CHUVAS E ALAGAMENTOS NA LAGOA DO MAKRO, NATAL/RN - 1981-2011. PPGE-UFRN-Brasil Natal leonlene@gmail.com



Documentos relacionados
ASPECTOS METEOROLÓGICOS ASSOCIADOS A EVENTOS EXTREMOS DE CHEIAS NO RIO ACRE RESUMO

CLASSIFICAÇÃO E INDÍCIO DE MUDANÇA CLIMÁTICA EM VASSOURAS - RJ

CLASSIFICAÇÃO E INDÍCIO DE MUDANÇA CLIMÁTICA EM ITAPERUNA - RJ

ANÁLISE MULTITEMPORAL DA REDUÇÃO DO ESPELHO D ÁGUA NOS RESERVATÓRIOS DO MUNICÍPIO DE CRUZETA RN, ATRAVÉS DE IMAGENS DE SATÉLITE.

INFORMATIVO CLIMÁTICO

Francis Lacerda MUDANÇAS CLIMÁTICAS E IMPACTOS NO ARARIPE

OS CLIMAS DO BRASIL Clima é o conjunto de variações do tempo de um determinado local da superfície terrestre.

ANÁLISE MULTITEMPORAL DO PADRÃO DE CHUVAS DA ZONA OESTE DO RIO DE JANEIRO NO ÂMBITO DOS ESTUDOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

MONITORAMENTO HIDROLÓGICO EM ATENDIMENTO AO CONVÊNIO CASAN BACIA DA LAGOA DO PERI

MONITORAMENTO HIDROLÓGICO

VARIAÇÃO DIÁRIA DA PRESSÃO ATMOSFÉRICA EM BELÉM-PA EM UM ANO DE EL NIÑO(1997) Dimitrie Nechet (1); Vanda Maria Sales de Andrade

ANÁLISE DE UM CASO DE CHUVA INTENSA NO SERTÃO ALAGOANO NO DIA 19 DE JANEIRO DE 2013

COMPARAÇÃO ENTRE A TEMPERATURA DA ÁREA URBANA E DA ÁREA RURAL DO MUNICÍPIO DE VIGIA

FACULDADE SUDOESTE PAULISTA CURSO - ENGENHARIA CIVIL DISCIPLINA - HIDROLOGIA APLICADA EXERCÍCIO DE REVISÃO

Comparação entre Variáveis Meteorológicas das Cidades de Fortaleza (CE) e Patos (PB)

RESERVATÓRIOS DE DETENÇÃO HIDRICA: SOLUÇÃO PARA PROBLEMAS DE DRENAGEM URBANA NO MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE - PB

Figura 18. Distâncias das estações em relação ao Inmet e Mapa hipsmétrico

Questões Climáticas e Água

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE A PRECIPITAÇÃO REGISTRADA NOS PLUVIÔMETROS VILLE DE PARIS E MODELO DNAEE. Alice Silva de Castilho 1

CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA DA ZONA LESTE DE SÃO PAULO, UM EXEMPLO DE INTERAÇÃO ENTRE A EACH-USP E O BAIRRO JARDIM KERALUX

NARRATIVA DO MONITOR DAS SECAS DO MÊS DE JUNHO DE 2015

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO NO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DEL REI (MG)

INFLUÊNCIA DE FASES EXTREMAS DA OSCILAÇÃO SUL SOBRE A INTENSIDADE E FREQUÊNCIA DAS CHUVAS NO SUL DO BRASIL

CARACTERIZAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA DO MUNICÍPIO DE MARECHAL DEODORO AL, NO PERÍODO DE 1978 A 2005.

EVOLUÇÃO DOS CAUDAIS EXTREMOS EM CURSOS DE ÁGUA DO INTERIOR CENTRO E NORTE DE PORTUGAL ADÉLIA NUNES

Enchente - caracteriza-se por uma vazão relativamente grande de escoamento superficial. Inundação - caracteriza-se pelo extravasamento do canal.

CARACTERIZAÇÃO PLUVIOMETRICA POR QUINQUÍDIOS DA CIDADE DE PIRENOPOLIS - GO

Figura 1 Localização da bacia do rio São Francisco. Fonte:< Acessado em 01/02/2009.

BLOQUEIOS OCORRIDOS PRÓXIMOS À AMÉRICA DO SUL E SEUS EFEITOS NO LITORAL DE SANTA CATARINA

MODELAGEM DA PRODUÇÃO DE SEDIMENTOS USANDO CENÁRIO AMBIENTAL ALTERNATIVO NA REGIÃO NO NOROESTE DO RIO DE JANEIRO - BRAZIL

PROGNÓSTICO CLIMÁTICO. (Fevereiro, Março e Abril de 2002).

4. ANÁLISE DA PLUVIOMETRIA

DESEMPENHO DA HOTELARIA DE SALVADOR

ANÁLISE DO REGIME PLUVIOMÉTRICO DA ILHA DE SANTIAGO CABO VERDE DURANTE 1981 A 2009 E SUA RELAÇÃO COM A ZCIT

MATERIAIS E METODOLOGIA

FREQUÊNCIA DA TEMPERATURA MÍNIMA DO AR ASSOCIADA A EVENTOS EL NIÑO, LA NIÑA E NEUTROS NO RIO GRANDE DO SUL

Clima e Formação Vegetal. O clima e seus fatores interferentes

Impacto do Fenômeno El Niño na Captação de Chuva no Semi-árido do Nordeste do Brasil

2 Caracterização climática da região Amazônica 2.1. Caracterização da chuva em climas tropicais e equatoriais

Validação das observações feitas com o pluviômetro de garrafa PET na cidade de Belém-PA.

BOLETIM PRESENÇA ANO II, nº 03, 1995

Painel: Manejo da Paisagem para a Produção de Água: Conceitos e Aplicações

O Clima do Brasil. É a sucessão habitual de estados do tempo

Atmosfera e o Clima. Clique Professor. Ensino Médio

CLIMAS DO BRASIL MASSAS DE AR

reverse speed, results that it showed an increase of precipitations in the rainy

RESUMO DO CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

Estudo da erosão causada pelo avanço urbano e perda de solo no entorno da rua Alameda Vicente Cocozza no município de Itapevi/SP

EVOLUÇÃO DA TEMPERATURA NA REGIÃO DE GUARATINGUETÁ - SÃO PAULO - BRASIL

GEOGRAFIA - RECUPERAÇÃO

Universidade de Aveiro Departamento de Física. Dinâmica do Clima. Precipitação

VARIABILIDADE CLIMÁTICA DA BAIXA UMIDADE DO AR EM ALGUMAS LOCALIDADES: Centro e Sudeste do Brasil.

Relação entre a Precipitação Acumulada Mensal e Radiação de Onda Longa no Estado do Pará. (Dezembro/2009 a Abril/2010)

Relatório da Situação Atual e Previsão Hidrológica para o Sistema Cantareira

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MAPA Instituto Nacional de Meteorologia INMET Coordenação Geral de Agrometeorologia

CAPÍTULO 8 O FENÔMENO EL NIÑO -LA NIÑA E SUA INFLUENCIA NA COSTA BRASILEIRA

CARACTERIZAÇÃO CLIMATOLÓGICA DO MÓDULO 4 DA FLORESTA ESTADUAL DO AMAPÁ-FLOTA/AP: DADOS PRELIMINARES

Escola Secundária Mouzinho da Silveira Departamento de Ciências Sociais e Humanas Grupo de Recrutamento 420 Ano Letivo de 2014 / 2015 Curso Básico

PRÓ-TRANSPORTE - MOBILIDADE URBANA - PAC COPA CT /10

MONITORAMENTO HIDROLÓGICO

Diagnóstico, Monitoramento de Desastres Naturais com foco na Seca no Semiárido Nordestino

MINERAÇÃO MORRO VELHO: 150 ANOS DE REGISTROS PLUVIOMÉTRICOS MORRO VELHO MINING: 150 YEARS OF RAINFALL RECORDS

Geografia do Brasil - Profº Márcio Castelan

ANÁLISE DO USO DAS CISTERNAS DE PLACAS NO MUNICÍPIO DE FRECHEIRINHA: O CONTEXTO DA PAISAGEM DE SUPERFÍCIE SERTANEJA NO SEMIÁRIDO CEARENSE

FREQUÊNCIA DA PRECIPITAÇÃO PLUVIAL NO MUNICÍPIO DE BANANEIRAS - PB

Fenômeno El Niño influenciará clima nos próximos meses

VARIABILIDADE ESPAÇO-TEMPORAL DA TEMPERATURA MÉDIA DO AR NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE/BRASIL

CAPÍTULO 13 OS CLIMAS DO E DO MUNDOBRASIL

RESUMO. Vinicius Carmello. Miriam Rodrigues Silvestre. João Lima Sant Anna Neto

Variação Temporal de Elementos Meteorológicos no Município de Pesqueira-PE

INFLUÊNCIA DE EVENTOS ENOS NA PRECIPITAÇÃO DE CAMPINAS, SP Leônidas Mantovani Malvesti 1 e Dr. Jonas Teixeira Nery 2

PREVISÃO CLIMÁTICA TRIMESTRAL

VARIABILIDADE ESPAÇO TEMPORAL DO IVDN NO MUNICIPIO DE ÁGUAS BELAS-PE COM BASE EM IMAGENS TM LANDSAT 5

O AGENTE DA MOBILIDADE URBANA NO SISTEMA MUNICIPAL DE DEFESA CIVIL

EVOLUÇÃO DO TRANSPORTE DE SEDIMENTOS DO RIO PARAGUAI SUPERIOR EVOLUÇÃO DO TRANSPORTE DE SEDIMENTOS DO RIO PARAGUAI SUPERIOR

Os diferentes climas do mundo

Milho: preços elevados mesmo com super-safra norte-americana

ESTIMATIVA DA RADIAÇÃO SOLAR GLOBAL EM SERRA NEGRA DO NORTE/RN

CLIMATOLOGIA. Profª Margarida Barros. Geografia

Climas do Brasil GEOGRAFIA DAVI PAULINO

Programa Consumo Responsável. Julho 2015

Energia Elétrica: Previsão da Carga dos Sistemas Interligados 2 a Revisão Quadrimestral de 2004

GEOGRAFIA DO BRASIL CLIMA

VARIAÇÃO DA TEMPERATURA DO AR NA BACIA HIDROGRÁFICA BARRA DOS COQUEIROS NO MUNICÍPIO DE CAÇU-GO

SEQUÊNCIA DIDÁTICA PODCAST CIÊNCIAS HUMANAS

MONITORAMENTO DA TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE EM ÁREAS URBANAS UTILIZANDO GEOTECNOLOGIAS

EXERCÍCIOS DE REVISÃO - CAP. 04-7ºS ANOS

CARACTERIZAÇÃO E DURAÇÃO DAS ESTAÇÕES SECA E CHUVOSA NO TRIÂNGULO MINEIRO MG

ANÁLISE TERMOPLUVIOMÉTRICA E BALANÇO HÍDRICO CLIMATOLÓGICO DOS DADOS DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO PEIXE TO

Ações Integradas em Microbacias Hidrográficas

ÁREAS VULNERÁVEIS À INUNDAÇÃO NO ENTORNO DA LAGOA DE NEÓPOLIS EM NATAL/RN: DELIMITAÇÃO E MAPEAMENTO

César Piccirelli Santos Plinio Barbosa de Camargo

Reflexos da extração de areia na morfologia do ribeirão dos Macacos-MG, entre 1989 e 2010

IV SISTEMATIZAÇÃO DE DADOS PLUVIOMÉTRICOS PARA A REGIÃO DO MUNICÍPIO DE JOINVILLE/SC

PROGNÓSTICO TRIMESTRAL (Setembro Outubro e Novembro de- 2003).

EVENTOS DE PRECIPITAÇÃO EXTREMA PARA CABACEIRAS PB, BRASIL

COMPARAÇÃO DE MÉDIAS DIÁRIAS E MENSAIS DE TEMPERATURA DO AR OBTIDAS POR VÁRIOS MÉTODOS. (1) Departamento de Meteorologia da UFPa

10. Não raro, a temperatura no Rio de Janeiro cai bruscamente em função da chegada de "frentes" frias.

ESTIMATIVA DO FATOR DE REDUÇÃO PONTO-ÁREA PARA ESTUDOS DE MACRODRENAGEM NA

Definiu-se como área de estudo a sub-bacia do Ribeirão Fortaleza na área urbana de Blumenau e um trecho urbano do rio Itajaí-açú (Figura 01).

Transcrição:

CHUVAS E ALAGAMENTOS NA LAGOA DO MAKRO, NATAL/RN - 1981-2011 Leonlene de Sousa Aguiar 1, Vitor Hugo Campello Pereira 2 1 PPGE-UFRN-Brasil Natal leonlene@gmail.com 2 PPGE-UFRN-Brasil Natal vitor.pereira95@yahoo.com.br RESUMO: O presente artigo objetiva verificar a relação entre pluviosidade e a ocorrência de alagamentos no entorno da Lagoa do Makro no município do Natal/RN. Para consecução desse objetivo, a metodologia adotada pautou-se na aquisição de dados pluviométricos relativos às médias mensais e anuais do período 1981-2011, registros de alagamentos presentes obtidos a partir de diversas fontes. Neste sentido, foram realizadas análises e comparações entre os dados coletados de maneira que foi possível constatar que nos anos cuja média pluviométrica foi acima de 1.100 mm em meses subsequentes, aconteceram alagamentos nas imediações da lagoa do Makro. Geralmente, o transbordamento da lagoa acontece nos meses de junho e julho, ocorrendo esporadicamente também no mês de maio, em razão do adiantamento do período chuvoso para os meses anteriores a março. Dessa forma, concluiu-se que os alagamentos que ocorrem têm maiores contribuições das intervenções humanas no entorno da lagoa do Makro, do que de uma possível mudança climática, apesar da mesma não ser desconsiderada. ABSTRACT: The present article objectivates to investigate the relationship between rainfall and the occurrence of floodings in the surroundings of Makro s Lagoon in the city of Natal / RN. To achieve this objective, the methodology adopted was based on rainfall data acquisition relating to monthly and annual averages for the 1981-2011 period, records of existing floodings obtained from various sources. In this sense, analysis and comparisons were made between data collected so it was possible to ascertain that in the year which average rainfall was above 1,100 mm in subsequent months, floodings occurred near the Makro s Lagoon. Generally, the overflow of the Lagoon occurs in the months of June and July, also occurring sporadically in the month of May, due to the advance of the rainy season for the previous months to March. Thus, it was concluded that the floods that occur have more contributions of human interventions in the surroundings of Makro s Lagoon, than a possible climate change, despite the same not be disregarded. INTRODUÇÃO Nos últimos anos, o homem tem participado como agente acelerador de diversos processos modificadores e de desequilíbrios da paisagem, aonde as enchentes urbanas vêm constituindo um dos mais importantes impactos sobre a sociedade. Dentre os motivos que podem provocar essas enchentes, podem ser citados alguns fatores tais como: aumento da precipitação e as

1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 1042,0 1169,9 622,6 1561,9 1940,5 2082,6 1095,1 1959,7 1428,8 990,3 943,5 1621,8 859,0 2184,3 1757,9 1587,0 1187,3 1641,2 1111,2 2239,4 1276,5 2026,7 1523,6 2446,1 2026,6 1582,6 1754,4 2481,6 2331,0 1191,3 1946,4 intervenções humanas (GUERRA; CUNHA, 2001). Com base nisso, e considerando a realidade da Lagoa do Makro no bairro de Neópolis, município do Natal, tem-se que o sistema lacustre estudado também passa por degradação, onde foram constatadas diversas transformações em seu entorno e intervenção direta em sua bacia (MEDEIROS, 2001), o que tem contribuído para constantes alagamentos nas suas imediações, associados também ao regime pluviométrico da região. Nesse sentido o presente estudo tem por objetivo verificar a relação entre pluviosidade e a ocorrência de alagamentos no entorno da Lagoa do Makro em Natal/RN. MATERIAIS E MÉTODOS Para realização do presente estudo foi necessário à análise de dados climáticos compreendidos desde a década de 1980, entre outras informações conforme especificado a seguir: a) dados pluviométricos (1981-2011) obtidos junto a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (EMPARN), que contém registro diário de chuvas; b) análise de imagens e fotografias de diferentes épocas para a aérea de estudo; c) registros de alagamentos em estudos e jornais; d) entrevista com moradores do entorno da lagoa do Makro e; e) visita de campo em períodos de estiagem e chuvosos. Os dados pluviométricos foram tabulados, tendo se obtido diversos gráficos, especialmente o gráfico da Figura 1 que contém a soma das precipitações anuais desde o ano de 1981, década em que foram encontrados registros dos primeiros alagamentos. MM Natal-RN: Precipitação total anual 1981-2011 3000,0 2500,0 2000,0 1500,0 1000,0 500,0 0,0 Figura 1 Precipitação anual do município do Natal (1981-2011). Fonte: Adaptado da EMPARN (2011). Dados até o mês de julho de 2011. As fotografias e imagens aéreas analisadas foram obtidas em diferentes fontes, tais como: Serviço Aéreo Cruzeiro do Sul (SACS-1970), cujas aerofotos foram cedidas pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM); Força Aérea Brasileira (FAB-1988), cujas aerofotos foram cedidas pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA/RN); aerofotos do Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR-2006 ver Figura 2), da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo de

Natal/RN (SEMURB) e; imagens de satélite do programa Google Earth (2005, 2008, 2009, 2010). Figura 2 Mapa de Localização da Lagoa do Makro, Natal/RN. Fonte: Adaptado do PRODETUR (2006). Tais insumos foram utilizados com intuito de verificar o processo de ocupação do entorno da lagoa do Makro, os períodos de cheia e seca da mesma, quando possível, a fim de realizar uma comparação com os dados pluviométricos e inferir a possibilidade de alagamentos. Para aquisição dos registros de alagamentos, foram realizadas pesquisas através de estudos técnico-científicos, matérias de jornais, entrevistas com moradores e idas a campo. Dessa maneira, todos os dados supracitados foram analisados e relações entre esses foram estabelecidas, de modo que foram originados os resultados que a seguir serão expostos. RESULTADOS Sendo o clima do Natal classificado como tropical chuvoso quente com verão seco, verifica-se a ocorrência de temperaturas elevadas o ano todo e altos índices de irradiação solar devido à proximidade com a Linha do Equador (VIANELLO e ALVES, 1991). O período denominado chuvoso para a área concentra-se entre os meses de março e agosto, sendo o restante do ano considerado de estiagem. Ao longo dos últimos 30 anos a média pluviométrica do município do Natal foi de aproximadamente 1.600 mm/ano, cabendo destacar que entre os meses de janeiro a junho a soma da média pluviométrica tem girado em torno de 1.188 mm, o que resulta em uma média de 198,1 mm entre os referidos meses. (ver Figura 3). Mesmo com a média anual de 1.600 mm, é importante salientar que para o período estudado existe registro pluviométrico mínimo de 786 mm/ano e máximo de 2.514 mm/ano, onde se tem uma média de 65 mm/ano e 209 mm/ano respectivamente. Tal discrepância demonstra que existem anos de intensa precipitação e outros de seca extrema, dificultando a avaliação acerca de uma possível mudança climática local. Tanto as secas quanto as chuvas excepcionais, ocorrem quando há atuação irregular da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e das Ondas de Leste EMPARN (2011), ocasionadas por fenômenos que atuam principalmente sobe o Oceano Atlântico.

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ 72,5 96,9 48,5 19,1 23,6 28,4 206,2 256,9 235,4 321,0 232,8 126,7 Cabe destacar que se o recorte espacial feito for dividido em três partes iguais (a cada dez anos), observa-se que as décadas de 80 e 90 apresenta bastante similaridade pluviométrica, onde as chuvas acima de 1.500 mm/ano ocorrem numa espacialidade temporal não contínua, sem necessariamente repetir-se em anos subsequentes. A partir do ano 2000, tal fenômeno já é mais recorrente, ou seja, as chuvas acima de 1.500 mm/ano são frequentes e ocorrem em curto espaço de tempo, verificando-se somente dois casos em que ocorreram chuvas abaixo de tal referência. Diante desses aspectos e através da análises dos dados, verificou-se que nos anos cuja média pluviométrica foi acima de 1.100 mm, aconteceram alagamentos nas imediações da lagoa do Makro, porém a concentração de chuvas ocorreu no seu período habitual, com chuvas mensais acima de 200 mm. De maneira mais específica, o transbordamento da lagoa acontece nos meses de junho e julho (ver Figura 4), período no qual o referido acúmulo de precipitação, geralmente é atingido. MM 400,0 300,0 200,0 100,0 0,0 Figura 3 Média pluviométrica mensal entre os anos de 1981-2011. Fonte: Adaptado da EMPARN (2011). Outros registros de alagamentos também foram constatados, segundo relato de moradores próximos, no mês de maio. Associa-se que tal fenômeno ocorreu em razão de eventos pluviométricos atípicos, acima do esperado, onde foi verificado que o inicio do período chuvoso adiantou-se para os meses de janeiro ou fevereiro, qauando normalmente ocorre estiagem. Figura 4 - Transbordamento da lagoa do Makro, em Natal/RN no mês de Julho/2011. Foto: Leonlene de S. Aguiar (2011). Foi observado ainda que as características físicas da lagoa mantém relação com a ocorrência de alagamentos, em razão das alterações proporcionadas pelo homem

Nos anos mais secos quando o nível freático está rebaixado, o escoamento superficial enche a lagoa, mas a depender da quantidade e intensidade da precipitação, não há tempo de encher totalmente o nível do espelho d água da lagoa, CONCLUSÕES Ao longo dos anos, em função da intensificação da ocupação do entorno da lagoa do Makro e sua consequente impermeabilização ou diminuição da permeabilidade, constatou-se que o quantitativo pluviométrico necessário para causar alagamentos tem reduzido bastante, culminando em uma recorrência desses eventos, agravados pela intervenção humana em áreas ambientalmente frágeis ou consideradas de risco à ocupação. Assim, foi verificado que com a geração de grande quantidade de escoamento superficial que drena para a lagoa do Makro, tem colaborado para elevar seu nível rapidamente, o que antes da ocupação de suas margens, só acontecia através da infiltração das águas no solo e alimentação do lençol freático. Com a situação invertida, ou seja, redução da infiltração e elevação do runoff, as águas que chegam até a lagoa alimentam o lençol freático até a saturação do aquífero, resultando no rápido abastecimento da lagoa e consequente transbordamento entre os meses de junho e julho quando as precipitações ocorrem com maior frequência e quantidade. Com isso, conclui-se que os alagamentos sazonais que tem ocorrido nesse sistema, estão associados aos impactos que ocorreram no processo de ocupação do solo, não estando diretamente relacionados à intensificação da precipitação ou alterações do clima, apesar de que foi percebida uma sensível elevação das precipitações em um menor período de tempo. AGRADECIMENTOS: Ao Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (PPGe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) por todo apoio fornecido. REFERÊNCIAS GUERRA, A. J. T; CUNHA, Sandra Baptista da. Impacto ambientais urbanos no Brasil. São Paulo-SP: Bertrand Russel, 2001. MEDEIROS, T. H. L. Evolução geomorfológica, (des)caracterização e formas de uso das lagoas da cidade do Natal-RN. Dissertação de mestrado. Natal-RN: UFRN, 2001. EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA DO RN (EMPARN). Meteorologia: dados das chuvas; monitoramento mensal das chuvas. 2011. Disponível em: <http://www.emparn.rn.gov.br>. Acesso em: 10 ago. 2011. VIANELLO, R. L.; ALVES, A. R. Meteorologia básica e aplicações. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1991.