CONFLITOS INTERNACIONAIS E A ESCASSEZ DE RECURSOS NATURAIS por Rossana Gemeli Roncato Membro de Almeida Guilherme Advogados Durante vários séculos, a humanidade passou por diversos conflitos internacionais, por poder, conquista de novos territórios, recursos naturais e energéticos. Com o advento do sistema capitalista, a potencialização destes conflitos tornou-se ainda mais evidente, uma vez que gerou maior competitividade dos países, a busca por mercados emergentes como mercado consumidor a longo prazo e mão de obra barata (quase escrava em vários países), gerando maior desigualdade social. Até os dias atuais tem sido matéria de grande preocupação pelos analistas internacionais. Os recursos naturais são escassos, e o aumento dos valores a serem pagos por estes seguem a lei da economia: oferta e procura. Dessa forma, devido a raridade de alguns bens, a procura aumenta, fazendo com que o valor bruto do produto venha a ser demasiadamente alto, gerando disputa entre alguns países principalmente vizinhos e a busca por agregar territórios aos seus, objetivando adquirir os recursos existentes nestes pedaços de terras. Essa competição entre os países e a busca incessante por crescimento econômico sem maiores planejamentos, tem custado à humanidade grandes mudanças climáticas que já estão sendo sentidas desde logo, através de tempestades, calor excessivo, furacões, tufões, deslocamento das calotas polares, etc. Página 1 de 5
A escassez de água, por exemplo, é uma das maiores razões de conflitos no Oriente Médio e na África, uma vez não havendo água, as terras tornam-se improdutivas, gerando o aumento dos alimentos, da própria água e diversas revoltas sociais dentro dos países e também conflitos com os vizinhos que possuem acesso a esse bem. Este artigo tem como principal objetivo alertar para a importância do desenvolvimento sustentável, do princípio da equidade do acesso aos bens naturais e a importância do direito internacional, da economia e das relações internacionais através da diplomacia multilateral implementada no ordenamento jurídico internacional através dos tratados multilaterais, e sua relevância para evitar futuros conflitos internacionais em larga escala, apesar de já existirem muitos. Alexandre Kiss 1 manifesta-se acerca do tema justiça ambiental, evocando o princípio da igualdade/equidade, através de um tríplice significado, sendo este: a justiça para com as pessoas que vivem no presente, a justiça para com a humanidade futura e a justiça entre as espécies vivas. Em um primeiro momento, o autor cita a ideia de justiça social, utilizando-se de um olhar relacionado à partilha equitativa de recursos naturais, logo após, toma por base as gerações futuras finalizando com a menção a uma nova ética na relação entre os seres vivos. Seguindo as ideias de Alexandre Kiss, também na mesma linha de entendimento, José Joaquim Gomes Canotilho 2 professora que um Estado que adota um regime estatal de vedação à distribuição não equitativa dos benefícios e malefícios do aproveitamento dos recursos naturais, pode ser considerado um Estado de Justiça 1 KISS, Alexandre. Justiça ambiental e religiões cristãs. In : Desafios do Direito Ambiental no século XXI estudos em homenagem a Paulo Affonso Leme Machado. KISHI, Sandra Akemi Shimada; SILVA, Solange Teles da; SOARES, Inês Virgínia Prado (orgs). São Paulo: Malheiros, 2005, p. 47-48. 2 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Privatismo, associacionismo e publicismo no Direito do Ambiente: ou o rio da minha terra e as incertezas do Direito Público. Ambiente e Consumo, Lisboa, Centro de Estudos Jurídicos, 1996, v. I. Página 2 de 5
Ambiental. Visto por esse lado, demonstra a relevância do princípio do acesso equitativo aos recursos naturais. O Princípio do acesso equitativo aos recursos naturais refere-se que os bens devem ser distribuídos de forma igualitária para todos os habitantes do planeta. Por esse motivo, a Declaração Universal sobre o Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas, em seu princípio cinco dispõe: Os recursos não renováveis do Globo devem ser explorados de tal modo que não haja risco de serem exauridos e que as vantagens extraídas de sua utilização sejam partilhadas a toda a humanidade. Posteriormente, surgiram outros tratados multilaterais, como por exemplo: Declaração do Rio de Janeiro, A Convenção sobre os Usos dos Cursos de Águas Internacionais para Fins Distintos da Navegação, A Convenção de Transfronteiriços e dos Lagos Internacionais de Hensique de 1992, a Convenção da Diversidade Biológica de 98 e o Projeto Carta do Pacífico. Além das supramencionadas, dada a relevância do tema para a sociedade internacional, os países em 2012, reuniram-se utilizando a diplomacia multilateral na Conferência do Rio +20, que foi uma das maiores feitas pelas Nações Unidas, tratando sobre o tema de desenvolvimento sustentável, e obviamente a escassez de recursos, foi o principal motivador da conferência. Apesar de os países que mais necessitam dos recursos naturais, para movimentar sua economia sejam os próprios países ricos os chamados pela política internacional de países do norte (não se refere à geografia e sim, ao desenvolvimento), os que possuem em maior escala os bens naturais, são justamente os países do sul, ou seja, os em desenvolvimento, tendo muitos deles políticas instáveis o que levou os economistas a desenvolverem a chamada teoria econômica da maldição dos recursos. Nos últimos 60 anos, cerca de 40% dos conflitos internos ocorreram devido a disputas, sobre os recursos naturais, o que tende a piorar com o aumento populacional em todo o planeta. O surgimento do conflito então em algumas áreas tende a surgir, Página 3 de 5
através da tentativa de apropriação destes bens com o uso da força. Os conflitos por recursos acabam sendo para alguns um tanto quanto vantajoso uma vez que esses podem ser pagos pela própria extração de recursos no país invadido, sendo compensatório para inclusive empresas que financiam e vendem equipamento para suprir os exércitos, entrando mais uma vez a questão econômica em pauta. A água, por exemplo, tende a ser até o ano de 2030, a maior causadora de conflitos internacionais do mundo, segundo dados fornecidos pela Organização das Nações Unidas. Dados apontam que cerca de 780 milhões de pessoas não tem acesso à água própria para beber, o que seria em porcentagem 47% da população mundial, levando-as a viver em zonas de water stress, conforme menciona a Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento. Um conflito pouco compreendido mesmo pelos estudiosos de conflito e relações internacionais é o do Estado de Israel e Palestina, sendo que de fato é um conflito por terra- estas possuem recursos hídrico- e esses territórios dominados que causam isso vem impossibilitando um acordo pacífico entre as duas nações, uma vez que segundo dados da ONU, Israel é um dos países que tendem até 2030 tende a ficar sem água e a Palestina sente-se privada de grande parte de suas terras que possuíam água, sentindo-se portanto injustiçada. Em 1994, com o Acordo de Oslo, Israel tinha aceitado transferir para a Palestina as águas da faixa de Gaza, inclusive as responsabilidades pelo aquífero local e seus benefícios bem como o desenvolvimento, mantimento e gerenciamento das águas do aquífero. 3 De fato essas terras estão atualmente com a Palestina, mas constantemente ataques continuam nesta área. Portanto, faz-se de suma importância que o direito internacional, regulamente de forma eficaz em seu ordenamento jurídico, normas que possibilitem de forma clara, como proceder em casos de escassez de recursos, como poderá ser por 3 GVIRTZMAN, Haim. The Israeli- Palestinian Water Conflict: An Israeli Perspective Página 4 de 5
exemplo negociado passagens de água de um local para outro. As conferências que trazem ideias de desenvolvimento sustentável como a Rio +20, são de extrema relevância nos dias de hoje, com a colaboração das empresas para implementar métodos que evitem a utilização desmedida de bens escassos, substituindo-os quando possível por meios alternativos. Página 5 de 5