Precipitação Efetiva e Interceptação Pluviométrica em Plantio de Eucalipto em Vitória da Conquista - BA Francisnei da Silva Brilhante (1) ; Emerson Iuri de Paula Araújo (2) ; Adilson Almeida dos Santos (3) ; Cristiano Tagliaferre (4) ; Alessandro de Paula (5) (1) Graduando em Engenharia Florestal; Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia- UESB: brilhante.nei@gmail.com; (2) Graduando em Engenharia Florestal; Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB: iuridpaula@hotmail.com; (3) Mestrando em Ciências Florestais, UFES/Universidade Federal do Espírito Santo (adilsonflorestaluesb@gmail.com); (4) Professor Doutor do Departamento de Engenharia e Solos da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia: tagliaferre@yahoo.com.br; (5) Professor Doutor do Departamento de Engenharia e Solos da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia: apaula@uesb.edu.br RESUMO Hidrologia florestal trata do fluxo da água em florestais. Este fluxo é influenciado pela cobertura vegetal por sua vez tem influência no ciclo hidrológico e na entrada de água no sistema até atingir o piso florestal. Este estudo teve como objetivo, mensurar as águas das chuvas através do processo de precipitação efetiva, escoamento pelo tronco e interceptação plantio de Eucalyptus sp. no campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, no município de Vitória da Conquista BA, no período de outubro de 2011 à agosto de 2013. Para medição foram utilizados 25 pluviômetros a 1,5 m do solo e 20 coletores no tronco das árvores em uma área de 400 m² no interior da floresta. Cerca de 43% da total de precipitação foi retida pela floresta, e 57% foi o total de chuvas adquirida pela precipitação interna. Palavras-chave: Precipitação interna, escoamento e hidrologia florestal. INTRODUÇÃO A hidrologia florestal, segundo Almeida & Soares (2003), trata da dinâmica da água em ambientes florestais, sejam naturais ou plantadas e esse balanço depende dos índices de precipitação, da interceptação pluviométrica pelo dossel, evapotranspiração e outros fatores. A densidade de indivíduos tem influência no ciclo hidrológico e no poder de penetração da água em um ecossistema, assim como o tipo de solo, a morfologia e fisiologia da planta na área. Nesse sentido, vale ressaltar as considerações de Moura et al. (2007), que defende o formato da cobertura vegetal como pressuposto fundamental para determinar a capacidade de armazenamento de água no dossel, afetando diversos componentes do balanço hídrico local. O recebimento das chuvas no dossel é considerado a primeira influência da floresta na hidrologia local, pois é nesse momento que ocorre o início do fracionamento da água, onde uma boa parcela é retida temporariamente pela estrutura foliar e outra parte, por meio da evapotranspiração, retorna à atmosfera, mantendo o ciclo hidrológico (ARCOVA et al., 2003). A precipitação efetiva é definida - Resumo Expandido - [1006] ISSN: 2318-6631-
como quantidade de água de chuva que atinge o piso florestal. Esta é importante para estudos dos processos de interceptação, percolação, transpiração e ciclagem de nutrientes, tanto em florestas naturais quanto em plantadas (OLIVEIRA JÚNIOR & DIAS, 2003). Segundo Oliveira Junior (2006), a cobertura vegetal tem correlação com a taxa de infiltração com água no solo, pois as áreas florestais apresentam maior índice de infiltração de água das chuvas do que em comparação com campos, pastagens e solos agrícolas, devido sua morfologia, porosidade e densidade. A chuva ou precipitação pluvial é a principal forma de retorno da água a atmosfera e consequentemente ao ciclo hidrológico. Quando isso ocorre, uma parte fica retida pela planta, fenômeno denominado de interceptação vegetal e a outra parte, quando uma chuva é muito intensa, atinge o solo, podendo ocasionar uma enxurrada ou escoamento superficial. As florestas plantadas no Brasil representam atualmente uma área de aproximadamente 6 milhões de hectares, sendo 76,6% ocupada por plantios de Eucalyptus spp. e 23,4% por Pinus spp. (ABRAF, 2013). Diversas são as controvérsias acerca do papel desempenhado pelas espécies comerciais em questão em relação ao uso e a disponibilidade de água das bacias de drenagem onde foram implantados. Nesse sentido, esse trabalho teve como objetivo analisar e avaliar a partição da precipitação por meio da mensuração da precipitação efetiva, escoamento pelo tronco num plantio de Eucalyptus spp.. MATERIAL E MÉTODOS Área de Estudo O estudo foi conduzido em uma área de 1728 m², localizada no interior de um plantio de Eucalyptus spp. com 10 anos de implantação e espaçamento de 3 x 3 metros, localizada no campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). O solo é do tipo Latossolo Amarelo Distrófico Álico e o clima de acordo com a classificação de Koppen é do tipo AW que difere do tipo sub-úmido ao semiárido. Nesse povoamento florestal, as espécies implantadas foram: Eucalyptus camaldulensis Dehnh., Eucalyptus robusta Sm., Eucalyptus tereticornis Sm. e Eucalyptus urophylla S.T. Blake. Metodologia Para mensurar a precipitação interna, foram instalados 25 coletores, com área de captação individual de 50,24 cm² com cinco metros de intervalos e altura de 1,5 a nível do solo. O levantamento de dados foi realizado entre os meses de outubro de 2011 a agosto de 2013. Para medição da precipitação em espaço aberto, foi utilizado um pluviômetro(ville de Paris) com área de captação de 400 cm², também elevado a 1,5 metros do solo. Na avaliação do escoamento pelo tronco foram utilizadas 20 árvores dispostas no interior do talhão. As árvores foram escolhidas de acordo com sua morfologia e fisiologia e localização. O sistema utilizado para a analisar a precipitação que escorre por meio do tronco, foi a montagem de um sistema coletor de massa epox, que unido a uma garrafa de politereftalato de etileno (PET), formaram um sistema coletor que direciona água da chuva por meio de um tubo para um balde com tampa com capacidade de armazenamento de 21 litros (LIKENS & EATON, 1970). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram realizadas 74 mensuração com valores de precipitação em espaço externo entre 0,5 e 122,6 mm. Nos meses de março, abril e setembro de 2012 não houve precipitação. O total de precipitação durante o experimento foi de 1013,07 mm (Tabela 1). Esse total é um valor - Resumo Expandido - [1007] ISSN: 2318-6631-
bastante elevado, mas levando-se em conta as medições durante um ano, obtém-se um valor menor a precipitação média anual da região, que segundo Barreto et al. (1998) é de 740 mm/ano, valor aferido ao longo de 60 anos aproximadamente. Tabela 1 - Valores mensais de precipitação no aberto, escoamento pelo tronco, e interceptação e a percentagem desses dados em relação a precipitação no aberto em um fragmento de Floresta Estacional Decidual no campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia em Vitória da Conquista. (mm)* % em relação a P Mês P Pi Et Pe I Pi Et Pe I out/11 38,5 22,03 0,144 22,17 16,33 57,22 0,374 57,59 42,41 nov/11 98,2 66,3 0,151 66,45 31,75 67,51 0,153 67,66 32,34 dez/11 104,6 71,13 0,11 71,24 33,36 68 0,105 68,11 31,89 jan/12 14,3 12,35 0,025 12,38 1,92 86,36 0,176 86,54 13,46 fev/12 28,7 17,6 0,01 17,61 11,09 61,32 0,034 61,36 38,64 mar/12 - - - - - - - - - abr/12 - - - - - - - - - mai/12 26,9 10,12 0,032 10,15 16,75 37,63 0,119 37,75 62,25 jun/12 21,1 10,05 0,006 10,06 11,04 47,63 0,03 47,66 52,34 jul/12 24,7 17,1 0,072 17,17 7,53 69,23 0,293 69,52 30,48 ago/12 48,6 32,98 0,083 33,06 15,54 67,85 0,172 68,03 31,97 set/12 - - - - - - - - - out/12 40,4 29,44 0,02 29,46 10,94 72,86 0,049 72,91 27,09 nov/12 292,16 164,69 0,087 164,77 127,39 56,37 0,03 56,4 43,6 dez/12 3,2 0,5 0 0,5 2,7 15,63 0,003 15,63 84,37 jan/13 115 58,57 0,025 58,6 56,4 50,93 0,022 50,95 49,05 fev/13 69,4 36,42 0,017 36,44 32,96 52,48 0,024 52,5 47,5 mar/13 4 0,7 0,005 0,7 3,3 17,5 0,113 17,61 82,39 abr/13 56 34,52 0,012 34,53 21,47 61,64 0,022 61,67 38,33 mai/13 8 6,5 0,006 6,51 1,49 81,25 0,07 81,32 18,68 jun/13 18 11,27 0,002 11,27 6,73 62,62 0,012 62,63 37,37 jul/13 22,01 5,42 0,002 5,42 16,59 24,63 0,008 24,63 75,37 ago/13 17,8 14,7 0,002 14,7 3,1 82,58 0,012 82,6 17,4 TOTAL 1013,07 600,35 0,668 601,02 412,05 57,06 0,09 57,15 42,85 *Dados, onde, P = Precipitação no aberto; Pi= Precipitação Interna; Et= Escoamento pelo tronco, Pe= Precipitação efetiva; I= interceptação A precipitação interna média registrada foi de 57,06% do total precipitado em ambiente aberto com variação de 15,63 e 86,36%, assemelhando aos dados de Santos et al. (2012), em que um fragmento da Floresta Estacional Decidual obteve média 61,3% do total precipitado no aberto, variando entre 50 e 86%, o que ilustra pouca variação acerca de uma floresta plantada e outra nativa. Foi observado que uma precipitação de baixa intensidade aumenta a taxa de absorção da água pela vegetação, fato ilustrado quando comparando a precipitação interna e a precipitação no aberto, conforme gráfico e o coeficiente de determinação(r²), igual a 0,9818, que ilustra a variação decorrente da precipitação diminuta (Figura 1). - Resumo Expandido - [1008] ISSN: 2318-6631-
Figura 1 - Comparação entre a precipitação interna (Pi) e a precipitação (P) em um plantio de Eucalyptus spp. no campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia em Vitória da Conquista. Com relação ao escoamento pelo tronco, observou-se que o valor 0,2091 foi menor que valor encontrado por Santos et al. (2012) que foi 0,89, ilustrando a pouca representação e uma baixa influência no total de uma precipitação (Figura 2). Figura 2 - Comparação entre escoamento pelo tronco (Et) e a precipitação no aberto (P) em um plantio de Eucalyptus spp. no campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia em Vitória da Conquista. Nas perdas por interceptação, em relação à precipitação no aberto, nos eventos com menores valores a interceptação foi maior (Figura 3). - Resumo Expandido - [1009] ISSN: 2318-6631-
Figura 3 - Relação entre interceptação (I) e a precipitação no aberto (P) em um plantio de Eucalyptus spp. no campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia em Vitória da Conquista. O percentual interceptado teve variação de 13,45 a 84,37% com uma taxa de retorno de 47,04% de água a atmosfera, valores superiores do encontrado por Santos et al. (2012) que obtiveram interceptação entre 13,86 e 51,39%, sendo a interceptação média igual a 38,49%. Esses índices estabelecem que o tipo de vegetação, as condições climáticas, relevo e outros fatores, têm correlação com a quantidade de perdas por interceptação, dificultando a entrada de água no sistema. CONCLUSÕES A interceptação das chuvas obtida pela cobertura florestal foi 412 mm, correspondendo à 43% durante o período de 23 meses. Em média, 57,3% da precipitação alcançaram o solo florestal, compreendendo valor próximo de 57,2% através da precipitação interna e 0,1% através do escoamento pelo tronco. Esse resultado ilustra que a morfologia da vegetação e a intensidade de chuvas influenciaram na precipitação interna. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAF - Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas. Anuário estatístico ABRAF 2013 - Ano base 2012. Brasília: 2013. ALMEIDA, A.C; SOARES, J. V. Comparação entre uso de agua de plantações de Eucalyptus grandis e Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlântica) na costa leste do Brasil. Revista Árvore, Viçosa-MG, v.27, n.2, p.159-170, 2003 ARCOVA, F. C. S.; CICCO,V.; ROCHA, P.A. B. Precipitação efetiva e interceptação das chuvas por floresta de Mata Atlântica em uma micro bacia experimental em Cunha - SP. Revista Árvore, Viçosa, v. 27, n. 2,p. 257-262, 2003. BARRETO, R.C; ALCÂNTARA, F.V; LIMA, E.M; LÉDA, R.M. Comportamento das precipitações no município de Vitória da Conquista. In: CONGRESSO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE NA BAHIA, 1. XIII Jornada Universitária da UEFS. Feira de Santana/BA, 1998. - Resumo Expandido - [1010] ISSN: 2318-6631-
MOURA, A.E.S.S.; CORREIA, M.M; SILVA, E.R.; FERREIRA, R.LC.; FIGUEIREIDO, A.C.; POSSAS, J.M.C. Interceptação das chuvas em um fragmento de floresta da Mata Atlântica na Bacia do Prata, Recife, PE. Revista Árvore,. vol. 33, n.3, pp. 461-469, 2009. OLIVEIRA JUNIOR, J. C. Precipitação efetiva em Florestal Estacional Semidecidual na reserva Mata do Paraíso, Viçosa, Minas Gerais. Viçosa, Universidade Federal de Viçosa, 2006. (Dissertação de Mestrado). OLIVEIRA JÚNIOR, J. C.; DIAS, H. C. T. Precipitação efetiva em fragmento secundário da Mata Atlântica. Revista Árvore,Viçosa, v. 29, n. 1, p. 9-15, 2006. SANTOS, A; TAGLIAFERRE, C.; PAULA, A. Precipitação efetiva e interceptação das chuvas em Floresta Estacional Decidual, Vitória da Conquista - BA. Vitória da Conquista, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, 2012. 11 p. (Trabalho de Conclusão de Curso). - Resumo Expandido - [1011] ISSN: 2318-6631-