O material original (2003) deste módulo foi fornecido pela Dra. Christine Leeb da Universidade de Bristol e da WSPA e foi, posteriormente, revisado e



Documentos relacionados
CHECK - LIST - ISO 9001:2000

ISO 9000:2000 Sistemas de Gestão da Qualidade Fundamentos e Vocabulário. As Normas da família ISO As Normas da família ISO 9000

GARANTIA DA QUALIDADE DE SOFTWARE

Sistemas de Gestão Ambiental O QUE MUDOU COM A NOVA ISO 14001:2004

QUALIDADE DE SOFTWARE. Ian Sommerville 2006 Engenharia de Software, 8ª. edição. Capítulo 27 Slide 1

Importância da normalização para as Micro e Pequenas Empresas 1. Normas só são importantes para as grandes empresas...

Resumo das Interpretações Oficiais do TC 176 / ISO

Banco de Interpretação ISO 9001:2008. Gestão de recursos seção 6

Grupo de Coordenação da Transição da Administração da IANA Solicitação de Propostas

OS 14 PONTOS DA FILOSOFIA DE DEMING

CHECK LIST DE AVALIAÇÃO DE FORNECEDORES Divisão:

Prof. Dra. Luciana Batalha de Miranda Araújo

ACIDENTE E INCIDENTE INVESTIGAÇÃO

Copyright Proibida Reprodução. Prof. Éder Clementino dos Santos

ANÁLISE DOS REQUISITOS NORMATIVOS PARA A GESTÃO DE MEDIÇÃO EM ORGANIZAÇÕES

Standard da OIE Controle de cães não domiciliados

Calibração de Equipamentos

Gerenciamento de Projetos Modulo II Ciclo de Vida e Organização do Projeto

CPC 25 Provisões, Passivos e Ativos Contingentes

SIMULADO: Simulado 3 - ITIL Foundation v3-40 Perguntas em Português

AUDITORIA DE DIAGNÓSTICO

O CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, no exercício de suas atribuições legais e regimentais,

CONCURSO PÚBLICO ANALISTA DE SISTEMA ÊNFASE GOVERNANÇA DE TI ANALISTA DE GESTÃO RESPOSTAS ESPERADAS PRELIMINARES

* Substituir o animal vertebrado por um invertebrado ou outra forma de vida inferior, culturas de tecidos/células a simulações em computadores;

POLÍTICA DA QUALIDADE POLÍTICA AMBIENTAL POLÍTICA DE SEGURANÇA, SAÚDE E BEM ESTAR NO TRABALHO

Copyright Proibida Reprodução. Prof. Éder Clementino dos Santos

Implementação e avaliação

1. Avaliação de impacto de programas sociais: por que, para que e quando fazer? (Cap. 1 do livro) 2. Estatística e Planilhas Eletrônicas 3.

Gestão da Qualidade Políticas. Elementos chaves da Qualidade 19/04/2009

ESTUDO COMPARATIVO NBR ISO 13485:2004 RDC 59:2000 PORTARIA 686:1998 ITENS DE VERIFICAÇÃO PARA AUDITORIA

Revisão ISO ISO Sistema de Gestão Ambiental. DQS do Brasil Ltda. Página 1

SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL ABNT NBR ISO 14001

AULA 11 Desenhos, recursos e obstáculos

Estado da tecnologia avançada na gestão dos recursos genéticos animais

Controle ou Acompanhamento Estratégico

ISO Estrutura da norma ISO 14001

Módulo 3 Procedimento e processo de gerenciamento de riscos, PDCA e MASP

Como estimar peso vivo de novilhas quando a balança não está disponível? Métodos indiretos: fita torácica e hipômetro

Engenharia de Software II

Feature-Driven Development

Segurança e Saúde dos Trabalhadores

DECLARAÇÃO DE POSICIONAMENTO DO IIA: O PAPEL DA AUDITORIA INTERNA

MUDANÇAS NA ISO 9001: A VERSÃO 2015

Artigo Os 6 Mitos Do Seis Sigma

Auditando processos de feedback de clientes

CONSIDERAÇÕES DE QC PARA TESTES POINT-OF-CARE Tradução literal *Sarah Kee

ACOMPANHAMENTO GERENCIAL SANKHYA

SISTEMA DA GESTÃO AMBIENTAL SGA MANUAL CESBE S.A. ENGENHARIA E EMPREENDIMENTOS

OS 10 PRINCIPAIS INSTRUMENTOS ADMINISTRATIVOS DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES PARA O SUPERVISOR/ FACILITADOR

Pós-Graduação em Gerenciamento de Projetos práticas do PMI

ECONTEXTO. Auditoria Ambiental e de Regularidade

Desempenho da Fase Analítica. Fernando de Almeida Berlitz

Qual a diferença entre certificação e acreditação? O que precisamos fazer para obter e manter a certificação ou acreditação?

CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL

PR 2 PROCEDIMENTO. Auditoria Interna. Revisão - 2 Página: 1 de 9

Seção 2/E Monitoramento, Avaliação e Aprendizagem

RELATÓRIO SOBRE A GESTÃO DE RISCO OPERACIONAL NO BANCO BMG

2.1 Os projetos que demonstrarem resultados (quádrupla meta) serão compartilhados na Convenção Nacional.

Pisa 2012: O que os dados dizem sobre o Brasil

INTERAÇÃO HOMEM x ANIMAL SOB A PERSPECTIVA DO PRODUTOR RURAL ESTUDO PRELIMINAR. ¹ Discente de Medicina Veterinária UNICENTRO

Referências internas são os artefatos usados para ajudar na elaboração do PT tais como:

ISO/IEC 12207: Gerência de Configuração

Nível 2: Descrevendo seu sistema de APS e identificando os indicadores-chave

Módulo 2. Estrutura da norma ISO 9001:2008 Sistemas de Gestão da Qualidade Requisitos 0, 1, 2, 3 e 4/4, Exercícios

INTRODUÇÃO AO MICROSOFT DYNAMICS AX 4.0 FINANCEIRO I

ISO NAS PRAÇAS. Oficina ISO Formulação da Política da Qualidade. Julho/2011

Planejamento e gestão ambiental. Fernando Santiago dos Santos fernandoss@cefetsp.br (13)

18/06/2009. Quando cuidar do meio-ambiente é um bom negócio. Blog:

Palestra Informativa Sistema da Qualidade NBR ISO 9001:2000

Gerenciamento da Segurança Operacional GSO. Conceitos

Coleta de Dados: a) Questionário

DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS COMBINADAS

CES-32 e CE-230 Qualidade, Confiabilidade e Segurança de Software. Conceitos de Qualidade. CURSO DE GRADUAÇÃO e DE PÓS-GRADUAÇÃO DO ITA

SÉRIE ISO SÉRIE ISO 14000

Módulo 2. Identificação dos requisitos dos sistemas de medição, critérios de aceitação e o elemento 7.6 da ISO/TS.

Qualidade de Software. Profa. Cátia dos Reis Machado

ESTUDO DE VIABILIDADE. Santander, Victor - Unioeste Aula de Luiz Eduardo Guarino de Vasconcelos

ISO/IEC Avaliação da conformidade Declaração de conformidade do fornecedor Parte 1: Requisitos gerais

UNIDADE DE PESQUISA CLÍNICA Centro de Medicina Reprodutiva Dr Carlos Isaia Filho Ltda.

CAPITAL DE GIRO: ESSÊNCIA DA VIDA EMPRESARIAL

Gerenciamento de Incidentes - ITIL. Prof. Rafael Marciano

Observações. Referência Título / Campo de Aplicação Emissor Data de adoção

XX RAPAL DI 11 Presentado por Brasil Punto agenda 12a SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL NA ESTAÇÃO ANTÁRTICA COMANDANTE FERRAZ SGA/EACF

GUIA DE INTERPRETAÇÃO DO CELLA DA FLÓRIDA

Marketing de Serviços e de Relacionamento. MBA em Gestão de Marketing Prof.: Alice Selles

Marcos Antonio Lima de Oliveira, MSc Quality Engineer ASQ/USA Diretor da ISOQUALITAS

Ferramenta de gestão de indicadores de produtividade através de conceitos da estatística.

ARTIGO TÉCNICO. Os objectivos do Projecto passam por:

APRESENTAÇÃO. Sistema de Gestão Ambiental - SGA & Certificação ISO SGA & ISO UMA VISÃO GERAL

Transcrição:

O material original (2003) deste módulo foi fornecido pela Dra. Christine Leeb da Universidade de Bristol e da WSPA e foi, posteriormente, revisado e atualizado (em 2007) pela Dra. Caroline Hewson e pela WSPA. 1

Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de: Entender os princípios de avaliação de bem-estar em nível de grupo Identificar os diferentes métodos de avaliação Reconhecer aplicações para a avaliação de bem-estar em nível de grupo Entender o manejo sanitário e de bem-estar em sistemas de grupo. 2

O bem-estar animal foi estudado com profundidade para melhorar a situação atual dos animais. No entanto, em um grande número de casos, estes estudos não são diretamente aplicáveis a grandes grupos ou a situação a campo. Estes estudos focalizam tipicamente o efeito de fatores isolados por exemplo, o tipo do chão, densidade populacional, tamanho do grupo etc. Como você soma todos esses efeitos? Foram feitas diversas tentativas de desenvolver medidas que tentam registrar o efeito combinado de fatores individuais do bem-estar. Esses são, por exemplo (também descritos nos módulos 2, 3, 4, 5, 6, e 7): Indicadores comportamentais Parâmetros fisiológicos e imunológicos Parâmetros patológicos No entanto, há amplo consenso no sentido de que qualquer parâmetro válido do bem-estar em nível de fazenda ou grupo terá de usar mais de um tipo de observação. Além disso, é essencial realizar estudos epidemiológicos a campo além dos experimentos feitos em instituições de pesquisa. 3

Existem muitas situações diferentes onde a avaliação em nível de grupo é necessária por razões práticas ou estatísticas. Todos os animais por exemplo, galinhas poedeiras em uma fazenda são influenciados pelo mesmo alimento, pelo mesmo tratador ou pelas mesmas instalações e, portanto, têm que ser tratados (também estatisticamente) como não independentes uns dos outros. Esse também pode ser o caso para animais em um laboratório, numa instituição de proteção ou animais silvestres de uma certa região por exemplo, as zebras num Parque Nacional. 4

Na escolha de indicadores apropriados temos de satisfazer os seguintes requisitos: PRATICABILIDADE: limitações de tempo e dinheiro disponível, manuseio dos animais, etc. precisam ser considerados. A praticabilidade depende muitas vezes da natureza do estudo. Pode não ser possível, por exemplo, tirar amostras de sangue de cem animais ou observá-los durante 24 horas (possível na pesquisa, impossível como ferramenta de consultoria). CONFIABILIDADE: quantidade de erros ao acaso na realização de uma avaliação. Refere-se à estabilidade da medição, mas também pode se referir ao consenso das diferentes pessoas que realizam uma avaliação. Na estatística isso é chamado de repetibilidade intra e inter-observador. Como você pode garantir confiabilidade? Os parâmetros têm de ser definidos com exatidão (ex.: usando fotos) e os avaliadores precisam ser treinados. VALIDADE: refere-se às conclusões que podemos tirar dos resultados de uma avaliação como podemos interpretar esses resultados? Significam aquilo que supostamente devem significar? (ex.: bem-estar) Como você pode garantir validade? Um teste tem de ser validado utilizando uma outra avaliação cientificamente aceita (ex.: avaliação da prevalência de claudicação correlacionada com lesões das patas, comparação de comportamentos observados com níveis de cortisol etc.). 5

EPIDEMIOLOGIA é definida como o estudo da distribuição e dos determinantes de estados ou eventos relacionados com a saúde em populações específicas e a aplicação desse estudo ao controle de problemas de saúde. A definição indica que os epidemiologistas não se preocupam somente com a doença, mas também com estados de saúde mais positivos e com os meios para melhorar a saúde. A unidade de estudo na epidemiologia é uma população. Estudos epidemiológicos são observacionais. Eles incluem estudos ou pesquisas de seções nas quais uma seção representativa da população tenha sido escolhida, considerando vários fatores tais como tamanho da fazenda, área, raça, etc. Em uma avaliação em nível de grupo avalia-se a população inteira de animais ou se toma uma amostra aleatória (ex.: usando listas de brincos de orelha escolhidos ao acaso, selecionando animais com brincos de números pares etc.) Os termos a seguir descrevem o número de animais afetados: INCIDÊNCIA = número de casos novos em um determinado período de tempo dividido pelo número de animais sob risco. O período de tempo selecionado é normalmente um ano; neste caso, falamos de incidência anual. PREVALÊNCIA = número de animais afetados pela doença em um dado momento. Pode ser calculada dividindo o número de animais doentes pelo número de animais sob risco. 6

Na avaliação do bem-estar animal podem ser usados dois tipos diferentes de parâmetros: 1. Dados do sistema (parâmetros indiretos): estes são os recursos de produção disponibilizados aos animais. Eles incluem a qualidade do tratador (ex.: avaliação da quantidade do treinamento recebido, interação com os animais etc.), o ambiente (avaliação de dimensões, qualidade do chão, limpeza, número de bebedouros) e a raça dos animais (adequação ao sistema). 2. Efeitos (parâmetros diretos): estes são indicadores relacionados com o animal que mostram os efeitos dos dados do sistema sobre o bem-estar dos animais. Eles incluem uma variedade de parâmetros relativos aos animais, como escores de claudicação, lesões corporais, sujeira no corpo, escores das penas, descarga ocular/nasal e comportamento. É também importante notar que todos os três dados do sistema são refletidos pelos efeitos ex.: lesões dos jarretes são influenciadas pelo tipo de material do alojamento, pela qualidade do tratador (fornecendo palha fresca todo dia) e pela raça dos animais. Os escores podem estar em diferentes escalas: Escala contínua: ex.: comprimento da baia em centímetros Escala ordinal: ex.: 0=sem lesão no jarrete, 1=perda de pêlo, 2=jarrete inchado, ferida aberta Escala nominal: ex.: nome das raças: vaca Friesian-holandesa, Zebu, Hereford. É melhor observar o comportamento animal e medir a resposta animal ao estresse fisiológico. Ambos, comportamento e resposta ao estresse são efeitos de bem-estar. 7

Métodos de avaliação de bem-estar foram revisados por Johnsen et al. (2001). Avaliação dos dados do sistema: Medição das instalações; provisão de alimentos e água; número e qualificação de tratadores; registros de medicamentos. Avaliação dos efeitos: Avaliação do animal vivo: parâmetros patológicos e fisiológicos ex.: escore de condição corporal, claudicação, escore de lesões etc.; parâmetros comportamentais ex.: distância de fuga a humanos, comportamento ao deitar, tempo passado deitado etc. Avaliação do animal morto (abatedouro, necrópsia): parâmetros patológicos ex.: escores de pulmão, fraturas, taxas de mortalidade. Ambos os métodos têm vantagens e desvantagens: Avaliação dos dados do sistema (indireta, ambiental): é um método relativamente simples. Parâmetros como comprimento da baia, número de bebedouros etc. podem ser registrados rapidamente e com facilidade e as medições normalmente podem ser repetidas sem dificuldade. Eles também servem como base excelente para a solução de problemas ex.: aumento do número de bebedouros. A desvantagem desta avaliação é que ela raramente leva em conta a qualificação do criador de animais, visto que, mesmo no melhor ambiente, o bem-estar dos animais pode estar comprometido (ex.: porcas mancas por falta de observação ou tratamento). Alguns parâmetros (ex.: quantidade de palha, limpeza) podem ser avaliados somente no momento da inspeção. Avaliação dos efeitos (direta, baseada no animal): os efeitos são uma medida mais direta do bemestar de um animal. A desvantagem é que o registro de alguns desses parâmetros pode ser difícil e consumir tempo (ex.: observação do comportamento durante 24 horas, avaliação de 100 vacas). Por outro lado, sua avaliação é mais prática e altos números podem ser facilmente avaliados, especialmente no abatedouro. 8

Esse estudo comparou o bem-estar de vacas leiteiras do Reino Unido em fazendas que participavam em um esquema especial de bem-estar (Freedom Foods Alimentos com Liberdade) e do gado em fazendas convencionais. As avaliações foram baseadas nos animais. Elas incluíram a avaliação dos registros das fazendas, das estimativas dos fazendeiros quanto à incidência de doenças e observações independentes de comportamento e condições físicas das vacas. Os indicadores de bem-estar incluíram mastite, ausência de lesões em jarrete, lesões em jarrete, higiene das vacas e condição corporal. Exceto pela prevalência de pelagem opaca (que foi menor nas fazendas com Freedom Foods), não houve diferença significativa entre as proporções nas fazendas com Freedom Foods e nas fazendas convencionais nas quais foi necessário intervenção de acordo com avaliação de especialistas (Main et al 2003). Na UE, o Projeto de Qualidade e Bem-Estar tem o propósito de desenvolver medidas baseadas em animais para a avaliação de bem-estar e medidas de recursos e supervisão para identificar as causas do problema baseado em animais. Veja: www.welfarequality.net 9

O Índice de Necessidades dos Animais (Bartussek et al 2000) foi desenvolvido na Áustria para avaliar o bem-estar do gado em sistemas fechados (baias, curral) e em sistemas abertos. Leva ~30 a 90 minutos para avaliar uma fazenda. O avaliador usa formulários de pontuação padronizados para avaliar a instalação, o comportamento animal e o nível de cuidados (tratador). 10

Na maioria das situações deve ser usada uma variedade de métodos (avaliação de dados do sistema e efeitos), devendo-se escolher uma combinação dos métodos mais úteis para o propósito da avaliação. Para algumas finalidades pode ser desejável estabelecer um escore final, somando-se todos os parâmetros. Este é o caso do ANI (Animal Needs Index - Índice de Necessidades dos Animais, Bartussek et al., 2000), no qual, por exemplo, no mínimo 21 pontos são exigidos pelas associações de certificação orgânica e como requisito legal em algumas regiões. A vantagem do sistema é permitir fácil comparação de fazendas e o estabelecimento de metas. A desvantagem é que, mesmo diante da obrigação de satisfazer padrões mínimos (requisitos legais), alguns resultados ruins podem estar disfarçados por um resultado excelente. Quando o objetivo é melhorar condições, um parâmetro só não é suficiente para identificar as áreas problemáticas. Além disso, no momento existe pouca evidência científica para sustentar uma alocação de peso (grau de importância) para cada fator, pois isso, na maioria das vezes, é feito de modo subjetivo ou baseado na opinião de um especialista. A importância desses fatores para o animal tem de ser avaliada objetivamente e muito mais pesquisas serão necessárias para se definir níveis normais ou níveisalvo para fatores como tempo passado deitado, número de calos, cortisol nas fezes etc. Na maioria dos casos pode ser útil evitar o termo bem-estar e, em vez disso, descrever o parâmetro específico ex.: claudicação, prevalência do comportamento de morder o rabo etc. 11

Existem muitas aplicações de bem-estar ao nível de grupo. As aplicações da avaliação do bem-estar em nível de grupo são numerosas e de crescente importância do ponto de vista global, devido às comercializações internacionais e às necessidades de garantir aos consumidores que os animais foram mantidos em altos padrões de bem-estar. Um exemplo de avaliação de bem-estar é a auditoria do American Meat Institute de bem-estar de gado, suínos e ovinos em abatedouros. Sete fatores principais são avaliados e o abatedouro deve ser aprovado em todos eles para obter o certificado de que tem padrões aceitáveis de bem-estar. Os sete fatores são: 1) Atordoamento efetivo, 2) Sangramento após insensibilização, 3) Escorregamento e queda, 4) Vocalização, 5) Uso de estímulo elétrico, 6) Atos deliberados de abuso e 7) Acesso à água. Uma avaliação semelhante pode ser usada em fazendas: se a fazenda falhar em qualquer um dos principais critérios, não será certificada. Grandin T. Interpretation of the American Meat Institute Animal Handling Guidelines for auditing the welfare of cattle, pigs, and sheep at slaughter plants. http://www.grandin.com/interpreting.ami.guidelines.html 12

Na maioria dos casos, o primeiro passo em direção a uma melhora é a avaliação da situação, a identificação das áreas de preocupação mais sérias, sua prevalência e severidade. Isto pode ser feito observando-se (monitorando) uma situação em uma determinada área, comparando diferentes grupos ou avaliando o impacto de mudanças no decorrer do tempo (ex.: nova legislação e novos projetos). 13

Esta tabela resume os resultados de um projeto de pesquisa realizado na Universidade de Bristol (Whay et al., 2003). Uma variedade de parâmetros de saúde e de bem-estar (à esquerda) foi avaliada em vacas individuais, em 53 fazendas de leite. Os resultados das fazendas foram divididos em cinco categorias de avaliação iguais, cada uma representando 20% do total das fazendas, sendo os resultados na cor verde os melhores e na cor vermelha os piores. Os dois valores em cada faixa representam os números mais altos e mais baixos nesta categoria. Foi interessante observar que nenhuma fazenda obteve resultados totalmente bons ou ruins. Por exemplo: uma fazenda com prevalência de 30% de vacas mancas podia estar na faixa vermelha (a pior), mas na faixa verde (melhor) para o parâmetro de vacas gordas e magras. É importante dar-se conta de que os problemas de bem-estar neste estudo refletem a variação nas fazendas avaliadas e são influenciados pela seleção das fazendas. Estes estudos representam uma ferramenta importante de comparação, mas a sua interpretação requer cuidado. WHAY, H. R., MAIN, D. C. J., GREEN, L. E., WEBSTER, A. J. F., 2003: Assessment of Dairy Cattle Welfare Using Animal Based Measurements. Veterinary Record (In Press) 14

A avaliação do bem-estar em nível de grupo pode ser usada para avaliar sistemas de manutenção como, neste exemplo, que compara alojamento individual com alojamento em grupo de porcas gestantes. É preciso ter cuidado na interpretação dos resultados, visto a existência de muitos fatores influenciando os mesmos. Neste caso, além do parâmetro alojamento individual versus alojamento em grupo, a quantidade de material para a cama e o estágio da gestação influenciaram os resultados de forma significativa (Leeb et al., 2002). Observou-se menos calosidade nas porcas que dispunham de palha na área de descanso e que estavam em um estágio de gestação mais avançado. Estes fatores de risco podem ser analisados usando métodos estatísticos multifatoriais. Os resultados podem ser usados para aconselhar fazendeiros na construção de um novo sistema ou para melhorar sistemas existentes. Leeb B,Leeb Ch, Troxler J, Schuh M. 2001 Skin Lesions and Callosities in Group- Housed Pregnant Sows: Animal-Related Welfare Indicators. Acta Agriculturae Scandinavica, Section A - Animal Science 51 (Supplement 30):82-87 15

Avaliação da saúde e do bem-estar em nível de grupo é uma ferramenta importante para a avaliação do impacto de todo tipo de intervenções. Para monitorar o sucesso de um projeto, com conseqüente alocação apropriada de recursos, esses métodos estão sendo cada vez mais reconhecidos e usados em avaliações baseadas no animal. É uma forma objetiva de demonstrar o impacto real de intervenções. O sucesso de um projeto não pode apenas ser medido pelo número de intervenções ex.: número de vacinações realizadas, número de animais tratados, quilômetros rodados por uma clínica móvel. Os níveis de aplicação de vacinas, por exemplo, não contabilizam as vacinas perdidas em algum lugar durante o caminho ao animal, a técnica usada ou se a vacina está inadequada ou é desnecessária. Por isso, os métodos anteriormente descritos (avaliação de efeitos, como escore de condição corporal, escore de lesões, claudicação etc.) podem ser usados para avaliar uma população antes e depois ou com e sem intervenção. 16

Para monitorar parâmetros de saúde em fazendas ou em outros grupos de animais pode-se seguir o protocolo abaixo: A política atual (protocolo de prevenção e tratamento) é estabelecida e os registros de incidência de doenças são comparados com a avaliação da sua prevalência. Isto é discutido em colaboração com o fazendeiro/proprietário do animal. A comparação de incidência e prevalência pode ser realizada usando metas e níveis de intervenção (nacionais ou individuais) para motivar melhoras. Para melhorar a situação ainda mais é delineado um novo plano de ação. 17

Para avaliar o bem-estar de uma população de animais silvestres podem ser usados e aplicados os mesmos métodos ex.: em parques nacionais, projetos de reintrodução ou em zoológicos. Nestes casos, a viabilidade do método deve ser levada em especial consideração, visto que os animais não podem ser manejados (ex.: avaliação visual do escore de condição corporal em vez de exame físico). 18

Conforme abordado em detalhe no módulo 18, de acordo com os varejistas, fornecer produtos animais de fazendas que estejam dentro dos padrões de segurança alimentar e de bem-estar animal significa vantagem no mercado. Os produtores que tencionem comercializar seus produtos através destes varejistas têm de cumprir os requisitos estabelecidos pelos sistemas de certificação de fazendas (exemplos na projeção). Para se poder cumprir com os requisitos do mercado mundial, precisam ser estabelecidos sistemas de monitoramento no mundo inteiro. 19

EUREPGAP é um conjunto de documentos normativos para aprovação perante as leis internacionais de certificação. Esses documentos, em forma de protocolo, foram desenvolvidos por um grupo de representantes do mundo inteiro de toda cadeia de produção de alimentos e dirigem o produtor para as questões-chave a serem consideradas antes do produto deixar a fazenda. 20

Avaliação do bem-estar em nível de grupo é uma ferramenta importante para a legislação relativa ao bem-estar animal. A maior parte da legislação relativa ao bem-estar (por exemplo, na União Européia e na Nova Zelândia) está baseada em padrões descrevendo recursos (dados do sistema) ex.: descrevendo níveis de densidade populacional, proibindo tipos de alojamento (ex.: banindo as gaiolas industriais tradicionais para poedeiras) e exigindo acesso a alimento suficiente. Estes últimos podem ser avaliados observando os animais (escore de condições). BARTUSSEK, H., 1999b: A review of the animal needs index (ANI) for the assessment of animals well-being in the housing systems for Austrian proprietary products and legislation. Livestock Production Science, 61, 1999, 179-192. 21

Em países europeus são usados sistemas muito específicos ex.: o Índice de Necessidades dos Animais (ANI) na Áustria para fazendas orgânicas, avaliação individual de saúde das vacas na Irlanda etc. Na Suíça, por exigência legal, novos sistemas de produção têm de ser aprovados por uma instituição governamental antes de serem postos no mercado/vendidos a fazendeiros. Um centro de pesquisas suíço (FAT Taenikon) usa parâmetros diretos e indiretos para avaliar o sistema (por exemplo, alimentadores eletrônicos para porcas) sob condições experimentais e práticas na fazenda. 22

Para poder estabelecer um esquema ou legislação de sucesso, os seguintes itens são necessários: Padrões definindo os recursos a serem disponibilizados Assessores treinados, independentes tanto do fazendeiro (ex.: não deveria ser seu médico veterinário) quanto do esquema. Listas de checagem para avaliação a campo Planos de intervenção para o caso de padrões não satisfeitos, definindo o tipo de melhoras exigidas, prazos e penalidades. Para ter credibilidade pública, um esquema de certificação deveria incluir mais do que o mínimo legal de padrões de bem-estar animal e também deveria implementar um sistema eficaz de fiscalização. 23

Existem diferentes tipos de padrões os padrões dirigidos aos métodos descrevem os recursos indispensáveis para qualquer situação. Esses padrões são necessários independentemente do seu efeito real a campo. Por exemplo: Animais mantidos ao ar livre têm de dispor sempre de uma área de descanso bem drenada. Isto não é o caso nesta foto. Mesmo que as vacas estejam abrigadas durante a noite, o termo sempre não é cumprido. Os padrões muitas vezes permitem interpretação subjetiva usando o termo adequado ex.: higiene adequada. Isto pode ajudar para lidar com situações individuais mas, por outro lado, dá margem ao abuso e dificulta a repetibilidade da avaliação. 24

Também existem parâmetros baseados nos animais, permitindo a avaliação objetiva dos resultados dos padrões. Usando o exemplo do slide anterior dos padrões baseados em recursos (baseados nos dados do sistema), seria difícil estabelecer padrões globais para a nutrição de vacas leiteiras usando os dados do sistema (ex.: descrevendo a quantidade e qualidade dos alimentos). Ao invés disso, parâmetros baseados em animais permitiriam avaliar o desempenho desses padrões. A figura na apresentação de slide mostra gado Zebu na África. Seria impossível comparar as necessidades desse gado com as de uma vaca leiteira da raça Friesian-holandesa sem acesso a pasto nos Estados Unidos. Porém, a avaliação dos resultados (ex.: escore de condição corporal, fertilidade, condição da pelagem) permite uma mensuração objetiva de boa saúde, satisfação de necessidades nutricionais e promoção de um estado positivo de bem-estar. 25

Existem diversas aplicações da avaliação em grupo que podem ser úteis na assessoria a tratadores de animais e para melhorar o bem-estar dos seus animais: A análise de um problema consiste na percepção do problema, na avaliação de sua extensão, na tomada da atitude adequada e na reavaliação. Um sistema de referências envolve a comparação de medidas a parâmetros ou pontos de referência, que são conhecidos como uma referência. Essa comparação ajuda a identificar, avaliar e reavaliar um problema, usando parâmetros baseados no animal ou dados do desempenho de produção. Este sistema será explicado mais detalhadamente. Sistemas de gerenciamento, como planos de saúde, representam uma ferramenta útil na administração da saúde e do bem-estar em nível de grupo e podem funcionar como parte de um sistema APPCC (Análise dos Perigos e Ponto Crítico de Controle), cujos princípios podem ser usados para monitorar o bem-estar animal. 26

Grupos de animais são avaliados regularmente para monitorar o estado de doenças, assim prevenindo problemas. Para investigar a causa de problemas podem ser usados os mesmos princípios esboçados antes: Avaliação dos dados do sistema ex.: quantidade e qualidade dos alimentos, comprimento do cocho, vacinações etc. Avaliação dos efeitos exame clínico do rebanho. A projeção mostra um exemplo a partir de uma cabanha de 40 cabras, com três casos de morte de reprodutoras adultas. Após avaliação do ambiente e, especialmente, dos alimentos, todos os animais foram examinados. Foi calculada a prevalência de diferentes parâmetros para investigar várias razões para problemas clínicos (ex.: descarga nasal ou ocular). Foi encontrado um número excepcionalmente alto de animais em baixa condição corporal. 27

O gráfico na projeção mostra a prevalência de cabras (eixo y) em cada escore de condição corporal (ECC) (eixo x), sendo que 1 significa magra e 5 gorda. A maior parte das cabras estava magra (ECC entre 1,5 e 2,5) Neste caso foi diagnosticada paratuberculose (doença de Johne) e foram estabelecidas medidas de controle, incluindo o descarte dos animais infectados e de suas crias. Como os testes de diagnóstico não são inteiramente confiáveis e casos falso-negativos podem ocorrer, é importante reavaliar a situação regularmente. Para escores de condição corporal para diferentes espécies, acesse http://www.defra.gov.uk/animalh/welfare/farmed/ 28

Referência é definida como um padrão ou ponto de referência. Neste caso, a prevalência de vários indicadores do bem-estar em um grupo de animais é comparada com um par ex.: outras fazendas da mesma área. Isto torna o fazendeiro e seu médico veterinário capazes de identificar não somente áreas preocupantes como também áreas positivas, ajudando a estabelecer prioridades de ação específicas para a fazenda e a atestar as observações. 29

Este é um possível formato para um relatório de retroalimentação. Compara o número médio de calosidades nas patas de porcas gestantes em uma determinada fazenda (vermelho) com outras 42 fazendas onde as porcas são mantidas em cubículos individuais. O eixo y mostra o número médio de calosidades por fazenda e o eixo x representa 43 fazendas individuais, arranjadas da melhor para a pior. A barra vermelha destaca uma fazenda, que teve uma média de 6 calos por animais. 30

Esta projeção mostra um exemplo de relatório de retroalimentação (Whay et al, 2003) apresentado anteriormente. Este relatório é muito detalhado para ser lido na projeção. Entretanto, as cores explicam a severidade dos parâmetros: a cor verde indica que o padrão de um fator de bem-estar (por exemplo, nutrição) está entre os 20% melhores fazendeiros avaliados. O vermelho significa que a fazenda está entre as piores fazendas para aquele parâmetro, isto é, o fazendeiro tem o pior padrão de bem-estar daquelas áreas. 31

Esses relatórios de retroalimentação servem para alcançar vários objetivos ao mesmo tempo: Incentivo: Certa competição entre fazendeiros é estimulada (especialmente em relação às taxas de desempenho) ou pode ser criado um sistema de incentivos. 32

Educação: A noção do próprio desempenho é aumentada e se possibilita uma comparação com outras fazendas. Isto pode ser muito importante porque alguns fazendeiros podem achar que, por exemplo, o número de animais mancos em sua fazenda esteja normal por falta de oportunidade de conhecer dados de outras fazendas. Além disso, pode ser demonstrado que determinadas soluções para um sistema de criação resultarão em menor prevalência de sinais de bem-estar comprometido (como doença etc.), o que pode resultar em maior produção. Aplicação: Definições de requisitos mínimos podem ser estabelecidas (ex.: menos de 20% de animais mancos), que podem ser usadas para aprovar/reprovar uma fazenda ou para estabelecer um plano de ação e monitorar o seu sucesso. 33

O que é exatamente um plano de saúde para um rebanho? A definição a seguir é derivada de padrões orgânicos, mas poderia ser aplicada em geral: plano... que tem por objetivo garantir o desenvolvimento de um padrão de medidas para promover saúde e controlar doenças, apropriado para as circunstâncias de uma determinada fazenda, e que permita a evolução de um sistema de criação progressivamente menos dependente de produtos alopáticos na medicina veterinária (UKROFS, 2001). Um plano de saúde é desenhado por um fazendeiro e seu consultor (o médico veterinário) e deve abranger: Um plano de alojamento, alimentação, reprodução, política de pasto e metas Medidas de biossegurança Registros e monitoramento da saúde Planos de controle de doenças (políticas de vacinação, controle parasitário, medicação de rotina) Para mais informações, ver: http://www.defra.gov.uk/farm/organic/ukrofs/standard.pdf 34

As pessoas responsáveis pelo sucesso dos planos de saúde para animais são: O proprietário Seu consultor Seu consultor externo O proprietário tem a responsabilidade geral de garantir o bem-estar dos seus animais. Ele também formula os planos para vários procedimentos e mantém registros. 35

O consultor é responsável por aconselhar a respeito dos planos e do sistema de registro. É ele quem avalia o desempenho e aconselha medidas corretivas. O assessor de certificação fiscaliza a disponibilidade de planos de saúde e os registros (ex.: através de um plano de saúde por escrito), freqüência de revisão, implementação e eficácia. Ele não aconselha nessa ocasião. 36

A legislação e os padrões de certificação são, na sua maioria, baseados nos recursos. Esses recursos são definidos pelos resultados da pesquisa do bem-estar, mostrando, por exemplo, que palha é importante para suínos. A legislação é aplicada de forma variável em muitos países. Os esquemas de certificação desempenham um papel importante na imposição da legislação e no uso de padrões superiores aos da legislação. Sistemas de gerenciamento (ex.: planos de saúde) são pouco usados atualmente (apesar de importantes), em virtude da falta de incentivo ao fazendeiro. É necessário que o fazendeiro mude sua filosofia ou que se criem incentivos para aumentar o uso de sistemas de gerenciamento. Na UE, o Projeto de Qualidade e Bem-Estar (Welfare Quality Project) tem o objetivo de desenvolver medidas baseadas em animais para a avaliação do bemestar em nível de grupo e usar medidas de recursos e gerenciamento para identificar as causas dos problemas baseados em animais. Ver: www.welfarequality.ney 37

38

39

40

41

42

43