Professor Ricardo da Cruz Assis Filosofia - Ensino Médio DIREITOS HUMANOS

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Transcrição:

Professor Ricardo da Cruz Assis Filosofia - Ensino Médio DIREITOS HUMANOS 1

Dignidade Dignidade se traduz na situação de mínimo gozo garantido dos direitos pessoais, civis, políticos, judiciais, de subsistência, econômicos, sociais e culturais. Ingo Wolfgang Sarlet (2001, p.60): Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão dos demais seres humanos. 2

Segundo Antonio Enrique Perez Luño (1990, p. 48): Direitos humanos são um conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, da liberdade e da igualdade humana, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos a nível nacional e internacional. Este é o caso do Brasil, que aceitou na Constituição de 1988 diversos princípios basilares retirados dos fundamentos dos Direitos Humanos como o direito à vida, à liberdade, à igualdade, proferidos no artigo 5 da CF. 3

Direitos Humanos e Direitos Fundamentais De um modo geral, os sistemas protetivos de direitos humanos global (geral e específico), regional (global e específico) e nacional interagem-se e complementam-se para melhor proteger o indivíduo dos abusos perpetrados contra sua dignidade humana. Direitos Fundamentais são os valores éticos sobre os quais se constrói determinado sistema jurídico nacional, ao passo que os Direitos Humanos existem mesmo sem o reconhecimento da ordem jurídica interna de um país, pois estes possuem vigência universal. Mas, na maioria das vezes os direitos humanos são reconhecidos internamente pelos sistemas jurídicos nacionais, situação que os tornam também direitos fundamentais, ou seja, os direitos humanos previstos na constituição de um país são denominados direitos fundamentais. 4

A expressão direitos humanos é moderna, mas o princípio invocado é antigo como a própria humanidade, porque são fundamentais na medida em que, sem eles, a pessoa humana não consegue existir, se desenvolver e participar da vida em sociedade. 5

Características dos Direitos Humanos 6

Imprescritibilidade Os direitos humanos não prescrevem. Interessante lembrar que na CF/88 a imprescritibilidade é a regra, sendo imprescritíveis o racismo e a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (art. 5º, XLII, XLIV). Existe discussão para saber se estes rol constitucional de imprescritibilidade é taxativo ou exemplificativo: a doutrina majoritária entende que é exemplificativo, possibilitando inclusão de outros crimes imprescritíveis, desde que para proteção da pessoa humana, como ocorre no Estatuto de Roma (criação do TPI), uma vez que seus arts. 5º e 29 preveem a imprescritibilidade dos crimes de genocídio, contra a humanidade, de guerra e agressão este ainda não regulamentado. 7

Efetividade O reconhecimento não basta. Somente a positivação não significa que os direitos humanos estão sendo respeitados, daí porque se exige a real aplicação na prática no território nacional. Caso o Estado partícipe não conseguir efetivar os direitos humanos (no caso, fundamentais), existem garantias como o habeas corpus. A efetividade realça a dimensão objetiva dos direitos fundamentais, porque é uma garantia de estabilidade dos mesmos no ordenamento jurídico e ainda impõe ao Estado a criação de planejamentos e procedimentos para sua efetivação para toda a sociedade. 8

Irrenunciabilidade Não podem ser abdicados ou negociados, porque fazem parte da própria existência do ser humano. Pode deixar de ser exercido, mas seu titular não pode dispor dos mesmos de forma definitiva (não se pode exigir que um doente em estado terminal aceite a eutanásia). É costume dizer que a irrenunciabilidade não é absoluta, porque em alguns casos é possível renunciar algum direito fundamental, como é o caso de renunciar à integridade física, para fazer doação de rim para parente (vide Lei 9434/97, que trata da doação de órgãos, tecidos e partes do corpo humano), ou de fixar cláusula contratual para limitar a liberdade de expressão, para que o funcionário não divulgue segredo industrial da empresa em que trabalhou. A irrenunciabilidade, diferentemente da inviolabilidade, visa a proteção do próprio titular do direito fundamental, e não está previsto explicitamente na Constituição; a inviolabilidade, por seu turno, está prevista na Constituição e protege o indivíduo contra terceiros. 9

Inalienabilidade. Não são transferidos de uma pessoa para outra, quer gratuitamente quer mediante pagamento 10

Historicidade Se por trás de cada direito há um rastro, senão de sangue, pelo menos de luta, é evidente que o direito fundamental é um direito histórico; 11

Relatividade Nada na vida é absoluto. O direito, mesmo o fundamental, também não é e nem pode ser absoluto, porque é preciso, em vários casos, limitá-lo, mesmo em se tratando de um direito fundamental. O direito fundamental da liberdade, por exemplo, pode ser limitado, a bem da sociedade. Alguns entendem que o direito de não ser torturado e de não sofrer penas cruéis, e o direito de não ser reduzido à condição análoga de escravo, seriam direitos fundamentais absolutos. 12

Proibição do retrocesso Se o direito fundamental foi conquistado, não pode mais ser extirpado. Por exemplo: se o direito fundamental contido em uma norma constitucional de eficácia limitada foi regulamentado, não pode uma regulamentação posterior acabar com o direito concretizado pela norma anterior. Para quem leva esta proibição do retrocesso às últimas consequências, entende que nem mesmo uma nova Constituição poderá acabar com os direitos fundamentais, porque os direitos naturais seriam limites ao poder constituinte originário (neste caso, o poder constituinte teria natureza jurídica jusnaturalista, e não normativista, como entende a maioria). 13

Interdependência Não há choque irremediável entre os direitos fundamentais, porque eles devem se relacionar permanentemente para atingirem suas finalidades. 14

Inviolabilidade Não pode ser tolerada violação dos direitos humanos, seja pela lei, pela autoridade ou pelo poder, órgão ou entidade pública, sob pena de responsabilização civil, administrativa e criminal. Inviolabilidade, como se viu, existe para proteção contra terceiros, e irrenunciabilidade para proteção contra o próprio titular. 15

Universalidade e indivisibilidade Os direitos humanos/fundamentais nascem para todos os homens, independentemente de raça, nacionalidade, sexo, credo ou convicção político ou filosófica. A Declaração de Direitos Humanos de Viena, de 1993, no item 5, diz que Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis interdependentes e inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos de forma global, justa e equitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase. Embora particularidades nacionais e regionais devam ser levadas em consideração, assim como diversos contextos históricos, culturais e religiosos, é dever dos Estados promover e proteger todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, sejam quais forem seus sistemas políticos, econômicos e culturais. 16

Imprescritibilidade: os direitos humanos fundamentais não se perdem por decurso de prazo. São permanentes. Inalienabilidade: não são transferidos de uma pessoa para outra, quer gratuitamente quer mediante pagamento. Irrenunciabilidade: não são renunciáveis. Não se pode exigir de ninguém que renuncie à vida (não se pode pedir a um doente terminal que aceite a eutanásia, por exemplo) ou à liberdade (não se pode pedir a alguém que vá para a prisão no lugar de outro). Inviolabilidade: nenhuma lei infraconstitucional nem tampouco autoridade alguma pode desrespeitar os direitos fundamentais de outrem, sob pena de responsabilização civil, administrativa e criminal. Interdependência : as várias previsões constitucionais e infraconstitucionais não podem se chocar com os direitos fundamentais. Antes, devem estar relacionados e harmonizados para atingirem suas finalidades. Universalidade : os direitos fundamentais aplicam-se a todos os indivíduos, independentemente de nacionalidade, sexo, raça, credo ou convicção políticofílosófica. Efetividade: o Poder Público deve atuar de modo a garantir a efetivação dos direitos e garantias fundamentais, usando inclusive mecanismos coercitivos quando necessário, porque esses direitos não se satisfazem com o simples reconhecimento abstrato. Complementaridade: os direitos humanos fundamentais não devem ser interpretados isoladamente, mas sim de forma conjunta para sua plena realização. 17

Direitos humanos das minorias O termo minoria refere-se aos grupos humanos ou sociais que estejam em inferioridade numérica, ou ainda estejam subordinados política, social, cultural ou economicamente em relação a outro grupo, que é majoritário ou dominante em determinadas sociedades. A minoria, então, pode ser étnica, física ou psíquica, religiosa, linguística, de gênero ou de idade. A história da humanidade revela que as minorias foram as principais vítimas de perseguições, desrespeito aos direitos básicos e, portanto, com grande perigo de que os direitos humanos sofram atentados significativos em relação a tais grupos. Como se vê dos tratados internacionais, há uma preocupação maior com as mulheres, idosos, deficientes, presos, crianças que, ora são mais vulneráveis, ora são minorias. O próprio conceito de Democracia, hoje em dia, está envolvido na proteção das minorias (se antes Democracia significava apenas a preponderância da vontade da maioria, hoje não se pode aceitar que um regime político é democrático se não põe a salvo o direito das minorias, justamente porque a história produziu a preocupação mundial de massacre de minorias pelas maiorias). Este o motivo dos tratados internacionais citados, que tentam manter direitos básicos para as minorias dos Estados, de proteção à mulher, à criança, ao deficiente, em especial a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial 18

Veja algumas leis que, de forma direta ou indireta, acabam tentando proteger minorias ou têm um viés protetivo dos direitos humanos: a) Lei 10.048, de 08 de novembro de 2000: prioridade de atendimento às pessoas portadoras de deficiência, idosos (com idade igual ou superior a 60 anos), gestantes, lactantes e acompanhadas com crianças de colo; b) Lei 9.455, de 07 de abril de 1997: define os crimes de tortura e dá outras providências; c) Lei 4.898, de 09 de dezembro de 1965: regula o direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa, civil e penal, nos casos de abuso de autoridade; d) Lei 9.807, de 13 de Julho de 1999: estabelece normas para a organização e a manutenção de programas especiais de proteção a vítimas e a testemunhas ameaçadas; e) Lei 10.741, de 1º de outubro de 2003: dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências; f) Lei 11.340, de 07 de agosto de 2006: Lei Maria da Penha, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher29; g) Lei 8.069, de 13 de julho de 1990: dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências; h) Lei 12.852, de 05 de agosto de 2013: institui o Estatuto da Juventude; i) Lei 12.711, de 29 de agosto de 2012: dispõe sobre cotas nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio, regulamentado pelo Decreto 7.824, de 11 de outubro de 2012; j) o) Lei 12.288, de 20 de julho de 2010: instituo o Estatuto da Igualdade Racial; l) Lei 9.504, de 20 de setembro de 1997: estabelece normas para as eleições, e no ar. 10, 3º, com redação dada pela Lei 12.034/09, impõe que cada partido ou coligação preencha o mínimo de 30% para candidatas do sexo feminino; 19

Principais documentos históricos sobre direitos humanos: MAGNA CARTA DA INGLATERRA DE 1215 A DECLARAÇÃO INGLESA DE DIREITOS DE 1689 (BILL OF RIGHTS) DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DA VIRGÍNIA, DE 12 DE JUNHO DE 1776 DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO DE 1789 CONSTITUIÇÃO MEXICANA DE 1917 CONSTITUIÇÃO ALEMÃ DE 1919 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, de 1948 PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR, PUNIR E ERRADICAR A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER CONVENÇÃO DE BELÉM DO PARÁ (1994) CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES PROTOCOLO ADICIONAL À CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS CONTRA O CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL RELATIVO À PREVENÇÃO, REPRESSÃO E PUNIÇÃO DO TRÁFICO DE PESSOAS, EM ESPECIAL MULHERES E CRIANÇAS CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS (PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA) CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER 1979 CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA AS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA 20

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS - 1948 21

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum, 22

Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra tirania e a opressão, Considerando essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações, Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla, 23

Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a desenvolver, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a observância desses direitos e liberdades, Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso, 24

A Assembleia Geral proclama A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. 25

Artigo I - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade. Artigo II - Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. Artigo III - Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo IV - Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas. Artigo V - Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Artigo VI - Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei. Artigo VII - Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Artigo VIII - Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei. Artigo IX - Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo X - Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e pública por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele. 26

Artigo XI - 1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa. 2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Tampouco será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso. Artigo XII - Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques. Artigo XIII - Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar. Artigo XIV - 1.Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países. 2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas. Artigo XV - Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo XVI - 1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução. 2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes. Artigo XVII - 1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. 2.Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade. Artigo XVIII - Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular. Artigo XIX - Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras. Artigo XX - 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. 27

Artigo XXI - Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de sue país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto. Artigo XXII - Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade. Artigo XXIII - 1.Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. 2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. 3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social. 4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e neles ingressar para proteção de seus interesses. Artigo XXIV - Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas. Artigo XXV - 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle. 2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social. Artigo XXVI - Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos. Artigo XXVII - 1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios. 2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor. Artigo XXVIII - Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados. Artigo XXIV - Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará sujeita apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos propósitos e princípios das Nações Unidas. Artigo XXX - Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos. 28