Curso de Medicina da ULBRA 2.004/01 Departamento de Pediatria Área Cirurgia Pediátrica - Prof. Lionel Leitzke. CIRURGIA PEDIÁTRICA na PAREDE ABDOMINAL



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Curso de Medicina da ULBRA 2.004/01 Departamento de Pediatria Área Cirurgia Pediátrica - Prof. Lionel Leitzke CIRURGIA PEDIÁTRICA na PAREDE ABDOMINAL Afecções cirúrgicas da região umbilical Hérnia Umbilical Definição - Herniação do conteúdo abdominal pelo orifício umbilical não obliterado. Epidemiologia - é a 2 ª queixa mais freqüente em consultórios de cirúrgica pediátrica Incidência de 1 : 6 recém nascidos É mais comum - na raça negra (25% x 3 % em lactentes com 1 ano de idade) - prematuros de baixo peso (75 %) - Aumento da pressão abdominal (Ascite, DVP, gastrosquise) - Síndrome de Beckwith-Wiedemann, trissomias do 13 e do 18 Etiologia Falha no fechamento do anel umbilical após a cicatrização do coto umbilical (14 ª dia de vida) Fisiopatologia - Saida do epíplon ou das alças intestinais pelo orifício umbilical ao aumentar a pressão intra-abdominal Manifestações clínicas - abaulamento umbilical que aumenta ao choro e ao esforço físico, facilmente redutível, geralmente assintomático, mas pode ter dor local. O encarceramento é raríssimo na infância, freqüente na mulher durante a gestação. Exames complementares - desnecessários, pois para o diagnóstico apenas a história, a ectoscopia e a palpação são suficientes. Diagnóstico e diagnósticos diferenciais - Granuloma Umbilical - Umbigo Cutâneo - Hérnia Supra-Umbilical Medidas terapêuticas CLÍNICO - Expectante até a idade adequada para cirurgia - Orientar familiares sobre o encarceramento (raríssimo) - Explicar aos pais porque não devem usar faixas ou moedas : - Não facilitam o fechamento da hérnia. - Não diminuem os riscos de dor ou de encarceramento. - As faixas comprimem o abdome, prejudicando a respiração (que é predominantemente abdominal nos lactentes) e a alimentação (os lactentes ingerem grandes volumes a cada 3 4 horas). - Uso de moedas predispõem a dermatites e onfalites. CIRÚRGICO Após os 5 anos de vida se não ocorrer o fechamento espontâneo. - Após os 3 anos de idade nas hérnias com anel na aponeurose > 1,5 cm ou nas hérnias com componente supra-umbilical. - Em qualquer idade nas Hérnias sintomáticas ou Encarceradas 1

- Estético nas prosbócides, com pele redundante após o fechamento do orifício da aponeurose. Recursos preventivos - não há Complicações - Encarceramento - Dor local Prognóstico - 96 % fecham espontaneamente até os 5-6 anos de idade Granuloma Umbilical Definição é o tecido de granulação excedente após a queda do coto umbilical. Epidemiologia - é a afecção umbilical mais freqüente no neonato Etiologia Decorre da epitelização incompleta do coto umbilical, Manifestação clínica presença de tecido granulomatoso, com secreção após a queda do coto umbilical. Diagnósticos diferenciais Persistência de Úraco - Persistência do Conduto Onfalomesentérico Exames complementares a ecografia abdominal e a fistulografia são úteis somente nos casos em que há suspeita de persistência de úraco ou do conduto onfalomesentérico Conduta Aplicações tópicas de Nitrato de prata em bastão - Excisão cirúrgica em caso de insucesso no tratamento clínico, sempre pesquisando a possibilidade de persistência de úraco ou de conduto onfalomesentérico. Onfalocele e Gastrosquise Definição - São defeitos congênitos da parede abdominal com exteriorização do conteúdo da cavidade abdominal. Epidemiologia - 1:5.000 a 1:15.000 nascidos vivos - A incidência de gastrosquises vem aumentando, enquanto a de onfalocele permanece inalterada. - Ambos defeitos estão associados à prematuridade. Etiologia - A partir da 5 ª semana de vida o intestino médio cresce e alonga rapidamente, exteriorizando parcialmente pelo umbigo. Na 10 ª semana a cavidade abdominal já cresceu o suficiente para que ocorra o retorno das alças, concomitante com o rotação das mesmas até a 12 ª semana, e posterior fixação. O não retorno das alças (consequente rotação incompleta e não fixação) gera a onfalocele. Já a gastrosquise decorre da exteriorização das alças pelo orifício decorrente da 2

rotura precoce da somatopleura para-umbilical ao nível da veia umbilical direita, durante o seu processo de involução. Neste caso parte do intestino médio continua a crescer banhado pelo líquido amniótico. Fisiopatologia - O crescimento externo de parte do intestino reduz o tamanho da cavidade abdominal, gerando desproporção entre as vísceras e o volume da cavidade abdominal. Na gastrosquise temos ainda a serosite, o edema e espessamento das alças pelo contato prolongado com o líquido amniótico. Manifestações clínicas Onfalocele Gastrosquise Local de evisceração Pelo umbigo A direita do umbigo (+ 90%) Conteúdo herniado Intestino delgado / cólon Intestino médio Fígado - parcial ou total Aparência das alças Normal Espessas, c/ edema Saco = membrana amniótica Presente - (integro ou não) Ausente Saída do cordão umbilical No ápice do defeito Na posição normal Malformações associadas * Freqüentes 40 % - Hérnia Raras 15 % - Persistência diafragmática, cardíacas, de Onfalo-mesentérico, genito-urinárias, trissomias atresias intestinais * Ambos defeitos geralmente apresentam rotação intestinal incompleta associada. Exames complementares - para pesquisa de malformações associadas, principalmente nas onfaloceles Diagnóstico e diagnósticos diferenciais - vide tabela acima. Medidas terapêuticas Antes do nascimento quando diagnosticadas por ecografia obstétrica, devem ser referenciadas para acompanhamento pré-natal, nascimento e tratamento pós-natal em hospital com equipes especializadas e com experiência no tratamento destas malformações. É importante enfatizar que o transporte ideal do RN é o útero materno! Após o nascimento A hipovolemia deve ser prevenida com hidratação parenteral adequada, a hipotermia mantendo o RN em incubadora aquecida e envolvendo as alças intestinais com gases estéreis e filme transparente adesivo; a lesão ou torção de alças, rotura do saco com o manuseio adequado e a infecção com antibioticoterapia parenteral. A SNG é colocada para descomprimir o estomago e evitar broncoaspirações. O RN deve ser posicionado de preferência em decúbito lateral esquerdo para otimizar o retorno venoso e estabilizar o débito cardíaco, com o intuito de evitar lesão isquêmica das alças intestinais. Cirurgia - Fechamento primário - em mais de 80 % dos pacientes - Fechamento estadiado quando a pressão abdominal fica muito aumentada, com comprometimento ventilatório e circulatório durante a tentativa de fechamento primário. É colocado um silo (cilíndrico) que protege e acomoda as alças intestinais fora da cavidade abdominal. A cada dia é realizada a redução gradual do silo, até ser possível o fechamento da parede abdominal. Complicações - íleo prolongado, necessidade de nutrição parenteral prolongada, necessidade de ventilação mecanica prolongada, infecção cirúrgica, intestino curto com má absorção intestinal Necessidade de Ventilação assistida com paralisia muscular 3

Prognóstico - sobrevida ± 90 %, mas depende das malformações associadas, principalmente as cardíacas e cromossômicas. Persistência do Conduto Onfalomesentérico (COM) Definição - São as malformações derivadas da persistência do COM. Epidemiologia - 2% da população, sendo sintomático só em 5 % dos portadores. É três vezes mais comum no sexo masculino. Etiologia - Da 2 ª - 3 ª até a 5 ª - 7 ª semanas de vida, devido à circulação útero-placentária ainda não estar bem desenvolvida, o COM estabelece a comunicação entre o saco vitelino e a luz intestinal do final do intestino médio com a finalidade de nutrir o embrião. Entre a 5 a. e a 9 a. semanas de vida deve ocorrer a involução total do COM. Fisiopatologia - A não involução parcial ou total deste conduto gera uma série de malformações: Pólipo umbilical é o remanescente mucoso do COM na cicatriz umbilical Sinus umbilical se for persistência permeável só da porção umbilical Fístula ou Ducto vitelínico patente se for persistência total e permeável Banda fibrosa se for persistência total sem luz Divertículo de Meckel, se for persistência permeável da porção intestinal Cisto do COM, se for persistência da porção média do COM, sem comunicação com intestino ou umbigo Manifestações clínicas - geralmente antes dos 2 ou 3 anos de vida, variando conforme o tipo de persistência: Pólipo umbilical = em RN ou lactente é visível um nódulo vermelho brilhante, com drenagem mucoide ou sanguinolenta persistente, podendo infectar, e faz diagnóstico diferencial com Granuloma umbilical (que é acinzentado). Sinus umbilical = drenagem umbilical persistente de muco, pús ou sangue. Fístula umbilical = mucosa intestinal visível no umbigo com drenagem de conteúdo intestinal ou purulenta se infectada. Pode ser causa de obstrução intestinal. Banda fibrosa = umbigo normal, paciente pode ter obstrução intestinal. Divertículo de Meckel = umbigo normal, paciente pode apresentar inflamação (de diverticulite até peritonite), obstrução intestinal baixa ou hemorragia digestiva baixa (se tiver mucosa gástrica ectópica). Cisto do COM = umbigo normal, paciente pode ter obstrução intestinal. Diagnóstico e diagnósticos diferenciais vide acima Exames complementares - variam conforme o tipo de persistência, mas a ultrasonografia e a fistulografia pelo orifício umbilical podem auxiliar no diagnóstico. Medidas terapêuticas Todas as anomalias do COM devem ser cirurgicamente ressecadas. Quando infectadas, pode ser necessários a drenagem prévia e o uso de antibióticos. As obstruções intestinais e as diverticulites de Meckel são uma emergência cirúrgica. 4

Recursos preventivos - não há Complicações pós-operatórias raras, podendo ocorrer infecções e deiscências. Prognóstico variáveis, conforme o tipo, podendo chegar a 11 %, e até 3 a 6 % de óbitos nas peritonites secundárias a obstruções intestinais ou diverticulites perfuradas. Persistência de Úraco Definição são as malformações derivadas da persistência total ou parcial do úraco (estrutura tubular que se estende do ducto alantóide fibrótico até a cúpula vesical). Epidemiologia - 2 % dos adultos, mas é raro ser sintomático. Etiologia a partir do 5 º mês de gestação, com a descida pélvica da bexiga urinária o úraco se alonga, se estreita e progressivamente se torna fibrótico, perdendo sua ligação com o umbigo. Fisiopatologia - a persistência total ou parcial do úraco pode gerar os diversos tipos de anomalias abaixo listadas: Fístula vesicoumbilical = persistência completa do úraco Sinus de úraco = persistência da porção umbilical do úraco com ou sem infecção Cisto de úraco = persistência do 1/3 médio do úraco sem infecção Abscesso de úraco = persistência do 1/3 médio do úraco com infecção Divertículo vésico-uracal = persistência do 1/3 distal do úraco Manifestações clínicas conforme o tipo Fístula vesicoumbilical - orifício no umbigo podendo ter mucosa vesical visível, saída de urina e cistite. Sinus de úraco - orifício no umbigo podendo ter mucosa vesical visível e drenagem de secreção mucoide ou purulenta, se infectado. Cisto de úraco é a mais freqüente das anomalias do úraco. O umbigo é normal e o diagnóstico é feito pela presença de uma massa na linha média infraumbilical (geralmente volumosa). Abscesso de úraco é o cisto infectado, portanto é uma massa de linha média infraumbilical dolorosa, com sinais flogísticos evidentes. Divertículo vésico-uracal umbigo normal, se for grande é palpável como uma massa infraumbilical de linha média, dolorosa ou não. Se pequeno, pode ser causa de infecções urinárias, e seu diagnóstico é feito por ecografia. Diagnóstico e diagnósticos diferenciais vide acima Exames complementares Ecografia abdominal + Fistulografia se tiver orifício umbilical + Uretrocistografia miccional para afastar presença de válvula de uretra posterior. Medidas terapêuticas Todas as anomalias do úraco devem ser cirurgicamente ressecadas. Recursos preventivos não há. 5

Complicações Infecções urinárias. Prognóstico variável conforme o quadro clínico Afecções cirúrgicas da região supra-umbilical Hérnia Epigástrica Definição - É a protusão da gordura pré-peritoneal ou do omento através de pequeno defeito na linha alba acima do umbigo. Epidemiologia Mais freqüente em pacientes com diastáse dos músculos retos abdominais. Etiologia As fibras tendinosas provenientes da aponeurose dos músculos retos abdominais se entrelaçam na linha alba. O rompimento destas fibras ou uma falha de desenvolvimento nos locais de entrada de vasos cria um orifício, por onde a gordura préperitoneal, ou mais raramente o omento evaginam. Fisiopatologia - não fecha espontaneamente Manifestações clínicas - Pequeno abaulamento de linha média supra-umbilical - Dor espontânea ou na palpação - Raramente redutível - Podem ser múltiplas, maiores, estar logo acima do umbigo e associadas à hérnia umbilical quando são denominadas supra-umbilicais. Exames complementares - desnecessários, a não ser os pré-operatórios Diagnóstico e diagnósticos diferenciais - cistos, tumores locais Medidas terapêuticas sempre cirúrgico, com marcação prévia do local, antes da anestesia geral. Recursos preventivos não há Complicações dor, aumento progressivo do tamanho. Em adultos já foram descritos encarceramento de estomago, intestino e vesícula biliar. Prognóstico é muito raro recidiva local ou infecção pós-operatória. Afecções cirúrgicas da região inguinal Hérnia Inguinal, Hidrocele e Cisto de cordão 6

Definição - São malformações decorrentes do não fechamento do conduto peritoneovaginal. Por definição o conteúdo da HÉRNIA inclui estruturas peritoneais (alças intestinais, apêndice cecal, tubas uterinas, ovário,...) e na HIDROCELE o conteúdo é só líquido. Epidemiologia - São as cirurgias mais frequentes realizadas pelos cirurgiões pediátricos. É mais frequente em: meninos - estatísticas variam de 3:1 até 10:1 lado direito (o último lado a fechar o conduto peritoneo-vaginal) prematuros 10% tem predisposição familiar 60 % dos encarceramentos ocorrem antes dos 6 meses de vida Etiologia - No 3 º mês de vida surge uma evaginação peritoneal na altura da região inguinal em direção ao escroto (M) ou aos grandes lábios (F), e por onde sob a ação hormonal e a guia do gubernaculum testis, migram os testículos até o escroto (M), ou o ligamento redondo do útero se fixará nos grandes lábios (F) até o 7 º mês de gestação. Fisiopatologia - A reabsorção incompleta desta evaginação resultará na hérnia inguinal ou hidrocele em suas várias formas de apresentação. Manifestações clínicas Hérnia inguinal ou inguino-escrotal redutível - Abaulamento intermitente na região inguinal e/ou escrotal (M) que aumenta aos esforços, choro, tosse, sendo redutível ao exame físico. Crianças maiores e adolescentes podem somente ter queixas de dores inguinais e/ou escrotais durante atividade física, e na palpação observar-se-a espessamento do cordão espermático. Hérnia inguinal ou inguino-escrotal encarcerada ou estrangulada - Abaulamento irredutível, doloroso, com edema, hiperemia de parede, não se altera com esforços, choro ou tosse, podendo ser acompanhado de vômitos, dores e distensão abdominal. Hérnia inguinal com ovário encarcerado - Menina com nódulo inguinal ovóide muito móvel, irredutível, indolor, sem edema ou hiperemia de parede Hérnia inguinal com torção do ovário encarcerado - Menina com ovário irredutível, doloroso, aumentado de volume, com edema e hiperemia de parede, podendo ser acompanhado de vômitos, dores e distensão abdominal. Hidrocele não comunicante (residual) ou Cisto de cordão - Abaulamento inguinal irredutível, indolor, transiluminável, sem edema nem hiperemia de parede, e não se altera com esforços, choro ou tosse. Na palpação não há espessamento de cordão espermático. Hidrocele não comunicante (residual) do testículo - Aumento de volume escrotal, irredutível, indolor, transiluminável, sem edema nem hiperemia de parede, sem aumento do testículo e não se altera com esforços, choro, tosse. Na palpação não há espessamento de cordão espermático. Hidrocele comunicante - Abaulamento inguinal ou inguino-escrotal irredutível, indolor, transiluminável, sem edema nem hiperemia de parede, que aumenta durante o dia + palpação do cordão espermático com espessamento do mesmo. Diagnóstico e diagnósticos diferenciais vide acima Exames complementares Normalmente não há necessidade de exames complementares. Nos raros casos de neonatos ou lactentes em que clínicamente não se 7

consegue diferenciar entre hidrocele irredutível e hérnia inguinal encarcerada, o Rx de abdome e região inguinal e a Ecografia de abdome e região inguinal podem ser úteis. Medidas terapêuticas sempre cirúrgico. Exceção: Hidrocele não comunicante até 1-2 anos de vida. Hérnia inguinal ou inguino-escrotal redutível - Cirurgia eletiva ambulatorial - Em prematuros ou pacientes com alto risco anestésico o paciente deve ficar internado por 24 horas após a cirurgia. Hérnia inguinal ou inguino-escrotal encarcerada Sob observação hospitalar + NPO + hidratação parenteral + analgesia e sedação, o paciente é mantido deitado, em Trendelemburg. Após alguns minutos tentar a redução manual. Se tiver sucesso, está indicada a herniorrafia em 48 72 horas. Se não conseguir (estrangulada), deverá ser submetido a cirurgia de urgência. Hérnia inguinal com ovário encarcerado - cirurgia eletiva ambulatorial com emergência relativa, pois o risco de sofrimento vascular é mínimo. Hérnia inguinal com torção do ovário encarcerado Cirurgia de urgência. Hidrocele não comunicante (residual) ou Cisto de cordão acompanhamento cirúrgico. Se não reabsorver até 1-2 anos de idade está indicado tratamento cirúrgico Hidrocele não comunicante (residual) do testículo acompanhamento cirúrgico. Se não reabsorver até 1-2 anos de idade está indicado tratamento cirúrgico. Hidrocele comunicante - Cirurgia eletiva ambulatorial Recursos preventivos Não há consenso na literatura. Indicamos cirurgia contralateral nos seguintes casos: Aumento da pressão abdominal com líquido livre na cavidade peritoneal. Ex.: derivação ventrículo peritoneal (DVP), Diálise peritoneal, ascite. Pacientes prematuros Pacientes com alto risco anestésico Doenças do tecido conectivo Meninas até os 6 anos de idade (possibilidade de ter hérnia contralateral ± 50 %) Complicações Aparecimento posterior de hérnia contralateral clínica ± 10 % Atrofia testicular ± 1 % Criptorquidia iatrogênica ± 3 % Recidiva da hérnia Infecção da ferida operatória, hematomas, quelóides - raríssimo Prognóstico Ótimo nas cirurgias eletivas, em lactentes ou crianças maiores, com 97 a 98% de cura cirúrgica, sem complicações. Alto risco em prematuros, ou em crianças com líquido livre no peritoneo e pressão aumentada (DVP. Diálise peritoneal, ascite) 8