A ponte Pela proteção dos direitos de crianças e adolescentes Edição I Ano I Julho de 2013 Entre lutas e conquistas 1
editorial Olá, leitor! Você está recebendo a primeira edição do boletim A ponte pela proteção dos direitos de crianças e adolescentes. Este informativo, escrito por pessoas envolvidas com a temática da infância na região de Barra do Ceará e Pirambu, tem por objetivo trazer informações importantes para qualificar esta luta! Pretende ainda ser um espaço para divulgar as ações desenvolvidas pelos programas Infância Ideal/Grandes Obras pela Infância e Futuro Ideal, realizados em parceria com o Instituto Camargo Corrêa, organizações da sociedade civil e do poder público de Fortaleza. Nesta primeira edição, falamos sobre como se deu a formação do grupo de referência local do programa Infância Ideal (p. 3), da atuação dos Promotores Juvenis (p. 5), da história da Barra do Ceará (p. 7) e, algo fundamental para nosso trabalho, explicamos o que é a violência sexual contra crianças e adolescentes (p. 4). Boa leitura! Registro Foto: Luiz Freire Pôr-do-sol em Barra do Ceará, bairro da periferia de Fortaleza expediente Este boletim faz parte do projeto CDC Comunica, realizado pelo Instituto Camargo Corrêa em parceria com a Oficina de Imagens. Instituto Camargo Corrêa Diretor Executivo: Francisco de Assis Azevedo Coordenadora de Comunicação: Clarissa Kowalski Contato: instituto@institutocamargocorrea.org.br Grupo Grandes Obras pela Infância - Fortaleza Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cuca) Che Guevara, Rede Aquarela, Conselho Tutelar, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Mudança de Cena, Prefeitura Municipal de Fortaleza, Ministério Público do Ceará, Escola Superior do Ministério Público do Estado do Ceará e Construtora Camargo Corrêa Oficina de Imagens Diretor Institucional: Adriano Guerra Edição: Gabriella Hauber e Filipe Motta Site: www.oficinadeimagens.org.br Projeto Gráfico: Ronei Sampaio Diagramação: Gabriella Hauber Foto da capa: Barra do ceará - Gustavo Gurgel Impressão: Gráfica Formato Tiragem: 1200 exemplares 2
Trabalho em Rede Grupo local do Infância Ideal trabalha pela garantia dos direitos de crianças e adolescentes Integrantes já participaram de diversos projetos e capacitações com foco no combate à exploração sexual nas regiões de Barra do Ceará e Pirambu Por Aurélio Araújo, do Conselho Tutelar, e Josibeto Oliveira, da Secretaria Municipal de Cidadania e Cultura Foto: Arquivo Oficina de Imagens Grupo do Infância Ideal em Fortaleza se formou em 2010 e já realizou diversas ações de combate à exploração sexual O programa Infância Ideal começou em Fortaleza, no início de 2010, a partir de uma conversa entre o Instituto Camargo Corrêa e os atores do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGD) que atuam na região de Barra do Ceará e Pirambu. Num primeiro momento, houve conversas entre representantes do Instituto, da Camargo Corrêa, da comunidade, do Conselho Tutelar, da prefeitura, da coordenação da Fundação da Criança e da Família Cidadã (FUNCI), e, posteriormente, profissionais da Saúde e Educação. Durante essas conversas, foi discutido o Plano Municipal de Enfretamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. O foco de atuação na exploração sexual foi escolhido por ser um problema recorrente na região. Após essas rodas de conversas, foram definidos dois eixos de trabalho: capacitações do Sistema de Garantia dos Direitos e Protagonismo Juvenil. Para o fortalecimento do SGD, em meados de 2011, foi iniciado o projeto de Fluxos Operacionais Sistêmicos, uma parceria com Associação Brasileira de Magistrados, Promotores da Justiça e Defensores Públicos da Infância e da Juventude (ABMP). O projeto consiste na discussão com a comunidade sobre as principais demandas relacionadas aos fluxos de atendimento e articulação da rede. O grupo elegeu como ação principal trabalhar o protagonismo juvenil. Durante todo o ano de 2012, o grupo também participou do projeto Barra do Ceará, uma parceria entre o Instituto Camargo Corrêa e o Instituto Aliança. O objetivo era reduzir a vulnerabilidade de adolescentes e jovens da Barra do Ceará em relação à exploração sexual por meio de ações educativas e preventivas, realizadas nas instituições do bairro, como o Conselho Tutelar e a ONG Renascer da Esperança. Hoje os projetos têm continuidade com o grupo Promotores Juvenis. Para combater a violência sexual, o grupo também firmou parceria com a Rede Aquarela, programa municipal vinculado à Secretaria de Direitos Humanos, responsável por trabalhar essa temática. 3
Violência Sexual Violência Sexual contra crianças e adolescentes envolve uma série de conceitos diferentes Abuso, exploração, pornografia, pedofilia e tráfico são algumas formas dessa violação dos direitos Por Kátia Borges, Hamikelly Brito, Mayra Biank e Thaysa Canário, da Rede Aquarela A Violência Sexual Infantojuvenil, como uma violação dos direitos humanos, é o envolvimento de crianças e adolescentes em atividades sexuais com uma pessoa mais velha. Esse tipo de violência subdivide-se em abuso sexual (sem fins comerciais) e exploração sexual (turismo sexual, pornografia, tráfico, prostituição). O abuso sexual é a utilização da criança e do adolescente em práticas sexuais, com ou sem contato físico, cometido por uma pessoa mais velha para satisfazer seu prazer sexual. Já a exploração sexual é a utilização de crianças e adolescentes como mercadoria de uso ou venda, para a obtenção de vantagens de natureza financeira ou não. Na exploração sexual são usados meios de ameaças ou indução, podendo haver um intermediário, que age como aliciador. Crianças e adolescentes não possuem preparação física, social, emocional ou cognitiva para enfrentar uma situação como essa, sendo necessária a intervenção da família, da comunidade e do poder público para o seu enfrentamento. Atualmente, o Brasil dispõe de um Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Infantojuvenil, que orienta a execução de políticas públicas para esse fim. Fortaleza está em processo de revisão do seu Plano Municipal e conta com uma rede articulada de equipamentos como Conselho Tutelar, Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), Delegacia de Combate à Exploração contra Crianças e Adolescentes (DCECA), Programa Municipal de Enfrentamento à Violência Sexual Infantojuvenil (Rede Aquarela) e 12ª Vara Criminal especializada em julgar crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes. A comunidade pode contribuir para o enfrentamento da violência sexual denunciando através do Disque 100 (Disque Denúncia Nacional) ou do 0800 025 2302 (Disque Direitos Humanos Municipal). Vale ressaltar que a denúncia é anônima. Você pode procurar ainda o Conselho Tutelar de sua regional, contactando o plantão no número (85) 3281-2086. Mobilização do 18 de maio contra a exploração sexual de crianças e adolescentes, em Barra do Ceará 4 Foto: Arquivo Rede Aquarela
Juventude Grupo de adolescentes e jovens de Barra do Ceará e Pirambu luta por seus direitos Promotores Juvenis atua por meio do Teatro do Oprimido para dialogar também com a comunidade Por Germana Oliveira e Blenda Teixeira, integrantes do projeto Promotores Juvenis Foto: Germana Freitas Projeto Promotores Juvenis incentiva adolescentes e jovens a discutirem e defenderem seus direitos através do teatro O projeto Promotores Juvenis é voltado para adolescentes e jovens da região do Pirambu e de Barra do Ceará, em Fortaleza. A principal temática de discussão é a exploração e o abuso sexual contra crianças e adolescentes, já que a região apresenta grandes índices de casos dessa violação de direitos. Os debates passam pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e pelo Sistema de Garantia dos Direitos (SGD), através do Teatro do Oprimido, técnica teatral que parte do princípio da democratização do teatro e abre espaço para a participação do público. O projeto é realizado desde o início de 2013, no Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cuca) Che Guevara e é composto por dois grupos, um pela tarde e outro pela noite. Cerca de 50 adolescentes e jovens participam do projeto, que é uma parceria entre o Instituto Camargo Corrêa, a Construtora Camargo Corrêa, a Mudança de Cena e o Ministério Público do Ceará, com apoio da Secretaria Municipal de Juventude. Algo que realmente se destaca nesse grupo é que, apesar de muitos terem chegado um pouco por fora da discussão sobre seus direitos e violência sexual, os participantes sempre se mostraram muito interessados em aprender. Agora, eles estão mais questionadores e participativos. Os Promotores Juvenis são jovens que desejam mudar sua realidade e abrir essa discussão para a sociedade através do teatro. É um projeto que busca trabalhar o lado humano e cidadão de adolescentes e jovens, na busca da efetivação de seus direitos e na luta contra os problemas de sua região. É uma oportunidade de se colocar no lugar do outro e perceber que se pode sim transformar a comunidade, conta Lucas Veloso, monitor da parte da tarde. Projetos como esse são importantes para adolescentes e jovens conhecerem e reivindicarem seus direitos. No caso dos Promotores Juvenis, os participantes estão cada vez mais engajados na luta contra o abuso e a exploração sexual contra crianças e adolescentes. 5
Futuro Ideal Fábrica de surfe é inaugurada no bairro Barra do Ceará no Dia Mundial do Meio Ambiente Iniciativa faz parte do programa Futuro Ideal, do Instituto Camargo Corrêa, e conta com a participação da comunidade da região Por Gustavo A. Studart Gurgel e Ana Cristina Goes, da Camargo Corrêa Foto: Edmar Oliveira Jr. Fábrica de surfe é inaugurada em Barra do Ceará, bairro de Fortaleza No dia 5 de junho de 2013, foi inaugurada, em Fortaleza, a Unidade Fabril da Cooperativa de Surfe (Coopsurf). Ela é constituída por um grupo de pequenos fabricantes de pranchas de surfe, vinculados às associações dos surfistas dos bairros Pirambu, Cristo Redentor e Barra do Ceará. A cooperativa faz parte do projeto Onda Empreendedora, uma parceria entre Instituto Camargo Corrêa, prefeitura municipal de Fortaleza, Sebrae-CE, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Sistema OCB/Sescoop. Com uma área física implantada de 522 m², a fábrica de surf possui espaços especializados para a fabricação de pranchas, ponto de venda, unidade administrativa e sala para ministrar cursos. O projeto Onda Empreendedora tem como finalidade estruturar o negócio de produção de pranchas de surfe, prevendo todas as formações gerenciais e tecnológicas, bem como equipamentos, insumos, capital de giro e estrutura necessária. O projeto atende todas as exigências legais, destacadamente as ambientais e as de segurança do trabalho e prevê ações sociais na comunidade, como a escolinha de surfe para crianças e adolescentes. É também uma oportunidade de trabalho e geração de renda para jovens em situação de vulnerabilidade social, funcionando como uma economia solidária, com ampliação para outros grupos produtivos da comunidade, como surfwear (facções, silk screen, shorts, chaveiros, serviços, etc). No dia escolhido para a inauguração, 5 de junho de 2013, também é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente. A Coopsurf e a Camargo Corrêa realizaram uma gincana na área da fábrica com uma ação ambiental intitulada Limpeza da Praia do Vila do Mar Praia Limpa não é a que mais se limpa e sim a que menos se suja!. As crianças e jovens receberam da Construtora Camargo Corrêa e da Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), 100 mudas de várias espécies de plantas nativas para fazer o plantio nos jardins do calçadão do Vila do Mar em frente a Coopsurf. Também foram fixadas placas educativas, confeccionadas pelas crianças. 6
Comunidade em Cena Barra do Ceará é uma área de Fortaleza que guarda muitas histórias de luta e superação Projeto Vila do Mar proporciona um desenvolvimento saudável para a região e conta com a participação da comunidade Por Tarciana Teixeira, educadora A Barra do Ceará é um bairro situado na periferia litorânea de Fortaleza. Lugar que nasceu a partir da resistência dos povos indígenas, herdou deles a força e a criatividade de lutar por um mundo em que todos os seres vivos tenham vida plena. As lutas e vitórias foram inúmeras e deram origem a uma diversidade de movimentos sociais na região. As comunidades se organizaram em associações e movimentos, cuja principal luta era por moradias dignas, junto com a defesa da vida de crianças e adolescentes. Meninas e meninos logo cedo tiveram que assumir responsabilidade de adultos e tiveram seus direitos violados, sendo explorados sexualmente e pelo trabalho infantil. A criatividade dos ancestrais indígenas e africanos é uma força muito importante na caminhada, com o desenvolvimento das expressões artísticas e o princípio de vida comunitária que fortalece a solidariedade. A expressão cultural, como o Bumba-Meu-Boi, quadrilhas e maracatus, é parte integrante da luta diária e de sonhos coletivos. Vila do Mar O projeto Vila do Mar, localizado nos bairros do Pirambu, Cristo Redentor e Barra do Ceará, teve como objetivo principal inaugurar uma nova prática de ocupação das áreas litorâneas da cidade de Fortaleza. A prefeitura iniciou, em 2005, um programa de participação com a comunidade, no qual foram tratados as principais demandas da área, na tentativa de superar a falta de infraestrutura urbana. A participação popular é um diferencial no processo de execução do projeto. Os moradores são representados pelos trabalhadores (pescadores, barraqueiros, artesãs, artistas, surfistas, esportistas), por entidades (igreja, associações de moradores, ONGs), ou organizados em temáticas (cultura, habitação, participação popular, etc.). Eles participaram do comitê gestor do projeto, reunindo e debatendo o que seria o melhor para a região, numa grande troca de saberes entre técnicos e pessoas simples. O comitê se tornou um fórum deliberativo formado pela sociedade civil e pelas secretarias municipais. O Vila do Mar compreende a instalação de infraestrutura para urbanização (sistema viário, calçadão, ilhas de esporte, memorial e centro de artes e ofícios) e habitação (uso residencial e comercial), estando previstas também a recuperação da faixa de praia. Orla da Barra do Ceará foi revitalizada por meio do projeto Vila do Mar Foto: Gustavo Gurgel 7
fique ligado Tradição do Boi-Bumbá em Fortaleza Por Aurélio Araújo, do Conselho Tutelar Foto: Arquivo camargo Corrêa O Boi Bumbá é tradição na região de Barra do Ceará e Pirambu, em Fortaleza Mestre Assis foi o fundador do grupo Boi Ceará, em 1943. Após a morte do mestre, Chico Preto recebeu o convite para fazer parte do Boi e chamou Zé Pio e outros brincantes, pessoas que acompanham a caminhada do boi. A partir daí, Zé Pio aprendeu as rimas e músicas do vaqueiro e passou boa parte da sua infância e adolescência brincando de boi. Aos 20 anos, foi incentivado pela esposa a criar seu próprio grupo. Os amigos sugeriram o nome Boi Terra e Mar, uma referência aos hábitos de Zé Pio, que de dia estava no mar e, à noite, em terra. E assim foi batizado o novo Boi que acabava de ser criado. Com o surgimento da televisão, a comunidade e os brincantes foram perdendo o gosto pela manifestação e o Mestre Zé Pio parou suas atividades com o grupo. Após dez anos sem brincar de Boi, mais uma vez, ele recebeu o incentivo de sua sobrinha para criar outro Boi no ano de 2000. Dessa vez deu o nome de Boi Juventude. Depois de anos parado, Mestre Zé Pio foi autorizado pela esposa do falecido Mestre Assis a levar a frente o Boi Ceará. Em 2004, foi contemplado com o título de Mestre da Cultura Popular Tradicional. Hoje, ele coordena o grupo, sendo o único representante legítimo capaz de manter viva essa tradição. Mestre Zé Pio também desenvolve um trabalho social com crianças do Bairro da Goiabeiras, ensinando a cultura do Bumba Meu Boi e contribuindo para a difusão dessa manifestação. realização: Parceria: 8