PREVENÇÃO AO USO INDEVIDO DE DROGAS NAS ESCOLAS

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Transcrição:

PREVENÇÃO AO USO INDEVIDO DE DROGAS NAS ESCOLAS 1 Roberto Alves RESUMO Uma análise crítica sociológica dos programas de prevenção ao uso indevido de drogas, utilizados nas escolas brasileiras dos níveis fundamental ao superior. INTRODUÇÃO Desde os primeiros registros da presença humana no mundo existe o uso de drogas, não como um problema de ordem social, mas com fins terapêutico e religioso. Recentemente, este uso tem se mostrado genérico no que se refere a grupos sociais e abusivo em termos quantitativo, (novas parcelas da sociedade) e qualitativo (novas substâncias, motivações e formas de uso). Levantamos alguns questionamentos sobre os programas de prevenção aplicados em nossas escolas do nível fundamental ao superior: Quais são estes programas? Quem os está produzindo? Poderiam as teorias de MARX, WEBER e DURKHEIM (2004), aplicadas à Sociologia da educação, explicá-los? Existe algum modelo de referência? Qual o modelo oficial do Governo federal brasileiro? Faremos uma discussão a partir destes temas com o objetivo de oferecer uma contribuição teórica da sociologia da educação. Usaremos revisão da literatura internacional sobre prevenção ao uso indevido de drogas em escolas, pelas autoras Beatriz Carlini Cotrim e Ilana Pinsky (1989), trabalho sobre Drogas e sociedade nos tempos da AIDS de Richard Bucher (1996) e uma aplicação da sociologia de Marx, Weber e Durkheim, por meio do trabalho de Alberto Tosi Rodrigues (2004). Por fim, é apresentada uma conclusão com análise crítica do autor da monografia. 1 Cientista Social pelo Instituto Superior de Educação da UniEvangélica, Mestrando em Sociologia pela na FCHF da UFG.

O QUE SÃO MODELOS DE PREVENÇÃO? Segundo Maluf e Meyer (2002), são estratégias variadas para tratar das questões relacionadas ao uso indevido de drogas, visando à prevenção primária, ou seja, intervenções com o objetivo de evitar ou retardar este uso, utilizadas nas escolas como coadjuvantes ao projeto pedagógico. Constitui-se uma ação de educação. MODELO DE REDUÇÃO DE DANOS, MOVIMENTO QUE NASCEU NA EUROPA E INFLUÊNCIOU O SURGIMENTO DOS PROGRAMAS DE PREVENÇÃO NO MUNDO Segundo Telles e Buchele (2004), a Redução de Danos iniciou em 1926, na Inglaterra, num relato médico que propunha o uso de substâncias a base de ópio em doses decrescentes para o tratamento de dependentes químicos. No Brasil a primeira experiência de redução de danos à saúde pelo uso indevido de drogas inicia em 1989, em Santos, São Paulo. Em 1994, com a intervenção do Ministério Público, a Redução de Danos é assumida como uma estratégia de saúde pública pelo Governo Brasileiro tornando-se parte da Política Nacional Antidrogas, no Decreto nº 4345, de 26 de agosto de 2002. Esse modelo é cada vez mais adotado em diversos países como Austrália, Estados Unidos e países Europeus para enfrentar as questões relacionadas ao uso indevido de drogas, e é visto por muitos especialistas da área antidrogas como a única ferramenta de intervenção eficaz de que a saúde pública dispõe. A Redução de Danos é caracterizada por medidas de apoio psicológico, jurídico, médico, distribuição de camisinhas (preservativos), trocas de seringas e várias outras ações que visam minorar os danos causados pela utilização de substâncias psicotrópicas, sem interromper o seu uso. (BUCHER, 1996) A Redução de Danos, então, é mais que um modelo ou um programa de prevenção é na verdade um movimento científico e filosófico, que desde seu surgimento influência significativamente o surgimento dos modelos de prevenção que serão aqui apresentados.

Modelo de Conhecimento Científico Therezo Junior (2001) identifica este modelo como o fornecimento de informações sobre os efeitos negativos do uso de drogas, desestimulando o uso e incentivando os estudantes que já o fazem a buscarem a abstinência. Já Maluf e Meyer (2002) resumem este modelo em ações que disponibilizem informações sobre as conseqüências adversas do uso das drogas. Modelo de Educação Afetiva Contrim (1999) apresenta o modelo de Educação Afetiva como o que defende que estudantes bem estruturados emocionalmente são menos vulneráveis do ponto de vista psicológico e, por isso, são resistentes ao uso de drogas. Therezo Junior (2001) apresenta a educação afetiva como a centralização nos fatores subjetivos que podem predispor ao uso de drogas. Tudo isto é possível por meio da participação dos estudantes em criação e gestão de empresas, práticas esportivas e desafiadoras, atividades artísticas e culturais diversas. Contrim (1999) acrescenta os cuidados para uma alimentação saudável, desenvolvimento de atividades não estressantes, atividades sexuais seguras, orientação sobre os riscos do uso do tabaco, álcool e outras drogas. Modelo de Oferecimento de Alternativas Segundo Contrim (1999), este modelo proporciona sensações de expansão da mente, crescimento pessoal, excitação e alívio do tédio, por meio de várias atividades além do ensino em sala de aulas. Maluf e Mayer (2002) identifica este modelo como o que oferece atividades de lazer e outras que proporcionem prazer sem o uso de drogas. Modelo de Educação para a Saúde Albertani, Scivoletto e Zemel (2004) afirmam que a Educação para a saúde são serviços que a as escolas podem oferecer, formando os estudantes para uma consciência de vida saudável com o meio envolvendo os recursos hídricos, trânsito humanizado e os cuidados com a higiene do corpo.

Contrim (1999) acrescenta os cuidados que se deve ter com uma alimentação saudável, desenvolvimento de atividades não estressantes e sexo seguro. Modelo de Modificação das Condições de Ensino Este modelo é apresentado por Albertani, Scivoletto, Zemel (2004) como não centrado na prevenção ao uso indevido de drogas, mas baseado na formação integral e saudável do estudante, cujas ações devem ser intensas e duradouras, para isto, talvez, será preciso modificar as práticas de ensino, melhorar o espaço físico da escola e incentivar atividades de desenvolvimento social. Brito (2001) lembra que este modelo deve, ainda, contemplar a capacitação e formação de professores para o trabalho de prevenção e discutir a responsabilidade da escola, com a cidadania e o desenvolvimento emocional dos estudantes. O espaço físico da escola precisa ser agradável, limpo, ornamentado com plantas, ideal para convivência do estudante com professores e sua família. Modelo de Pressão de Grupo Para Therezo Júnior (2001), este é o modelo formado por grupos de estudantes não usuários de drogas que com suas lideranças influenciariam outros estudantes a não usarem drogas. A pressão funcionaria como uma coerção. OLHAR SOCIOLÓGICO NOS PROGRAMAS DE PREVENÇÃO As ações de prevenção nas escolas acima apresentadas e outras, ainda não conseguiram frear o crescente uso de drogas por estudantes, de forma abusiva e conseqüentemente prejudicial à saúde física e social. É o que apontam pesquisas, como o levantamento do Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), realizada com 1.772 estudantes entre 16 e 30 anos de idade, em 11 grandes cidades brasileiras no ano de 2002. Constatou-se que 15% dos jovens entrevistados já experimentaram maconha e 23% desses fumam com regularidade. Considerando o grau de escolaridade, constatou-se que 1% são recém formados, 24% do ensino médio, 15% de cursos técnicos e 60% com formação não recente. A pesquisa ainda identificou cerca de 15% como usuários freqüentes de bebidas alcoólicas e que 3% do usuários de maconha o fazem com autorização dos pais.

Somando a este levantamento, a análise realizada pelo autor deste artigo, nos últimos cursos de formação de profissionais para atuação na prevenção nas escolas, promovidos pelo Governo Federal Brasileiro em parceria com a Universidade de Brasília (1999, 2004) e com a Universidade de Santa Catarina (2004) percebe-se que a participação de cientistas sociais ainda é muito tímida. Por isto, seguiremos com uma leitura destes modelos de prevenção com as teorias de Marx, Weber e Durkheim. O OLHAR DE DURKHEIM Lendo com o olhar da teoria Durkheimiana sobre a educação (Apud RODRIGUES 2004), entendemos que os modelos Fornecimento de Informação Científica e Pressão de Grupo, realizam no ambiente escolar, a função de preservação da moral e da coesão social, referentes ao não uso abusivo de drogas. Ao aplicar o modelo da informação científica, a escola exerce a coerção do que foi convencionado sobre o uso indevido de drogas. Já o modelo Pressão de Grupo coloca os valores concebidos no reino moral dos estudantes não usuários de drogas sofrem sanções sociais, ou seja, a rejeição e discriminação até por meio de estigmas. O OLHAR DE MARX Quando a leitura sociológica destes programas acontece com os olhos teóricos de Marx, (Apud RODRIGUES 2004) que concebia a coerção sofrida pelos indivíduos na sociedade como fruto da ordem da classe dos dominantes sobre os dominados, numa lógica econômica capitalista. Marx via a educação como um instrumento para preservação da ideologia burguesa, sua forma de conceber o mundo. Porém, Marx via também na educação um instrumento de emancipação e libertação da dominação e alienação imposta pela classe dominadora. A educação poderia emancipar ou alienar. Para emancipar, a educação teria que ser conjugada às atividades físicas por meio de torneios, ensino intelectual e tecnológico que seriam preparação para o trabalho. Entendemos que o modelo de oferecimento de alternativas pode ser eficaz na prevenção, pois propõe a associação da educação formal a alternativas saudáveis de práticas esportivas, lazer e desenvolvimento profissional.

O OLHAR DE WEBER Já Weber (Apud RODRIGUES 2004) concebia a sociedade e consequentemente a educação, de forma diferente de Marx e Durkheim. Acreditava que o mesmo ambiente social pode ter significados diferentes para indivíduos diferentes. A visão de educação concebida por Weber (apud RODRIGUES, 2004) ajuda-nos a analisar o movimento de Redução de Danos que defende a pluralidade cultural das pessoas, pois ela influencia na decisão pelo uso ou não de drogas. Outro modelo de prevenção que pode ser melhor entendido com o olhar de Weber é o Educação afetiva que propõe melhorar a auto-estima do estudante. Esta proposta vai ao encontro da teoria de Weber quando afirma que o estudante procura a escola por motivos afetivos e não somente em busca do ensino intelectual. PROGRAMA UniVIDA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ANÁPOLIS-GO Para acrescentar a analise bibliográfica sobre os modelos de prevenção, é apresentado a seguir o Programa UniVIDA do Centro Universitário de Anápolis - UniEvangélica, desenvolvido em parceria com a ONG Gente Livre de Goiânia-GO, que faz aplicação de alguns dos modelos de prevenção aqui discutidos. Histórico da Criação O Programa UniVIDA foi criado em parceria com o Gente Livre Centro Social de Promoção Humana de Goiânia, ONG que presta serviços de alto nível técnico, na prevenção ao uso indevido de drogas nas fases primárias, secundária e terciária, registrada no CONEN/GO sob o n.º 15510271/97, em 14 de Junho de 1999, na sede do Gente Livre em Goiânia/GO, tendo como testemunha o Secretário Nacional Antidrogas Dr. Valter F. Maierovitch que assinou o protocolo de intenções para a implantação do projeto na UniEvangélica, com o nome de Projeto Antidrogas da AEE.

A iniciativa do projeto em Agosto de 1999, foi do Dr. Carlos Hassel Mendes da Silva, então Diretor-Geral das Faculdades Integradas da AEE. Sua implantação e coordenação ficou sob a responsabilidade de Roberto Alves, profissional com 20 anos de experiência na área das drogas credenciado pelo Conselho Estadual de Entorpecentes/CONEN/GO. Em 2001 foi inserido no estatuto da Associação Educativa Evangélica em seu estatuto, no Capítulo II Dos Objetivos sociais, art. 6º, inciso III, in verbis: III - promover atividades de prevenção ao uso de drogas; Em maio de 2002, o Programa tem o reconhecimento do Conselho Estadual de Entorpecentes/CONEN/GO, registrado sob o n.º 205333128/02. Em 26 de agosto de 2003, por meio de Portaria 0015/03 da Presidência do Conselho de Administração da AEE, o Projeto Antidrogas se transforma em Programa Permanente com coordenação própria. Em 23 de junho de 2004, o nome do Programa Antidrogas foi modificado para Programa UniVIDA (grifo nosso), por meio de concurso interno promovido na UniEVANGÉLICA. Finalmente em abril de 2005 o Programa UniVIDA torna-se um órgão da reitoria da UniEvangélica e coordenado por um conselho deliberativo formado por Pró-Reitores, diretores de cursos, docentes, discentes e representantes da Pastoral, colégios da Associação Educativa Evangélica e comunidade. Ações do UniVIDA As ações acontecem de forma simultânea e interligada com a realização de atividades sócioeducativas, favorecendo a construção de uma consciência crítica para assumir opções saudáveis e que proporcionem maior qualidade de vida. Os programas são divididos em: Prevenção Primária que tem o objetivo de informar, conscientizar para o não uso e abuso de drogas lícitas e ilícitas. Na Prevenção Secundária que visa conscientizar o estudante, que já faz uso de drogas, das implicações relacionadas à saúde individual e coletiva e as responsabilidades sociais que devem ser assumidas. A Prevenção Terciária promove intervenção buscando despertar no usuário ou dependente o desejo de deixar o uso e oferece-lhe suporte com encaminhamento para profissionais e instituições especializadas e programas de apoio para a manutenção da abstinência.

Grupos de auto-ajuda Encontros de co-depedentes, (familiares de usuários de drogas), onde acontecem trocas de experiência e ajuda mútua para superar dificuldades. Cursos de multiplicadores Foram realizados dois cursos nos anos de 2000 e 2003 para docentes da UniEVANGÉLICA, com extensão aos professores da Subsecretaria Regional de Educação e da Rede Municipal Anápolis, em parceria com o CONEN Conselho Estadual de Entorpecentes/Secretaria Estadual de Segurança Pública de Goiás. Formaram-se 350 multiplicadores. Exposição Cultural Antidrogas A exposição é constituída de material bibliográfico e fotos referentes às drogas. A exposição já aconteceu em 83 escolas de Goiânia e Anápolis-GO, alcançando 110 mil alunos e ainda 5 mil dos alunos da UniEVANGÉLICA, e dos Colégio Couto Magalhães e Álvaro de Melo, em Anápolis e Ceres-GO, respectivamente. Caminhada Antidrogas É realizada com várias instituições que desenvolvem programas nessa área e com as escolas, geralmente por ocasião do Dia Internacional de Combate as Drogas, em 26 junho. Com o objetivo de despertar e conscientizar a sociedade para o tema, a Caminhada Antidrogas mostra modalidades esportivas, manifestações artística e cultural. Em Anápolis, foram realizadas três Caminhadas nos anos de 2000, 2003 e 2004 envolvendo 28 escolas da rede pública e privada e com a participação de 15 mil estudantes. Na cidade de Ceres-GO, em 2003, foi promovida uma caminhada com 6 mil estudantes e em Goiânia nos anos de 1989, de 1991 a 1999, em 2001 a 2004, com 67 mil estudantes. Distribuição de literaturas Já foram distribuídos mais de 120 mil folhetos informativos sobre as drogas, nos campi universitários e nos colégios da UniEVANGÉLICA, nesses 5 anos de existência do UniVIDA. No ano de 2001, o Programa produziu e distribuiu aos docentes de todos os cursos da UniEVANGÉLICA, 120 cópias de manual de temas para pesquisas sobre drogas. Programa Cultural

Foram realizadas várias apresentações culturais envolvendo grupos musicais, de teatro, dança e outras manifestações artísticas. Pesquisa O curso de Enfermagem, em parceria com o programa antidrogas, realizou uma pesquisa de campo com dependentes químicos em reabilitação das comunidades terapêuticas ARCA de Goiânia-GO e Aldeia da Paz em Anápolis-GO, no ano de 2001. Prevenção permanente na escola No período de 2002 a 2004, cerca de 200 palestras foram promovidas nas cidades de Anápolis, Ceres, Nerópolis e Caldas Novas. CONCLUSÃO Finalizo o artigo chamando a atenção para alguns pontos não trabalhados pelos autores citados, porém sem a pretensão de esgotá-los. A Redução de Danos, chamado de modelo de prevenção por vários especialistas, alguns citados neste trabalho. Não deve ser confundida como uma ação primária, pois esta significa retardar ou evita o uso indevido de drogas. Já a redução de Danos são ações para diminuir os danos causados por este uso sem necessidade de interrompê-lo. Só Redução de Danos não é suficiente para enfrentar a questões do uso de drogas, como querem acreditar alguns especialistas. Se assim o fosse, negaríamos um número grande de estudantes que não fazem, não desejam fazer e ainda aqueles que fazem, mas desejam a abstinência. Quem defende o modelo Informação Científica, defende que isto deve acontecer de forma imparcial. Entendo já estar provado que neutralidade em ciência não existe.

As que querem promover discussão democrática com estudantes sobre o uso de drogas, devem estar preparados para o fato de que alguns estudantes defenderão o uso de drogas nas escolas como sinal de escola saudável e que convive com a pluralidade. Carências afetivas, às vezes, são supridas nos grupos de usuários de drogas, mesmo de forma imprópria. E, ainda, não podemos ignorar que atividades esportivas, especialmente as competitivas são associadas ao uso de drogas pela mídia especialmente as propagandas de cigarro e álcool. É com o objetivo de melhor instrumentalizar os educadores, para um trabalho de prevenção eficiente nas escolas de todos os níveis, que o artigo discutiu, não de forma a esgotar, as razões dos que defendem ou usam drogas e lógica sociológica dos programas que se propõem a frear este uso. ABSTRACT This article is the work of conclusion on the graduation course of Social Science in 2004 at The Superior Institute Of Education of The University Centre of Anápolis, Goiás, Brazil. It is a sociological critical analise, about the existent programms of prevention on the improper use of drugs, utilized at the brazilian schools, from the elementary school to the university. Bibliografia ALBERTANI, Helena M. B; SCAVILETTO, Sandra; ZEMEL, Maria de L, S. Atualização de Conhecimentos sobre a redução da demanda de drogas. Florianópolis: UFSC/SENAD; 2004. BUCHER, Richard. Drogas e sociedade nos tempos da AIDS. Brasília: Universidade de Brasília, 1996. COTRIM, Beatriz Carlini; PINSKY, Ilana. Prevenção ao abuso de drogas na escola: Uma revisão da literatura internacional recente. Cad. Pesq. São Paulo (69): 48-52; maio 1989.

MALUF, Daniela Pinotti et al. Drogas: prevenção e tratamento: o que você queria saber e não tinha a quem perguntar. São Paulo: CL-A Cultural, 2002. PREVENÇÃO AO USO INDEVIDO DE DROGAS / organização de Richard Bucher. 2 ed. Brasília: Universidade de Brasília, 1991, c1989. 2v. : il. PREVENÇÃO AO USO INDEVIDO DE DROGAS: diga sim à vida/eliane Maria Fleury Seidl (organizadora). Brasília: CEAD/UnB; SENAD/SGI/PR, 1999, v. 1. RODRIGUES, Alberto Tosi. O que você precisa saber sobre: Sociologia da Educação. 5 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2004. RODRIGUES, José Alberto. Durkheim. 9 ed. São Paulo: Ática, 2001. RODRIGUES, Thiago. Política e drogas nas Américas. São Paulo: EDUC: FAPESP, 2004. SERRAT, Saulo Monte (org.). Drogas e Álcool Prevenção e Tratamento. Campinas: Komedi, 2001.