A expressão fonética da terceira pessoa do plural numa variedade urbana (Funchal) do português europeu insular Aline Bazenga Universidade da Madeira Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de
INTRODUÇÃO Analisar as variantes flexionais em contexto sintático de 3PP na amostra do PE-Funchal (Proj. Concordância, cf. Vieira e Bazenga, 2013, Bazenga, 2015, e Tabela 1) de acordo com o Modelo de Concordância Implícita (CI) proposto por Mota, Miguel & Mendes (2012) e Mota (2013) para as variedades do português. 2 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de
3 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de INTRODUÇÃO Tabela 1: Concordância verbal de 3PP em variedades do português no Projeto Concordância (Vieira & Bazenga, 2013) SVs de 3ª pessoa plural Amostra Com marca de número Sem marca(s) de número Nºde OCOs % Nº de OCOs % Oeiras 1454/1467 99,1 13/1467 0.9 Cacém 1176/1185 99,2 9/1185 0,8 Funchal 866/914 94,7 48/914 5,3 São Tomé 679/737 92,1 58/737 7,9 Copacabana 1229/1395 88,1 166/1395 11,9 Nova Iguaçu 1067/1365 78,2 298/1365 21,8
4 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de INTRODUÇÃO Dados vão ao encontro de Galves (2012: 134) a saliência fónica em si não parece desempenhar nenhum papel no [PE] dialectal, hipótese que tem vindo a ser desenvolvida em trabalhos como os de Mota & Vieira (2008), Mota, Miguel & Mendes (2012) e Mota (2013), no âmbito do Projeto Concordância. Aprofundar a questão do comportamento dos fatores fonéticos que supostamente afetariam a concordância verbal em PE, através de uma descrição mais detalhada das construções da amostra insular do PE (Funchal).
5 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de INTRODUÇÃO Tabela 2: Atuação da variável posição do sujeito em sintático de concordância verbal de 3PP na variedade PE-Funchal (Vieira & Bazenga, 2013) P E Variedade/ Amostra OEI CAC FNC Sujeito anteposto 777/782 99,4% 731/735 99,5% 550/573 96,0% Sujeito posposto 36/40 90,0% 40/44 90,9% 18/34 47,2%
INTRODUÇÃO Tabela 3: Atuação da variável Escolaridade para a implementação da marca verbal de 3 p. pl. no PE (Vieira & Bazenga, 2013) Variedade/ Amostra P E OEI CAC FNC Nível fundamental (5 a 8 anos) 411/417 98,6% 374/377 99,2% 212/236 89,8% Nível médio (9 a 11 anos) 386/388 99,5% 390/391 99,7% 257/268 95,9% Nível superior (12 a 15 anos) 657/662 99,2% 412/417 98,8% 397/410 96,8% Tabela 4: Efeito da variável Escolaridade no cancelamento de marca e produção de marcas não-padrão em contexto de sujeitos antepostos e sujeitos não expressos no PE-Funchal (Vieira & Bazenga, 2013) sujeitos não expressos Nível fundamental (5 a 8 anos) Nível médio (9 a 11 anos) Nível superior (12 a 15 anos) Com marca Sem marca não padrão Nº Ocor. % Nº Ocor. % 51/82 62,2 20/30 66,6 31/82 37,8 5/30 16,7-5/30 16,7 6 Quando considerados os valores totais da produção de variantes flexionais de plural não padrão e de variantes homófonas de 3ª pessoa do singular (resultantes de ca marca de concordância verbal), a atuação do fator sexo é bastante evidente. As responsáveis por estratégias não conformes ao PE padrão (Tabela IX). Tabela IX Efeito da variável sexo no cancelamento de marca de plural e na produção de variantes com não padrão ( EM e U) Com marca Sem marca Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de
7 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de INTRODUÇÃO O condicionamento morfofonológico em contexto de sândi externo, que se traduz pela redução do ditongo nasal decrescente da desinência de 3ª pessoa do plural, motivada pelo contexto fonético à direita do verbo que atua na maioria dos dados das duas variedades continentais do PE, também ocorre na variedade insular em 68,7% dos casos em que se observa a ausência de marca do plural, para os contextos em que estão presentes verbos com saliência fónica de nível 1, independentemente de outras configurações sintáticas.
INTRODUÇÃO Variantes flexionais não-padrão em contexto sintático de Concordância verbal de 3PP na amostra do PE-Funchal (Tabela 5). (i) variante em vogal oral isomórfica de marcador de P3 no verbo (elas à que chegava à escola; os outros tinha as costas quentes; as laranjas caía no chão); (ii)variante uniformizadora de paradigmas verbais, representada por -EM (eles não usavem nada disso; quando elas vinhem à nossa casa; eles mandarem fazer uns sapatos); (iii) variante representada por U, com realização oral [u] ou nasal [u ] (eles estavo a saltar à corda e à pilhagem; que eles lá curtio para cabedal). 8 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de
9 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de Variantes flexionais não-padrão EM e U Tabela 5: 2: Variantes flexional flexionais EM não-padrão em contexto na variedade de do concordância PE- Funchal (Vieira verbal & Bazenga, 3PP 2013) (Vieira & Bazenga, Variantes não-padrão em vogal oral = isomórfica de P3 Variante não-padrão em -EM Variante não-padrão em -U Variantes padrão Nº de oc. % Nº de oc. % Nº de oc. % Nº de oc. % 48 /914 5,3 % 75/914 8,2% 8/914 0,9% 783/914 85,7%
10 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de Variante -EM Tabela 6: Variante flexional EM não-padrão na variedade do PE- Funchal (Vieira & Bazenga, 2013) Variante PN6 não-padrão Presente Ind. Pretérito Imperfeito Ind. Pretérito Perfeito Ind. VT /a/ VT /a/ VT /e/ VT /i/ VT /a/ VT /e/ VT /i/ Totais -EM [ ] 19 oc.. 24 oc. 16 oc. 9 oc 4 oc. - 3 oc. 75 oc. Totais 19 49 7
Variante -EM (1) Presente do indicativo a. aqueles carres [carros] que andem de noite (C1h) b. os próprios portugueses massacrem os outros (C2m) (2) Pretérito Imperfeito do Indicativo a. tanto é qu as minhas primas elas diziem (B1M) b. eles me chamavem madeirense de segunda (C2m) (3) Pretérito Perfeito do Indicativo a. as casas caírem (C1m) b. depois eles mandarem-me reformar (C1h) 11 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de
Variante -EM Tabela 7: Contextos fonéticos à direita da variante flexional EM não-padrão na variedade do PE- Funchal ) Variante PN6 não-padrão + vogal + C nasal + C não nasal Pausa # -EM [ ] 30 oc. 8 oc. 25 oc. 12 oc. 12 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de
13 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de Variante -U As variantes com final verbal em -U atestadas (8, no total), apenas no Pretérito Imperfeito e maioritariamente em contexto de sujeito expresso (5/8 dos dados); todas de um informante de faixa etária intermºedia (36-55 anos), do sexo feminino e com escolaridade básica (cf. Tabela 8, exemplos, em ( 5)).
14 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de Variante -U Tabela 8: Variante flexional U não-padrão na variedade do PE- Funchal (Vieira & Bazenga, 2013) Variante PN6 não-padrão Presente Ind. Pretérito Imperfeito Ind. Pretérito Perfeito Ind. VT /a/ VT /e/ VT /i/ VT /a/ VT /e/ VT /i/ Totais -U [u] ou [ ] - 5oc. 1 oc. 2 oc. - - - 8 oc.
15 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de Variante -U (4) a. quando os meus pais moravo na casa b. eles vinho brincare c. alevantavo-se durante a noite cede
16 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de Variantes flexionais nãopadrão em vogal oral isomórfica de PN3 Correspondem a 5,3% dos dados atestados na variedade do Funchal (Vieira & Bazenga, 2013), ou seja a 49/914 ocorrências.
17 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de Variantes flexionais não-padrão em vogal oral isomórfica de PN3 Tabela 9: Variantes não-padrão em vogal oral (isomórficas de PN3) e contextos fonéticos à direita da forma verbal eita da forma verbal + vogal + C nasal + C não nasal Pausa # 29/48 oc. 60,4% 8/48 oc. 16,6% 8/48 oc. 16, 6% 3/48 oc. 6,25%
18 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de Variantes flexionais não-padrão em vogal oral isomórfica de PN3 As variantes em vogal oral não-padrão de PN6 (isomórficas de P3) correspondem maioritariamente a verbos com VT /a/ e /e/, representadas por A e E (15/21) [ ] em contexto de palavra seguinte iniciada por vogal (21/29 ocorrências), registando-se ainda um exemplo com o verbo ir (quando vai aqueles pa agarrar o coisa C1m) Neste contexto, o encontro intervocálico na fronteira de palavra (sândi externo) resulta na elisão das finais verbais átonas e ressilabificação das duas sílabas em contacto (c. exemplos em (5))
Variantes flexionais não-padrão em vogal oral isomórfica de PN3 (5) a. as mercearias na altura fechava às onze (B1m) [f v + ] [f v ] b. os outros tinha as costas quentes (c2m) [ti + ] [ ti ] c. das consequências que daí pode advir (C2h) [p d 12 + dvir] [p d dvir] 19 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de
20 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de Modelos de Concordância Verbal de 3PP (Mota, 2013) Modelo com Concordância Implícita (Covert agreement), ou CI, caracterizado pela realização fonética variável de distintas formas fonológicas. O processo morfofonológico de PN6 gera (cf. Esquema1); Este modelo daria conta da aplicação da regra de concordância verbal em variedades do PE e de falantes cultos de outras variedades nacionais do português.
21 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de Modelos de Concordância Verbal de 3PP (Mota, 2013) (i) /vogal N/ vogal nasal ditongação da vogal VT /a/ eles cheg[ ]) eles cheg[ ]) VT /e/ eles ped[ ] eles ped [ ] / N/ (ii) vogal oral eles cheg[ ]) eles ped [ ] Esquema 1: Concordância Implícita (CI) de acordo com Mota (2013)
22 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de Modelos de Concordância Verbal de 3PP (Mota, 2013) CI estruturas morfológicas e formas fonológicas canónicas diferenciadas de P6 e de P3, com ancoragem do autossegmento nasal /N/ na forma fonológica de P6; variantes flexionais de P6 em ditongo nasal (levam, dão, comem, falem) e em vogal nasal ( levã, dã) estruturas morfológicas associadas a formas fonológicas sem o autossegmento nasal /N/, marcadas por sincretismo entre PN3-PN6; as realizações fonéticas seriam caracterizadas por terminarem em vogal oral (leva, dá, come)
23 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de Modelos de Concordância Verbal de 3PP (Mota, 2013) Modelo de Concordância Reduzida ou CR PN6 e PN3 são ambos morfemas nulos e em que o autossegmento /N/ nunca está presente na forma fonológica. Neste padrão, não existe co-variacão em PN entre o verbo e o controlador pro/nominal, e as realizações fonéticas em contexto de concordância verbal de 3PP, idênticas às requeridas em 3PS (PN6=PN3); produções de falantes iletrados ou pouco escolarizados (com menor contacto com a regra canónica da concordância verbal de 3PP) de variedades nãoeuropeias do português (PB e variedades africanas).
Modelo CI e variantes flexionais de 3PP na amostra PE-Funchal Tabela 10: Variantes flexionais verbais não-padrão em contexto de 3PP (Vieira & Bazenga, 2013) de acordo de acordo com o Modelo com o Modelo Concordância CI de Mota Implícita (2013)(CI) de Mota (2013) Tipos de variantes flexionais não-padrão 1 2 3 4 5 Paradigmas verbais Presente Ind. Pretérito Imperfeito Ind. Pretérito Perfeito Ind. ditongo nasal não-padrão vogal nasal [ ] [ ] P3 VT /a/ =19 vogal oral isomórfica de P3 CI [ ] = 5 [ ] = 6 = P3 NC VT /a/, /e/, /i/ = 49 = 2 [u] =6 [ ] = 19 =7 VT/a/ /i/ =7 [o] acabou as aulas =1 [ ] (enquanto [ ] ouvisse= outros elas fosse 1 pequenas)= 1 Totais 75/914 2/914 6/914 32/914 17/914 Percentagens 8,2% 0,2% 0,65% 3,5% 1,85% 24 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de =8 =1
25 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de Modelo CI e variantes flexionais de 3PP na amostra PE-Funchal Conjunto de variantes flexionais com vogal oral reanalisado, tendo por referência o contexto fonético à direita do verbo, conduz a dois subconjuntos: a. formas verbais fonéticas em contexto de sândi vocálico ou seguidas de consoante nasal, consideradas ambíguas do ponto de vista da aplicabilidade ou não da concordância verbal, ou Variante CI, Isomórfica de PN3 (cf. coluna 4) b. formas fonéticas que não resultam da influência do contexto fonético à sua direita, podendo ser consideradas como formas verbais de de PN3 e ocorrências de não aplicação da regra de concordância exigida pelo contexto sintático (cf. coluna 5)
26 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de Modelo CI e variantes flexionais de 3PP na amostra PE-Funchal Se tivermos em conta outros fatores, tais como a presença de que entre o sujeito e a forma do verbo (4 ocorrências) e a presença de um sujeito posposto (7 ocorrências), os dados de não concordância verbal de 3PP ficam reduzidos a 7, o que representa 0,75%, percentagem ligeiramente superior à encontrada em variedades semirrurais do PE (0,2%), apesar de se tratar de uma variedade urbana e insular.
27 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de Considerações Finais A consideração do Modelo de CI (Mota, 2013) permitiu uma reavaliação da aplicabilidade da regra de concordância verbal de 3PP estudada em trabalhos anteriores (Bazenga, 2012; Vieira & Bazenga, 2013) Os índices de não concordância verbal de 3PP inferiores a 1%, na sua forma extrema, quando combinados fatores fonéticos e fatores sintáticos/discursivos supostamente de tipo universal (posição e animacidade do sujeito, presença de material linguístico entre o sujeito e o verbo).
28 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de Considerações Finais Do conjunto de variantes flexionais atestadas em contexto sintático de 3PP no PE-Funchal, a variante em -EM surge, não só em termos quantitativos mas também atendendo à extensão da sua distribuição (Presente do Indicativo, Imperfeito do Indicativo e Perfeito do Indicativo), como a característica de maior saliência.
29 Gallæcia III CILH Faculdade de Filoloxía Universidade de Santiago de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bazenga, Aline (2012), Variation in subject-verb agreement in an insular dialect of European Portuguese, In R. Muhr (Ed), Non-dominating Varieties of pluricentric Languages. Getting the Picture. In memory of Prof. Michael Clyne, Wien et. al: Peter Lang Verlag, pp. 327-348. Galves, Charlotte (2012), Concordância e origens do português brasileiro. In: SEDRINS, A.P. et al. (Orgs). Por amor à linguística: miscelânia de estudos linguísticos dedicados a Maria Denilde Moura. Maceió: UEDUFAL, pp. 123-150 Mota, Maria Antónia (2013), Variant patterns of Subject-Verb agreement in Portuguese: morphological and phonological issues, Journal of Portuguese Linguistics, 12 (2): 211-236 Mota, Maria Antónia, Miguel, Matilde & Mendes, Amália (2012), A concordância de P6 em português falado. Os traços pronominais e os traços de concordância, Papia, 22.1, 161-188. Vieira, Silvia Rodrigues & Bazenga, Aline (2013), Patterns of third person verbal agreement, Journal of Portuguese Linguistics, 12 (2): 7-50.
Muito Obrigada!