundou-se no estudo filosófico dos monumentos góticos, investigou os sistemas construtivos e a aplicação dos materiais, se preocupou em aplicar princípios para sua conservação e restauração. Ele afirmava que o gótico era mais uma linguagem do que um estilo. Foi um dos primeiros a perceber as possibilidades que oferecem os novos materiais, como por exemplo, o ferro. Figura 03 - 'A vendedora de cupidos' de Joseph Marie Vien, obra que expressa bem o sentimento e a relação com a natureza (MIRABENT, 1991, p.49); e cadeira de Karl Friedrich Schinkel, de 1820-1825 (TORRENTY; MARÍN, 2005, p.50).

Os românticos tinham o desejo de uma arte que não fosse apenas religiosa, mas que expressasse o pensamento religioso do povo, e que introduzisse um fundamento ético ao trabalho humano, revalorizando a arquitetura gótica. Podemos dizer que essa arquitetura é primeiramente cristã, é burguesa por nascer nas cidades com o refinado artesanato dos séculos XVIII e XIX, exprimindo o sentimento popular, a história das sociedades, visto que cada catedral, por exemplo, é um elemento de várias gerações, demonstrando com a complexidade de suas formas e estruturas, e também com a riqueza e variedade de suas decorações, o alto nível de experiência técnica dos artesãos locais. A pintura romântica deseja expressar os sentimentos, que é um estado de espírito frente à realidade individual, a única ligação possível entre o indivíduo, a natureza, o particular e o universal, conforme figura 03. Para Coret, paisagista francês do século XIX, o sentimento é o que há de mais natural no homem. Sua pintura é considerada muito menos sentimental e mais realista. Vestuário e moda. No início do século XIX, o traje feminino foi muito reduzido em termos de quantidade de roupas. Consequência do abandono de anquinhas e espartilhos do final do século XVIII. As mulheres começaram a usar um robe en chemise (vestido de cintura alta, até os pés, de musseline, cambraia ou morim), que veio a ser conhecido posteriormente como vestido Império, conforme a figura 04. Esse foi o estilo usado ao longo de toda a República. Talvez em nenhuma outra época entre os tempos primitivos e a década de 1920, as mulheres tenham usado tão pouca roupa como no início do século XIX. Todos os trajes pareciam ter sido criados para climas tropicais (...) (LAVER, 2008, p.155). Figura 04: 'A imperatriz Josefine' de Prod'hon, de 1805 (MIRABENT, 1991, p.56); e 'Vestido Império' em 'Madame Récamier' de François Gérard, de 1802 (LAVER, 2008, p.154). Esse efeito clássico, com ênfase na linha vertical, que pôde ser observado no vestuário, durou somente de 1800 a 1803. Nos três anos seguintes, houve uma influência

egípcia. Depois da Guerra de Sucessão espanhola, os adornos espanhóis foram impostos, devido ao grande interesse por tudo que acontecia ou vinha da Espanha. A natureza, além de influenciar movimentos artísticos como o Neoclassicismo, influenciou também o vestuário da época. O uso de peles e plumas ficou cada vez mais comum e havia um grande fascínio pelas plantas, conforme a figura 05. Os bordados com desenhos de flores e folhas eram um dos ornamentos mais comuns nos trajes dos homens e das mulheres ao longo de todo o século. Inspirados em fontes variadas, estudos de botânica, as próprias plantas dos jardins, estufas e árvores, chegando a produzir vestidos que imitavam árvores. Nos tecidos dos vestidos, por exemplo, eram feitas representações realistas de frutas. Outra referência nítida eram as imagens de insetos, abelhas, joaninhas e mariposas, que eram bordadas nos vestidos dos anos 60 e 70. Figura 05 - Publicação da revista 'Ladies' de Paris, de 1801 (V&A, 2010); Vestido mostrando o uso de pele de animal, de 1807 (LAVER, 2008, p.156); trajes para Le Beau Monde com decote mais baixo e o ajuste abaixo do busto, de 1808, (LAVER, 2008, p.159); e Thomas Bewick veste Fraque a Cartola do traje campestre Inglês, em 1810 (LAVER, 2008, p.158); Algumas modificações foram surgindo, como o decote, que se tornou cada vez mais baixo, e a cintura que se aproximou mais do busto, conforme a figura 05. As mangas eram curtas ou muitas vezes nem existiam, e a cauda ficou cada vez mais comprida. Esse vestido foi mudando de aspecto quando se acrescentou um corpete chamado de le corsage. Com a reintrodução do corpete separado, o vestido logo passou a ter menos pregas. Estas ficavam nas costas, o que dava ao traje todo um aspecto inteiramente diferente. A moda logo instituiu um vestido sem pregas, e por volta de 1807 os vestidos eram tão justos que mal se conseguia andar com eles (KOHLER, 2005, p.486). Este tipo de modelagem permaneceu no domínio até depois de 1820, mas vale ressaltar que a partir de 1812 o decote foi ficando cada vez mais alto. As mangas curtas deixaram de ser essenciais mais ou menos na mesma época em que os decotes baixos, as favoritas eram abertas, presas com botões ou pregueadas. Por volta de 1808, foram introduzidas golas que ameaçaram a popularidade do decote baixo, mas o Império Napoleônico não deixou que este último se propagasse, mostrando assim a grande influência que ele exercia, inclusive na moda.

No início do século XIX, por volta de 1810, começaram a surgir os adornos nas roupas. Retomou-se o emprego de rendas, babados, e o próprio tecido passou a ser usado para a criação de ornamentos em forma de babados e listras diagonais. Havia nessa época uma verdadeira paixão pelos xales e mantas. Eram peças que não podiam faltar no guarda-roupa feminino, e saber usá-los com graça era a marca da mulher elegante. Eram usados para aquecer o corpo também, mas predominava o uso pela ostentação. Ficaram em moda também os grandes xales retangulares, feitos de tafetá, musseline ou crepe, semelhantes às clâmides gregas, conforme a figura 06. Figura 06: Vestidos de passeio com muitos babados, de 1817 (LAVER, 2008, p.157); Xale comprido no vestuário feminino, de 1810 (LAVER, 2008, p.157); e 'Capitão Barclay' apresenta o traje típico do pedestre com calças que substituíram os calções usados até os joelhos, de 1820 (LAVER, 2008, p.158). Em 1814, muitas mulheres inglesas foram a Paris, após a primeira abdicação de Napoleão, e descobriram que a moda francesa estava muito diferente da inglesa. As francesas ainda usavam o vestido de cintura alta, mas a saia, em vez de cair reta até o tornozelo, abriase um pouco na barra. O vestuário inglês, em contraponto, estava adquirindo um ar romântico, com elementos elisabetanos, como por exemplo, mangas fofas. Como consequência disso, as mulheres inglesas abandonaram sua moda e adotaram a francesa. Aconteceu o oposto com os trajes masculinos. A influência inglesa no vestuário masculino já era muito significativa desde o final do século XVIII, e nesse momento os franceses aceitavam o traje inglês plenamente. O dândi, nome dado aos homens aristocráticos do período vitoriano, que se preocupavam muito com a ornamentação e detalhes das roupas, foi muito reconhecido nessa época, tanto pelo corte de suas roupas, acabamentos impecáveis, como pelos calções apertados, conforme a figura 07. Além do grande detalhe em seu pescoço, formado pelo colarinho da camisa, que era virado para cima, com as duas pontas projetadas sobre o rosto, adornadas por um lenço em forma de plastrom ou stock (faixa dura, em nó, já pronta, abotoada atrás).

Figura 07: Trajes exagerados dos dândis, em 1822 (LAVER, 2008, p.161); e vestido com mangas bufantes e cintura marcada 'Fashion Plate', de 1829 (LAVER, 2008, p.164). No estilo romântico, observam-se vestidos primorosos, que transmitem exuberância com um sentimento de fantasia, feitos de tecidos leves, manifestando o aspecto delicado, de sonho, tão característico dos trajes de noite da década de 20 desse século. O ano de 1822 pode ser identificado pela mudança nas roupas femininas. A cintura, que fora alta durante um quarto de século, voltou à posição normal e, quando isso acontece, ela inevitavelmente vai ficando mais fina. Em consequência, o espartilho voltou a ser parte essencial do guarda-roupa feminino, mesmo para as meninas (LAVER, 2008, p.162). Esse efeito da cintura fina fez com que as saias ficassem mais amplas, e as mangas também foram se modificando, primeiramente com um pequeno enchimento nos ombros, que foi tido como um retorno dos trajes do Renascimento. Os corpetes estavam agora mais compridos, as saias muito largas e folgadas, usava-se uma anágua levemente acolchoada ou bastante engomada. A saia quase nunca chegava ao tornozelo, conforme a figura 07. O vestuário composto de mangas enormes, a famosa manga presunto, cintura muito marcada e aplicações de laços são algumas das características do começo da década de 1830. (...) mangas presunto eram longas e extremamente largas no alto, mais estreitas do cotovelo para baixo e justas nos punhos. Essas mangas, bem como as mangas amplas e curtas dos vestidos de baile, conservavam sua largura total graças a armações de vime ou almofadas de penas (KOHLER, 2005, p.521). Em meados de 1835, alterou-se a manga presunto, invertendo-a, ou seja, ficou justa em cima e mais larga embaixo. Depois de 1830, a saia ficou um pouco mais curta e bem mais ampla do que antes, e as mangas ficaram muito grandes. A amplidão das saias dessa época proporcionava uma oportunidade para a colocação cada vez maior de ornamentos. Um terço do comprimento do vestido era enfeitado com tiras de tecido e pufes, depois se notou vestidos com diversos babados, medindo de 25 a 30 centímetros de altura, sobrepondo cada babado ao de baixo. Voltou a ser muito elegante o uso do rufo (espécie de gola muito volumosa com várias camadas, intitulada pela rainha Elizabeth no século XVII), uma imitação do que foi a moda elisabetana. Mais comum ainda foi o uso da pelerine.

Uma gola larga e lisa chamada pelerine cobria os ombros. Quando as extremidades eram caídas, chamava-se pelerine-fichu. Ao ar livre, durante o dia, as mulheres usavam uma peça com mangas enormes e muitas capas (LAVER, 2008, p.166). A moda romântica do início da década começou a sofrer mudanças a partir de 1837. As mangas já não eram tão amplas, e o volume começou a descer pelos braços. As saias voltaram a ser mais compridas e não deixavam os tornozelos a mostra quando as mulheres andavam (LAVER, 2008, p.168). Houve também nessa época o desaparecimento da extravagância e da cor nas roupas masculinas. A mudança mais marcante nessa época foi na cabeça, com o surgimento do chapéu tipo boneca, que era baixo, amarrado firmemente sob o queixo, com o formato de um balde de carvão e passava a ideia de extremo recato. A mulher tinha a obrigação de não fazer nada, e quanto mais extravagantes e exuberantes eram seus trajes, mais passavam essa ideia de ociosidade e de que o marido era suficientemente rico para sustentá-la, conforme a figura 08. O próspero homem de negócios, que começava a deixar a cidade e a instalar sua família em confortáveis casas recém-construídas nos subúrbios elegantes, esperava duas coisas da esposa: primeiro, que fosse um modelo de virtudes domésticas e, segundo, que não fizesse nada. Sua ociosidade total era a marca do status social do marido. (LAVER, 2008, p.177). Figura 08 - Trajes de montar masculino e feminino, de 1831 (LAVER, 2008, p.164); Vestido peliça, brocado de seda, de 1831-33 (LAVER, 2008, p.165); e Trajes masculinos para o dia, de 1834 (LAVER, 2008, p.165). Esse fato pode parecer um pouco estranho ao se considerar que aconteceram na década de 1840 extraordinárias inovações técnicas e convulsões sociais. Surgiram nessa época ferrovias e vários levantes sociais, dando origem, em 1848, à primavera dos povos. De certa forma, as roupas confirmavam a intenção dos homens de que as mulheres não tivessem voz ativa, não participando das discussões políticas públicas. O vestuário feminino da década de 1840 foi marcado pela escassez e pode ser caracterizado pela cintura baixa, com o corpete destacando esse efeito. As saias eram

compridas e rodadas, conforme a figura 09. Havia também o gilet-cuirasse, peça parecida com um colete masculino. Crinolina foi a palavra utilizada para denominar uma pequena anquinha feita de crina de cavalo, diferente daquela que ainda viria. Figura 09 - 'Convalescença' de Eugène Lami, de 1845 (LAVER, 2008, p.171); e vestidos para o dia em Le Follet, de 1848 (LAVER, 2008, p.171). Os vestidos usados à noite eram decotados, mostrando os ombros. Este decote era reto com uma pequena profundidade no meio, chamada de en coeur. O corpete terminava em ponta na frente, era armado com barbatanas e havia pregas horizontais na parte de cima do mesmo, típicas desse período. As mulheres, em referência à rainha Vitória, que era de estatura baixa, tinham que parecer muito pequenas. Os sapatos, portanto, eram feitos em sua maioria sem saltos. O tipo mais comum era a sapatilha, feitas de cetim ou crepe, em cores que combinassem com o vestido. Influências dos movimentos estéticos na moda. É fato que a moda sempre foi criada e caracterizada a partir de referências obtidas de diferentes áreas, ou seja, da história, da política, da economia, da tecnologia, das artes, entre outras. O Neoclassicismo e o Romantismo foram os movimentos de maior predominância na primeira metade do século XIX, e exerceram profunda influência sobre a moda da época, conforme a figura 10. Por ser formada por vestidos soltos, de tecidos leves e com ajuste apenas abaixo do busto, pode-se notar grande referência na moda do vestuário do período clássico, grego e romano. Os movimentos artísticos têm como principal característica justamente o revival dessa Antiguidade. A nova mulher republicana usava longas chemises, que pareciam camisolas flutuantes, inspiradas na Antiguidade Clássica, como o fazia a mulher grega (XIMENES, 2009, p.50). No Romantismo sempre ficou clara a importância da existência de estilos de épocas passadas nos quais pudessem se basear. A moda foi seguindo o mesmo princípio das artes. Sempre buscando novas referências, sendo estas as mesmas adotadas por esses movimentos. Nota-se com isso, que a moda foi muitas vezes, e ainda é, escrava do passado. Desde essa

época, as pessoas envolvidas no desenvolvimento e na produção do vestuário já estudavam o passado para abordá-lo em suas criações, da mesma forma como atualmente os designers de moda pesquisam sobre a história e a adotam em suas coleções. Pode-se perceber que a prática não é nova, é uma constante que liga as pessoas à história das roupas. Figura 10 - Museu de Berlim de Karl Friedrich Schinckel com referências clássicas, de 1822-26 (MIRABENT, 1991, p.16); 'Retrato de Josefina Bonaparte' de Antoine Jean Gros, 1808 (COSGRAVE, 2005, p.203); e vestido inglês de 1832 (V&A, 2010). O Romantismo, por ter sua origem ligada a valores do período medieval, extraídos de livros de romances e de aventuras, buscava tanto nas artes como na moda a fantasia, defendia o mundo complexo dos sentimentos e das emoções, das viagens dentro de si mesmo e queria acima de tudo mexer no imaginário das pessoas e provocá-lo. Instigava e provocava a exposição pública, aos espectadores atentos às projeções dos imaginários, de pensamentos íntimos, valores sociais e crenças. Neste sentido, de certa forma, o vestuário expõe a imagem que os românticos gostariam de transmitir, algo extremamente transposto para o sistema da moda. A mentalidade do Romantismo vislumbrava uma fuga a realidade humanística, em que prevalecia a imaginação ao espírito crítico. Era a época dos contos de fadas, da música lírica de Schumman, Schubert, Liszt e Chopin (XIMENES, 2009, p.54). Os românticos consideravam a arte da Idade Média uma referência que deveria ser seguida por representar os verdadeiros valores das sociedades cristãs. Estes valores estéticos religiosos não eram muito adequados, nem aplicados à moda, visto que, a partir da segunda década do século XIX, o despojamento dava lugar ao excesso de exageros formais e de ornamentos, contrariando a lógica da simplicidade e a ausência de vaidade, característicos dos ensinamentos religiosos. A relação do homem com a natureza, no período que deu origem às referências, ou seja, na Antiguidade, era muito clara e marcante. Fato que originou muitas das crenças religiosas do período, como a adoção de elementos da natureza como forças supremas ou como representações de deuses. Assim, nada mais justo que essa relação tenha se tornado outra grande influência para a moda. Os vestidos refletiram exatamente esse fato, projeções de significados adornados em bordados com flores e estampas de frutas. Outra relação que podemos fazer da moda desse período com a natureza são as silhuetas e formas que o corpo adquire e que podem ser comparadas com formas da natureza:

A forma do corpo vestido, como objeto no espaço e em movimento, é obtida por meio de sua estática tridimensional: relevos, depressões, concavidades e convexidades que, entre curvas virtuais, se movimentaram em várias partes do corpo da mulher, produzindo ora quadris imensos, ora traseiros protuberantes, contornos sinuosos e cinturas estranguladas (XIMENES, 2009, p.22, 23). Nesse período, a tecnologia industrial estava assumindo cada vez mais espaço, esse fato pode ter ameaçado a arte e o artesanato, mas para a moda as mudanças foram de grande importância e fundamentais. É o caso, por exemplo, da utilização da máquina de costura, com variedades de funções, como por exemplo, pregar botões. O avanço da tecnologia também trouxe mudanças para a moda com a introdução cada vez maior de lojas de rua, com vitrines que mexiam com o inconsciente do consumidor, e com a publicidade adquirindo cada vez mais espaço, proporcionando uma divulgação mais rápida dos produtos de moda. O advento desta era industrial irá explorar a forma cilíndrica abstrata, muito vista na arquitetura, como, por exemplo, nas chaminés das fábricas, túneis e reservatórios de gás. No período, tal tendência imprimiu-se fortemente no vestuário masculino, em calças, cartolas e sobrecasacas. O Renascimento foi considerado outra fonte de referências, a partir do momento em que a moda, no ano de 1822, passou por grandes transformações, deixando toda aquela estética clássica para trás. A excessividade tornou-se uma das principais características do novo vestuário. A cintura voltou a seu lugar de fato, retornando o uso do espartilho. As saias foram ficando automaticamente bem mais amplas, sendo usadas com várias anáguas e muito adornadas, sendo estes adornos nitidamente trazidos como referência da natureza. A partir desse momento, a moda passou a referenciar os períodos Barroco e Rococó, por estar tão composta por adornos e ornamentos, provocando um notável exagero. É importante notar que neste caso há uma oposição aos movimentos estéticos vistos nesse artigo, pelo fato de os mesmos negarem e serem totalmente contra a arte barroca. Nota-se neste momento uma divergência de ideias. A moda do final da primeira metade desse século já estava mais voltada às referências que vinham dos movimentos: Historicismo, Ecletismo e Art Nouveau, predominantes na segunda metade do século XIX. Estes por sua vez, buscavam outros tipos de referências para suas criações. Considerações finais. Com o desenvolvimento do presente artigo foi importante notar que os movimentos estéticos artísticos desenvolveram-se e receberam a influência de diversas correntes teóricas e filosóficas e referencias históricas. Consequentemente influenciaram e foram influenciados pela moda, fazendo parte do processo de formação do período da primeira metade do século XIX. A moda passou por diversas transformações, tanto com relação às formas e às silhuetas, como com o aumento da utilização exagerada de ornamentos. A natureza foi muito valorizada nesse período, influenciando várias áreas estéticas, mostrando que as referências podem ser extraídas de um mesmo assunto, mas abordadas de diferentes formas, conforme o período a que se destinam. Pode-se considerar que as áreas permeadas pela estética estão todas intimamente ligadas. Por sua vez, a moda sempre propôs inovações para a sociedade e determinou o seu comportamento, da mesma forma, que sofre a influência de áreas como a política, a religião, a economia, a arte e a tecnologia, não servindo somente para a diferenciação entre as classes sociais. Foi importante observar que desde essa época a moda busca referências na história e

que tal processo é exercido até os dias de hoje. Contudo, chega-se à conclusão óbvia, no campo da moda, de que todas as criações e inovações possuem uma base ou origem, na história, nos temas e nas referências que fomentam seu desenvolvimento. O que merece ser mais profundamente estudado é o fato de que a moda pode provocar algumas influências mais relevantes nos movimentos, podendo haver uma transação de elementos entre as áreas ainda não devidamente explorada. Referências. ARGAN, Giulio. Arte moderna. São Paulo: Companhia das letras, 2006. CHRIST, Yvan. A arte no século XIX. São Paulo: Martins Fontes, 1981. COSGRAVE, Bronwyn. Historia de la moda: desde Egipto hasta nuestros dias. Barcelona: GG moda, 2005. JANSON, Horst. História geral da arte: o mundo moderno. São Paulo: Martins Fontes, 2001. KOHLER, Carl. História do vestuário. São Paulo: Martins Fontes, 2005. LAVER, James. A roupa e a moda: uma história concisa. São Paulo: Companhia das letras, 2008. PISCHEL, Gina. História universal da arte 3. São Paulo: Mirador Internacional, 1966. MIRABENT, Isabel. Saber ver a arte neoclássica. São Paulo: Martins Fontes, 1991. V&A. Victoria & Albert Museum. Londres, 2010. Disponível em: < http://www.vam.ac.uk /index.html >. Acesso em: 15 mar. 2010. XIMENES, Maria Alice. Moda e arte na reinvenção do corpo feminino do século XIX. São Paulo: Estação das letras e cores, 2009.